A comunicação do governo continua sendo apontada como responsável pelos resultados desfavoráveis das pesquisas de opinião. Para quem não pisa onde o povo anda, tudo parece se limitar a um problema de conteúdo das mensagens que, ao divulgar os atos da Presidência da República e dos Ministérios, deveriam elevar a confiança da maioria em sua capacidade de conduzir o país ao melhor dos futuros possíveis.[1]
Não sabemos quantos desses assessores, economistas e funcionários de gabinetes ainda fazem fila nos caixas dos supermercados ou tomam café nas padarias onde a insatisfação das pessoas comuns é transmitida através de quatro palavras: “está tudo muito caro”. Partindo das reações espontâneas do povo, começamos a buscar os números através dos quais a economia do país mostra não responder às necessidades básicas dos 90% que ganham até 5 salários mínimos.
As observações que seguem trazem o resultado desta jornada na qual as renúncias diárias e as promessas não cumpridas são os ingredientes do descontentamento típico de quem não tem perspectivas reais de dias melhores.
1. Carne, ovos e café: três exemplos incômodos.
Entre as promessas que marcaram a campanha eleitoral de 2022 encontramos uma que se popularizou após uma entrevista do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva com o jornalista Carlos Massa, o Ratinho: “Eu vou falar uma coisa aqui: Nós vamos voltar a comer picanha, aquela parte com aquela gordurinha, assim, passada na farofa...a gente mastigava aquilo, tomava uma cervejinha... É tudo o que o povo quer, Ratinho”.[2] Em meados de março deste ano, durante um evento em Sorocaba, no estado de São Paulo, o Presidente renovou a mesma promessa num momento em que os preços dos ovos dificultavam a compra desta que, para muitos, é a única proteína animal acessível.[3] Não sabemos como as pessoas receberam a fala do Lula, mas não é difícil imaginar que ela tenha sido envolvida num véu de desconfiança.
As estatísticas mostram que, no ano passado, o preço médio da carne bovina aumentou 20,8%, sendo que os corte mais populares, como acém e patinho, tiveram seus preços majorados, respectivamente, em 25,2% e 24,0%. Longe de apontar uma perspectiva de baixa, no dia 13 de maio deste ano, a arroba do boi gordo estava 37,2% mais cara em relação ao valor registrado no mesmo dia de 2024.[4] O que está acontecendo com aquela que os analistas chamam de “a nossa carne”?
A maioria das explicações dos pecuaristas flutua entre os problemas climáticos e o ciclo da pecuária, pelo qual, o abate planejado das matrizes gera uma redução das cabeças de gado em regime de engorda. Curiosamente, apesar de o Brasil ser o maior exportador mundial de carne bovina, é raríssimo ouvir alguém desse meio acenar ao crescimento das vendas para outros países para explicar a alta dos preços no mercado nacional. Alguns números ajudam a trazer à tona esta realidade.
A média dos últimos 5 anos mostra que os pecuaristas exportam 22,0% da carne de gado produzida no território nacional, algo que, em 2024, somou 2.890.000 toneladas. Obviamente, quanto maiores os preços internacionais do produto, mais lucrativo é vender a outros países que pagam em dólares. Em fevereiro de 2025, por exemplo, o volume exportado cresceu 7,5% em relação ao mesmo mês de 2024, mas, graças ao aumento dos preços internacionais de carne de gado, o faturamento dos pecuaristas foi 16,5% maior na mesma base de comparação. [5]
Concretamente, isso significa que, no território nacional, os preços crescem não porque está faltando boi para a população comer, mas sim pelo fato de que ao vender para outros países uma fatia crescente da carne aqui produzida, os preços no mercado interno sofrem a influência da redução de oferta e das cotações internacionais do produto. Neste contexto, quanto mais o governo tece relações comerciais para aumentar as exportações sem mecanismos que impeçam a elevação dos preços da carne vendida no Brasil, mais os pecuaristas faturam à custa de uma população que paga caro pelos cortes de segunda.
O caso dos ovos segue uma trilha semelhante à da carne bovina. A maioria das explicações atribuiu o aumento dos preços ao consumidor à simultaneidade de dois eventos: a redução da produção por fenômenos climáticos extremos e o aumento do consumo nacional em função da Quaresma, período no qual um número maior de pessoas deixaria de comer carne para respeitar um preceito religioso. O aumento das exportações para os Estado Unidos foi inicialmente descartado como causa da “inflação dos ovos” pela sua insignificância em relação à produção nacional.
É fato que as galinhas sofrem com o calor forte e que uma parte dos católicos de maior renda renuncia à carne durante as sextas-feiras da Quaresma, mas a realidade mostra que as duas explicações foram utilizadas para encobrir algo bem mais incômodo aos interesses da elite. É fato que, em 14 de março de 2025, os valores médios cobrados pela caixa com 30 dúzias de ovos estavam 21,9% maiores em relação ao mesmo dia de 2024, um salto enorme quando pensamos que os problemas climáticos já marcavam presença constante ao longo do ano passado e que estávamos no mesmo período litúrgico.
Na verdade, mais do que à obrigação de uma tradição religiosa, a maior demanda nacional de ovos vinha do número de pessoas que recorreram a eles por não terem condições de comprar as carnes às quais tinham acesso um ano antes. No mesmo período, esta “corrida ao ovo” enfrentou uma alta de 42,0% no preço da saca de 60 kg do milho e de 10,1% no do farelo da soja que entram na ração das galinhas. Em relação a esses insumos, vale lembrar que o Brasil exporta anualmente cerca de 38,0% do milho e 63,0% da soja que produz, pelas mesmas razões que apontamos ao falar das vendas externas da carne bovina.
No que diz respeito à exportação de ovos para os EUA, dados recém-divulgados mostram que o aumento das vendas não foi insignificante, como se afirmou repetidamente ao longo de fevereiro e março. Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal, nos quatro primeiros meses de 2025, os avicultores levaram nada menos do que 5.500 toneladas de ovos ao mercado estadunidense, um aumento de 816,0% em relação às 608 toneladas vendidas no mesmo período do ano passado. Ou seja, na somatória geral dos fatores que contribuíram para encarecer os ovos, faltou apontar aqueles que se relacionam com os interesses imediatos do agronegócio e com a perda do poder de compra dos salários. O resultado está sob os olhos de quem quiser ver: a ampla maioria dos assalariados não só não colocou a picanha na mesa, como teve que lutar muito para garantir os ovos. [6]
O café não é um produto essencial à alimentação humana, mas a sua escassez nas casas dos brasileiros “faz muita falta”. Claro exemplo do que significa produzir para lucrar, 77% do que é colhido nos cafezais são enviados ao exterior. Esta porcentagem, aliada à escassez de oferta no mercado mundial, fez com que, entre janeiro de 2024 e abril de 2025, os preços da saca de 60 quilos no mercado interno subissem 165,0% no caso do Arábica e 126,0% no do Robusta.
Novamente, muitos comentaristas atribuíram a São Pedro e ao aumento de 1,1% do consumo interno a maior parte da culpa pelo fato de os mercados cobrarem um olho da cara por um pacote de 500 gramas de café. O que ninguém disse é que os cafeicultores lavaram a égua com a elevação dos preços internacionais, com vendas externas acima do esperado e, obviamente, com a possibilidade de criar uma escassez de produto no mercado interno sem sofrer nenhum tipo de retaliação ou de um puxão de orelhas por parte do governo.[7]
Se você acha que o preço do café vai cair no futuro próximo, é bom tirar o cavalinho da chuva. Após a imposição das taxas alfandegárias promovida por Donald Trump, o café do Vietnã e da Indonésia se tornou bem mais caro em relação ao produzido no Brasil, o que deve elevar a demanda estadunidense em relação aos períodos anteriores. Trocado em miúdos, isso significa que nós, trabalhadores e trabalhadoras, plantamos o café, cuidamos de cada pé com carinho e esmero, colhemos e ensacamos a produção, mas, na hora de tomar aquela xícara que merecemos, precisamos fazer bem as contas, pois o “pretinho básico” virou um luxo.
Enquanto governo, pecuaristas, avicultores e cafeicultores comemoram a ampliação dos ganhos com as exportações, o povo segue cortando a lista das compras na exata medida em que o valor da cesta básica cresce acima dos reajustes salariais. Podemos constatar isso comparando o tempo de trabalho necessário para adquiri-la. De acordo com os cálculos do DIEESE, em março de 2018, durante o último ano do governo de Michel Temer, quem ganhava um salário mínimo precisava de 88 horas e 7 minutos para comprar a cesta de produtos cujo valor médio é calculado pela entidade. Exatos sete anos depois, as contas apontam que adquirir a mesma quantidade e variedade de alimentos demanda 108 horas e 55 minutos...20 horas e 48 minutos a mais. [8] Das estatísticas para a realidade, isso significa que quem ganha pouco é forçado a gastar mais para comprar o básico o que, obviamente, deixa menos recursos para satisfazer outras necessidades igualmente importantes.
2. Os números que traduzem o gesto de apertar um buraco do cinto.
No início de abril de 2025, o Datafolha apresentou o relatório de uma pesquisa ao qual poucos deram bola. As sondagens do instituto mostravam que os custos da alimentação haviam levado 58,0% dos entrevistados a reduzirem a quantidade de alimentos consumida (porcentagem que chegava a 67,0% entre os que tinham renda de até 2 salários mínimos). Diante dos preços do café, 50,0% haviam trocado de marca e 49,0% reduziam o seu consumo.
Para manter o básico, 50,0% dos entrevistados haviam diminuído o consumo de água, luz e gás; 47,0% buscavam outras fontes de renda; 36,0% encolhiam a compra de remédios (porcentagem que chegava a 45,0% entre quem ganhava até 2 salários mínimos); e 20,0% não pagaram algumas das contas da casa (quantidade que atingia os 32,0% entre quem ganhava até 2 salários mínimos). [9]
Nestas condições, como convencer as pessoas de que a economia vai bem? Como mostrar que o país está no caminho certo se elas não veem os efeitos do crescimento do PIB, o aumento real das médias salariais, a redução do desemprego e da informalidade se refletirem na melhora das condições de vida? Será que a baixa popularidade do Presidente da República não deita raízes na dificuldade de encher a geladeira? Afinal, quem promete picanha e não entrega ovos a preços acessíveis perde a confiança que ainda tem.
Quando o básico está caro, todos olham para o Presidente e a maioria aponta o indicador em sua direção. Com Lula, não é diferente. Na mesma pesquisa Datafolha, 54,0% dos entrevistados via nele o principal responsável pela alta dos preços dos alimentos e outros 26,0% acreditavam que o Presidente da República tinha parte da culpa. Em sentido oposto, apenas 27,0% apontavam os proprietários agrícolas como culpados pela inflação da comida e outros 30,0% acreditavam que eles tinham apenas parte da culpa.[10]
Agora...pense comigo: Divulgar que é o inverso quando o próprio Lula comemora abertamente todo novo contrato de exportação de produtos agropecuários ajudaria a mudar esta percepção? Reconhecer que o poder de escolher a quem e quanto vender está nas mãos dos empresários e não do Presidente da República resolve? Ou será que isso cria problemas ainda maiores ao evidenciar a impotência de quem administra o Brasil diante das decisões do agronegócio? Por outro lado, construir um país para todos não deveria partir justamente de uma organização da economia onde todos têm o básico assegurado?
Infelizmente, a submissão governamental aos interesses dos grupos de poder mostra sinais claros de que este Brasil para todos está cada vez mais distante. Temer o pior ao seguir outro caminho faz com que Lula fique preso na armadilha que amarra suas ações aos lucros de poucos. Sem nenhum sinal de que irá remar contra a maré, a Presidência pode escalar a melhor equipe de marqueteiros do mercado publicitário, mas muito dificilmente as palavras e imagens a serem veiculadas serão mais fortes de uma mesa que teima em ficar pobre pelo preço da comida.
Infelizmente, as medidas supostamente destinadas a reduzir o impacto da inflação dos alimentos na vida da grande maioria da população têm pouca eficácia, se mantém na esfera das possibilidades ou incluem um “efeito rebote” que, em seguida, anula o que as boas intenções do governo desejavam produzir. Por exemplo, em março deste ano, o Planalto zerou as tarifas de importação de carne, café, açúcar, milho, sardinha, biscoitos, massas alimentícias, óleo de girassol e azeite. [11] O único problema está no fato de que, à exceção do azeite de oliva, o Brasil ou não importa os produtos da lista ou, quando o faz, seus volumes são insignificantes.
No caso das massas alimentícias e dos biscoitos, é a farinha de trigo utilizada na sua produção a ser importada de outros países. Neste caso, a desvalorização da moeda nacional diante do dólar sempre se mostrou um fator bem mais presente na alta imediata dos preços do que a cotação internacional do produto. Além disso, até o momento em que escrevemos, o governo não eliminou o imposto de importação de 9,0% sobre a farinha de trigo adquirida de países que não integram o Mercosul, o que não deixa de ser um contrassenso.[12] Por outro lado, ainda que venha a fazer isso, nada impede que os importadores transformem a isenção fiscal em parcela adicional dos seus lucros, como já ocorreu com outras desonerações que se destinavam a baratear os produtos nas gôndolas dos supermercados.
O crédito consignado para trabalhadores formais celetistas é uma mão na roda para trocar a dívida cara no cartão de crédito por outra mais barata. Como todo empréstimo, traz alívio imediato, mas não elimina o peso da hipoteca sobre os ganhos futuros dos assalariados, ainda mais quando o endividamento entre as pessoas de baixa renda é uma forma de preservar as condições de vida existentes à espera de dias melhores. O povo agradece a chance de respirar durante alguns instantes antes de a cabeça mergulhar novamente no cotidiano da sobrevivência, onde novas dívidas contraídas pela queda do poder de compra dos salários acrescentam o seu peso às prestações devidas.[13]
Os números divulgados pelo Banco Central apontam nesta direção. Em maio de 2024, as diferentes formas de endividamento comprometiam, em média, 25,76% da renda dos brasileiros. Esta porcentagem foi subindo gradualmente até encerrar fevereiro de 2025 em 27,23%.[14] Difícil estimar quanto desse aumento se deve à alta dos juros registrada neste período, quanto guarda uma relação direta com a necessidade de garantir o básico ou até que ponto espelha uma combinação dos dois elementos. Seja como for, à medida que os gastos com a alimentação superarem os reajustes salariais auferidos ou o aumento da renda conseguida através de atividades por conta própria, a camisa de força de velhos e novos endividamentos limitará cada vez mais o orçamento doméstico.
Duas outras medidas para aliviar a situação dos mais pobres estão na mesa do Congresso Nacional. A primeira delas aumenta para 60 milhões de pessoas o número de beneficiados pela tarifa social de energia elétrica. Se aprovada, a isenção até 80 kwa vai ajudar as famílias inscritas no CadÚnico, as comunidades indígenas, os grupos quilombolas e as pessoas que recebem o Benefício de Prestação Continuada, fazendo com que a cobrança das tarifas seja aplicada apenas à quantia que excede esse limite. Do mesmo modo, núcleos familiares com renda per capita entre meio e um salário mínimo por pessoa obteriam descontos de 12% na cobrança até 120 kwa.
A medida tem um custo estimado em 4 bilhões e meio de reais a serem rateados entre os consumidores que compram energia no mercado livre e na redução dos descontos aplicados a quem utiliza energia solar e eólica. Sabendo que as empresas são as principais clientes destes mercados, não é de estranhar que o impacto de 1,4% em suas contas atuais seja repassado aos produtos que oferecem o que, por sua vez, terá reflexos imediatos na inflação. [15]
Ampliar a isenção de imposto de renda para quem ganha até 5.000 reais mensais vai deixar uma fatia de, no máximo, 900 reais à disposição dos assalariados. Se analisada e aprovada no segundo semestre, esta regra vai vigorar a partir de janeiro de 2025, ou seja, só daqui a mais de sete meses.[16] Resta saber se as dificuldades experimentadas na manutenção de um mínimo de coesão na base do governo não se transformarão em obstáculo intransponível na exata medida em que a reeleição de Lula em 2026 começa a ser colocada em dúvida pelo avanço da direita.
Se este cenário se confirmar, o próprio Centrão terá ainda mais dificuldades em apoiar o que joga água no moinho do atual Presidente da República em prejuízo de uma negociação mais ampla e proveitosa com os representantes da direita radical para o pleito de 2026. Sinais claros de desagregação não faltam. Resta saber até onde o oportunismo vai leva-los em prazos que tendem a se estreitar com as dificuldades de o governo manter uma aprovação popular superior à reprovação.
Mas não é só na mesa que a ampla maioria da população se sente desprotegida. Na área da saúde, as notícias também não são boas. As dificuldades para manter o padrão de vida e os reajustes dos convênios médicos têm levado muitas famílias a migrarem para o Sistema Único de Saúde cuja capacidade de atendimento não acompanha o crescimento da demanda. Prova disso é que, em 2024, os procedimentos cirúrgicos realizados pelo SUS aumentaram 10,8% em relação ao ano anterior, atingindo o recorde histórico de 13.663.782 cirurgias eletivas. Contudo, a fila das pessoas à espera desse atendimento aumentou 26,0%, o que, em alguns casos, significa uma demora que chega aos dois anos e quatro meses.[17] Como explicar ao povo que a saúde pública cuida do seu bem-estar quando a fila para uma cirurgia demanda uma paciência de anos?
Enquanto isso, o processo de dilapidação da força de trabalho afia as garras. De acordo com o Ministério da Previdência Social, no ano passado, os afastamentos por ansiedade e depressão cresceram 68,0% em relação a 2023. O recorde de 472.328 afastamentos decorrentes destes distúrbios psíquicos representa 13,5% dos três milhões e meio de afastamentos de trabalhadores com carteira assinada computados pelo INSS.[18] Não há dados sobre os afastamentos por doenças ou acidentes de trabalho no âmbito da informalidade, mas não estamos longe da verdade ao imaginar que nos depararíamos com uma situação ainda mais cruel.
Diante da clareza dos números, o governo atualizou a Norma Regulamentadora Número 1 (NR-1) que, ao incluir a saúde mental, amplia as possibilidades de autuação dos fiscais do Ministério do Trabalho em relação às principais causas destes distúrbios.
Contudo, até agora, o governo seguia avaliando o adiamento da implantação da nova NR-1 em função das alegações apresentadas pelos empresários. Para eles, além da falta de clareza quanto à aplicação da norma e de demandar gastos extras com a contratação de profissionais da área, o seu conteúdo responsabiliza diretamente as empresas por problemas de saúde mental que são globais e envolvem causas que extrapolam o ambiente de trabalho. Ao reduzir o impacto negativo do assédio moral nas jornadas de trabalho, os patrões querem seguir produzindo o mesmo desgaste psíquico sem arcar com a responsabilidade pelos estragos produzidos na saúde dos funcionários.[19]
Para o governo, trata-se de não criar problemas com os empresários na exata medida em que isso viria a criar mais uma fonte de atrito e mal-estar nas relações com os partidos que representam seus interesses no Congresso, fragilizando ainda mais a sua base de sustentação parlamentar. Para a classe que sofre na pele a exploração do sofrimento como peça-chave para o aumento da produtividade, esta atitude apenas comprova que, quando não atua como agente legalizador da precarização, o governo opta por uma omissão que promete novos recordes de afastamentos e, com eles, de gastos que oneram a Previdência Social e a sociedade como um todo.
Não é este o país com o qual sonhávamos em 2002. Não é este o país que queremos um quarto de século e quatro mandatos petistas depois. Os problemas apresentados como pontuais e momentâneos estão profundamente enraizados numa estrutura econômica que segue, prioritariamente, a serviço de poucos e que não aponta para mudanças significativas. Já passou da hora de a classe trabalhadora se perguntar como é o Brasil que ela quer e que formas de luta podem, de fato, construí-lo.
Emilio Gennari, Brasil, 20 de maio de 2025.
[1] Segundo a pesquisa Datafolha divulgada no dia 4 de abril, 30,0% das pessoas com renda até 2 salários mínimo avaliavam o governo Lula como ótimo e bom, enquanto 36,0% o julgavam ruim e péssimo. A mesma pesquisa mostrava que quanto maior a renda, mais a reprovação crescia. Entre o grupo que ganha de 2 a 5 salários mínimos, por exemplo, a aprovação caía para 26,0% e a reprovação atingia a marca dos 41,0%. O relatório encontra-se em: https://datafolha.folha.uol.com.br/avaliacao-de-governo/2025/04/apos-queda-para-pior-patamar-no-inicio-do-ano-avaliacao-positiva-de-governo-lula-passa-de-24-para-29.shtml
Acesso realizado em 29/04/2025.
[2] Em: https://revistaforum.com.br/politica/2022/9/22/lula-no-ratinho-nos-vamos-voltar-comer-picanha-tudo-que-povo-quer-123735.html Acesso realizado em 13/05/2025.
[3] Em: https://www.g5news.com.br/politica/com-mesmo-discurso-de-2022-lula-volta-a-garantir-que-o-povo-vai-comer-picanha-ovo-tambem-e-pauta/198598 Acesso realizado em 13/05/2025.
[4] Estamos nos referindo às cotações da CEPEA/ESALQ, divulgadas em: https://www.noticiasagricolas.com.br/cotacoes/boi-gordo Acesso realizado em 13/05/2025.
[5] Os dados citados e outras informações sobre o mesmo tema podem ser encontradas em:
- https://g1.globo.com/economia/agronegocios/noticia/2025/04/27/brasil-deve-aproveitar-crise-entre-china-e-frigorificos-dos-eua-para-reforcar-exportacao-de-carne-ao-pais-asiatico-dizem-economistas.ghtml?utm_source=share-universal&utm_medium=share-bar-app&utm_campaign=materias Acessos realizados em 13/05/2025.
[6] Estas e outras informações podem ser obtidas em:
- https://www.noticiasagricolas.com.br/cotacoes/ovos
Acessos realizados em 13/05/2025.
[7] Estas e outras informações podem ser obtidas em:
- https://www.noticiasagricolas.com.br/cotacoes/cafe
Acessos realizados em 29/04/2025.
[8] Você pode ter acesso aos relatórios mensais sobre o valor da cesta básica média e o tempo de trabalho necessário para que um trabalhador que ganha um salário mínimo possa adquiri-la, após descontar o valor do INSS através do link: https://www.dieese.org.br/sitio/buscaDirigida?comboBuscaDirigida=TEMA%7Chttp%3A%2F%2Fwww.dieese.org.br%2F2012%2F12%2Fdieese%23T356956290 Acesso realizado em 13/05/2025.
[9] Dados publicados em: https://datafolha.folha.uol.com.br/opiniao-e-sociedade/2025/04/nos-ultimos-meses-58-dos-brasileiros-reduziram-a-quantidade-de-alimentos-que-costumam-comprar.shtml
O relatório completo da pesquisa está disponível em: https://media.folha.uol.com.br/datafolha/2025/04/15/k72-pihkma-sobapbqxmyg.pdf Acessos realizados em 21/04/2025.
[10] Idem.
[11] Maiores detalhes podem ser encontrados em: https://g1.globo.com/politica/noticia/2025/03/06/alckmin-anuncia-medidas-para-baixar-preco-de-alimentos.ghtml?utm_source=share-universal&utm_medium=share-bar-app&utm_campaign=materias
Acesso realizado em 15/03/2025.
[12] Em média, o Brasil consome, anualmente, cerca de 12.800.000 toneladas de farinha de trigo. Em 2024, 6.600.000 toneladas foram importadas, um aumento de 59,0% em relação a 2023. A maior parte do produto adquirido de outros países veio da Argentina, Paraguai e Uruguai que, por integrarem o Mercosul, contam com isenção tarifária. A taxa alfandegária de 9,0% é aplicada apenas à farinha vinda dos países fora do bloco, como EUA, Rússia e Canadá dos quais o Brasil adquire as quantidades que faltam para atender a demanda nacional. Em: https://www.infomoney.com.br/politica/governo-avalia-zerar-imposto-de-importacao-de-trigo-para-conter-alta-de-alimentos/ Acesso realizado em 19/05/2025.
[13] Maiores informações em: https://www.bbc.com/portuguese/articles/cy4l09e945do Acesso realizado em 28/04/2025.
[14] Em: https://oglobo.globo.com/economia/noticia/2025/05/19/divida-dos-brasileiros-volta-a-subir-e-ja-corroi-27percent-da-renda-maior-patamar-desde-inicio-do-desenrola.ghtml Acesso realizado em 19/05/2025.
[15] Maiores detalhes podem ser encontrados em: https://g1.globo.com/economia/noticia/2025/04/17/entenda-como-vai-funcionar-a-nova-tarifa-gratis-de-energia-proposta-pelo-governo.ghtml?utm_source=share-universal&utm_medium=share-bar-app&utm_campaign=materias Acesso realizado em 20/04/2025.
[16] Maiores detalhes podem ser encontrados em: https://www.bbc.com/portuguese/articles/c7vz9qn0z85o
Acesso realizado em 28/04/2025.
[17] Maiores informações sobre este tema podem ser obtidas em: https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2025/02/15/fila-de-espera-por-cirurgias-no-sus-cresce-26percent-em-2024.ghtml?utm_source=share-universal&utm_medium=share-bar-app&utm_campaign=materias e em: https://g1.globo.com/saude/noticia/2025/01/25/sus-bate-recorde-de-cirurgias-eletivas-em-2024-mas-13-milhao-de-pessoas-ainda-esperam-atendimento.ghtml Acessos realizados em 18/02/2025.