Por Max Diógenes
O Mainz 05 é um clube alemão poliesportivo, oriundo e situado em cidade homônima com pouco mais de duzentos mil habitantes. Fundado em 1905, é identificado pelas cores vermelho e branca. Quando mandante, joga na MEWA Arena – a MEWA é uma transnacional do setor têxtil, que conta com mais de cinco mil trabalhadores em suas plantas e que, desde 2021, detém os naming rights da referida arena esportiva; a princípio, o contrato de concessão do nome vai até 2026 –, que possui capacidade para aproximadamente trinta e três mil torcedores e que, pelo que pude compreender, é gerida pela iniciativa privada, a partir de concessão da administração por parte da prefeitura do município.
Ainda sobre o estádio no qual o time manda suas partidas, este, durante todo o processo de sua construção – de 2007 a 2011 – foi motivo de conflitos, envolvendo ong’s e parte da população local, pois sua edificação causou uma série de danos ambientais, o que, segundo os opositores a seu erguimento, prejudicou a agricultura doméstica e, para além, gerou uma série de questionamentos em relação ao investimento de dinheiro público em uma obra que, para muitos, era desnecessária.
A torcida, a exemplo da população regional, costuma ser identificada, por si e pelos de fora, como progressista e antinazista. O time de futebol do clube não possui títulos relevantes; majoritariamente em sua história, transitou entre as três primeiras divisões do futebol alemão e, a nível internacional, já disputou a Europa League. Atualmente, disputa a primeira divisão nacional e a copa da Alemanha.
Já o Borussia, de Dortmund, fora fundado em dezembro de 1909, por jovens trabalhadores imigrantes da Polônia, do ramo da siderurgia e da mineração e que eram associados a uma comunidade católica, a contragosto do capelão que à época liderava o grupo. Amarelo e preto são suas cores, manda suas partidas no mítico – para os fãs do mundo do futebol – Signal Iduna Park e é considerado um dos maiores e mais bem-sucedidos clubes de futebol do mundo. Venceu seis vezes a supercopa da Alemanha; cinco vezes a copa nacional; oito vezes o campeonato alemão; foi o primeiro clube alemão a vencer uma competição européia, a extinta recopa, em 1966; conquistou uma champions league e um mundial de clubes, ambos em 1997.
O clube possui características jurídicas que, no geral, desagradam a maior parte dos torcedores alemães, ainda muito tradicionalistas e românticos em relação ao jogo: é uma empresa – num modelo um pouco diferente das recém chegadas, ao Brasil, Sociedades Anônimas do Futebol (saf’s). A própria agremiação civil esportiva é a acionista majoritária, até por obrigação de legislação alemã, mas disponibiliza ações em bolsas de valores para que variados players possam adquirir títulos do clube, além de ter como acionistas relevantes, a Evonik Industries – com atuação principal, mas não exclusiva, no ramo de produtos químicos e que conta com mais de trinta e três mil trabalhadores em seu quadro – e a já citada Signal Iduna, do ramo de seguros e de serviços de consultoria financeira, que atualmente registra mais de dez mil funcionários e que detém os naming rights do estádio do clube alemão, sob um contrato que se iniciou em 2005 e que vai até meados de 2026, a priori.
Estádio esse que encanta os “entendidos” da bola, por dois principais aspectos: tem capacidade para receber cerca de oitenta e um mil torcedores e costuma ter média de público de oitenta mil pessoas ao longo de uma temporada; simplesmente a maior média de público do mundo. E, para completar, atrás de um dos gols, há um setor não cadeirado, constituído somente por arquibancadas “raízes”, de concreto, que costuma ser acessível aos torcedores por preços “menores” em relação aos demais setores. Os fãs que por ali se acomodam, tendem a torcer em pé e pulando, formando a famosa “muralha amarela”. Em geral, a jurisdição mal vista pela maioria dos alemães, não impede a adesão apaixonada de seus adeptos, tanto quanto não impede o clube de ser visto mundo a fora, como um clube cult, devido a esse fervor do torcedor auri-negro. Desde 2012, quando efetivamente passou a gerar lucro, paga polpudos dividendos aos detentores de seus títulos.
Em comparação às duas agremiações citadas anteriormente, o Liverpool Football Club, popularmente conhecido como “the reds”, não se encaixa nem no modelo de associação civil esportiva, nem no modelo de ações compartilhadas; o clube, fundado em 1892, é propriedade privada do Fenway Sports Group Holdings, um conglomerado transnacional, de origem estadunidense, dono de variadas franquias esportivas de diversas modalidades, como o Boston Red Sox, do baseball; o Pittsburgh Penguins, do hockey; e da equipe RFK Racing, da NASCAR – uma modalidade automobilística específica dos States. A apropriação do clube por tal conglomerado, se efetivou em 2010, num processo de compra e venda entre burgueses, pois, anteriormente, o clube era propriedade de outros dois multimilionários da terra do Tio Sam.
Trata-se não só de um dos maiores times de futebol da Inglaterra, mas do mundo. Em listas de revistas burguesas de lucros, patrimônios, finanças, etc, como a Forbes, ao longo dos anos, o Liverpool sempre aparece entre os clubes mais valiosos do planeta, com uma marca de forte alcance, mesmo em períodos nos quais os bons resultados esportivos foram escassos ou mesmo inexistentes, como entre 2008 e 2012, por exemplo. Seus CEO’s, por vezes, tomam decisões polêmicas, como a de aderir ao projeto de criação de uma Superliga européia de futebol, projeto esse que fora encabeçado pelos presidentes de Real Madrid e Barcelona e que consistia em construir um torneio apenas com os times mais ricos do mundo, sem um sistema de acesso ou rebaixamento, com franquias fixas na competição, aos moldes das competições esportivas dos Estados Unidos; ou como na ocasião de pandemia de covid-19, situação na qual os gestores optaram por licenciar do trabalho, todos os funcionários que não fossem diretamente ligados ao time de futebol. Em ambos os casos, diante da má repercussão das ações perante a torcida, as decisões foram revogadas e tais revogações foram seguidas de notas oficiais com pedido de desculpas. Tais casos servem de ilustração acerca da preocupação dos administradores e dos proprietários em manter em torno do clube uma imagem de instituição “democrática”; polida.
E pedir desculpas após tomadas de decisões equivocadas diante dos fãs do clube, é uma consequência sensata, com lastro na realidade, quando falamos de tal torcida e dos habitantes da cidade de Liverpool. O município, portuário, possui uma economia majoritariamente fabril e os operários que ali trabalham e residem, costumam ser engajados em lutas sindicais e na política como um todo. A torcida, há anos, entoava um grito, em dias de partidas, afirmando que fariam uma festa quando Margareth Thatcher morresse. E assim se fez. Esse ódio contra a famigerada “Dama de Ferro”, não fora gratuito. Liverpool foi uma cidade de ferrenha oposição às políticas neoliberais da bruaca e, portanto, uma das mais, se não a mais perseguida politicamente pelo Estado à época. Duas tragédias vinculadas a jogos de futebol, acirraram ainda mais a rixa entre o governo britânico e os scousers – espécie de gentílico da cidade.
A primeira delas se deu no ano de 1985, antes da decisão da UEFA Champions League, contra a Juventus, da Itália. Torcedores dos reds violaram a área que separavam-nos dos fãs da juve; estes, fugindo do ataque dos ingleses, acabaram encurralados em um setor murado do estádio de Heyesel, em Bruxelas, na Bélgica, palco da final. Como o estado de conservação da arena era calamitoso, um dos muros, devido ao excesso de pessoas que o pressionavam, tombou e matou trinta e nove torcedores; a maioria deles, do clube italiano. Apesar de a UEFA, por politicagem, a contra gosto das gestões dos clubes e partindo de uma inspeção que durou tão somente meia hora, ter sido a responsável – irresponsavelmente – pela escolha do local, com seus dirigentes envolvidos no caso, nada aconteceu. Judicialmente, quatorze torcedores do Liverpool foram condenados como os únicos culpados pela tragédia.
Quatro anos depois, em 1989, durante a semifinal da copa da Inglaterra, no estádio de Hillsborough, na cidade de Sheffield, devido à superlotação de um dos setores destinados pelos organizadores do evento, aos torcedores do Liverpool, noventa e quatro pessoas morreram – no dia; outras vieram a falecer posteriormente, em decorrência dessa tragédia – esmagadas, devido ao alto contingente de torcedores, num local com capacidade para receber público em número infinitamente menor. O governo britânico, de início, tentou a todo custo culpabilizar os “vândalos” do Liverpool pela triste ocorrência. Porém, com a mobilização da comunidade scouser que conseguiu coletar inúmeras provas ao longo de anos, se chegou à conclusão de que a responsabilidade fora da polícia local. Em 2012, vinte e três anos após a fatalidade, por meio do Primeiro Ministro britânico de então, David Cameron, diante de tantas evidências – mas não sem relutância – o governo britânico teve de pedir desculpas às vitimas e suas famílias.
“Tá; mas que cargas d’água têm a ver esses clubes de futebol, entre si e, sobretudo, com doutor Fausto e o Diabo?”, pergunta curioso o caro leitor; imagino. A mais conhecida e mais evidente semelhança – por estar no nível da aparência – é que ambos tiveram seu time de futebol profissional masculino treinado pelo alemão Jürgen Klopp. Nascido a 16 de junho de 1957, na cidade de Stuttgart, como todo bom cintura dura, Kloppo – como é carinhosamente conhecido por seus fãs, principalmente, na Alemanha – foi zagueiro mediano e teve seus melhores momentos como jogador, já da metade para o fim de sua carreira, no próprio Mainz 05.
O sucesso no meio futebolístico veio somente como treinador. Em resumo: Klopp levou o Mainz à primeira divisão de forma inédita em sua história, tanto quanto garantiu a primeira participação do clube num torneio continental – UEFA Europa League. No Borussia, não somente quebrou um jejum de treze anos sem conquistas da liga nacional, como ainda conseguiu um bicampeonato e alcançou a final da Champions depois de quinze anos. No Liverpool, liderou o clube no título inédito da Premier League – criada em 1992 – e fez o time levantar a orelhuda – taça da Champions – após quatorze anos de fila. Sem contar que foi o cara que se colocou como grande rival de Pep Guardiola em sua era Manchester City.
E não estamos falando somente de um qualificado e vitorioso profissional do esporte. Klopp, sempre angariou admiradores ao redor do globo, por seu carisma, por sua sinceridade nas entrevistas e por não fugir de temas polêmicos. Em 2018, por exemplo, durante uma entrevista, Kloppo disse que, apesar de sua condição financeira privilegiada, jamais pagaria por um plano de saúde, que não votaria num partido por simplesmente prometer reduzir impostos; em suma, segundo palavras do próprio, que jamais votaria na direita. Durante a disputa da final do mundial de clubes, em 2019, contra o Flamengo, o treinador defendeu a deliberação do clube em não aceitar a hospedagem e os demais serviços ofertados por um hotel que seria bancado pela FIFA, pois ali havia denúncias de violações de direitos trabalhistas de trabalhadores imigrantes. Em variados momentos de sua passagem pelo clube inglês, mas em especial, em 2017, Jürgen criticou ferrenhamente a inserção de empresas como a austríaca Red Bull, no mundo do futebol. A corporação costuma tornar-se proprietária ou acionária de clubes tradicionais, mas que estão num momento esportivo não muito bom. Ao se apoderar política e financeiramente do clube, muda a identidade visual e implementa seus conceitos de gestão esportiva. Klopp, em suas críticas, chegou a citar diretamente a Red Bull e salientou que, quando se trata de futebol, aprecia a “tradição”.
Pois bem; e foi aí que o caldo entornou. Finalmente, chegamos ao ponto nevrálgico da análise. Recentemente, Klopp se aposentou da profissão de treinador e, após passar por um período de descanso, aceitou o cargo de diretor de futebol global da empresa. Usará todo seu vasto conhecimento e experiência de um profissional vitorioso para prestar acessoria aos núcleos futebolísticos de cada um dos clubes pertencentes ao grupo Red Bull – que inclui o Red Bull Bragantino. Levando em conta o histórico progressista e social-democrata do treinador, não foi de se espantar que este tenha recebido duras críticas de grande quantidade de torcedores dos três clubes pelos quais passou exercendo a função e com os quais criou grandes laços afetivos. “Mercenário”; “hipócrita”; “corrompido”; eis alguns dos adjetivos que os, agora, ex-fãs, atribuíram ao alemão. Alguns disseram, inclusive, que Klopp vendera-se ao diabo.
Na Alemanha do Mainz, do Borussia e de Klopp, há uma antiqüíssima lenda popular que relata a história de Fausto, um alquimista/médico que, em nome do conhecimento, do progresso e do retardo de seu envelhecimento, aceitara vender sua alma ao diabo. Durante anos, Fausto pode usufruir de ilimitada juventude e desfrutar dos prazeres terrenos, incluso aí, a paixão pela intelectualidade. Na medida em que o término do prazo do contrato se aproximara, Fausto se arrepende do acordo com o cramulhão e tenta algum tipo de redenção ao se apaixonar por uma moça, entretanto, não consegue escapar do destino estipulado em contrato assinado com seu próprio sangue. A versão mais famosa dessa lenda é a peça teatral produzida pelo polímata Goethe.
Kloppo, não fora tirado para Cristo, mas para Fausto por seus antigos admiradores. Não importa que sua carreira como treinador tenha sido alavancada numa associação civil esportiva, em tese, sem fins lucrativos, mas que não teve pudor algum em prejudicar a economia e o meio-ambiente locais no processo de construção de uma moderna arena com capacidade maior de público e, portanto, de arrecadação; não importa que esta mesma agremiação, apesar de não ser tratada juridicamente como uma empresa privada, tenha de seguir a mesma lógica predatória do mercado e da economia burguesa para se manter como um time de futebol de alto rendimento. Não se faz relevante o fato de o Borussia ter acionistas que embolsam enormes dividendos, o que faz, portanto, o futebol do clube ser apenas um meio para o enriquecimento de umas poucas pessoas e não um fim em si; não se trata do jogo pelo jogo. Também não há importância na condição dos reds, um dos símbolos maiores de uma cidade portuária, industrial, sindicalizada e trabalhista, em ter proprietários muito bem definidos e que, até mesmo, utilizam-se dessa imagem rebelde do município e do clube, para fins comerciais; para a venda da marca Liverpool.
No essencial, os modelos adotados para a gestão dos clubes destacados e para a reprodução destes enquanto entidades que produzem times de futebol de alto rendimento, não se difere em absolutamente nada das práticas do grupo Red Bull. Klopp, como todo assalariado na sociedade do capital, necessitou e ainda necessita – no caso dele, já não por carência material – vender sua força de trabalho em troca de salário, mas aí, a ideologia opera e tende a enganar, na camada da aparência do funcionamento social, os torcedores destas agremiações que, equivocadamente, entendem que só a Red Bull seria o mal encarnado nesse encadeamento.
No capitalismo, só se fabrica o que pode ser comercializável; tudo é feito para ser vendido. Se necessidades humanas serão atendidas nesse processo em que as mercadorias são trocadas por dinheiro, isso é uma questão de importância secundária. Ocasionalmente, sim. Mas se o burguês puder ampliar seus lucros sem explorar força de trabalho dos trabalhadores no processo de produção de bens de consumo – com títulos de dívida pública, por exemplo – ele o fará. Por que no futebol, essa lógica seria diferente? Por causa do amor que aprendemos a sentir por nossos times do coração, desde pequenos? Marx e Engels esclarecem:
A burguesia desempenhou na história um papel altamente revolucionário. Onde passou a dominar, destruiu as relações feudais, patriarcais e idílicas. Dilacerou sem piedade os laços feudais, tão diferenciados, que mantinham as pessoas amarradas a seus “superiores naturais”, sem pôr no lugar qualquer outra relação entre os indivíduos que não o interesse nu e cru do pagamento impessoal e insensível “em dinheiro”. Afogou na água fria do cálculo egoísta todo fervor próprio do fanatismo religioso, do entusiasmo cavalheiresco e do sentimentalismo pequeno-burguês. Dissolveu a dignidade pessoal no valor de troca e substituiu as muitas liberdades, conquistadas e decretadas, por uma determinada liberdade, a de comércio.
Em uma palavra, no lugar da exploração encoberta por ilusões religiosas e políticas ela colocou uma exploração aberta, desavergonhada, direta e seca. A burguesia despiu de sua auréola todas as atividades veneráveis, até agora consideradas dignas de pudor piedoso. Transformou o médico, o jurista, o sacerdote, o poeta e o homem de ciência em trabalhadores assalariados.
A burguesia rasgou o véu comovente e sentimental do relacionamento familiar e o reduziu a uma relação puramente monetária.
O jogo no qual se tenta encaixar uma bola, conduzindo-a com os pés, numa baliza enredada, para marcar um ponto, tal o qual conhecemos hoje, é oriundo da e na sociedade burguesa se desenvolveu. Não está imune às vicissitudes do capitalismo. No âmbito do alto rendimento, só se reproduzirá, enquanto gerar rendimentos altos.
E por não ter imunidade ao capital, o futebol não passa incólume à luta de classes. Recentemente, jogadores dos principais clubes do mundo recorreram ao sindicato mundial da categoria, acusando insatisfação com a criação de um novo mundial de clubes; outra competição criada de cima para baixo, sem consulta aos que de fato fazem os jogos acontecerem. Mais jogos a serem disputados; mais tempo de trabalho; menor tempo para férias, lazer, para passar com a família, etc. Um jogador que preferiu não se identificar teria dito que de nada lhe adiantaria se esforçar tanto para ganhar muito dinheiro, sem possibilidade de aproveitá-lo. O sindicato e as federações nacionais, por meio da luta jurídica, ameaçam a concretização do torneio.
Recentemente, um jogador que teve seu contrato rescindido de modo unilateral por parte de um clube, em 2014, conseguiu, a partir de um processo jurídico que correu por dez anos no tribunal de justiça comum da União Europeia, flexibilizar as transferências dos jogadores de um clube a outro, eliminando a necessidade de emissão de certificado de transferência do clube do qual se desliga, para poder ser contratado e, portanto, trabalhar em outro clube sem ter, muitas vezes, de desembolsar dinheiro próprio para, na prática, só mudar de emprego; de empresa. Entretanto, mesmo com pequenos avanços, a força política está nas mãos das bilionárias federações e dos igualmente ricos e poderosos clubes, independentemente do modelo de gestão do capital dessas agremiações.
Se o torcedor de futebol almeja um futebol romântico, no qual o amor pelo jogo e pela agremiação esportiva que o produz, seja a prioridade, e não a reprodução e ampliação de cifras bilionárias que tão somente convertem essa nossa paixão em mera mercadoria, temos de atacar o diabo verdadeiro: o capitalismo. Jürgen e o grupo Red Bull, ainda que de posições distintas e de formas distintas, como todo o resto de nós em todas as áreas de produção da vida, são apenas agentes que alimentam esse diabo e o ajudam a crescer. E diferentemente do que Mefistófoles – o nome dado ao diabo da lenda alemã, que significa “o que não ama a luz”; igual a ENEL – concedeu a Fausto antes de lhe arrancar a alma definitivamente, o capitalismo, para a maioria esmagadora de nós, não concede nada de juventude e prazer. Ao contrário, diariamente, explorando ao máximo a nossa capacidade de trabalho, nos traz envelhecimento precoce, adoecimento crônico, depressão, refúgio em variados vícios, extinção acelerada de nossas forças vitais.
Para extirpar essa relação parasitária que temos com o Mefistófoles real, não há solução mágica – nos moldes do “chirrin chirrion” do diabo, no episódio em que a lenda é parodiada na série “Chapolin Colorado”. O mundo só será exorcizado do capital, quando a classe trabalhadora, consciente de seu papel histórico de emancipadora da humanidade, se organizar e de maneira contumaz o pôr abaixo para erigir, de suas ruínas, um mundo onde não só os meios de produção e reprodução da vida sejam nossos e colocados a favor de todos, mas também, o nosso querido jogo seja construído à imagem e semelhança dessa sociedade nova e liberta.