sexta-feira, 27 de maio de 2022

A guerra entre Rússia e Ucrânia: algumas reflexões introdutórias

 

Paulo Sergio Tumolo[1]

 

    A guerra que a Rússia desencadeou na Ucrânia no início de 2022 é um caso emblemático a ser decifrado no atual contexto do capitalismo. Sabemos, com certeza, que o estado nacional russo entrou em guerra com o estado nacional ucraniano, mas ficam muitas dúvidas, sendo que a principal é a seguinte: os estados nacionais russo e ucraniano são a expressão política de que classes, ou segmentos de classe, capitalistas?

    Parece-me que o tratamento, mesmo que hipotético, dessa questão poderia ser apresentado a partir de duas vertentes.

    Supondo, primeiramente, que existam uma burguesia nacional capitalista russa e uma burguesia nacional capitalista ucraniana, que teriam nascido tardiamente devido ao processo de desintegração da União Soviética e à decorrente formação de alguns países que fizeram sua transição para o capitalismo, e os estados nacionais russo e ucraniano seriam a expressão política de suas respectivas burguesias nacionais. Por que a burguesia nacional capitalista russa teria precisado abrir uma guerra militar contra a burguesia nacional capitalista ucraniana? Para ocupar o território ucraniano, diriam alguns, e, dessa maneira, ter acesso a um conjunto de riquezas. Parece-me uma hipótese plausível, uma vez que isso poderia fortalecer a burguesia nacional capitalista russa, em detrimento da burguesia nacional capitalista ucraniana e, dessa forma, contribuir em seu afã de se projetar como uma burguesia capitalista transnacional, o que se impõe como necessidade de sobrevivência.

    Em segundo lugar, poderíamos supor que os estados nacionais russo e ucraniano não seriam a expressão política de suas respectivas burguesias nacionais, mas sim, determinantemente, de empresas capitalistas já devidamente transnacionalizadas presentes em seus territórios. Neste caso, por que o estado nacional russo precisou fazer uma guerra militar contra o estado nacional ucraniano? A resposta seria a mesma, ou seja, para poder tomar suas riquezas e, adicionalmente, ter acesso a um mercado consumidor de mercadorias? Penso que, aqui, cabem algumas ponderações.

    Riquezas naturais ou manufaturadas entram no processo de produção de capital como meio de produção, ou, mais precisamente, como capital constante. Como sabemos, o elemento primordial no processo de produção de capital é a força de trabalho, que entra como capital variável e, sendo assim, é a única fonte de produção de mais-valia e, portanto, de capital. Devemos enfatizar que a finalidade de qualquer capitalista não é conseguir matéria-prima, mas sim, acumular capital. Por isso, matéria prima é meio para se atingir o objetivo, que é o capital, produzido pela força de trabalho com a utilização dos meios de produção.

    Durante o período que vai do final do século XVIII até a época do imperialismo, era necessário que as burguesias nacionais entrassem em confrontos militares entre si para disputar os mercados fornecedores de matéria prima e consumidores de suas mercadorias porque era a única maneira de realizar o ciclo completo de produção, circulação e acumulação de capital.

    Explico melhor. A produção de capital era feita exclusivamente nas nações nas quais a relação de produção capitalista era determinante. Para que haja produção de capital, é preciso juntar dois elementos: capital constante (meios de produção) e capital variável (força de trabalho). Ocorre que o capital variável se encontrava quase que exclusivamente nas nações capitalistas, mas parte considerável do capital constante se localizava fora destas nações, em territórios nos quais a relação capitalista ainda não era determinante. Para poder juntar esses dois elementos, que estavam separados em lugares diferentes, e dessa maneira produzir capital, as burguesias nacionais capitalistas precisavam ter o controle dos territórios fornecedores de capital constante e, para isso, lançavam mão de todo tipo de expediente, inclusive do instrumental militar.

    Ao mesmo tempo, as burguesias nacionais capitalistas necessitavam ter o controle dos territórios consumidores das mercadorias produzidas em suas respectivas nações, grávidas de mais-valia, para poderem realizar a circulação de capital, perfazendo, assim o ciclo de acumulação de capital. Esse controle exigia, muitas vezes, confrontos militares.

    Grande parcela do processo de produção e circulação de capital era feito de fora para dentro e de dentro para fora, respectivamente. Ou seja, o processo de produção de capital nas nações capitalistas era feito com o capital variável destas nações e, em grande parte, com o capital constante que vinha de fora. Por sua vez, o processo de circulação de capital era realizado com as mercadorias produzidas, de forma capitalista, dentro das nações capitalistas, que eram exportadas para fora delas.

    Sendo assim, as burguesias nacionais capitalistas tinham necessidade de controle não apenas sobre sua força de trabalho nacional (capital variável nacional), como também dos mercados fornecedores de matéria-prima (capital constante) e consumidores de suas mercadorias (circulação do capital). Esse controle era feito de dentro, quer dizer, das nações capitalistas, ou melhor, dos estados nacionais das burguesias capitalistas nacionais, para fora, ou seja, para o restante das nações nas quais a relação capitalista ainda não era determinante. Os estados nacionais eram, portanto, os agentes centrais desse controle.

    Por causa da necessidade dessas formas de controle para a produção e circulação de capital, conflitos militares entre burguesias nacionais capitalistas não apenas eram comuns, mas também necessários durante o período que vai do final do século XVIII até a primeira metade do século XX, protagonizados por seus respectivos estados nacionais.

    Entretanto, tudo isso se alterou com a transnacionalização da exploração capitalista da força de trabalho, que se consolida a partir da segunda metade do século XX. Com isso, determinada burguesia capitalista nacional não precisa mais buscar capital constante na forma de matéria-prima em territórios distantes para juntar com o capital variável de sua nação, para que haja produção de capital. Basta instalar uma empresa capitalista nos lugares onde está o capital constante e comprar, ali mesmo, a força de trabalho que, explorada como capital variável, irá produzir capital. Da mesma maneira, essa burguesia capitalista nacional não precisa mais exportar as mercadorias produzidas para outros territórios porque as mercadorias, prenhas de mais-valia, que foram produzidas naqueles mesmos lugares, serão ali consumidas, realizando, assim, a circulação de capital.

    O que passa a ocorrer, com a transnacionalização da exploração capitalista da força de trabalho, por meio da ação das empresas capitalistas transnacionais, é que a junção do capital constante com o capital variável, que antes era feita, em grande medida, de fora para dentro, agora é realizada de dentro para dentro. Em outras palavras, a produção de capital, que antes era feita, em grande parte, de fora para dentro, agora é realizada de dentro para dentro.

    Da mesma forma, a circulação de capital, que antes era feita, em grande medida, de dentro para fora, agora é realizada de dentro para dentro.

    Resumidamente, a produção e circulação de capital, que antes eram feitas, em grande parte, de fora para dentro e de dentro para fora, agora são realizadas de dentro para dentro. Na verdade, deixa de existir fora, porque produção e circulação de capital passam a se realizar dentro de um único mercado mundial de produção e circulação de capital, e não mais em mercados nacionais. As burguesias capitalistas nacionais cedem lugar às empresas capitalistas transnacionais, porque os capitais nacionais vão se convertendo em capital transnacional ou capital mundial ou, apenas, capital. Dessa maneira, com a transnacionalização da exploração capitalista da força de trabalho e a decorrente formação de um mercado mundial de produção e circulação de capital, o capital matou vários coelhos com um só tiro, e, como não sobrou nenhum coelho, o que sai da cartola é o capital de puro sangue.

    Sendo assim, o controle sobre as fontes de fornecimento de matéria prima (capital constante) e sobre a força de trabalho (capital variável), quer dizer, o controle sobre todo o processo de produção de capital e também sobre a circulação de capital passa a ser feito de dentro para dentro, ou melhor, dentro de um único mercado mundial de produção e circulação de capital, principalmente, pelas próprias empresas capitalistas transnacionais. Os estados nacionais, que eram os guardiões desse processo até meados do século XX, vão transferindo o papel de controle da produção e circulação de capital para as empresas capitalistas transnacionais.

    Por isso, conflitos militares protagonizados por estados nacionais, resultantes da necessidade de controle sobre a produção e circulação de capital tendem a se arrefecer. Isso quereria dizer que não existiriam mais guerras? Ora, não existe capital sem guerras. As empresas capitalistas transnacionais travam, cotidiana e diuturnamente, uma guerra sangrenta sem tréguas, que se acirra na mesma medida do desenvolvimento e consolidação do mercado mundial de produção e circulação de capital. O que desencadeia essa guerra não é o assassinato do príncipe de Sarajevo e, tampouco, a necessidade de saquear um poço de petróleo, mas, sim, a lei do valor, porque neste mercado mundial de produção e circulação de capital, que se assemelha a uma piscina gigante, do tamanho dos três oceanos juntos, cheia de um líquido quente e viscoso, de coloração avermelhada, só sobrevivem as empresas que conseguem diminuir o valor de suas mercadorias e, dessa maneira, esquartejar seus concorrentes. Vários mecanismos são utilizados para atingir esse macabro objetivo — espionagem industrial, sabotagem, corrupção, etc. —, mas a arma mais eficaz é o aumento da força produtiva do trabalho, ou, se se quiser, incremento de produtividade. Dessa forma, nessa guerra, cada vez mais truculenta, existiria uma tendência de que os artefatos militares usados pelos estados nacionais cedam lugar à arma mais poderosa nas mãos das empresas transnacionais, imposta pela lei do valor.

    Aqui cabe uma observação complementar. Se as considerações anteriores têm fundamento de verdade, então os estados capitalistas nacionais e o possível futuro estado mundial do capital não precisariam mais usar artefatos militares contra burguesias capitalistas nacionais e, por isso, poderiam transformá-los em instrumentos de repressão e utilizá-los contra outro alvo: o proletariado, também transnacionalizado pelo capital.

    No caso tratado por último, se o estado nacional russo fosse a expressão de organicidade política de empresas capitalistas transnacionalizadas, parece-me que ficaria questionada a necessidade de travar um conflito militar com o estado nacional ucraniano, uma vez que bastaria que essas empresas se instalassem pacificamente na Ucrânia para explorar tanto as riquezas (capital constante), como, principalmente, a força de trabalho (capital variável), com o escopo de produzir capital; ou então comprassem ações de uma empresa já implantada naquele país.

    Durante o momento em que escrevo este texto, a guerra do estado russo na Ucrânia está acontecendo e confesso que não tenho nenhuma clareza a respeito das razões que a motivaram e também acerca de seus desdobramentos. Contudo, prefiro ficar com várias dúvidas e perguntas que com respostas sobre as quais pairam muitas incertezas.

 



[1] Professor titular da Universidade Federal de Santa Catarina e vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Educação da UFSC, linha de pesquisa Trabalho e Educação. É coordenador do Grupo de estudos Capital, trabalho e educação (GECATE) e membro do 13 de Maio - Núcleo de Educação Popular (NEP).


terça-feira, 24 de maio de 2022

A guerra da Ucrânia no tabuleiro da geopolítica mundial

Análise de Conjuntura

12 de maio de 2022


A guerra da Ucrânia no tabuleiro da geopolítica mundial


            A verdade é sempre a primeira vítima fatal com a qual nos deparamos ao acompanhar os acontecimentos de uma guerra. Longe de ser o resultado da interpretação subjetiva dos eventos pelas partes envolvidas no conflito, esta morte é fruto de estratégias que criam uma espessa cortina de fumaça no qual é impossível distinguir o falso do verdadeiro.

            Produzidos ora para efeitos propagandísticos, ora para desacreditar o inimigo, ora para marcar posição, blefar, confundir, ameaçar, amedrontar ou humilhar, os fatos e as narrativas que os acompanham escondem os problemas e os interesses que caminham nos passos ocultos do momento histórico em que a geopolítica mundial percorre as sendas de um enfrentamento armado entre as nações.

            Com a invasão da Ucrânia pela Rússia as coisas não são diferentes. Os textos e as reportagens consultadas trazem dados contraditórios e números diferentes para o mesmo aspecto da realidade; apelam à emoção e ao medo para encobrir interesses e impedir o pensamento crítico; mascaram a ineficácia de medidas anunciadas com discursos eloquentes; fazem coro a declarações oficiais retumbantes negadas pela realidade econômica; buscam convencer a população de que o inimigo é o único culpado pela devastação e as carnificinas que marcam os campos de batalha.

            As reflexões que seguem procuram reunir os fragmentos da realidade econômica e militar que, ao responder algumas perguntas, permitem vislumbrar as primeiras tímidas tendências no emaranhado gelatinoso e mutante das posições dos países que protagonizam este conflito e do séquito de nações coadjuvantes que buscam se beneficiar das contradições desta guerra.

            Para dar conta desta tarefa, caminharemos inicialmente pelas causas do conflito; andaremos pelas trilhas que permitem avaliar até que ponto as sanções econômicas impostas à Rússia terão a eficácia desejada pelos que armam a Ucrânia; seguiremos pelos objetivos que Washington e Moscou pretendem alcançar e chegaremos a um primeiro balanço dos reflexos do conflito na economia e na geopolítica mundial.1

            Longe de conseguirmos abranger todos os elementos de que precisaríamos para esboçar com maior precisão os cenários do futuro, o nosso esforço visa tomar o pulso da realidade, registrar as mudanças em cursos e apontar os elementos que elevam o rufar dos tambores da guerra na Europa.

 

            1. Os antecedentes e as justificativas da invasão da Ucrânia.

            Não há dúvidas de que a ampliação da Organização do Tratado do Atlântico Norte) OTAN depois do fim da União Soviética tem como objetivo cercar militarmente a fronteira oeste da Rússia que, nos últimos dez anos, reativou bases militares de onde podem ser lançados ataques atômicos, produziu mísseis ultrassônicos capazes de driblar as defesas estadunidenses e assinou acordos militares com a China, cujo conteúdo nunca foi totalmente revelado.

            A Ucrânia solicitou a sua entrada na OTAN em 2008 e, desde o início, sua admissão aos círculos da Aliança Atlântica foi considerada inaceitável pelos russos. Os EUA guardaram o pedido de Kiev como uma espécie de "carta na manga" para submeter o governo de Kiev aos seus interesses e pressionar Moscou a fazer concessões. Oficialmente, Washington sempre procurou convencer a Ucrânia de que a sua admissão na OTAN não aconteceria tão cedo enquanto dizia à Rússia que a entrada do país na Aliança Atlântica era apenas uma questão de tempo.

            É neste contexto que encontramos a principal explicação da Rússia para a guerra: deter o avanço da OTAN na Ucrânia, cuja posição geográfica permitiria aproximar os sistemas de mísseis e antimísseis capazes de atingir mais rapidamente pontos nevrálgicos do território russo e de servir como barreira avançada para neutralizar eventuais ataques desferidos por Moscou.

A China assumiu publicamente esta mesma posição ao acusar a OTAN de ser diretamente responsável pelo conflito, à medida que a admissão de 14 países desde o fim da Guerra Fria e o desejo de incorporar a Ucrânia à Aliança Atlântica teriam encurralado a Rússia a ponto de tornar inevitável uma ação militar. A sintonia entre a Rússia e o gigante asiático no campo da defesa passa longe de ser obra do acaso e vem sendo construída desde novembro de 2014, quando Pequim e Moscou deram os primeiros passos para criar um sistema coletivo de segurança regional com manobras conjuntas de suas forças armadas e aprofundaram o intercâmbio militar com o objetivo de deter o aumento da influência dos EUA na Ásia.

            Em novembro de 2021, num clima de tensões crescentes em função das exercitações militares de Moscou nas fronteiras com a Ucrânia, Rússia e China assinaram um acordo que ampliou a cooperação militar entre as duas nações. Além de expandir os exercícios militares estratégicos e as patrulhas aéreas a toda a região do Oceano Índico e do Pacífico, o acordo renovou o compromisso da Rússia de auxiliar a China a monitorar eventuais lançamentos de mísseis nucleares contra o seu território. E no dia 4 de fevereiro deste ano, vinte dias antes da invasão da Ucrânia, os dois países assinaram um pacto de unidade política e de segurança que não põe limites à sua parceria. Na declaração conjunta, Vladimir Puttin e Xi Jinping anunciaram o início de uma nova era nas relações internacionais e o fim da hegemonia americana.

As bases militares dos EUA fora do seu território como braço armado desta hegemonia

Fonte: Revista Superinteressante, em: https://super.abril.com.br/coluna/oraculo/quantas-bases-militares-os-estados-unidos-tem-fora-de-seu-territorio/

            Diante dos impasses nas relações diplomáticas entre Washington e Moscou em relação à inclusão da Ucrânia na OTAN, Putin se antecipou aos acontecimentos para colocar a Rússia numa posição favorável nas negociações futuras. Ainda que, até o momento, as explicações para a invasão da Ucrânia não permitam pontuar claramente motivos alheios à defesa militar, as relações pacientemente costuradas e amadurecidas com a China impedem que possamos interpretar este fato como uma decisão precipitada de Putin ou como algo totalmente inesperado.

            A resposta imediata da União Européia (UE) e dos Estados Unidos foi uma escalada de duras sanções econômicas destinadas a sufocar a economia russa e a despertar um descontentamento popular capaz de derrubar o governo de Vladimir Putin.

 

            2. Mas...será que é realmente possível estrangular a Rússia com sanções econômicas?

            A nosso ver, não. A seguir, vamos pontuar os elementos que, pela nossa interpretação das leituras realizadas e dos dados disponíveis comprovam esta afirmação.

            1. Em primeiro lugar, é necessário lembrar que, a partir de 2008, a Rússia investiu muito na autossuficiência alimentar em parceria com parte das repúblicas da antiga União Soviética. O fornecimento de tecnologia e os créditos concedidos elevaram a produtividade da agricultura da região, expandiram as culturas e impulsionaram a integração dos mercados e da infraestrutura de transporte. Aos poucos, a Rússia não só deixou de importar metade da comida consumida pela sua população como se tornou um exportador líquido de alimentos (entre os quais se destacam o trigo e o óleo de girassol que atendem, respectivamente, 18% e 23% da demanda mundial). À medida que a estrutura produtiva do país não é devastada pela guerra, podemos dizer que Moscou tem todas as condições para evitar que uma situação de penúria generalizada desperte a revolta esperada por EUA e UE.

            2. Além de o fornecimento de gás aos países da Europa aumentar de um ano para outro, ampliando cada vez mais a dependência do abastecimento proporcionado pela Gazprom, em 2021, o inverno mais rigoroso e o calor do verão acima da média elevaram a demanda da UE muito acima das quantidades fixadas nos acordos de longo prazo. Ao extrapolar os níveis contratados a preços fixos, o fornecimento excedente passou a ser realizado pelos valores vigentes no momento em que os novos pedidos eram encaminhados. O cumprimento dos acordos e a demanda inesperada elevaram em quase 500% o preço internacional do gás e, de consequência, a quantidade de euros e dólares que entraram nos cofres de Moscou.

            3. Graças aos investimentos estrangeiros no país e aos superávits obtidos com as exportações de hidrocarbonetos e outras matérias-primas, em janeiro de 2022, o Banco Central russo contava com uma quantidade de ouro e de moedas usadas no comércio internacional correspondente a 640 bilhões de dólares, uma soma considerável para uma economia que, em 2021, registrou um Produto Interno Bruto (PIB) de um trilhão e 610 bilhões de dólares.

Parte deste dinheiro e do ouro da Rússia foi aplicada em instituições financeiras internacionais sediadas em países que aderiram às sanções econômicas. Não há estimativas confiáveis em relação aos valores bloqueados, mas, para atenuar o processo de desvalorização do rublo originado pela indisponibilidade destes recursos e pela saída dos investidores, o banco central do país elevou a taxa de juros a 20% ao ano, promulgou restrições às remessas de capital em dólares e proibiu os cidadãos de saírem do país com mais de 10.000 rublos em moedas estrangeiras.

A imposição de que, a partir de 1 de abril, o fornecimento de hidrocarbonetos aos países europeus seja pago somente em rublos tem o mesmo objetivo. Mas há uma particularidade que não pode ser desconsiderada. De fato, além de frear a desvalorização da moeda russa (que, do início da guerra em 24 de fevereiro ao final de março, perdeu 40% do seu valor frente ao dólar estadunidense), uma maior cotação da moeda nacional permite adquirir uma quantidade mais elevada de criptomoedas com as quais é possível driblar mais facilmente as sanções financeiras impostas ao país. E aqui não se trata de suposições vagas e sim de um processo que, em Dubai, capital dos Emirados Árabes Unidos (EAU), se tornou corriqueiro diante da chegada de uma verdadeira enxurrada de milionários russos.

O país, que se absteve de condenar a Rússia na votação da ONU e não impôs sanções comerciais e financeiras a Moscou, vem recebendo de braços abertos empreendedores e especuladores russos que procuram nele proteção para os seus capitais, condições para implantar setores estratégicos de empresas cujo funcionamento seria submetido a graves riscos se permanecessem no país de origem e mansões nos quais alojarem suas famílias. Todas as transações financeiras que acompanham estas transferências estão sendo realizadas em criptomoedas através de intermediários locais, num claro sinal de que, por este caminho, é possível driblar parte significativa dos bloqueios internacionais.

            4. Até o dia 4 de maio, o maior banco da Rússia (o SBERBANK) ainda não havia sido desconectado da Sociedade de Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais (SWIFT, pela sigla em inglês) à medida que a sua intermediação foi considerada necessária para pagar o fornecimento dos hidrocarbonetos russos. Esta instituição financeira representa mais de um terço do setor bancário da Rússia e ainda não há previsões em relação a quando a sua desconexão será efetivada.

Enquanto isso não ocorre, Moscou aprimora os mecanismos que permitem fazer transações financeiras internacionais através do Sistema de Pagamento Interbancário Transfronteiriço (CIPS) criado e administrado pela China. Desenvolvido em 2015, o CIPS é usado principalmente para liquidar créditos internacionais em yaun, efetuar os pagamentos das importações e exportações entre os países que integram a Iniciativa do Cinturão do Comércio e a Nova Rota da Seda (inauguradas em 2013) e fazer com que, a exemplo do dólar e do euro, a moeda chinesa ganhe cada vez mais espaço nas transações comerciais e financeiras globais.

De acordo com o jornal estatal chinês Jiefang Daily, em 2021, o CIPS processou cerca de 80 trilhões de yaun (12,68 trilhões de dólares) um aumento de 75% em relação ao ano anterior. E, em janeiro deste ano, a empresa que opera a plataforma do sistema afirmou que dele participavam 1.230 instituições financeiras de 103 países, entre as quais estavam 30 bancos sediados no Japão, 23 na Rússia e 31 em países africanos (que recebem fundos em yuan para projetos de infraestrutura), além de grandes bancos ocidentais como HSBC, Citigroup, PNB Paribas. Antes do início da guerra na Ucrânia, 17,5% da relação comercial entre Rússia e China era realizada em yuan e tudo indica que a corrida dos bancos russos a esse sistema vai aumentar fortemente esta porcentagem a fim de reduzir as perdas oriundas da exclusão do SWIFT.

            5. Os problemas para estrangular a Rússia com sanções econômicas se ampliam quando começamos a colocar na mesa tanto a importância de alguns de seus produtos para o mercado mundial, como as relações comerciais com a China, através da qual seria possível fazer com que parte da produção russa chegasse aos mercados dos países que impuseram as sanções econômicas. Longe de ser uma prática desconhecida, é justamente graças a ela que, por exemplo, o carvão da Coréia do Norte manteve sua presença nos mercados mundiais ao ser transportado pelos navios e trens da Rússia e da China que vendiam como próprio o produto norte-coreano.

            5.1 Vamos começar pela questão dos hidrocarbonetos. O país é o terceiro maior exportador mundial de petróleo (com 11% do total das vendas mundiais) e o maior exportador de gás. A proximidade geográfica e a estrutura de oleodutos e gasodutos estão entre as principais razões pelas quais o gás e o petróleo comprados da Rússia cobrem, respectivamente, 41% e 27% das necessidades de abastecimento da União Européia com vendas que, em 2021, quando os preços estavam longe dos níveis atuais, somaram 98 bilhões e 600 milhões de dólares.

As incertezas da guerra fizeram com que os países da UE adiantassem contratos futuros de compra ao mesmo tempo em que pregavam a desconexão do abastecimento russo. A razão de ser desta medida está na perspectiva pela qual, em algum momento, a Rússia suspenderá o abastecimento como forma de retaliar o envio de armas das nações Europeias para a Ucrânia.

Ao que tudo indica, o governo de Kiev pode estar fornecendo a Moscou as razões de que precisa para apressar este passo sem assumir o ônus da ruptura dos contratos. Alegando que as tropas russas danificaram a estrutura de transporte de gás, no dia 10 de maio, a Ucrânia reduziu a passagem do produto pela estação de Sokhranovka por onde trafega um terço do hidrocarboneto russo que chega a Europa através do país. Alguns analistas veem na medida uma forma de Kiev pressionar os membros da UE que seguem reticentes em relação à suspensão da compra dos combustíveis fósseis da Rússia. Contudo, o tiro pode sair pela culatra à medida que a Gazprom, com base nas mesmas preocupações técnicas de segurança do gasoduto, decidiu reduzir ainda mais a quantidade do produto na mesma rede e advertiu que não há como compensar a quantidade não entregue através de outros ramais. A notícia despertou apreensões em vários países europeus que, imediatamente, levantaram a voz para defender a continuidade deste abastecimento, num claro recado a Kiev de que não aceitarão esse tipo de pressões.

Até o final de 2022, os EUA entregarão à Europa uma quantidade adicional de gás liquefeito que corresponde a cerca de 10% do que é habitualmente fornecido pela Gazprom. Longe de eliminar a dependência do produto escoado por Moscou, o gás estadunidense precisa passar pelo processo de gaseificação para poder ser utilizado. Os custos desta fase e dos elevados preços dos fretes marítimos se somam ao fato de que muitos países da UE ou não dispõem de estruturas adequadas ou a capacidade instalada está aquém do necessário. Concretamente, além de este gás sair bem mais caro, é necessário que as nações importadoras invistam na gaseificação, um processo com o qual nunca tiveram que se preocupar à medida que os gasodutos da Gazprom traziam o produto pronto para o uso.

Outra parte bem pequena das necessidades de abastecimento poderá ser suprida pela Noruega até o final de 2022. O país é o terceiro maior exportador mundial de gás depois da Rússia e do Qatar e, atualmente, cobre 20% da demanda européia. Com os equipamentos existentes, a Noruega consegue aumentar a extração de gás em um milhão e 400 mil metros cúbicos diários. Parte desta quantidade está destinada à Polônia que viu seu fornecimento cortado pela Rússia após se recusar a pagar o produto em rublos. O gasoduto do Báltico, entre Noruega e Polônia via Dinamarca, deve ficar pronto em novembro deste ano. Somando as quantidades fornecidas pela Noruega com o gás que virá da Lituânia (a primeira nação européia a atingir a autossuficiência na produção do gás) a partir do final de maio, Varsóvia terá a mesma quantidade que era fornecida pela Rússia. Apesar disso, o país espera momentos críticos a partir de outubro quando a calefação aumenta drasticamente a demanda de gás e as perspectivas de uma oferta à altura das necessidades deve atrasar de 45 a 60 dias.

A África proporciona 18% do gás comprado pela Europa ao longo da última década. Aumentar esta fatia já está nos projeto que as multinacionais do setor colocaram na ordem do dia a partir dos desdobramentos da guerra na Ucrânia. Contudo, não há como fazer isso com as atuais instalações e uma maior extração de gás demanda novos investimentos cuja entrada em operação precisa de um tempo considerável.

O caso da Bulgária é ainda mais grave, à medida que pouco menos de 90% das necessidades do país são cobertas pelo gás russo. Apesar de pagar pelo produto em euros, Sófia viu seu abastecimento completamente interrompido. Remanejar para a Bulgária parte do gás que ainda chega à Europa é uma possibilidade real, mas que não é vista com bons olhos pelos países que, em função disso, teriam que abrir mão de parte do seu abastecimento e ampliar a utilização de suas reservas.

As empresas distribuidoras de gás sediadas na UE que recebem e pagam em rublos não estão isentas de pressões. O fornecimento de armas à Ucrânia dos países nos quais atuam vem sendo punido com a redução do abastecimento às quantidades contratadas pelos acordos de longo prazo. Ao não cobrir os excessos de demanda oriundos das condições climáticas, estas nações veem seus estoques encolherem enquanto a busca frenética no mercado mundial eleva ainda mais os preços do produto. Basta pensar que, no dia 12 de maio, o preço internacional do gás registrava um aumento de 73,8% em relação ao patamar imediatamente anterior à invasão da Ucrânia.

A elevação dos preços mundiais dos hidrocarbonetos faz os olhos do mundo se voltarem para os países da OPEP que contam com uma capacidade ociosa considerável. Mas o cartel que perdeu recursos com a forte queda dos preços do petróleo durante a crise desencadeada pelo coronavírus está decidido a recuperar os lucros que não conseguiu consolidar durante a pandemia e optou por aumentar a sua produção a um ritmo tão vagaroso que em não proporciona uma redução dos preços internacionais do barril.

Contudo, este não é o único fator que explica os ouvidos moucos dos 13 membros da OPEP e dos 10 países exportadores que integram a chamada OPEP+ cuja produção abastece 40% da demanda mundial de petróleo. De fato, a Rússia é uma das nações do grupo do "+" e o maior produtor dos 23 países do cartel à medida que a sua produção diária supera em cerca de 100.000 barris de petróleo a quantidade extraída pela Arábia Saudita, país com o qual negociou a implantação de uma fábrica de fuzis de assalto Kalishnikov e de centrais nucleares durante a gestão de Donald Trump. Mantidas as condições atuais do conflito, a relação entre o reino saudita e o governo Putin cuida de garantir as relações que levaram a OPEP+ a níveis invejáveis de lucratividade e busca assegurar as oportunidades de negócios que constituem um diferencial tecnológico e militar importante em relação aos demais países da região.

Esta situação é parte dos motivos pelos quais Hungria e Eslováquia rejeitam frontalmente a ideia de romper as amarras com o petróleo russo e preferem acatar as exigências de Moscou, apesar de integrarem a União Européia. A proximidade geográfica, a ausência de acesso marítimo e o fornecimento através de oleodutos administrados por empresas russas completam o quadro de motivos pelos quais estas nações ficariam sem abastecimento de petróleo da noite para o dia, caso se recusassem a usar o rublo para pagar seu abastecimento. Fortes resistências surgem também da Itália, da Áustria, da Bulgária e da República Tcheca que, com o fechamento dos campos da Líbia após a intervenção militar estadunidense, elevaram a sua dependência da Rússia.

Além disso, parte das estruturas de refino existentes na Europa está voltada exclusivamente para o beneficiamento de petróleo russo. A refinaria de Schwed de propriedade da Rosneft, é um desses casos. Sediada na Alemanha, suas instalações só funcionam com o tipo de petróleo fornecido pela Rússia e delas saem os combustíveis que alimentam Berlim e parte significativa dos territórios da antiga Alemanha Oriental.

Num primeira balanço da Comissão Europeia encarregada de tratar da desconexão do bloco dos combustíveis fósseis vindos da Rússia, Bruxelas estima que a substituição deste abastecimento demanda investimentos da ordem de 205 bilhões de dólares. Mais um elemento que tende a encarecer os preços da energia no velho continente e mostra a impossibilidade de uma desconexão imediata.

            5.2 Além do petróleo e do gás, Moscou é um dos maiores exportadores de trigo (com mais de 35 milhões de toneladas anuais) e de fertilizantes. Não é preciso ser agrônomos para entender que reduzir o uso de fertilizantes equivale a encolher a produção de alimentos e a pressionar ainda mais os preços que já conheceram altas significativas desde o início da guerra. Neste sentido, o Banco Mundial estima que, em 2022, o preço médio dos fertilizantes deve sofrer um aumento de 69,0% e o dos alimentos de 37,0%, atingindo, principalmente, as nações mais pobres.

A situação é particularmente grave nos países do Norte da África e do Oriente Próximo que importam 50% dos cereais de que precisam da Ucrânia e da Rússia. Por sua vez, a redução do uso de fertilizantes tende a reduzir a produção local de alimentos e a agravar a insegurança alimentar de suas populações. O resultado final é um forte aumento da possibilidade de situações de descontentamento social levarem à desestabilização dos governantes desses países que, cientes desta ameaça, consideram a adesão às sanções econômicas contra Moscou um verdadeiro tiro no pé.

O Equador oferece um pequeno exemplo de como punir a Rússia é sinônimo de sufocar alguns setores da própria economia. Em menos de dois meses de conflito, os produtores de banana deixaram de vender o equivalente a 30 milhões de dólares, uma quantia considerável para o país. Além de não encontrar comprador, a produção sofre com a elevação dos preços dos fertilizantes e dos transportes, o que encolhe drasticamente as perspectivas de lucro e a manutenção dos empregos existentes.

            5.3 As sanções contra a Rússia também fizeram disparar os preços de várias commodities utilizadas na produção do aço e na transição energética para uma economia de baixo carbono. O país, de fato, é o segundo maior exportador mundial de níquel e o terceiro de cobalto, metais indispensáveis para a fabricação das baterias usadas em todos os dispositivos móveis e nos veículos elétricos. Em algumas delas, o níquel representa 80% da mescla utilizada, além de ser imprescindível na fabricação de aços inoxidáveis e de componentes das turbinas eólicas.

O impacto das sanções já é visível nos preços destas commodities e atinge indistintamente as empresas de todos os países que dependem delas para produzir. Entre janeiro e março deste ano, o preço do níquel aumentou 52,0% e o do cobalto 18,0%. Os contratos futuros assinados no dia 6 de maio deste ano mostram que o abastecimento destas matérias-primas sofreu um reajuste de 67,66%, no caso do níquel, e de 81,56%, no do cobalto, em relação ao mesmo dia de 2021. Esta situação está levando algumas fábricas europeias de aços inoxidáveis a cortarem a produção diante da perspectiva de uma queda significativa da demanda em função do repasse dos custos da energia e da matéria-prima para o produto final.

As dificuldades no abastecimento contam também com o fato de que a China, aliada da Rússia, processa 37,5% do níquel, 63% do cobalto e 58% do lítio (cujo preço em 6 de maio estava 413,89% maior em relação ao mesmo dia de 2021) vendidos mundo afora. De um lado, a elevação dos preços destas commodities permite compensar o aumento dos gastos na compra de petróleo e gás russos de Pequim. De outro, esta condição particularmente favorável melhora significativamente a possibilidade de a China oferecer ajuda econômica à Rússia sem sofrer ameaças de retaliações significativas.

Ao que tudo indica esta condição parece assegurada por outro fator fundamental num mundo cada vez mais dependente da eletrônica para uso civil e militar. Precisamos lembrar que a China produz 60% das terras raras e processa 88% deste material em nível mundial. Trata-se de um insumo essencial para a fabricação de componentes dos armamentos mais modernos e dos equipamentos tecnologicamente mais avançados. A depender dos desdobramentos do conflito Pequim pode reduzir o fornecimento deste insumo às grandes potências, conforme já ameaçou fazer quando da ingerência dos Estados Unidos na questão da independência de Taiwan.

            5.4 As relações comerciais no grupo dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) permitem constatar como o impacto das sanções impostas à Moscou pode ser amenizado de várias formas.

Desde 2014, a Rússia mantém com a China um acordo para o fornecimento de gás natural que, em 30 anos, atingirá 400 bilhões de dólares. Na cúpula entre os dois países, realizadas no dia 4 de fevereiro deste ano, Putin anunciou a construção de um novo gasoduto que, no mesmo período, aumentará em um terço o atual abastecimento de gás. Na mesma ocasião, as duas nações assinaram um acordo para o fornecimento de 100 milhões de toneladas de petróleo bruto russo para a China, via Cazaquistão, nos próximos 10 anos. A cooperação entre Moscou e Pequim cresceu ininterruptamente desde 2014. Hoje a China vende à Rússia infraestruturas de alta tecnologia e semicondutores, enquanto Moscou abastece Pequim de produtos agrícolas, armamento moderno, gás e petróleo.

A China é também um dos maiores parceiros comerciais da África de Sul e faz coro com ela, junto a Rússia e Índia, na demanda por reformas das instituições multilaterais. Pequim sabe que o país atua como porta de entrada na maioria dos países africanos e, graças a esta mediação, o gigante asiático controla estradas e ferrovias, centros de mineração e extração de petróleo, e parte considerável da política econômica destes países através dos financiamentos outorgados para viabilizar projetos governamentais.

Por sua vez, Moscou vem usando a venda de armas, a presença de assessores militares e o fornecimento de mercenários para ampliar a sua influência no continente africano. Não por acaso, os governos de Pretória e de um terço dos países africanos se abstiveram da votação da ONU que condenava a Rússia pela invasão da Ucrânia. Entre os elementos que mais pesaram na decisão dos que agiram em sentido oposto está o medo de perder as doações dos países ricos das quais são fortemente dependentes para sustentar suas economias.

O encontro de Bolsonaro com Putin e a não imposição das sanções econômicas ao país serviram para mostrar que a Rússia não está política e economicamente isolada e que o Brasil vai manter as importações de fertilizantes a qualquer custo. O recente pedido da Organização Mundial do Comércio para que o país produza uma maior quantidade de alimentos foi saudada como uma forma de justificar as compras da Rússia, conter as pressões internacionais contra o aumento do desmatamento e assegurar lucros polpudos ao agronegócio.

Para termos uma ideia das possibilidades que a guerra abre aos latifundiários brasileiros, basta pensar que, em 2022, a Ucrânia não terá condições de fornecer 80,0% do total do milho comprado pela China no ano passado e nem os 52,0% da necessidade total da UE. Neste cenário, os latifundiários venderão safras inteiras a preços internacionais excepcionalmente elevados dentro e fora do país o que, por sua vez, deve encarecer todos os produtos que tem o milho em sua cadeia produtiva.

Além de se recusar a condenar a Rússia na ONU, a Índia declarou abertamente que não só continuará comprando o petróleo russo (cujo preço, em função das sanções, está 30% mais barato em relação aos patamares do mercado mundial) como aumentou as importações deste hidrocarboneto em 730.000 barris diários, compensando com folga os 705.000 barris diários que a União Européia e o Reino Unido deixaram de comprar após a imposição das sanções. Se isso não bastasse para explicar o comportamento do país, precisamos lembrar que Nova Delhi obtém da Rússia parte considerável do seu armamento, aposta na mediação de Moscou para conter as tensões com a China na fronteira do Himalaia e trabalhará para aumentar o comércio bilateral em moedas locais.

A nosso ver, o conjunto destes elementos mostra que, apesar dos efeitos negativos sobre a sua economia, as sanções impostas a Moscou serão incapazes de sufocar o país a fim de privá-lo das condições que permitem sustentar o esforço bélico em território ucraniano. Para que isso seja possível, se fazem necessárias medidas bem mais contundentes, conforme mostraremos no próximo capítulo.

 

            3. Resultados e tendências da guerra na Ucrânia.

            A invasão da Ucrânia permitiu que a Rússia testasse o desempenho dos seus mísseis hipersônicos num cenário de guerra real com resultados que, até o momento, se revelaram excelentes. As possibilidades de utilização e a eficácia deste artefato bélico, ainda indisponível nos países da OTAN, assustam os especialistas do setor. Além poderem carregar ogivas nucleares a uma distância maior e a uma velocidade muito superior em relação aos mísseis balísticos convencionais, de os mísseis hipersônicos têm mais chances de não serem interceptados pelas defesas terrestres.

            Fracassado o plano inicial de um ataque em várias frentes que levasse o exército  à rendição e o governo ucraniano a capitular, a Rússia se depara com uma guerra que o seu Ministro das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, apelidou de “guerra por procuração”, ou seja, de um conflito no qual os países da OTAN enfrentam as tropas de Moscou por intermédio do exército ucraniano. Repelida a tentativa de ataque a Kiev com armamentos bem superiores aos que a Rússia esperava encontrar, Moscou optou por concentrar seus ataques nas regiões separatistas a leste da Ucrânia e na faixa litorânea a sul do país.

            No momento em que escrevemos, a posição das tropas russas e a necessidade de fazer desta guerra um evento que melhore a correlação de forças da Rússia diante da OTAN sugerem que Moscou pretende criar um corredor entre a fronteira com a Ucrânia e o território da Transnistria, uma região que conquistou a sua independência da Moldávia em 1992 e, desde então, estabeleceu relações amigáveis com a Rússia.

O mapa que segue ajuda a melhor localizar estes territórios.

Figura 2: a posição das tropas russas no sul da Ucrânia rumo à Transnistria

                             Fonte: BBC

            Situada entre a Moldávia e a fronteira oeste da Ucrânia, a Transnistria é conhecida por guardar o maior arsenal dos tempos da Guerra Fria com uma quantidade de armas e munições que as estimativas correntes situam entre as 20.000 e as 40.000 toneladas. Ainda que parte destes equipamentos esteja obsoleta ou sem condições de uso, é fato que ninguém sabe ao certo o que é guardado nos seus paióis e que tipo de poder ofensivo estes armamentos oferecem.

            Os principais motivos para a criação deste corredor por parte da Rússia parecem ser dois: 1. A possibilidade de impedir qualquer acesso de Kiev ao Mar Negro e ao Mar de Azov, o que anularia toda a estrutura portuária da Ucrânia e a anexação à Rússia da região mais industrializada do país, o que representaria um duro golpe à economia ucraniana; 2. A possibilidade de instalar nesta faixa de terra bases militares russas cuja maior proximidade com os países da Europa Ocidental traria sérias preocupações à Aliança Atlântica.

            Diante dos planos de Moscou e da reduzida eficácia das sanções impostas ao país, a aposta principal dos EUA está em reunir os recursos necessários para sustentar uma guerra que sufoque a economia russa com os dispêndios que a manutenção das tropas de ocupação impõem ao país. Em breves palavras, os EUA querem uma Rússia debilitada por um conflito de longa duração e que cesse somente quando a Ucrânia recuperar os territórios ocupados pelos exércitos de Moscou.

            É à luz desta perspectiva que entendemos porque o Presidente dos EUA, Joe Biden, pediu ao Congresso a liberação de um financiamento de 33 bilhões de dólares para colocar a Ucrânia em condições de tocar a guerra, dos quais 20 bilhões seriam de ajuda militar propriamente dita. Ao analisar o pedido, a Câmara dos Deputados estadunidense foi mais longe e ampliou o valor total para 40 bilhões de dólares, a fim de garantir uma maior segurança alimentar da população e apoiar as atividades econômicas locais enquanto perduram os enfrentamentos. A liberação deste montante de recursos depende agora da anuência do Senado.

Vale lembrar que, sem contar os armamentos fornecidos logo após o início das hostilidades e os treinamentos de tropas ucranianas para operá-los, os 20 bilhões de dólares em armas a serem enviados correspondem a cinco vezes o orçamento que, em 2021, o governo de Kiev destinou à Defesa do país (incluindo gastos com pensões e salários dos militares) e a pouco menos de um terço dos investimentos bélicos da Rússia em 2020 (U$ 61,7 bilhões, de acordo com o último levantamento disponível).

            Desta forma, os EUA enviam a Putin uma mensagem muito clara: o fim da guerra está vinculado à sua percepção de que não poderá obter nenhuma vitória em território ucraniano. Esta postura aumenta as possibilidades de o conflito ganhar contornos incontroláveis. À medida que a Rússia se depara com forças armadas "ucranianas" dotadas de armamento farto e sofisticado; cujos soldados podem tranquilamente incluir tropas de mercenários treinadas no exterior, pilotos de caça e especialistas de outros países na operação de equipamentos destinados a inutilizar as armas convencionais adotadas até esse momento; e sabendo que a retirada das tropas sem ganho algum representaria o fim da carreira política de Putin, a opção pelo tudo ou nada inclui sim a utilização de armas de destruição em massa, entre elas as que são típicas da guerra química e nuclear.

 

            4. Os reflexos imediatos da guerra no cenário mundial.

            Derrotada a perspectiva de uma guerra curta, as preocupações das instituições financeiras e dos investidores se voltam ao impacto do conflito na economia mundial. Vamos listar alguns dos elementos que estão na ordem do dia:

            1. A Rússia é o 5º maior importador de produtos da União Européia. Apesar de não ser o principal parceiro comercial das economias do bloco, as sanções acabam resvalando nas empresas sediadas no território destes países que, a partir de março, não podem contar com o mercado russo para escoar parte da sua produção.

            2. Em 2022, o preço do petróleo tende a se manter acima dos U$ 100 o barril e os do gás devem continuar com uma tendência de alta pelas razões que apresentamos nas páginas anteriores. Em função disso, o Banco Mundial projeta uma elevação média de 50% nos custos da energia que se soma ao encarecimento dos preços dos transportes, dos derivados largamente utilizados pela indústria química e de plásticos do mundo inteiro. Diante desta perspectiva, o relatório que o Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgou no dia 19 de abril deste ano aponta uma inflação média de 5,7% nos países avançados e de 8,7% nos emergentes. A alta dos preços vai corroer o poder de compra de salários que ainda não voltaram ao patamar anterior à pandemia, reduzir o consumo das famílias e frear a retomada dos investimentos em função da necessidade de os bancos centrais elevarem as taxas de juros para conter uma inflação. Segundo a entidade, este cenário vai desacelerar o crescimento econômico mundial conforme aponta a comparação entre as estimativas divulgadas em janeiro e abril deste ano.

Quadro 1- FMI: projeções de crescimento econômico em janeiro e abril de 2022.

 

Países

Projeção de crescimento em

janeiro 2022

Projeção de crescimento em

abril de 2022

Variação em pontos percentuais

abril/janeiro

Mundo

4,4%

3,6%

- 0,8

Estados Unidos

4,0%

3,7%

- 0,3

Zona Euro

3,9%

2,8%

- 1,1

Alemanha

3,8%

2,1%

- 1,7

Itália

3,8%

2,3%

- 1,5

China

4,8%

4,4%

- 0,4

Índia

9,0%

8,2%

- 0,8

Rússia

2,8%

- 8,5%

- 11,3

África do Sul

1,9%

1,9%

0

Brasil

0,3%

0,8%

0,5

  Fonte: Fundo Monetário Internacional

Os números indicam que o ritmo de crescimento da economia mundial deve perder quase um ponto percentual em relação às perspectivas anteriores à guerra com Alemanha, Itália e Rússia apresentando uma redução mais acentuada entre os países citados no quadro 1. A economia da África do Sul mantém a mesma projeção de crescimento enquanto o Brasil melhora a sua perspectiva em meio ponto percentual em função, sobretudo, do desempenho do agronegócio.

            3. A guerra na Ucrânia torna mais gelatinosa a relação de muitos países com as grandes potências e abre caminhos a novos posicionamentos no tabuleiro da geopolítica mundial. Alguns exemplos ajudam a visualizar esta situação:

3.1 A Turquia, por exemplo, integra a OTAN desde 1952, vende drones militares e blindados à Ucrânia desde 2019, condenou a agressão da Rússia na ONU, mas não aderiu às sanções contra Moscou e elevou em 180.000 barris as suas importações de petróleo russo. Com esta posição, Ancara busca não irritar Putin com o qual o governo de Recep Erdogan teceu relações amigáveis quando do combate aos grupos separatistas curdos do PKK que, armados pelos EUA na guerra contra Bashar Al-Assad, da Síria, haviam fortalecido a sua atuação no país.

Por outro lado, o país não pode contrariar os planos da OTAN. Neste sentido, suspendeu a passagem dos navios de guerra russos pelos estreitos que conectam o Mar Negro com o Mar Mediterrâneo. Esta medida visa impedir que um número maior de embarcações de guerra apoie pelo mar tanto as operações terrestres em andamento como a possível expansão da invasão no sul da Ucrânia. Difícil saber onde levará a relação ambígua pela qual Rússia e Turquia são ora amigos, ora inimigos.

3.2 No final de março, a Alemanha revogou repentinamente a sua proibição de exportar armas letais para zonas de conflitos e entregou à Ucrânia 1.000 armas antitanque e 500 mísseis terra-ar. Esta medida foi vista como uma forma de Berlim se desfazer de um estoque de armas consideradas ultrapassadas e de abrir espaço para uma nova geração de artefatos bélicos que colocariam a Alemanha em condições de enfrentar uma guerra com inimigos poderosos.

 Neste sentido, é importante assinalar que, algumas horas após o anúncio da revogação, o chanceler Olaf Scholz revelou que, em 2022, o seu país ajudará as tropas da OTAN no flanco leste da Europa (o que inclui enviar mais soldados para a Eslováquia), integrará a defesa do espaço aéreo aliado e investirá US$ 113 bilhões em gastos bélicos, mais que o dobro em relação aos U$ 52,8 bilhões de 2020. Pelo visto, a invasão da Ucrânia forneceu a ocasião que a Alemanha esperava para justificar a participação direta em conflitos armados e a ampliação do seu poder ofensivo.

3.3 No dia 27 de fevereiro, três dias após o início das hostilidades na Ucrânia, o governo da Bielorrússia, aliado de Moscou, promoveu uma reforma constitucional que prevê a presença de armas de destruição em massa russas em seu território e na fronteira com Polônia, Lituânia e Letônia, países que integram a OTAN. Com a efetivação da reforma e o posicionamento das armas russas, o equilíbrio nuclear da região vai sofrer tensões consideráveis. Os passos da guerra na Ucrânia definirão os ritmos deste projeto.

3.4 A Finlândia anunciou sua firme intenção de entrar na OTAN. O fato de deixar para trás sua histórica posição de neutralidade é relativizado na medida em que o país integra a UE e outros acordos de cooperação militar. Por exemplo, o artigo 42 do tratado de Lisboa reza que as nações do bloco devem ajudar militarmente o Estado membro cujo território tenha sido invadido por um país fora da União Européia. A Finlândia também integra a Força Expedicionária Conjunta do Reino Unido, cujo acordo de envolvimento recíproco na defesa militar inclui vários países da OTAN.

A ideia de aderir à Aliança Atlântica não é nova e já havia sido sondada em 2021, quando uma pesquisa de opinião mostrou que ela contava com 30,0% de aprovação e era rejeitada por 40,0% dos entrevistados. A incursão da Rússia em território ucraniano e a atuação da mídia criaram o ambiente ideal para que 62,0% dos finlandeses aprovem a ideia e somente 16,0% a rejeitem.

Com a adesão da Finlândia, a fronteira entre os integrantes da Aliança Atlântica e a Rússia passaria a ter mais que o dobro do tamanho atual à medida que os 1360 km que separam o país da Rússia se somariam aos pouco mais de 1215 km das fronteiras de Polônia, Noruega, Estônia, Letônia e Lituânia. A importância deste fator deita raízes no fato de que a posição geográfica do país nórdico aproxima a OTAN das bases russas que abrigam misseis balísticos apontados em direção ao território estadunidense. Diante desta possibilidade, o arsenal nuclear instalado no enclave russo de Kaliningrado (entre a Polônia e a Lituânia) não se apresenta como suficiente para deter esta ameaça. Isso obrigaria a Rússia a efetuar gastos militares consideráveis para neutralizar as novas posições da OTAN num momento em que a sua economia está sendo pressionada pela recessão e pela guerra na Ucrânia.

3.5 Na Ásia, o Vietnã não tem um bom histórico de relações com os EUA, mas está preocupado com o crescente poder do gigante asiático, com o qual disputa o controle do Mar do Sul da China. Washington vinha aproveitando o clima de tensão do país com Pequim para fortalecer as relações econômicas com Hanói. À medida que a guerra deve ampliar a influência da China na região, o Vietnã fica literalmente entre o prego e o martelo: costurar uma aliança com o antigo invasor parece absurdo e se submeter à apropriação das águas internacionais que a China deseja impor é uma ameaça à soberania nacional.

3.6 O Paquistão foi aliado dos EUA durante a Guerra Fria, mas, atualmente, está cada vez mais ligado à China. O país recebe armas da Rússia e precisa das bênçãos de Moscou para garantir as rotas comerciais rumo ao interior da região norte da Ásia Central. Impossível dizer agora que riscos o governo de Islamabad está disposto a assumir ao aderir à estratégia em volta da qual Rússia e China ampliam seu papel na geopolítica mundial em oposição à hegemonia estadunidense.

4. Em 2021, a OTAN viveu o momento mais delicado da sua história à medida que os países da União Européia buscavam construir uma posição autônoma em relação às estratégias militares traçadas pelos EUA. A invasão da Ucrânia transformou a Rússia em "inimigo comum" e devolveu à Aliança Atlântica o papel de coração da defesa da Europa. Mas isso não é tudo.

O estreitamento das relações entre Rússia e China e a postura do gigante asiático diante da invasão da Ucrânia fortalecem a posição pela qual o país é considerado uma "ameaça potencial". À medida que esta postura reflete em grande parte as decisões e os interesses dos EUA no interior da OTAN, a China teme que Washington se aproveite do conflito na Ucrânia para fortalecer e ampliar suas alianças militares na região dos Oceanos Índico e Pacífico.

A aliança entre EUA, Reino Unido e Austrália no final de 2021, conhecida como Plano AUKUS, foi um dos passos desse processo. Mas, neste momento, o que mais preocupa Pequim é o protagonismo das ações do Diálogo de Segurança Quadrilateral, mais conhecido como QUAD. Trata-se de um acordo de cooperação militar que promove exercícios de defesa conjunta entre as forças armadas de EUA, Austrália, Índia e Japão.

Desta forma, o QUAD não representaria apenas um desafio crescente à influência chinesa na região, mas se tornaria uma ameaça direta à sua segurança à medida que os contingentes armados destes países poderiam ser integrados à que a Secretária de Relações Exteriores do Reino Unido chamou recentemente de "OTAN Global".

No final de junho deste ano, os Estados membros da Aliança Atlântica se reunirão em Madri, na Espanha, para definir a missão da OTAN para a próxima década. Espera-se que o documento final do encontro defina o papel e o peso da China em termos de ameaça à segurança global e a posição da Aliança Atlântica com Pequim.

Nossas reflexões chegaram ao fim. A ideia de coletar dados e acontecimentos para esboçar as poucas e assustadoras tendências que apresentamos nasceu da necessidade de detectarmos os elementos que permitem tomar o pulso da realidade e acompanhar os desdobramentos desta guerra. Esperamos ter conseguido mapear ao menos parte dos aspectos centrais de um momento histórico em que a disputa pela hegemonia no interior da geopolítica mundial ganha novos passos. Lembrar deles ajudará a jogar alguma luz nos interesses capitalistas que as trevas da incerteza procuram ocultar.

Emilio Gennari, Brasil, 12 de maio de 2022.

 

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Em função do acúmulo de trabalho no qual estivemos envolvidos, faltaram tempo e condições materiais para que pudéssemos citar devidamente a fonte de cada um dos dados e dos acontecimentos analisados neste texto. Apesar disso, o leitor terá condição de encontrá-los e de aprodundar alguns dos temas tratados nas matéria utilizadas para a elaboração das nossas reflexões através dos links que seguem:

- https://www.bbc.com/portuguese/internacional-60488813

 

- https://www.focus.jor.br/russia-tem-um-pib-menor-que-o-da-california-nos-eua/

 

- Os dados referentes aos gastos bélicos de 2021 ainda não estão disponíveis. As comparações foram feitas com base nos cálculos do SIPRI, divulgados no anoa passo e disponíveis em: https://www.defesanet.com.br/tt/noticia/40451/SIPRI---Gastos-militares-mundiais-sobem-para-quase-US-%24-2-trilhoes-em-2020/

- https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-61108454

- https://g1.globo.com/mundo/noticia/2022/02/24/russia-pode-sofrer-sancao-e-ser-excluida-de-rede-global-de-pagamentos-entenda-o-que-e-swift.ghtml

- https://br.investing.com/news/economy/china-agradece-sancoes-da-ue-bancos-russos-recorrem-aos-cips-978483?ampMode=1

- https://www.bbc.com/portuguese/brasil-60991122

 

- https://www.bbc.com/portuguese/internacional-60866401

 

- https://g1.globo.com/economia/noticia/2022/04/18/pib-da-china-registra-crescimento-de-48percent-no-1o-trimestre.ghtml?utm_source=share-universal&utm_medium=share-bar-app&utm_campaign=materias

 

- https://g1.globo.com/mundo/noticia/2022/02/27/alemanha-entra-em-nova-era-na-politica-externa-e-de-defesa.ghtml?utm_source=share-universal&utm_medium=share-bar-app&utm_campaign=materias

 

- https://pt.tradingeconomics.com/commodity/cobalt

 

- https://www.indexmundi.com/pt/pre%E7os-de-mercado/?mercadoria=n%C3%ADquel

 

- https://pt.tradingeconomics.com/commodity/lithium

 

- https://m.br.investing.com/commodities/natural-gas-advanced-chart

 

- https://www.istoedinheiro.com.br/india-e-russia-firmam/

 

- https://br.investing.com/news/forex-news/india-apoia-russia-teremos-acordo-comercial-rupiarublo-na-proxima-semana-985074

 

- https://www.em.com.br/app/noticia/internacional/2019/09/04/interna_internacional,1082355/russia-e-india-dao-novo-impulso-as-relacoes-economicas.shtml

 

- https://www.scielo.br/j/cint/a/FdC8BWPWfwwbzq5Zc7LqBQd/?lang=pt

 

- https://www.imf.org/en/Publications/WEO/Issues/2022/01/25/world-economic-outlook-update-january-2022#Projections

 

- https://www.imf.org/en/Publications/WEO/Issues/2022/04/19/world-economic-outlook-april-2022#Projections

 

- https://economia.uol.com.br/noticias/reuters/2022/04/28/biden-pede-ao-congresso-us33-bi-para-ucrania-em-salto-no-financiamento.htm?utm_campaign=resumo-do-dia&utm_content=hyperlink-texto&utm_medium=email&utm_source=newsletter

 

- https://www.bbc.com/portuguese/internacional-61238851

 

- https://www.bbc.com/mundo/noticias-61144362

 

- https://elpais.com/internacional/2022-03-23/europa-se-resiste-a-acorralar-por-completo-y-de-manera-inmediata-al-regimen-de-putin.html#

 

- https://elpais.com/internacional/2022-02-16/xi-jinping-pide-una-solucion-diplomatica-a-la-crisis-en-ucrania.html#?rel=mas

 

- https://elpais.com/internacional/2022-02-04/china-y-rusia-expresan-su-apoyo-mutuo-en-politica-internacional-y-rechazan-una-nueva-ampliacion-de-la-otan.html

 

- https://elpais.com/internacional/2022-02-04/tras-decadas-de-desconfianza-china-y-rusia-estrechan-lazos-en-plena-crisis-ucrania-frente-a-washington-como-rival-comun.html

 

- https://elpais.com/internacional/2021-03-28/el-gasoducto-nord-stream-2-amplia-la-pugna-entre-rusia-y-occidente.html#?rel=mas

 

- https://elpais.com/internacional/2021-11-16/alemania-suspende-temporalmente-la-certificacion-del-polemico-gasoducto-ruso-nord-stream-2.html#?rel=mas

 

- https://elpais.com/internacional/2021-12-13/alemania-endurece-su-discurso-sobre-el-gasoducto-nord-stream-2-al-calor-de-la-tension-entre-moscu-y-kiev.html#?rel=mas

 

- https://elpais.com/internacional/2022-01-21/nord-stream-2-el-gasoducto-atrapado-en-la-tension-de-occidente-con-rusia.html?sma=newsletter_diaria_manana20220121m

 

- https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-59570814

 

- https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2021/11/russia-e-china-ampliam-cooperacao-militar-contra-eua-e-aliados.shtml

 

- https://brasil.elpais.com/brasil/2014/11/19/internacional/1416421925_750344.html

 

- https://brasil.elpais.com/brasil/2014/11/15/internacional/1416088304_442188.html#?rel=mas

 

- https://www.correiobraziliense.com.br/mundo/2022/02/4982759-em-antagonismo-aos-eua-lideres-da-china-e-russia-selam-parceria-sem-limites.html

 

- https://esportes.yahoo.com/noticias/r%C3%BAssia-e-china-ampliam-coopera%C3%A7%C3%A3o-141300970.html?guccounter=1&guce_referrer=aHR0cHM6Ly93d3cuZ29vZ2xlLmNvbS8&guce_referrer_sig=AQAAAEDlJDrB1M94XPWLIrZIiPH_bJmDFkXMongr8tIXttvR9m-o_K_nFA0GfsvyRPrRGcpuScdgqktDXydXvI5ny4XnT2BtqdyIilPydfkqZoJ-ow9vmjaeHpM8ILZdgZWHAq2WLCOVJnskEMnut5XK-R8FW-lYXoXetRlmFF5VVhUw

 

- https://www.brasildefato.com.br/2022/02/04/china-e-russia-elevam-acordos-criticam-eua-e-pedem-que-otan-interrompa-expansao

 

- https://aovivo.folha.uol.com.br/mundo/2022/03/31/6113-acompanhe-as-principais-noticias-sobre-a-guerra-da-ucrania.shtml#post416177?utm_source=newsletter&utm_medium=email&utm_campaign=resumo-do-dia&utm_content=hyperlink-texto

 

- https://elpais.com/internacional/2022-05-12/guerra-rusia-ucrania-hoy-ultimas-noticias-en-directo.html

 

- https://br.noticias.yahoo.com/ucr%C3%A2nia-corta-g%C3%A1s-russo-para-191000496.html

 

- https://www.bbc.com/mundo/noticias-61311006

 

Os acessos foram realizados entre os dias 01 de fevereiro e 11 de maio de 2022.