sexta-feira, 27 de outubro de 2023

De Quem é a Terra Afinal?

                                                                                      Por André Paes

 


 "Os céus são os céus do Senhor; mas a terra a deu aos filhos dos homens. Salmos (115:16).  E  a terra dará o seu fruto, e comereis a fartar, e nela habitareis seguros (Levítico 25:19)"


 

                           

 

 Lê-se em Gênesis 1:26-30:                                                


²⁶ “E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a terra.”


²⁷” E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.”


²⁸ “E Deus os abençoou, e Deus lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do mar e sobre as aves dos céus, e sobre todo o animal que se move sobre a terra”.


²⁹ “E disse Deus: Eis que vos tenho dado toda a erva que dê semente, que está sobre a face de toda a terra; e toda a árvore, em que há fruto que dê semente, ser-vos-á para mantimento.”


³⁰ “E a todo o animal da terra, e a toda a ave dos céus, e a todo o réptil da terra, em que há alma vivente, toda a erva verde será para mantimento; e assim foi.” 


Nos Salmos, 115: 16 encontramos o seguinte  verso: “Os céus são os céus do Senhor; mas a terra a deu aos filhos dos homens.” 

 

Levítico 25:19 está escrito: “E a terra dará o seu fruto, e comereis a fartar, e nela habitareis seguros.”

 

                                                     

Comecei este texto com citações da Bíblia Sagrada para fundamentar a ideia que aqui se apresentará. E tal fundamento já se manifesta na pergunta título: “De quem é a terra afinal”?

Entendo que “terra” é este espaço onde todos os seres vivos experimentam a existência. Sem terra, não há possibilidade de existência. Da terra o ser humano obtém água, comida, sombra, abrigo. Conseguimos transformar os elementos da terra em coisas necessárias para a nossa subsistência, para a nossa segurança, para o nosso conforto. E friso aqui o pronome “nosso”/“nossa”. Afinal, escrevo como integrante da espécie humana. Eu preciso, tanto quanto qualquer outra pessoa, da terra. O que visto, o que como, o que bebo, o que uso... tudo vem da terra, quer seja extraído da natureza ou a partir dela transformado pelo trabalho humano.

 Assim, a narrativa bíblica da Criação aponta para o uso da terra pelo ser humano. O cultivo do solo está ali. A preservação dos animais está ali. A exploração dos recursos para o bem comum está ali. A importância da terra para vida em sua plenitude está ali. 

Acredito que já esteja claro que a “terra’ a que me refiro não é o solo cultivável, mas o conjunto indissolúvel da natureza que nos cerca. Água, ar, rocha, vegetação, fauna, subsolo, minerais... a terra é uma casa autossuficiente na qual os moradores têm à disposição tudo o que seja verdadeiramente necessário para se viver com folgas e sobras.

A ordem divina ali descrita é para que o ser humano desfrute dessa “terra”. E a ideia de “ser humano”, no relato da Criação feito em Gênesis, aponta pata a totalidade da espécie humana. Não uma seletividade meritocrática de indivíduos privilegiados ou uma escolha arbitrária de quem manda sobre quem obedece. Muito menos a imposição do mais forte sobre o mais fraco. Não! Trata-se de toda a humanidade recebendo o dom da vida a ser experimentada plenamente com os recursos da “terra”.

Tal qual se diz que “o sol é pra todos”, também entendo e creio que a terra é para todos. Nesse sentido, ninguém ficaria sem abrigo, sem comida, sem trabalho. Como diria o mestre: “Quem tem ouvidos pra ouvir, que ouça”. Por fim, nos perguntamos: Onde, quando e como foi que nós, seres humanos, deixamos de perceber isso?

 

segunda-feira, 2 de outubro de 2023

I HAVE A DREAM

 

Por Max Diógenes   

Eu tive um sonho. Não; acalme-se. Não estou plagiando, nem parodiando o consagrado discurso de Martin Luther King, proferido a 28 de agosto de 1963, em Washington, D.C., que completou recentemente, 60 anos – dois dias após o completar de 109 anos da Sociedade Esportiva Palmeiras e um dia após a comemoração de mais um dia do psicólogo.

O meu sonho – não seria incorreto dizer – para além de mera atividade cerebral em estado de sono foi onírico. Classifico-o como onírico pelo demasiado gosto que tive com o sonho. O gosto em ser remetido e me sentir verdadeiramente presente à uma época pulsante da vida: o bacharelado em psicologia.

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Alguns dos que me acompanharam no sonho, factualmente, formaram-se comigo; outras figuras, minha memória – já acordado – me permite identificá-los como figurantes; invasores; irreais... Mas... Só comigo acordado... No sonho, possivelmente, foram os substitutos de colegas que, por motivos variados, não puderam comparecer ao meu lirismo.

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O sonho se constituiu em uma série de flashes de distintos momentos vivenciados – ou não? – com a turma e com os professores; todos regados a coleguismo e descontração; fossem estes, de estudo; de descanso; de confraternização – a descontração na descontração.

Como já alcançara a fase REM de meu sono, o sonho, como costuma acontecer com todos nós, encerrou-se na melhor parte; eu acordando no ápice, durante uma vivência, meio fictícia, meio real, na qual alunos e professores, celebrando crescimento e amizades, encaminhavam-se para uma das salas do centro universitário, na qual já nos aguardavam, devidamente preparados e organizados, quitutes e presentes, que seriam trocados – situação de amigo secreto, talvez. Dançávamos enquanto dirigíamo-nos para a sala.

Acordei agitado; e triste. Talvez – só talvez – tenha choramingado. Veio-me à cabeça as relações, o aprendizado, mas, sobretudo, a juventude. Eu estudava; trabalhava; jogava bola; bagunçava. Tudo, ao mesmo tempo e em todo lugar.

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Entretanto... Não me demorei em recompor-me...

Não nego que levo uma vida bem razoável, mesmo com o avanço da idade. Ainda que, com menor freqüência – mas com maior intensidade; sem dúvidas – estudo; aprendo; cresço; com livros; com música; com jogos; com trabalho... com pessoas...

E o melhor? Há práxis em minha aprendizagem... Como nunca houvera...

***

Em tempos de “setembro amarelo” – e julgue essa fala da maneira que mais lhe aprouver –, com um olhar um pouco mais atento, percebemos que, mesmo com todo o sofrimento oriundo da forma de organização social que depende da valorização do valor por meio da exploração do trabalho do homem, pelo homem, a maioria esmagadora, escolhe viver; ficar por aqui; lutar. A esperança vence o medo.

Eu estava afim de escrever sobre a ideologia operando no futebol e iludindo o trabalhador torcedor; sobre a cooptação do futebol de várzea pela burguesia; ou sobre a predatória indústria dos games, que, ano sim, ano também, lançam o mesmo jogo, como algo diferente, arrancando dinheiro a partir do vício dos consumidores – EA Sports, it’s in the game... E ainda farei isso...

Mas...

Esse sonho...

Esse sonho... Veio a calhar...

Fez-me repulsar poeticamente; pude notar que, ainda que com o envelhecimento cronológico e biológico, possivelmente, nunca vivi de forma tão intensa – ainda que se comparado ao período revivido no sonho –, pois, como mera formiguinha, vivo para modifica um mundo; para deixar esse mundo tão foda que, “setembro amarelo”, sequer será lembrança.

Vivo como um comunista...

O comunismo, rejuvenesce...

Eu tenho um sonho...

Nós temos um sonho...

E venceremos!