quinta-feira, 25 de novembro de 2021

Você que acompanhou a análise de conjuntura Ecos de 2020, não pode deixar de ler este excelente mapa, um espécie de guia de sobrevivência para o ano de 2022, ficará mais fácil enfrentar as tempestades e compreender as calmarias se soubermos ler os sinais que os acontecimentos nos dão. É o que faz neste artigo Emilio Gennari. Boa leitura.

“O último trimestre de 2021 traz a esperança de que o novo ano dará passos decisivos para sairmos do atoleiro da pandemia. Os índices de crescimento da economia mundial prometem reduzir o desemprego e as vacinas alimentam a expectativa de um 2022 sem máscaras e muitos abraços.

Sob o caldeirão onde as angústias e os sonhos do povo simples se movimentam ao sabor da rotina diária, as chamas da recuperação econômica prometem lucros compensatórios para os ricos e uma dose de esperança para quem, após apertar o cinto, faz de cada migalha recebida um motivo para renovar a sua confiança no sistema.

A poucas semanas de virar as últimas páginas do calendário, quando se olha o panorama internacional, três perguntas expressam as preocupações de quem não se deixa levar pelo otimismo e busca nos fatos os sinais que permitem entrever as sendas do futuro.

O que revela o primeiro ano de mandato do presidente dos EUA, Joe Biden? Em que medida os problemas da economia mundial podem frear o seu crescimento e trazer de volta o espectro da crise? Quantas voltas dará o torniquete da exploração antes que a revolta dos de baixo detenha os planos dos grupos de poder?...

( Emilio Gennari)

           

      


 

                

            Análise de Conjuntura

                       16 de novembro de 2021


À espera de 2022 - Panorama internacional.

            O último trimestre de 2021 traz a esperança de que o novo ano dará passos decisivos para sairmos do atoleiro da pandemia. Os índices de crescimento da economia mundial prometem reduzir o desemprego e as vacinas alimentam a expectativa de um 2022 sem máscaras e muitos abraços.

            Sob o caldeirão onde as angústias e os sonhos do povo simples se movimentam ao sabor da rotina diária, as chamas da recuperação econômica prometem lucros compensatórios para os ricos e uma dose de esperança para quem, após apertar o cinto, faz de cada migalha recebida um motivo para renovar a sua confiança no sistema.

            A poucas semanas de virar as últimas páginas do calendário, quando se olha o panorama internacional, três perguntas expressam as preocupações de quem não se deixa levar pelo otimismo e busca nos fatos os sinais que permitem entrever as sendas do futuro.

            O que revela o primeiro ano de mandato do presidente dos EUA, Joe Biden? Em que medida os problemas da economia mundial podem frear o seu crescimento e trazer de volta o espectro da crise? Quantas voltas dará o torniquete da exploração antes que a revolta dos de baixo detenha os planos dos grupos de poder?

            Não estamos diante de questões que podem ser respondidas somente com teorias e, menos ainda, fazendo os acontecimentos dizerem o que os nossos anseios desejam ouvir. Precisamos reunir pacientemente as peças do mosaico, que foram moldadas durante a crise, montá-las e projetar cenários que alertem a classe trabalhadora para os acontecimentos que virão.

            Resgatar as pegadas do capital no terreno da história é o primeiro passo para limitar o que o futuro apresenta como imponderável e para percebermos em que medida as nossas formas de luta esgotaram as possibilidades de produzir o que desejávamos. Mensurar estas pegadas, calcular a intensidade do passo que as produziu, identificar a meta à qual se dirigem são tarefas que ajudam a preparar respostas capazes de alterar os destinos que o capital pretende impor à humanidade.

 

            1. A política internacional de Joe Biden

            Em dezembro do ano passado, mostramos que o protagonismo da China no cenário mundial estava envolvendo antigos aliados dos EUA e arranhando a influência de Washington nas decisões dos seus governos. Este fenômeno não ocorria apenas pelo peso das relações comerciais que o país mantinha com seus parceiros, mas, sobretudo, pelos investimentos que Pequim realizava no exterior e pelos atritos que Donald Trump semeava mundo afora.1

            Diante deste cenário, a estratégia do presidente dos EUA, Joe Biden não podia ser outra: recuperar o protagonismo do seu país com base em ações destinadas a esfriar o apoio que a China vinha conseguindo e em acordos capazes de fazer recuar as pretensões de Pequim.

            A União Européia foi o primeiro destinatário das investidas estadunidenses. Enquanto Trump havia fustigado Bruxelas com impostos alfandegários, com sanções às empresas envolvidas na construção do segundo gasoduto que transportaria o gás russo para a Alemanha sem passar pela Ucrânia (o Nord Stream 2) e com uma dura cobrança a aumentar a participação do bloco nos gastos da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), Biden buscou distencionar as relações com medidas que dialogam diretamente com os interesses dos europeus.

            A reconciliação foi selada com o fim das disputas entre Airbus e Boeing junto à OMC pela questão dos subsídios estatais às duas empresas, com a celebração do acordo sobre a importação pelos EUA do alumínio e do aço produzidos no velho continente,2 com os esforços para reavivar a integração da Europa à OTAN e com o levantamento das sanções que haviam interrompido a construção do gasoduto russo, citado anteriormente, denominado Nord Stream 2.

            Ainda que não reste nenhuma dúvida quanto à importância de afastar a UE da China para enfrentar Pequim numa posição mais vantajosa, as concessões de Biden no terreno das relações comerciais não deixam de provocar alguns receios. De um lado, aumentar as importações de aço e alumínio vai fornecer semimanufaturados a preços menores para a indústria estadunidense, mas, de outro, a concorrência acirrada da China nos mercados europeus pode inviabilizar a contrapartida esperada com a compra de produtos fabricados nos Estados Unidos e contribuir para elevar ainda mais o déficit da balança comercial do país.

            Em relação à OTAN, Biden sabe que a UE deseja caminhar para garantir sozinha a segurança da Europa, o que implica na possibilidade de agir autonomamente para gerenciar as crises que envolvem as relações com Rússia, China e o Oriente Médio. Este processo deve ganhar contornos mais definidos a partir de março de 2022, quando uma reunião de cúpula detalhará as relações militares com os países fora do bloco, as regras para a gestão das crises e as metas de desenvolvimento da infraestrutura e dos equipamentos bélicos que se destinam a reduzir a dependência da OTAN.3 Ainda que estejamos longe de poder falar de um claro afastamento da geopolítica estadunidense, ter esta "autonomia" no radar do futuro esboça a possibilidade de as respostas de Bruxelas não se alinharem necessariamente aos interesses de Washington.

            A revogação das sanções às empresas envolvidas na construção do novo gasoduto foi vista como um presente da Alemanha para a Rússia, país que é o fornecedor de uma das principais fontes de energia da Europa e um grande comprador de seus manufaturados. E o fato deste presente trazer a marca dos EUA sinaliza também o desejo de um clima de distensão nas relações entre Washington e Moscou.

            O fato de esta medida estar vinculada à obrigatoriedade de manter o trânsito do gás através da Ucrânia até 2034, não é um grande problema para a Rússia, apesar dos protestos formais do seu governo. As estimativas para o futuro próximo falam de uma exportação anual de 200 bilhões de metros cúbicos de gás, uma quantidade que, mesmo após a entrada em operação do Nord Stream 2, demanda a utilização das linhas que hoje atravessam o território ucraniano.4

            Quem detestou a notícia foi o governo da Ucrânia que considerou o fim das sanções como uma espécie de traição por parte dos EUA. Esvaziar a importância do país como caminho do gás russo para a Europa reduz o poder de barganha de Kiev em relação às pressões militares de Moscou na fronteira entre os dois países e diminui os recursos que o país obtinha com os volumes de gás transportados pelo seu território. A insensibilidade de Biden às queixas ucranianas está apenas mostrando quem manda no jogo e quem para receber alguns favores precisa baixar a crista e aguardar a sua vez. Enquanto trata de se reaproximar da Rússia, Washington guarda na manga um coringa que jogará na hora certa para manter os vínculos com Kiev e dissuadir Moscou de opções bélicas perigosas: o pedido da Ucrânia de integrar a OTAN, uma possibilidade que a Rússia rejeita veementemente.5

            O clima de aparente cordialidade entre Joe Biden e Vladimir Putin quando da renovação do Acordo de Redução de Armas Nucleares no início de 2021, não esconde os burburinhos da nova corrida armamentista. O primeiro sinal inquietante deita raízes no seguido crescimento dos gastos mundiais em armamentos. Segundo o relatório do Instituto Internacional de Pesquisas para a Paz (SIPRI), com sede em Estocolmo, na Suécia, as nações do globo elevaram este montante para um trilhão e 981 bilhões de dólares em 2020, um aumento real de 2,6% em relação a 2019. Além de ser o maior dispêndio bélico dos últimos 32 anos, é necessário ressaltar que ele ocorreu no período mais duro da crise econômica desencadeada pela pandemia. O fato de os governos aumentarem os gastos em armamentos num contexto tão adverso revela a importância do aumento do poder de fogo nos passos da geopolítica atual.

            Para compreendermos melhor o que está ocorrendo, vamos comparar os dispêndios dos 10 países que, juntos, representam 75% do volume apurado pelo SIPRI, e, eliminada a inflação do dólar, verificar a sua variação percentual em relação a 2019 e a 2011. Esta dupla comparação ajuda a melhor dimensionar a importância do que ocorreu no ano passado. De fato, além de identificarmos a sua evolução em relação ao ano imediatamente anterior podemos averiguar a posição de cada país em relação a 2011, quando o volume total de dispêndios em armamentos atingiu o pico de uma longa fase de crescimento, iniciada em 1998, para, em seguida, se estabilizar num patamar inferior até 2017.6

Quadro 1: Gastos em armamentos, variação em relação a 2019 e 2011

e participação no total mundial

 

Países

2020: Gastos em bilhões

de dólares

Variação percentual

2019-2020

Variação percentual

2011-2020

Porcentagem do gasto mundial em 2020

1. Estados Unidos

778

4,4

- 10

39

2. China

[252]

1,9

76

[13]

3. Índia

72,9

2,1

34

3,7

4. Rússia

61,7

2,5

26

3,1

5. Reino Unido

59,2

2,9

- 4,2

3,0

6. Arábia Saudita

[57,5]

- 10

2,3

[2,9]

7. Alemanha

52,8

5,2

28

2,7

8. França

52,7

2,9

9.8

2,7

9. Japão

49,1

1,2

2,4

2,5

10. Coréia do Sul

45,7

4,9

41

2,3

        Fonte: Elaboração própria a partir do relatório do SIPRI.

            De acordo com o quadro 1, EUA, Reino Unido, Alemanha e Coréia do Sul elevaram seus gastos militares acima da média mundial registrada em 2020. Mas, enquanto os dispêndios de Washington são 10% inferiores aos de 2011 e Londres registra uma queda de 4,2% nesta mesma base de comparação, Berlim aumentou o total em 28% e Seul em 41% em relação a dez anos antes. Não é segredo para ninguém que a Alemanha pretende capitanear o processo que se destina a equipar a União Européia, para que possa decidir sua estratégia militar independentemente da OTAN. Por sua vez, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, anunciou em março deste ano que o Reino Unido reduzirá o número de tropas, de tanques e de aviões militares para que parte do dinheiro poupado com estes cortes seja investida no aumento das ogivas nucleares do país de 180 para 260 unidades. Não temos informações em relação aos planos da Coréia do Sul, mas as seguidas tensões com o vizinho do norte e o crescimento do poder ofensivo da China devem levar o país a ampliar tanto os sistemas de defesa existentes como a integração de suas forças armadas com as dos EUA.7

            Com dispêndios estimados em 252 bilhões de dólares, a China elevou seus investimentos bélicos em 1,9%, ante 2019, e em 76% quando comparados com o patamar de 2011. Vale lembrar que, atualmente, Pequim tem entre 250 e 350 ogivas nucleares prontas para o uso e pretende chegar a 700 ogivas em 2027. Além disso, em agosto deste ano, a China testou com sucesso um míssil hipersônico com capacidade de atingir os EUA entrando pela fronteira sul do seu território, onde as defesas contra esse tipo de ataque são bem mais frágeis em relação às que são posicionadas para interceptar artefatos nucleares que a Rússia poderia lançar na rota que sobrevoa o Polo Norte.8 Vale lembrar que as opções bélicas da China não são limitadas por nenhum acordo internacional e o país é aliado da Rússia, que também possui armas hipersônicas e, em 2020, elevou em 26% seus gastos em relação a 2011.9

            A Índia é, sem dúvida, o país que mais surpreende pela variação percentual dos seus gastos. Ainda que o montante de quase 73 bilhões de dólares não seja comparável ao da China e dos EUA, é importante frisar que o aumento dos investimentos bélicos em 2,1% ante 2019 e em 34% em relação a 2011 ocorreu no ano em que a crise econômica causada pela pandemia fez o PIB do país amargar uma queda de 10,3%. Ainda que não tenhamos informações mais precisas quanto ao destino destes recursos, parece impossível explicar o esforço gigantesco da Índia somente em função dos atritos com o Paquistão cujos gastos somaram 10 bilhões e 400 milhões de dólares, uma queda de 2,8% em relação a 2019.10

            Com base nesses dados e no estágio da atual corrida armamentista que expressam, o número de armas nucleares vai aumentar em 2021?

            Os especialistas do SIPRI apresentam um cenário intrigante. Segundo as estimativas do Instituto, na passagem de 2020 para 2021, os EUA devem reduzir o número total de artefatos nucleares de 5.800 para 5.550 e a Rússia deve passar de 6.375 para 6.255, ou seja, as duas grandes potências reduziriam seus artefatos atômicos num total de 370 unidades. Do total que continua nos arsenais, o Acordo de Redução de Armas Nucleares vigente estabelece que os EUA tenham 1.800 ogivas montadas em mísseis prontos para o uso e a Rússia 1.625.11

            Mas a que se apresenta como uma boa notícia ganha tons de preocupação por três fatores que apontam na direção oposta. O primeiro deles diz respeito ao tamanho do arsenal de França, Reino Unido, Israel, China, Índia, Coreia do Norte e Paquistão, países que não são submetidos a nenhum tipo de verificação efetiva ou de limitação desse tipo de armamento. Num único ano, a soma dos artefatos atômicos disponíveis passaria de um total estimado de 1.265, em 2020, para 1.326, em 2021. Sabendo que todos eles são aliados das grandes potências ou orbitam em suas áreas de influência, podemos concluir que, à diminuição dos artefatos sediados nos territórios russos e estadunidense corresponde um crescimento da disponibilidade desse tipo de armamento em outras regiões do globo. Ainda que se trate de um número proporcionalmente pequeno quando comparado ao das grandes potências, a disponibilidade destas armas nos países aliados eleva as chances de golpear os inimigos a partir de outras bases e se torna mais um elemento perigoso no frágil equilíbrio da paz armada na qual o mundo se encontra.12

            O segundo elemento diz respeito aos mísseis que transportam as ogivas atômicas. O Acordo de Redução de Armas Nucleares estabelece apenas quantos mísseis balísticos intercontinentais podem estar carregados e prontos para o lançamento na Rússia e nos EUA, mas não os demais vetores que também podem levar cargas atômicas com um poder de destruição semelhante. A maior preocupação diz respeito aos mísseis hipersônicos de Rússia e China, países que vêm aprimorando mais de um modelo desse tipo de arma. A pesquisa estadunidense relativa a esses foguetes está relativamente atrasada em relação aos seus concorrentes, à medida que os testes realizados por Washington em 15 de julho e 21 de outubro de 2021 falharam por problemas técnicos.13

            Do mesmo modo, não podemos esquecer que os demais países também vêm desenvolvendo foguetes convencionais capazes de alcançar distâncias mais longas com sua carga mortífera. Além dos mais que conhecidos testes da Coreia do Norte, no dia 27 de outubro deste ano, a Índia realizou com sucesso o lançamento do seu novo míssil balístico Agni-V que, com um alcance de 5000 km, pode levar, por exemplo, uma carga nuclear a qualquer ponto do território chinês.14

            Último, mas não menos importante, é o movimento pelo qual os EUA usam a tecnologia militar que desenvolveram para fortalecer os laços com seus aliados. Numa clara manobra para ampliar o poder de dissuasão militar nos oceanos Índico e Pacífico, no dia 16 de setembro de 2021, Washington e Londres assinaram com a Austrália o que foi denominado "Plano AUKUS" (das siglas internacionais dos países signatários).

            Negociado em segredo, o acordo visa compartilhar capacidades cibernéticas, inteligência artificial, tecnologia quântica e, sobretudo, fornece à Austrália a capacidade de construir 12 submarinos nucleares com tecnologia estadunidense. Chama a atenção o fato de que é a primeira vez que Washington compartilha esta tecnologia com outro país e que, com estes equipamentos, a Austrália passaria a ter o mesmo número de submarinos nucleares que hoje são operados pela China. Além de serem bem mais rápidos e difíceis de detectar, estes equipamentos podem ficar submersos por meses, alcançar distâncias muito mais longas das que são percorridas pelos que são movidos a diesel e carregar mísseis nucleares que, por terem bandeira australiana, escapam às limitações dos acordos vigentes.

            Não resta dúvida que, para a Austrália, se trata de um ganho tecnológico relevante, mas, ao dar este passo, o país amarra o seu destino ao dos EUA. Uma concessão dessa monta abre espaço para a Austrália vir a ser uma base de interceptação dos mísseis que cruzarem os céus do Polo Sul em direção aos Estados Unidos. Caso isso se concretize, o país estaria exposto a qualquer confronto que envolva EUA, Rússia e China.15

            Enquanto os governantes das grandes potências proferem palavras de paz, assinam acordos que mantêm a redução de armas nucleares e dão declarações conjuntas que buscam tranquilizar a humanidade, a ampliação e a modernização dos arsenais bélicos corroem vagarosa e incessantemente o equilíbrio de forças que sustenta a paz mundial. As pegadas no solo da geopolítica internacional não deixam dúvidas que, sob a retórica de distensão, são plantadas sementes de guerra.

 

            2. A inflação no caminho da recuperação mundial

            O desempenho das principais economias do planeta ao longo de 2021 é acompanhado por uma incômoda taxa de inflação. Para uma parte dos economistas, trata-se de um problema passageiro que será resolvido com a normalização das atividades produtivas até o final do primeiro semestre de 2022. Para outros, ela sinaliza a possibilidade de um conjunto de fatores frearem perigosamente o crescimento da economia mundial por muito mais tempo.

            As projeções do Fundo Monetário Internacional estimam que, em 2022, a riqueza gerada pelos trabalhadores do mundo inteiro deve registrar um aumento de 4,9%, um ponto percentual a menos em relação ao ritmo esperado em 2021, e deve ficar em 3,3% em 2023.16 Pelos números da entidade, não teríamos nenhuma situação capaz de mergulhar o mundo numa nova recessão, mas sim de causar uma desaceleração progressiva do crescimento.

            Para entendermos melhor o que está acontecendo, vamos remontar em grandes linhas o impacto da pandemia na produção de riquezas e os problemas da recuperação que está em andamento.

            À medida que o vírus se espalhava pelo mundo e o isolamento social era o único fator capaz de conter o seu rastro de morte, as atividades econômicas foram paralisadas em graus e tempos diferenciados. Muitos trabalhadores perderam seus empregos, outros assumiram parte dos custos da profissão com o trabalho remoto e inúmeras empresas foram hibernadas num patamar que buscava preservar os equipamentos existentes e reduzir as perdas geradas pela crise.

            Setores da indústria desativaram parcial ou totalmente a sua produção, cancelaram pedidos de matérias-primas e componentes e buscaram se adaptar a uma demanda marcada por flutuações constantes. Em sentido oposto, as empresas de materiais de higiene e limpeza e de equipamentos destinados ao setor de saúde trabalhavam a todo vapor.

            No setor de serviços, várias atividades fecharam totalmente as portas durante um longo período e outras adaptaram suas estruturas a uma demanda bem inferior à do período anterior à pandemia. Portos, aeroportos, modais ferroviários e rodoviários viram despencar o fluxo de mercadorias, demitiram um contingente considerável de profissionais e deixaram sem utilização navios, aviões, trens e caminhões. O setor hoteleiro, de refeições coletivas e lazer sofreu uma paralização abrupta com sérias consequências em termos de emprego e manutenção das estruturas.

            Bastam estas poucas linhas para percebermos que a fase aguda da pandemia desencadeou na economia mundial uma reação em cadeia que atingiu os centros nevrálgicos da produção, paralisou grande parte do transporte de carga e fez cair os preços das matérias-primas e da energia.

            Em geral, só a agricultura e a pecuária viram a produção e os lucros prosperarem com a ampliação dos negócios.

            Assim como a redução das atividades econômicas conheceu impactos diferenciados em todos os países e em cada setor da economia, a retomada do crescimento proporcionada pelo avanço da vacinação e a diminuição da taxa de contaminação vem ocorrendo de forma desigual. Na base deste ritmo diferenciado encontramos uma somatória de fatores que vão de uma demanda que sente os efeitos negativos da diminuição da renda e do desemprego à elevação dos custos da energia, da falta de profissionais à escassez de materiais, a uma oferta freada pela necessidade de voltar a paralisar a produção para conter os novos casos de contaminação pelo coronavírus e pelo amplo processo de fusões e incorporações de empresas que ocorreu durante a pandemia.

            Alguns exemplos ajudam a ilustrar este processo. Os principais portos e inúmeras indústrias da China, Índia, Vietnã, Bangladesh e Coréia do Sul têm suas atividades suspensas sempre que entre os trabalhadores são constatados focos de Covid-19, o que, obviamente, atrasa a entrega das encomendas e obriga os compradores a uma longa espera que pode paralisar suas atividades.

            Nos Estados Unidos, as classes média e média-alta que, em função da pandemia, se viam proibidas de viajar a passeio e a negócios, de frequentar cinemas, teatros, restaurantes, etc. usaram a renda não gasta nestas atividades para elevar a compra de bens de consumo. No mesmo período, as empresas que ensaiavam o retorno ao trabalho presencial aumentaram significativamente as aquisições dos suprimentos, gerando um pico de demanda sem precedentes. Segundo o Containers Trades Statistics, nos primeiros oito meses de 2021, as cargas de bens de consumo e materiais encomendados pelas empresas aumentaram 25% em relação ao mesmo período de 2019. Este volume considerável esvaziou os estoques existentes, elevou os preços dos insumos das cadeias produtivas e teve que acertar contas com operações portuárias, rodoviárias e ferroviárias que estavam longe de operar nos níveis anteriores à pandemia, tanto no país de origem dos importados como nos EUA.

            Para termos uma ideia do que isso significa, basta pensar que o desembarque nos principais portos estadunidenses conheceu inúmeros pontos de estrangulamento que levaram os navios a tempos de espera prolongados. Em setembro deste ano, por exemplo, em Long Beach e Los Angeles, foi registrada uma fila de 73 embarcações que aguardavam a permissão de atracar para efetuar o desembarque e o embarque dos contêineres, quando, em tempo normais, não deveríamos ter mais que duas ou três aguardando a vez de entrar nestes portos.17

            Não é necessário sermos economistas para entender que, quanto maiores os atrasos no desembarque e no despacho dos contêineres através do transporte rodoviário e ferroviário, mais escassa é a sua disponibilidade para novas cargas e mais caros se tornam os fretes. Segundo dados da Drewry Shipping, em agosto deste ano, o custo médio para enviar um container de 12 metros quadrados dos portos da costa leste da Ásia para o Oeste dos Estados Unidos aumentou 360% quando comparado ao valor do mesmo mês de 2020. Ainda segundo esta empresa, a rota marítima entre Shangai, na China, e Rotterdam, na Holanda, teve os custos do transporte do mesmo container elevados em 659% na mesma base de comparação. Situações parecidas são registradas nas linhas que ligam o sudeste asiático aos demais portos europeus e à América Latina. Ou seja, não estamos diante de um problema pontual ou localizado, e sim de uma realidade que se faz presente no mundo inteiro e que é difícil prever quando será normalizada. Os mais otimistas afirmam que isso ocorrerá no terceiro trimestre de 2022, enquanto os mais cautelosos adiam este prazo para março de 2023.18

            Do lado da oferta, não podemos esquecer o impacto do processo de fusões e aquisições causado pela crise econômica. Diante da queda do faturamento, muitas pequenas e médias empresas se uniram a empresas maiores, reduzindo tanto o número de empregados, como a capacidade de produção. Este mesmo processo foi promovido por grandes empreendimentos que viram na crise a oportunidade de adquirir a baixo preço negócios promissores a fim de incorporar os conhecimentos disponíveis e as estruturas que complementariam o cardápio de seus produtos num processo que, via de regra, envolve um enxugamento de postos e ambientes de trabalho como forma de otimizar a capacidade produtiva e os retornos esperados. Concretamente, isso significa menos gente trabalhando, uma redução da oferta de mercadorias e serviços e um impacto na elevação dos preços em função do maior controle que as grandes empresas passam a exercer sobre os mesmos.

            Para termos uma ideia do volume de capital envolvido, basta pensar que, segundo um estudo da consultoria Bain & Company, em 2020, as fusões e as incorporações movimentaram 2 trilhões e 800 bilhões de dólares e, nos primeiros dez meses de 2021, a agência Bloomberg calcula esse montante em 4 trilhões e 110 bilhões de dólares, um volume que, faltando dois meses para o final do ano, já superou o recorde histórico registrado em 2007. Para termos uma ideia do que isso significa, basta pensar que a soma destes valores corresponde a quase quatro anos de PIB do Brasil. Ou seja, a pandemia promoveu um processo de concentração de capitais cujos efeitos sobre a oferta e os preços se somam aos problemas que descrevemos nos parágrafos anteriores.19

            Mas o impacto da retomada econômica nos preços não guarda relação apenas com os problemas que listamos. Os combustíveis, por exemplo, encareceram no mundo inteiro sob o impulso da maior demanda de petróleo e de carvão mineral. Ao longo do mês de outubro, o preço do petróleo tipo WTI ultrapassou os 80 dólares por barril, sendo que, no mesmo mês de 2020, as cotações flutuavam em torno dos 40 dólares.

            A explicação para esta forte elevação não está apenas no crescimento econômico mundial, mas guarda uma relação direta com a falta de interesse dos países produtores em elevar rapidamente as cotas de extração para encolher os preços desta commodity. O mesmo ocorre com as empresas estadunidenses que extraem petróleo das rochas de xisto. Em outubro deste ano, suas atividades se restringiam a 533 perfurações, quase um terço das 1580 de outubro de 2014, quando os preços do petróleo estavam nos patamares atuais. Duramente atingido pela desaceleração econômica causada pela pandemia, o preço do barril tende a se manter elevado à medida que as empresas petrolíferas se negam a aumentar a extração a patamares compatíveis com a alta da demanda para recuperar parte dos lucros perdidos no auge da pandemia.20

            Considerada a "fábrica do mundo", a China é fortemente afetada pelos preços da energia, e isso não se deve apenas aos valores atingidos pelo petróleo. Os preços do carvão mineral, que representa 67% de sua matriz energética, dispararam devido a uma combinação de forte demanda, baixa oferta e elevação dos custos do transporte. Entre janeiro e agosto deste ano, a produção industrial do gigante asiático cresceu 13,1% em relação ao mesmo período do ano passado, mas a produção local de carvão aumentou míseros 4,4%. A desativação de várias minas chinesas em função da total falta de segurança elevou a demanda de Pequim no mercado mundial, aumentando em 205% os preços do carvão importado da Austrália e em 233% o do que é produzido na Indonésia. Estes aumentos inviabilizam a operação das centrais termoelétricas a carvão que, por lei, são proibidas de repassar a elevação dos custos para o consumidor final. Desativadas ou operando com capacidade reduzida, a quantidade de energia que sai de suas turbinas caiu a níveis tão baixos que os apagões se tornaram uma realidade cada vez mais frequente em várias regiões do país.21

            O setor imobiliário do gigante asiático é outro fator que desperta as preocupações do mundo inteiro. Na segunda metade de setembro, os investidores foram sacudidos pelas notícias de que a Evergrande, um gigante da construção civil, estava sem recursos para pagar as parcelas de suas dívidas que somavam cerca de 300 bilhões de dólares. A quebra da empresa de investimentos imobiliários foi evitada graças à intervenção do governo, mas a desconfiança de que outras grandes empreiteiras têm o mesmo problema eleva os temores de que um possível calote coletivo atinja fortemente os bancos chineses. O mundo teme que, ao bloquear o fluxo de recursos que anima os investimentos do setor, o PIB chinês despenque para níveis próximos do zero e que os problemas internos se espalhem como um rastilho de pólvora pelos canais da economia mundial. E não é para menos. A construção civil responde por cerca de 7% do PIB da China, uma porcentagem que chega a 20% quando incluímos a rede de fornecedores. Daí que uma crise das grandes empreiteiras e dos bancos que as financiam teria um impacto devastador. 22

            Diante dos elementos apresentados, podemos dizer que, em 2022, não faltam espaços para a economia mundial crescer, mas também não faltam obstáculos para uma recuperação sustentada. O aumento da inflação pelo encarecimento da energia, pelas dificuldades nos transportes e pelos descompassos entre oferta e demanda deve levar os Bancos Centrais de vários países a retirarem os estímulos que sustentaram a economia durante a pandemia e a elevarem os juros a fim de esfriar a demanda. Por outro lado, o combate à inflação terá que acertar contas também com a possibilidade de uma nova onda de contaminação pelo Coronavírus que, a depender da gravidade, poderá voltar a paralisar as atividades econômicas das regiões atingidas.

            O grau de incerteza é grande. Os riscos não são pequenos. Por isso precisamos redobrar as atenções ao tamanho e à complexidade dos obstáculos que podem gerar surpresas desagradáveis no caminhar da economia mundial em 2022.

 

            3. O capital aperta o torniquete da exploração.

            Em meio à incerteza imposta pelo desemprego e pela inflação que encolhe o poder de compra dos salários, o aumento da exploração se configura como o único aspecto líquido e certo da retomada do crescimento. Segundo o relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT), o quarto trimestre de 2021 deve se encerrar com 94 milhões e 600 mil vagas de trabalho em tempo integral a menos em relação ao mesmo período de 2019.

            Contudo, encolher o número de empregos disponíveis não implica numa diminuição proporcional da produção de valor. Ao contrário, segundo as estimativas da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), o PIB mundial deste ano deve ficar 2,1% acima do patamar de 2019. Ou seja, ao se confirmarem estas estimativas, teremos um aumento da produção de valor em relação ao período anterior à pandemia com um contingente de ocupados que, em média, é 4,3% menor.

            Todos sabemos que, em tempos de crise, o medo do desemprego e a alegria de ter encontrado um trabalho para garantir o próprio sustento funcionam como uma espécie de acelerador da produtividade. Esta tendência geral é confirmada pela OIT cujos cálculos apontam uma elevação do valor produzido em cada hora trabalhada de uma média correspondente a 18 dólares em 2019 para 18 dólares e 80 centavos estimados em 2021.23

            Mas o medo e a felicidade não dão conta de explicar as situações peculiares que a mídia vem alardeando como sinais de pujança do sistema e nem permite entender como as pressões das empresas usam a exploração do sofrimento como combustível da produção de valor e dos lucros. Vamos visualizar esta realidade mostrando o que se esconde atrás do biombo das aparências que deixam de queixo caído quem, em busca de uma vaga, anseia por ter acesso a ditas oportunidades.

            Começamos pelos Estados Unidos onde, em junho deste ano, as estatísticas mostravam a existência de 9 milhões de desempregados para 10 milhões e cem mil vagas disponíveis. De posse destes números, os empresários pediam a imediata suspensão dos benefícios que o Estado oferece aos desempregados a fim de forçar as pessoas a trabalharem. De outro, os relatos dos empregados revelavam uma realidade bem diferente da que era apresentada pelos patrões. Vamos aos fatos.

            Em primeiro lugar, é necessário deixar claro que a grande maioria das vagas disponíveis é para trabalhos precários que, apesar dos aumentos salariais oferecidos não compensam os riscos e aos quais os funcionários são submetidos. No comércio varejista, por exemplo, 94% das lojas têm problemas para completar o quadro de funcionários à medida que os postos são quase sempre em lugares fechados, não arejados, a contato direto com as pessoas durante toda a jornada de trabalho e sem os meios necessários para evitar o contágio.

            Ainda que a grande maioria dos casos de Covid-19 não leve a óbito, é o trabalhador quem arca com os caríssimos custos do atendimento médico e, até mesmo, nos casos em que as empresas oferecem um seguro saúde, a parcela desembolsada quando de uma internação hospitalar continua sendo alta demais diante dos salários pagos pelos empresários. Concretamente, quem trabalharia tranquilo sabendo que tem uma grande chance de pagar mais do que ganha para escapar da Covid à qual está sistematicamente exposto?

            Nas grandes corporações, o ritmo, as condições de trabalho e a política salarial têm levado muitas pessoas a experimentarem o novo normal da exploração. Recentemente, Microsoft, Facebook, Twitter e Google anunciaram que pretendem rebaixar os salários dos empregados em trabalho remoto. Os cortes ficariam entre 5% e 15% dos ordenados vigentes, sendo que a porcentagem é diretamente proporcional à distância entre a unidade da empresa onde o funcionário trabalhava e a sua moradia. A redução é justificada pelo fato de que os empregados não precisam gastar com esse tipo de deslocamento, como se este critério tivesse sido levado em consideração para calcular o salário da contratação de cada um para o trabalho presencial.

            Diante desta postura, não é difícil imaginar a angústia de quem, ao decidir recusar, sabe estar se colocando fora do quadro de empregados e tem plena consciência de que o próximo emprego poderá oferecer um salário menor em relação ao que receberia após os descontos. Por outro lado, aceitar é abrir caminhos para engolir outras demandas relativas ao desempenho e ao cumprimento de metas que virão na esteira desta submissão. Em ambos os casos, uma dose generosa de angústias e sofrimentos é a única coisa que o trabalhador garante qualquer que seja a sua escolha.

            No caso da Amazon, o tipo de contrato e a carga de trabalho revelam o peso da exploração praticada por esta gigante do comércio eletrônico cujos negócios dispararam durante a pandemia. Muitos trabalhadores são pagos por hora efetivamente trabalhada, o que exclui benefícios como seguro saúde, descanso semanal remunerado e férias.

            Da chegada do pedido à entrega dos produtos aos compradores, o processo de trabalho é controlado por sistemas que gravam todas as informações relativas ao desempenho de cada funcionário. Qualquer fração de tempo alheia ao processo de produção é computada e, caso extrapole o padrão estabelecido, o sistema prepara automaticamente a carta de demissão do empregado.

            Esta mesma realidade vale para os motoristas que entregam as encomendas. Qualquer parada para almoçar, tomar café ou ir ao banheiro é registrada como tempo de não trabalho. Para não sofrerem retaliações, os motoristas urinam em garrafas plásticas no interior dos veículos, comem e tomam café enquanto dirigem numa jornada que nunca é inferior às 10 horas diárias.

            A pressão do ritmo de trabalho se reflete na impossibilidade de respeitar as regras de distanciamento social, de higienizar frequentemente as mãos e no número de acidentes com afastamento. Em 21 unidades da Amazon foram registrados casos de Covid-19, mas, além de não suspender o trabalho, quem protestou pela falta de medidas de proteção foi sumariamente demitido. No que diz respeito aos acidentes de trabalho, em 2020, as unidades sediadas nos EUA registraram 5,9 ocorrências com afastamento para cada 100 trabalhadores contratados em tempo integral, um índice 80% maior do que a média nacional. Ficar na Amazon implica em aguentar um ritmo de trabalho que não deixa tempo para respirar. Sair dela envolve repensar o cotidiano da vida com um salário menor e uma lista de incertezas. Mas, à medida que seguir segurando a barra é sinônimo de se aniquilar sob o peso do trabalho, os sacrifícios da mudança de emprego começam a ser vistos com bons olhos.

            Diante deste conjunto de fatores, não é difícil entender porque, nos EUA, a rotatividade mensal está acima dos 3% dos ocupados. Ou seja, não são os desocupados que querem aproveitar o salário desemprego para não trabalhar e sim as condições oferecidas pelo emprego e a gravidade dos riscos a fazer com que muitos trabalhadores desistam das vagas que ocupam, mantendo assim a discrepância entre o número de postos em aberto e o de trabalhadores e trabalhadoras que se candidatam a eles.24

            No Reino Unido, a dificuldade de encontrar empregados para determinadas funções revela o peso e a importância dos imigrantes para que as atividades econômicas ofereçam os lucros esperados. A saída da União Europeia e a paralização das empresas no início da pandemia fizeram com que mais de um milhão de trabalhadores estrangeiros deixassem o território britânico para retornar aos países de origem. A retomada das atividades econômicas e as dificuldades de uma recontratação no Reino Unido levaram grande parte deste contingente a procurar emprego nas nações da UE.

            O fato de os britânicos de nascimento não terem o menor interesse em ocupar as vagas que a escassez de imigrantes faz brotar nos setores onde se trabalha muito e se ganha pouco faz com que atividades essenciais se deparem com situações de desabastecimento. Em agosto deste ano, por exemplo, a Associação Britânica de Produtores Independentes de Carne afirmava ter 14 mil vagas disponíveis e os criadores de aves apontavam a necessidade de preencher imediatamente 7 mil vagas a fim de garantir a demanda dos supermercados. Contudo, criar aves e acondicionar as carnes espelhavam apenas os problemas que se faziam presentes nas fases iniciais da cadeia produtiva. De fato, o transporte de carga também registrava uma situação particularmente grave com 102 mil postos disponíveis para as funções de motorista e carregador.

            Algumas semanas depois do anúncio desta enorme disponibilidade de vagas, prateleiras vazias, filas intermináveis de veículos nos postos que recebiam o combustível transportado pelos poucos caminhões-tanques em circulação, falta de matérias-primas e suprimentos para as empresas de todos os tipos e tamanho se tornaram acontecimentos corriqueiros em várias cidades britânicas.

            Apesar do impacto desta situação sobre a receita e os lucros, levantar as barreiras à contratação de imigrantes seria reconhecer a importância de um trabalho que sempre foi menosprezado e admitir que o Brexit foi um tiro no pé em termos de disponibilidade de força de trabalho barata e pronta a se deixar esfolar. Elevar os salários locais para tentar atrair os autóctones comprometeria as margens de lucros numa economia que ainda vive as incertezas da pandemia e cuja recuperação não apresenta setores capazes de promover um crescimento sustentado. Ao capital resta então apelar ao Estado para amenizar a escassez de força de trabalho. Neste sentido, o setor de processamento de carnes solicitou e obteve do Ministério da Justiça o aumento da cota de presos autorizados a trabalhar em seus galpões por ordenados inferiores aos dos próprios imigrantes; o transporte de combustível ganhou o envolvimento de 150 motoristas do Exército de Sua Majestade; e o tempo máximo de volante dos condutores teve seu limite ampliado de 9 para 11 horas diárias. 

            Apesar destes "quebra-galhos", a situação está longe de se normalizar e o caso dos motoristas apresenta um elemento que dificilmente será alterado pelos empregadores. É fato que muitos autóctones deixaram a profissão depois que o valor do frete começou a ser calculado com base nos quilómetros rodados e não por hora de volante. Os seguidos atrasos nas passagens de fronteiras depois da saída da União Européia, os engarrafamentos nos portos e nos centros de distribuição causados pelas normas que passaram a regular o comércio exterior depois do Brexit fizeram com que ganhar a vida como motorista de caminhão começasse a não valer a pena. De fato, independentemente do tempo necessário para levar as cargas ao seu destino, o salário é rigorosamente o mesmo. Ampliar a jornada de 9 para 11 horas faz com que os caminhoneiros possam percorrer mais quilômetros e ganhar um pouco mais, ainda que o preço a pagar seja a elevação da fadiga e do risco de acidentes. Mas, garantido o lucro das transportadoras e das empresas que dependem dos seus serviços, a perda de vidas humanas é um fator que o capital aceita sem pestanejar.25

            Na Finlândia, a abundância de vagas guarda uma relação direta com uma série de fatores. De um lado, o país enfrenta uma escassez aguda de força de trabalho em função do envelhecimento da sua população à qual se soma a recusa dos autóctones de trabalharem como enfermeiros e técnicos de enfermagem, como operários metalúrgicos e marítimos ou de assumirem as vagas menos qualificadas do setor de tecnologia da informação. De outro, as dificuldades que os imigrantes enfrentam para aprender a língua local, o forte preconceito dos autóctones em relação aos não finlandeses, o inverno rigoroso, a relutância dos empregadores em reconhecer experiências e qualificações obtidas no exterior e, sobretudo, o custo de vida elevado para os salários pagos a quem ocupa as vagas disponíveis alimentam a defasagem entre a oferta de postos e as pessoas dispostas a ocupá-los.

            Contudo, a pressa do governo em dobrar os níveis de imigração para 20-30 mil pessoas ao ano guarda também uma relação direta com a necessidade de sustentar o sistema previdenciário finlandês. De fato, além de o imigrante ser uma força de trabalho que, ao entrar no país em idade adulta, dispensa os governos de gastarem uma quantidade considerável de recursos para a sua formação, as vicissitudes às quais costuma ser submetido elevam suas chances de um retorno ao país de origem ou de migrar para outras nações onde seus familiares se instalaram.

            Desta forma, em todos os países europeus, é comum encontrar estrangeiros que trabalham durante anos e contribuem regularmente para a previdência social, mas, ao saírem deles antes de completar o período necessário para obter os benefícios, acabam engordando o caixa da seguridade social sem receber nenhum retorno. Os motivos pelos quais a Finlândia abre os braços aos estrangeiros não guarda nenhuma relação com questões humanitárias, mas tão somente com as necessidades de um capital que não encontra espaços suficientes para ampliar a acumulação no país e precisa tirar dos estrangeiros os recursos que garantem a paz social entre os nativos.26

            Resgatar o que se esconde atrás das notícias de "sobra de vagas" e "falta de trabalhadores" que insinuam a presença de um capitalismo pródigo em oportunidades permite mostrar que o capital não tem nenhuma intenção de afrouxar o torniquete da exploração. É nesta direção que, a nosso ver, devem ser lidas as pressões da iniciativa privada para que os governos retirem os auxílios concedidos durante a pandemia e os limites impostos às demissões em função das necessidades do isolamento social. Sem nenhum tipo de proteção, a força de trabalho disponível estaria totalmente exposta às exigências da acumulação pós-pandemia.

            Uma amostra das possibilidades que se preparam em escala global pode ser vista nos acontecimentos da Itália, país onde sobram trabalhadores e faltam empregos. No dia 30 de junho, o governo deixou de reeditar o decreto que, desde 17 de março de 2020, proibia as demissões que não fossem ligadas à falência ou à redução de efetivos mediante um plano de demissões voluntárias acordado com os sindicatos. Para poupar o caixa das empresas, o Estado pagava o correspondente a 80% das horas não trabalhadas de quem estava com o contrato suspenso, sem nenhum custo por parte dos empregadores. Desta forma, os patrões arcavam apenas com os "prejuízos" oriundos da baixa utilização da capacidade instalada, mas não da manutenção de funcionários capacitados que estariam imediatamente disponíveis quando da retomada das atividades.27

            Como todos os dirigentes sindicais e os delegados de base esperavam, uma onda de demissões percorreu a Itália de norte a sul a partir de 1º de julho. Em poucos dias, inúmeras empresas aproveitaram para fechar setores e unidades de produção a fim de transferir, parcial ou totalmente, as atividades aí realizadas para países onde os custos do trabalho são menores. Outras justificaram com "motivos econômicos" a eliminação seletiva tanto de profissionais com os salários mais elevados, como de delegados sindicais e de membros das organizações nos locais de trabalho cujos ordenados não se distanciavam das médias setoriais.

            Do mesmo modo, as demissões que golpearam quem estava articulando os protestos após o fim do decreto, ou havia participado de ações de resistência anteriores, se associaram a uma longa lista de ativistas, delegados e representantes de base que permaneceriam com o contrato suspenso, mesmo após a retomada das atividades, a fim de impedir a presença deles na articulação do chão de fábrica no momento mais delicado dos enfrentamentos.28

            Felizmente, os golpes desferidos pelos empresários despertaram reações inesperadas. Em poucos dias, a resposta dos trabalhadores e das trabalhadoras se fez ouvir intensamente de norte a sul do país. Greves de diferentes durações pipocaram em todas as regiões italianas. Na cidade de Florença, ocorreu um dos momentos mais significativos da retomada dos enfrentamentos. Os 400 operários da empresa de componentes automotivos GKN, demitidos com o fechamento abrupto da unidade onde trabalhavam, sacudiram a cidade com seus protestos, bloquearam as demissões coletivas na justiça e lançaram as bases de um questionamento nacional sobre a possibilidade de as empresas beneficiadas pelos incentivos governamentais transferirem abruptamente as instalações para outros países.29

            Além dos atritos com a polícia, nos portões das empresas, não foram poucos os momentos em que os piqueteiros enfrentaram a violência de jagunços assoldados pelos empregadores, sob a vista grossa dos policiais que acompanhavam os acontecimentos, a poucos metros de distância.30

            Neste cenário no qual se manifesta a rebeldia de uma classe que estava adormecida, não faltam elementos que elevam as preocupações de quantos estão envolvidos na sua organização. O ataque à sede da Confederação Geral Italiana do Trabalho (CGIL) perpetrada por grupos neofascistas, no dia 9 de outubro, em Roma, acendeu um sinal de alerta que as manifestações de repúdio ocorridas nos dias seguintes não conseguiram apagar. Enquanto muitos limitaram suas observações ao debate sobre a obrigatoriedade da vacina para todos os trabalhadores como a motivação para o ataque à maior central sindical do país, poucos observaram que esta ação não foi realizada por um grupo isolado de pessoas, e sim por uma multidão que, do lado de fora da sede, assistia à invasão realizada pelos líderes de extrema direita.

            Cuidadosamente preparada em todos os detalhes, a manifestação revelou a capacidade de recrutamento e de mobilização da direita na periferia de Roma, um fenômeno que vem se repetindo nas grandes cidades italianas. Neste sentido, o ataque se apresenta como a ação de quem catalisa o descontentamento social que grassa nestes ambientes, nos quais pequenos comerciantes, desempregados e trabalhadores precários não conseguem fazer ouvir a própria voz, para se credenciar como liderança disposta a enfrentar o status quo.

            Ainda que, no momento, seja impossível tirar maiores conclusões deste acontecimento, a confusão ideológica e os apelos contra as vacinas que ganharam terreno entre o povo simples, podem criar um caldo de cultura favorável à penetração neofascista na base da pirâmide social. Se as manifestações de repúdio à invasão da sede da CGIL eram essenciais sob todos os pontos de vista, a tarefa de reverter o apoio das pessoas comuns aos grupos neofascistas é tão importante quanto urgente.

            A pandemia chegou ao nosso continente num cenário de 6 anos de baixo crescimento econômico, marcado pelo aumento da pobreza e das tensões sociais. De acordo com a Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL), a economia da região sofreu uma retração de 6,8%, em 2020, mais que o dobro da média mundial (- 3,2%); cerca de 2 milhões de micro e pequenas empresas fecharam as portas; e a redução de horas trabalhadas sinalizou uma perda correspondente a 26 milhões de postos de trabalho em tempo integral. A precariedade das condições de vida e o empobrecimento da população associado ao desemprego, a impossibilidade de muitos trabalhadores por conta própria exercerem suas atividades e os precários serviços assistenciais do Estado potencializaram o impacto mortífero da pandemia. Apesar de a região ter apenas 8,4% da população mundial, o coronavírus fez com que ela respondesse por 27,8% das mortes por Covid-19 registradas no mundo inteiro.

            De acordo com o estudo da CEPAL, publicado em setembro de 2021, a América Latina e o Caribe devem crescer 5,9% este ano e conhecer uma expansão do PIB de 2,9% em 2022. Isso significa que o continente voltará a igualar a quantidade de riquezas de 2019 somente em meados do próximo ano. Contudo, este passo ocorrerá sem que a renda das famílias volte ao patamar anterior à crise. Se, antes da pandemia, um em cada dois empregos era de trabalho informal, os dados de 2021 revelam que, em média, sete em cada dez vagas geradas pelo crescimento econômico estão na informalidade.31

Trata-se de um dado preocupante, à medida que esses postos, além de não oferecerem nenhum tipo de direito e proteção social, pagam salários inferiores aos do trabalho com carteira assinada. Ou seja, ainda que o crescimento traga algum alívio em relação à situação atual, o aprofundamento da exploração vai manter o número das famílias em situação de vulnerabilidade bem acima dos patamares de 2019. A ausência de reações populares aos desmandos empresariais, uma inflação que corrói o poder de compra dos salários, um Estado que prende e condena quem rouba para comer e atua para dar mais a quem tem demais abrem novos caminhos ao massacre dos mais pobres.

            A um passo de entrar no último mês de 2021, as preocupações com uma nova onda de contaminações percorrem os países da Europa. Diante da forte elevação dos contágios, muitos chefes de Estado voltaram a falar em lockdown.32 A líder técnica da Organização Mundial da Saúde (OMS) para a Covid-19, Maria Van Kerkhove, disse que, entre o dia 8 de outubro e 5 de novembro, na Europa, as contaminações aumentaram em mais de 55%. Ainda segundo a OMS, mantido este ritmo, o velho continente pode amargar mais de 500 mil mortes até o final de fevereiro de 2022.33

            No mundo inteiro, a sede de lucros que força a marcha rumo ao fim das restrições impostas pelo combate à pandemia é a mesma que usa o desejo da população de voltar à normalidade para pressionar os governos a assumirem os riscos e os custos da completa reabertura das atividades econômicas. Nesta correnteza onde toda precaução é vista como uma ameaça aos negócios, a Covid-19 prepara a conta que a humanidade pagará em vidas humanas.

           

            Emilio Gennari, 16 de novembro de 2021.

 

 

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(1) Em: Emilio Gennari, O mundo no final de 2020, texto disponível através do link https://drive.google.com/file/d/1zACZhmiuqYSYpAA0yKrtdr_q46smBxz-/view?usp=drivesdk

 

(2) Os dados citados encontram-se disponíveis em: https://brasil.elpais.com/internacional/2021-06-15/ue-e-eua-selam-fim-do-conflito-airbus-boeing-apos-17-anos-de-disputa.html  e em: https://brasil.elpais.com/internacional/2021-11-01/biden-promove-resposta-internacional-a-crise-das-cadeias-de-abastecimento.html  Acessos em 02/11/2021.

 

(3) Em: https://elpais.com/internacional/2021-02-25/la-ue-impulsa-sus-planes-de-autonomia-militar-pese-a-la-sintonia-con-washington.html#?sma=newsletter_global20210301m  e em: https://elpais.com/internacional/2021-11-15/la-ue-preve-realizar-en-2023-las-primeras-maniobras-militares-de-su-historia.html?sma=newsletter_diaria_manana20211115m Acesso em 15/11/2021.

 

(4) Resumimos neste bloco as informações divulgadas em:

- https://elpais.com/internacional/2021-07-22/el-aparente-enfado-del-kremlin-con-el-nord-stream-2.html?mid=DM73323&bid=659824571#?sma=newsletter_global20210726m  

- https://elpais.com/internacional/2021-07-22/el-aparente-enfado-del-kremlin-con-el-nord-stream-2.html   Acessos em 25/10/2021.

 

(5) Dados divulgados em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-58582195  Acesso em 16/09/2021.

 

(6) O relatório completo do Instituto está disponível em: https://www.defesanet.com.br/tt/noticia/40451/SIPRI---Gastos-militares-mundiais-sobem-para-quase-US-%24-2-trilhoes-em-2020/   Acesso em 30/10/2021

 

(7) Em: https://internacional.estadao.com.br/noticias/geral,reino-unido-amplia-arsenal-nuclear-pela-primeira-vez-em-30-anos,70003649950?utm_source=NexoNL&utm_medium=Email&utm_campaign=anexo  Acesso em 19/03/2021.

 

(8) Maiores informações sobre o tema podem ser encontradas em: https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/sputnik-foi-alerta-para-os-eua-mas-missil-hipersonico-chines-e-desafio-maior/ Acesso em 13/11/2021.

 

(9) Para entendermos a importância das armas hipersônicas num conflito, basta pensar que elas não seguem a trajetória parabólica fixa de um míssil balístico convencional, podem voar em altitudes mais baixas e seu percurso até o alvo pode seguir trajetórias diferentes, o que dificulta o rastreamento e a interceptação pelos sistemas de defesa antimísseis em uso na maioria dos países. As armas hipersônicas podem ser lançadas de foguetes balísticos que as colocam em órbita antes de elas acionarem seus propulsores ou de um avião, como é o caso do míssil hipersônico Kinjal, fabricado pela Rússia. A arma testada por Pequim atingiu 7.344 km por hora, o que possibilitaria dar uma volta completa na terra na linha do Equador em pouco menos de duas horas. Os mísseis da série Avanguard que estão sendo testados pela Rússia podem cobrir distâncias intercontinentais a mais de 24 mil km por hora. Os mísseis hipersônicos acoplados a aviões militares podem levar cargas capazes de afundar um porta-aviões, um objetivo que não pode ser atingido pelos mísseis convencionais existentes. Ao que tudo indica, China e Rússia estão à frente dos EUA no desenvolvimento desse tipo de armamento que, apesar de poder carregar ogivas nucleares, não está sujeito a nenhum acordo que limite a sua fabricação e o seu uso. Os dados citados no texto e maiores informações sobre este tema podem ser encontradas em:

-https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2021/10/china-testa-nova-capacidade-espacial-com-missil-hipersonico-e-surpreende-eua.shtml

- https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-45123118

- https://elpais.com/internacional/2021-06-14/la-otan-eleva-el-tono-frente-a-china-al-situarla-entre-los-grandes-desafios-de-seguridad-global.html?mid=DM66889&bid=604495613#?sma=newsletter_diaria_noche20210614m 

-  https://m.dw.com/pt-br/otan-declara-que-china-representa-desafio-sist%C3%AAmico-para-alian%C3%A7a/a-57890805

- https://brasil.elpais.com/internacional/2021-11-08/china-sacode-a-velha-ordem-nuclear-mundial.html?prm=ep-app-cabecera

Acessos em 08/11/2021.

 

(10) Os dados do Paquistão encontram-se no mesmo relatório do SIPRI, disponível em: https://www.defesanet.com.br/tt/noticia/40451/SIPRI---Gastos-militares-mundiais-sobem-para-quase-US-%24-2-trilhoes-em-2020/   Acesso em 30/10/2021

 

(11) Dados disponíveis em: https://www.sipri.org/media/press-release/2021/global-nuclear-arsenals-grow-states-continue-modernize-new-sipri-yearbook-out-now Acesso em 14/11/2021.

 

(12) Os valores apresentados foram calculados somando as estimativas do número de artefatos nucleares de França, Reino Unido, China, Índia, Paquistão, Israel e Coreia do Norte, em 2020 e 2021, disponíveis em: https://www.sipri.org/media/press-release/2021/global-nuclear-arsenals-grow-states-continue-modernize-new-sipri-yearbook-out-now Acesso em 14/11/2021.

 

(13) Em: https://super.abril.com.br/tecnologia/missil-hipersonico-dos-eua-falha-no-primeiro-teste/ e em: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2021/10/22/teste-com-missil-hipersonico-dos-eua-falha.ghtml Acessos realizados em 14/11/2021.

 

(14) Maiores informações sobre o tema podem ser encontradas em: https://www.indiatoday.in/india-today-insight/story/agni-v-and-the-end-of-india-s-northeastern-dilemma-1871754-2021-10-31 Acesso em 14/11/2021.

 

(15) Estas e outras informações estão disponíveis em:

- https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-58545229

- https://www.bbc.com/portuguese/internacional-58582195

- http://www.chinahoje.net/acordo-de-submarino-nuclear-aukus-traz-cinco-danos-a-regiao-diz-chanceler-chines/?utm_source=rss&utm_medium=rss&utm_campaign=acordo-de-submarino-nuclear-aukus-traz-cinco-danos-a-regiao-diz-chanceler-chines  Acessos em 30/10/2021

 

(16) O relatório completo divulgado pelo FMI em outubro de 2021 está disponível em: https://www.imf.org/pt/Publications/WEO/Issues/2021/10/12/world-economic-outlook-october-2021  Acesso em 30/10/2021.

 

(17) Em: https://www.bbc.com/mundo/noticias-58943545  Acesso em 02/11/2021.

 

(18) Em: https://www.bbc.com/mundo/noticias-58324770  Acesso em 02/11/2021.

 

(19) Em: https://tiinside.com.br/04/03/2021/fusoes-e-aquisicoes-movimentam-us-28-trilhoes-em-ano-marcado-pela-pandemia-aponta-bain-company/  e em: https://www.infomoney.com.br/mercados/fusoes-e-aquisicoes-globais-atingem-recorde-de-us-41-trilhoes/ Acessos em 14/11/2021

(20) Em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-58934505  Acesso em 22/10/2021.

 

(21) Em: https://brasil.elpais.com/internacional/2021-09-30/china-enfrenta-onda-de-blecautes.html?prm=ep-app-cabecera  Acesso em 16/10/2021.

 

(22) Estas e outras informações sobre o tema podem ser encontradas em:

- https://6minutos.uol.com.br/mercado-e-dolar/evergrande-entenda-por-que-a-crise-de-uma-unica-empresa-chinesa-afeta-o-brasil/

- https://www.bbc.com/portuguese/internacional-58762811

- https://economia.uol.com.br/noticias/afp/2021/09/22/grupo-chines-evergrande-anuncia-acordo-para-evitar-calote-de-titulo-importante.amp.htm

- https://www.bbc.com/portuguese/brasil-59085524 

Todos os acessos foram realizados em 31/10/2021.

 

(23) Cálculos realizados pelo autor a partir dos dados que constam no relatório La COVID-19 y el mundo del trabajo. Octava edición - Estimaciones actualizadas y análisis, 27 de outubro de 2021 da OIT (disponível em: https://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/---dgreports/---dcomm/documents/briefingnote/wcms_824097.pdf Acesso em 09/11/2021) e das estimativas do PIB mundial, divulgadas pela OCDE em: https://data.oecd.org/gdp/real-gdp-forecast.htm#indicator-chart Acesso em 08/11/2021.

 

(24) Estas e outras informações sobre a realidade do trabalho nos EUA estão disponíveis em:

- https://www.bbc.com/mundo/noticias-58182076  

- https://www.bbc.com/portuguese/internacional-58141303    

- https://www.bbc.com/mundo/noticias-58181006  

- https://www.bbc.com/portuguese/internacional-58428025

- https://olhardigital.com.br/2019/04/26/noticias/amazon-rastreia-produtividade-dos-trabalhadores-e-os-dispensa-por-isso/

- https://www.bbc.com/mundo/noticias-52114445

- https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-56696522

- https://www.bbc.com/mundo/noticias-56631854

- https://www.wsws.org/pt/articles/2020/07/01/amaz-j01.html

- https://www.dmtemdebate.com.br/a-amazon-prime-day-e-um-pesadelo-para-os-trabalhadores-da-amazon/

- https://progressive.international/wire/2020-06-30-the-amazon-strikes-and-the-language-of-power/pt-br

- https://www.bbc.com/news/technology-57332390

- https://www.bbc.com/news/business-55927024

- https://www.bbc.com/news/technology-54355803

- https://www.cnnbrasil.com.br/business/estados-unidos-registram-recorde-de-pedidos-de-demissao/ 

-https://epocanegocios.globo.com/Mundo/noticia/2021/10/epoca-negocios-pedidos-de-demissao-nos-eua-atingem-maxima-recorde-em-agosto-contratacoes-caem.html

-  https://www.bbc.com/mundo/noticias-58935177     Acessos em 19/10/2021

 

(25) Resumimos neste bloco as informações divulgadas em:

- https://www.bbc.com/portuguese/geral-58354157

- https://elpais.com/internacional/2021-09-14/estanterias-vacias-y-falta-de-trabajadores-la-pandemia-y-el-brexit-agravan-la-crisis-de-abastecimiento-en-el-reino-unido.html?prm=ep-app-cabecera

- https://www.infomoney.com.br/minhas-financas/exercito-vai-dirigir-caminhoes-tanque-para-abastecer-postos-com-combustiveis-no-reino-unido/

- https://www.em.com.br/app/noticia/internacional/2021/09/29/interna_internacional,1309996/soldados-britanicos-se-preparam-para-substituir-caminhoneiros-na-crise-de-c.shtml    Acessos em 17/10/2021.

 

(26) Em: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2021/06/22/finlandia-busca-desesperadamente-trabalhadores-imigrantes-mas-tropeca-no-preconceito.ghtml  Acesso em 15/09/2021

 

(27) Informações mais detalhadas podem ser obtidas em:

- https://www.corriere.it/economia/aziende/21_giugno_26/licenziamenti-fine-blocco-che-cosa-cambia-primo-luglio-proroga-settori-55bc9424-d6c1-11eb-94c4-73c6504e8d78.shtml

- https://www.inps.it/pages/standard/46118

-https://www.ipsoa.it/documents/lavoro-e-previdenza/amministrazione-del-personale/quotidiano/2021/07/28/divieto-licenziamento-orientarsi-dedalo-regole-eccezioni-termini

Acessos em 06/11/2021.

 

(28) A descrição de alguns casos que ilustram os motivos das demissões pode ser encontrada em:

https://www.repubblica.it/economia/2021/07/19/news/scioperi_contro_i_licenziamenti_e_il_governo_studia_nuove_regole-310812490/

https://milano.repubblica.it/cronaca/2021/10/29/news/raben_sittam_cornaredo_sciopero_licenziamenti_delocalizzazione_polonia-324266122/

https://www.collettiva.it/copertine/lavoro/2021/11/05/news/mind_sciopero_contro_i_licenziamenti_improvvisi-1617839/

https://ilmanifesto.it/contro-i-licenziamenti-i-metalmeccanici-scioperano-due-ore-al-giorno-fino-a-fine-luglio/

Acessos em 07/11/2021.

 

(29) Algumas matérias ajudam a termos uma noção da dimensão do movimento grevista que percorre a Itália desde julho deste ano:

- https://www.milanotoday.it/attualita/sciopero-unes-vimodrone.html

- http://sicobas.org/2021/10/16/comunicato-licenziamenti-lavoratori-lgd-deposito-unes-a-milano-continua-lo-sciopero-contro-lo-sfruttamento-per-la-liberta-sindacale/

- https://www.torinoggi.it/2021/07/27/leggi-notizia/argomenti/economia-4/articolo/proseguono-gli-scioperi-dei-metalmeccanici-torinesi-contro-i-licenziamenti.html]

- http://sicobas.org/tag/licenziamenti/

Acessos em 19/10/2021.

 

(30) Maiores informações estão disponíveis em:

- https://ilmanifesto.it/i-buchi-neri-del-capitalismo-e-del-sindacato/?utm_source=lunedi-rosso&utm_medium=email&utm_campaign=21-06

- https://ilmanifesto.it/fedex-altre-botte-agli-operai-vigilantes-ne-feriscono-otto/?utm_source=lunedi-rosso&utm_medium=email&utm_campaign=14-06  Acessos em 06/10/2021

 

(31) Todos os dados citados e maiores informações sobre a realidade da América Latina e do Caribe podem ser encontradas em:

- Roxana Maurizio, Empleo e informalidad en AMerica Latina y el Caribe: una recuperación insuficiente y desigual. Ed. Organização Internacional do Trabalho, setembro de 2021.

- https://www.martesfinanciero.com/voz-calificada/empleo-en-america-latina-una-recuperacion-insuficiente-y-desigual/

- https://revistaopera.com.br/2021/09/04/america-latina-e-caribe-crescimento-com-desemprego-desigualdade-e-pobreza-em-2021/

- https://www.ilo.org/brasilia/noticias/WCMS_779120/lang--pt/index.htm

- https://static.poder360.com.br/2021/03/Panorama-social-America-Latina-2020.pdf

Todos os acessos foram realizados em 13/11/2021.

 

(32) Dados publicados em: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2021/11/05/na-alemanha-ha-recorde-de-casos-de-covid-19-pelo-segundo-dia-consecutivo-ministro-de-saude-fala-em-voltar-a-lockdown.ghtml Acesso em 06/11/2021

 

(33) Estas e outras informações da situação nos países da Europa estão disponíveis em:

- https://g1.globo.com/mundo/noticia/2021/10/21/com-pouca-gente-vacinada-leste-europeu-vive-novo-pico-da-pandemia-de-covid-19.ghtml

- https://g1.globo.com/mundo/noticia/2021/11/05/covid-por-que-europa-voltou-a-ser-epicentro-das-infeccoes-por-coronavirus-no-mundo.ghtml

- https://g1.globo.com/mundo/noticia/2021/11/05/na-alemanha-ha-recorde-de-casos-de-covid-19-pelo-segundo-dia-consecutivo-ministro-de-saude-fala-em-voltar-a-lockdown.ghtml

Acessos realizados em 07/11/2021