terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

Mudaram as Estações Nada Mudou, Mas Eu Sei Que Alguma Coisa Aconteceu .

 






“Mudaram as Estações nada Mudou, mas eu sei que alguma coisa aconteceu tá tudo assim tão diferente” (Cássia Eller e Renato Manfredini Junior)

 

 

O Ser na Fábrica

 


1.Novas Tecnologias? Desemprego a Vista. (há uma versão resumida em anexo)

Recentemente em Velozes e Furiosos, deixa a Esquerda livre[1] prometemos entregar um “generoso prêmio” para quem assinalasse a alternativa correta para uma questão central, cuja resposta era fundamental para a mensagem que queríamos partilhar com você nosso seleto leitor. Nossa curiosidade era grande, pois, queríamos saber a sua resposta sobre o porquê da aceleração sem precedentes que tomou conta de nós no século XXI.

Alertamos para o fato de vermos passageiros correrem na escada rolante dos metrôs, lembramos dos carros em alta velocidade, como se estivessem num autódromo ou Rally, velozes, furiosos e impacientes, dando luz alta para os carros da frente mesmo que estejam na velocidade máxima permitida nas rodovias (120 km/hora). Fizemos referência a buzinaços nas ruas com trânsito está parado e sinal fechado, enfim, uma corrida desenfreada para chegar o mais rápido possível ao destino, apenas para esperar impacientemente a hora de sair novamente a toda velocidade. Até agora ninguém veio buscar o prêmio. Sendo assim o prêmio acumulou. Por isso, vamos continuar a prosa contigo renovando a promessa de entregar a recompensa ainda mais substanciosa para quem responder a próxima questão fundamental. Vejamos:  

As notícias sobre a Novas tecnologias aplicadas ao processo de produção e ao processo de trabalho têm sido cada vez mais frequentes e impactantes. A Inteligência Artificial (IA), é a bola da vez, a “grita é geral”, alguns setores estão sentindo mais que outros. Os dubladores, Jornalistas, designers, roteiristas, estão no “olho do furacão”, seus empregos imediatamente ameaçados, a universalização da aplicação da IA deve ocorrer num piscar de olhos. A chamada Indústria 4.0 é a forma como o setor fabril denomina sua absorção desta tecnologia.

O pânico novamente toma conta dos trabalhadores. Não é pra menos, além de sentir na pele os efeitos danosos da IA, tais como, aumento de carga de trabalho e simples demissão, as publicações das grandes corporações internacionais sejam elas de comunicação, de produção de entretenimento, míssil, educação ou manteiga, bem como, a dos organismos internacionais só aumentam a tensão no seio do proletariado em todo planeta[2]. Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI) a Inteligência Artificial (IA) vai afetar 40% dos empregos no mundo. A BBC.com também publicou uma matéria indicando quais as profissões que foram substituídas pela IA.

Os adoradores do Capital apressados, se juntam aos acadêmicos pesquisadores, autoridades do jornalismo profissional, influencers de esquerda e direita, religiosos, estadistas, curiosos, pessoas comuns, enfim, a todos os filósofos (na acepção de Gramsci) profissionais ou curiosos e advogam mais uma vez o “fim do emprego” e o advento de um “novo capitalismo” (Capital sem Trabalho Assalariado), um “capitalismo 4.0.”

 As profecias (distopias) anunciadas por Hollywood (em o Exterminador do Futuro, Blade Runner, Mad Max, Feios, etc, etc) voltam a povoar corações e mentes. A Faixa de Gaza, Cisjordânia, Líbano, Síria, e os bombardeios levados a cabo pelo Estado Sionista e seus aliados alimentam o espírito dos distópicos de todo o mundo. Enquanto desacreditam e lamentam, a Burguesia Capitalista que só crê no balancete da contabilidade e no preço das ações, derrama algumas lágrimas, como os crocodilos antes de devorarem suas presas. Afinal, enchem os bolsos de dólares a cada hospital que vai pelos ares, a cada criança e velho soterrados pelos prédios que desabam quando um míssil de uma grande corporação mundial de armas cai sobre eles na Palestina.

Os escombros da Faixa de Gaza são a imagem preferida dos céticos de esquerda, dos democratas “do mundo possível para hoje” e dos religiosos pentecostais. Parece mesmo que tudo caminha para que o mundo seja uma faixa de Gaza planetária, e não para a comunidade humana sem fronteiras, sonhada, almejada e planejada e tecida com sangue suor e lágrimas todos os dias por todos os emancipacionistas desde que existem e lutam.

Será que finalmente os céticos e catastrofistas acertaram? Estamos realmente no Admirável mundo Novo de Huxley, na Matrix? As máquinas realmente venceram como no Exterminador do Futuro? Porém, a pergunta chave, a pergunta que não quer calar é a seguinte: Realmente, o Capitalismo mudou ou vai mudar depois advento da IA?

Muito bem, para levar o prêmio acumulado, você só precisa acertar os acontecimentos abaixo na ordem cronológica colocando o número da notícia ao lado do ano correto[3]. Depois é só seguir a leitura para ver se leva o prêmio acumulado ou para descobrir qual a resposta correta. Boa sorte:

Notícia 1: Inteligência artificial deve afetar 40% dos empregos no mundo, diz FMI. “Nos casos mais extremos, alguns desses empregos podem desaparecer.” IA pode impactar 37 milhões de trabalhadores no Brasil [...][1] 

Notícia 2:“ Invenções de  Everet  e Arkwright deixam respectivamente  100 mil pessoas sem trabalho na produção de lã e 50 mil na indústria(Carda)

Notícia 3:  Em seu depoimento, o inventor relata o seguinte sobre os aperfeiçoamentos da maquinaria introduzidos por ele [...]. Antes, eu ocupava 4 garotos para cada mecânico. Graças a essas novas combinações mecânicas, reduzi o número de homens adultos de 1.500 para 750. O resultado foi um considerável aumento em meu lucro”. (p. 50)

Notícia 4 [...] Maquinaria mais produtiva e mais potente concentrou-se nas mãos de um número menor de capitalistas. A reportagem constatou que desapareceram 338 fábricas de algodão e que o número de teares diminuiu em 20 663; mas seu produto ao mesmo tempo aumentou de modo que um tear aperfeiçoado produzia agora mais do que um antigo. Finalmente, o número de fusos cresceu de 1 612 547, enquanto o número de trabalhadores empregados diminuiu de 50 505.

Noticia 5: “Em vez de 75 máquinas de cardar, agora precisamos apenas de 12, que fornecem a mesma quantidade de produto de igual, se não de melhor, qualidade. (...) Numa fiação fina de Manchester, “por meio do movimento mais acelerado e da adoção de diversos processos selfacting foi afastado 1/4 do pessoal de trabalho de um departamento, mais da metade em outro”. 

Notícia 6: “Companhias Telefônicas nos EUA eliminam 240 mil empregos por meio do uso de máquinas nas centrais telefônicas nos EUA, ou seja, 80% das 300.000 vagas nos setores que efetuavam a conexão manual nas ligações interurbanas.

Notícia 7: Reestruturação e modernização da indústria brasileira elimina 54.636 empregos e a produção no país salta de 1.242.652 unidades para 3.255.068.

Noticia 8: Ekaterra, “Empresa de Chá  realiza rápida mecanização das plantações e 30.000 mulheres perdem seus empregos  na África em alguns meses, e o salário das que continuam empregadas caiu, em média, de 150 para 80 dólares mensais.[4]  (Ver Repostas corretas na nota 5 (Não Olhe antes de preencher as lacunas da nota 3 ) [5]

2. O Ser do Capital:  Mudar Tudo para Deixar Tudo Como Está.

Esta máxima pode ser lida no romance, o Leopardo de Giuseppe Tomasi di Lampedusa e combina perfeitamente com os versos da canção Por Enquanto, imortalizada na voz inconfundível de Cassia Eller: “Mudaram as estações, nada mudou mas eu sei que alguma coisa aconteceu, tá tudo assim tão diferente” [...] Com exceção das notícias sobre a IA que todos sabemos de cor tratar-se de tecnologia do Século XXI, tenho certeza que você trocou o século XIX pelo nosso quando viu uma máquina substituir 750 trabalhadores ou 12 máquinas substituírem 75 e ainda assim promover aumento da produção. Iniciemos pelo que salta aos olhos, a aparência das aparências.

A primeira informação que salta aos olhos é que as máquinas substituem o trabalho humano: 100 mil homens que faziam a tosquia manual das ovelhas na Inglaterra no Século XVIII e 30 mil mulheres que faziam a colheita do chá no Quênia no Século XXI, nosso século. Basta um segundo para identificarmos estas conexões da máquina de tosquiar movida a água de Everet de 1758 e a Colheitadeira de Chá computadorizada 4.0 de 2024 com Inteligência Artificial da Corporação internacional Lipton e Tazo no Quênia.

A saber, as operações antes realizadas pelos cérebros, músculos e nervos de seres humanos (proletários ou simplesmente trabalhadores) foram substituídas por autômatos mecânicos. Volte e observe cada uma das invenções e verá um martelo a vapor, uma central telefônica mecânica, um computador, um robô etc, todos sendo aplicados ao processo de produção e ao processo de trabalho e substituindo o trabalho humano (o trabalho vivo), as máquinas passam a incorporar tarefas que antes eram realizadas pelo trabalho das máquinas, a “novidade do momento” é a IA.

 

O Ser na Fazenda 

 

 

  A segunda informação que se revela a “olho nu” é o fantástico crescimento da produtividade do Trabalho, que ocorre com a aplicação prática das novas tecnologias, ao processo de produção. Desde a “coqueluche do momento”, a Inteligência Artificial, até a Maquinaria na Grande Indústria do século XIX, considerando até mesmo seus primórdios no XVII, o que vemos é sempre o mesmo resultado.

Segundo artigo publicado pela BBC, o que um redator humano pode levar entre 60 e 90 minutos para escrever, a “IA é capaz de fazer” em 10 minutos ou menos. (BBC News. 4. 1. 2025)[6].  Marx em o Capital Livro 1, volume 2, escreve sobre os efeitos de um tear de fitas inventado na Alemanha. Ele cita um texto do abade italiano Lancellotti publicado em Veneza no ano de 1636  que dizia: “Anton Müller de Dantzig viu, há cerca de 50 anos” (L. escrevia em 1629), “uma máquina muito engenhosa, que fabricava 4 a 6 tecidos ao mesmo tempo [...] em 1685, essa máquina [...] capacitava um jovem sem nenhuma experiência em tecelagem a pôr em movimento, empurrando e puxando uma barra acionadora o tear inteiro, com todas suas lançadeiras, produzia em sua forma aperfeiçoada, 40 a 50 peças de uma só vez.

Penso que mais uns poucos exemplos já bastam para demonstrar os efeitos da aplicação das novas tecnologias na produtividade do trabalho. Em virtude da introdução da maquinaria, no ano de 1838, o número de hanks (novelo) fiados por semana era de 18 mil; em 1843, alcançava 21 mil. Em 1819, o número de picks[7] no tear a vapor era de 60 por minuto; em 1842, era de 140 [...]".[8] Marx informa ainda em um adendo à 2ª edição, que em 1841 “exigia-se de um fiandeiro de algodão com 3 auxiliares que cuidasse apenas de um par de mules[9] com 300 a 324 fusos. No final de 1871, um fiandeiro “com 5 auxiliares, passou a cuidar de mules cujo número de fusos era de 2 200 passando a produzir 7 vezes mais fio do que em 1841"[10].

Pouco mais de 100 anos separam estes efeitos dessas novas tecnologias, da introdução da maquinaria a Vapor, dos resultantes da aplicação prática da microeletrônica e automação na indústria automobilística. Vejamos: na Ford de Valencia na Espanha em 1981 eram necessários 14 mil trabalhadores para produzir 45 carros/hora, mas em 1995, apenas 6 mil trabalhadores eram suficientes para produzir 70 carros/hora. Na GM do Brasil no Rio Grande do Sul chegou-se a marca de 70 carros/ano por trabalhador em 2003[11]. Sabemos que as montadoras no Brasil investiram pesado em automação e reorganização dos processos de trabalho nos anos 1990 do século passado. Este fato permitiu que a produção saltasse 1.242.652 unidades nos anos 1990 para 3.255.068 em 2014 (Anuário, 2015). O resultado foi cerca de 54.636 proletários substituídos pelas máquinas e um aumento de mais de 2 milhões de unidades produzidas em território brasileiro.

Ao buscarmos um exemplo lá dos primórdios da introdução da maquinaria na grande indústria, veremos que 500 mil proletários fazendo uso de parafernália mecânica podiam fiar tanto algodão quanto 100 milhões de tecelões que usavam a velha roda de fiar, mesmo sendo artesãos, profissionais da mais alta competência, habilidade e qualificação (Marx, 1988. p. 45). Marx relata ainda que Adam Smith observou que 10 homens em cooperação eram capazes de fazer 48 mil agulhas de costura numa jornada diária de trabalho. Entretanto, com introdução da máquinaria, uma mulher supervisionando 4 máquinas podia fazer 600 mil agulhas numa jornada diária[12]. Isto é fato, o concreto aparente nos mostra que as novas tecnologias sempre aumentam exponencialmente a produtividade do trabalho. Fenômeno que podemos definir como crescimento da Força Produtiva do Trabalho.

O 3º resultado da introdução das inovações tecnológicas é o cansaço. O Proprietário da Força de Trabalho - a mercadoria mais valiosa da Sociedade do Capital- é extenuado tanto pela intensificação do trabalho nas empresas que operam com o maquinário antigo ainda em uso (devido a obsolescência) quanto pelo aumento da velocidade e ritmo do trabalho que as novas máquinas que incorporam as tecnologias mais avançadas permitem. Sou capaz de apostar 100 contra 1, que se você perguntar para qualquer pessoa que trabalha como ela está, a cada 10 pessoas perguntadas 11 lhe responderão: - Estou cansada, não tenho tempo pra nada, nem para respirar.

O aumento da carga de trabalho de todo o proletariado, resultado da aplicação das novas tecnologias, materializa-se no preenchimento de dezenas de formulários em plataformas digitais, produção de uma infinidade de relatórios, aumento da velocidade das esteiras nas linhas de produção, aumento da quantidade de crianças para cada cuidadora nas creches, do número de alunos por sala, turmas por educadores etc. Os trabalhadores das empresas de automóveis no Brasil, geralmente montavam um carro a cada 6 ou 7 minutos no final dos anos 1990, atualmente algumas já estão exigindo menos de 3 minutos, a velocidade e quantidade de operações feitas pelo proletário nas linhas de montagens do século XXI deixaria, Carlitos dos Tempos Modernos, escandalizado. 

A coisa não muda um átomo, se viajarmos no tempo e voltarmos para os séculos XVIII e XIX, com Marx ainda vivo estudando o Ser do Capital. Marx escreveu que no ano de 1844, Lorde Ashley (Conde de Shaftesbury), fez na Câmara dos Comuns, a seguinte exposição apoiada em documentos: “O trabalho feito pelos ocupados nos processos fabris é agora três vezes maior do que ao terem início tais operações. [...] O trabalho de acompanhar para cima e para baixo, por 12 horas, um par de mules para fiar algodão nº 40 envolvia em 1815 a necessidade de caminhar uma distância de 8 milhas. Em 1832, para acompanhar um par de mules, produzindo fio do mesmo número [...] durante 12 horas, a distância a percorrer era de 20 milhas e frequentemente mais [...].[13]

Se você chegou até aqui leia o que o Dr. Greenhow escreveu em seu relatório em 1861, assim você vai se apropriando do Ser deste vampiro chamado Capital: É, portanto, evidente em que proporção monstruosa aumentou a labuta dos operários de fábrica nos últimos anos”. [...] Na maioria das fábricas de algodão, de worsted e de seda, um exaustivo estado de tensão, necessário para o trabalho junto à maquinaria, cujo movimento foi acelerado tão extraordinariamente nos últimos anos, parece ser uma das causas da excessiva mortalidade por doenças pulmonares [...][14]

O cansaço e o esgotamento dos proprietários da Força de Trabalho, produto da aplicação das novas tecnologias ao processo de Trabalho sob o comando da Relação Social Capitalista de Produção, quando observado mais de perto, para além das aparências tem uma denominação mais apropriada, trata-se do aumento da intensidade do trabalho.  Os efeitos desta intensificação do trabalho para os lucros, para a Mais Valia e o Capital serão tratados noutra oportunidade. Fica o registro.

A 4ª informação que salta aos olhos quando da aplicação das novas tecnologias ao processo de produção é o Pauperismo. Talvez seja a mais fácil de enxergar. Como escreve Marx, talvez esta transparência e clareza só encontre concorrente no cinismo dos proprietários dos meios de produção, nas personificações do Capital Constante e do Capital Monetário, a saber, a Burguesia Capitalista. Geralmente, eles explicam a substituição de dezenas e centenas de milhares de empregados por máquinas como corte nos gastos, recuperação da saúde da empresa, redução de custos e necessidade de modernização, assim demitem 30 mil pessoas (no Quênia), como a mesma tranquilidade de quem troca a camisa ou o carro. E responsabilizam as próprias vítimas. A introdução das novas tecnologias as substitui, as expulsa dos seus locais de trabalho. O Argumento dos capitalistas são os mesmos de sempre. Culpam os próprios desempregados pelo desemprego provocado pela devido a sua substituição por máquinas. Dizem que os miseráveis são como os Tiranorex que não se atualizaram, etc, etc.

Cada inovação tecnológica aplicada a produção e ao processo de trabalho substitui para sempre parte do trabalho humano, ao incorporar as operações feitas pela força de trabalho empregada, e torna invendável grande parcela dessa mercadoria. Assim a Força de Trabalho de parte da população que produzia e fazia circular o Capital se torna supérflua e invendável, o que empurra seus proprietários para o pauperismo. Nestes tempos de redes mundiais de computadores, comunicação instantânea, imagens feitas por celulares, nossos olhos praticamente se acostumaram às imagens de favelas, acampamentos e aos milhares de moradores de rua que povoam ruas e viadutos das grandes cidades em todo planeta. As chamadas periferias crescem em todos os cantos do mundo, contrastando com os arranha-céus e com o luxo dos condomínios etc. 

Ao procurar desvendar o Ser do Capital, Marx precisou este fenômeno com a maestria de sempre quando estudava a Maquinaria, A grande indústria e a transição da manufatura para a grande indústria na Europa: 

Onde a máquina se apodera paulatinamente de um setor da produção, produz miséria crônica nas camadas de trabalhadores que concorrem com ela. Onde a transição é rápida, seus efeitos são maciços e agudos. A história mundial não oferece nenhum espetáculo mais horrendo do que a progressiva extinção dos tecelões manuais de algodão ingleses, arrastando-se por décadas e consumando-se finalmente em 1838. Muitos deles morreram de fome, muitos vegetaram com suas famílias a 2 1/2 pence por dia. Em contraposição foram agudos os efeitos da maquinaria algodoeira inglesa sobre a Índia Oriental, cujo governador-geral constatava em 1834/35: “A miséria dificilmente encontra um paralelo na história do comércio. Os ossos dos tecelões de algodão alvejam as planícies da Índia”. (Marx. 1988. p. 46-47).

Marx escreve que a máquina como meio de trabalho se torna um concorrente do próprio trabalhador e que a autovalorização do Capital por meio da máquina está na razão direta do número de trabalhadores cujas condições de existência ela destrói. E prossegue dizendo que todo o sistema de produção capitalista repousa no fato de que o trabalhador vende sua força de trabalho como mercadoria.  Como a força de trabalho - com o advento da maquinaria e do “organismo mundial de produção - o autômato deixa de ser usado como ferramenta pela força de trabalho, ou seja, as máquinas passam a usar a ferramenta de trabalho, o valor de uso da força de trabalho e seu valor de troca é extinto, e nestes casos, escreve Marx: O trabalhador torna-se invendável, como papel-moeda posto fora de circulação. A parte da classe trabalhadora que a maquinaria transforma em população supérflua, isto é, não mais imediatamente necessária para a Autovalorização do Capital”. Portanto, cada nova tecnologia aplicada ao processo de produção na Relação Social Capitalista de Produção tem como um dos resultados visíveis o pauperismo, mais conhecido entre nós como miséria.

A 5ª informação óbvia é a revolta contra a tecnologia, a luta contra as máquinas ou o espírito dos Ludditas que acompanha o proletariado sempre que se vê diante de uma invenção que o elimina ou substitui. Este é um aspecto das notícias acima citadas que também pode ser facilmente identificado “a olho nu”[... ]  A começar pelo nosso século no Quênia, onde em maio deste ano, os moradores de Keriko, a região que abriga as plantações da empresa, incendiaram 9 colheitadeiras porque 30 mil mulheres ficaram sem emprego devido a mecanização (IA).[15]

No século XVIII, quando em 1758, Everet construiu a primeira máquina de tosquiar lã movida a água, ela foi queimada pelas 100 mil pessoas que deixou sem trabalho. Contra as scribbling mills e máquinas de cardar de Arkwright se dirigiram ao Parlamento 50 mil trabalhadores, que até então tinham vivido de cardar lã. A destruição maciça de máquinas nos distritos manufatureiros ingleses durante os 15 primeiros anos do século XIX, provocada sobretudo pelo emprego do tear a vapor, ofereceu, sob o nome de movimento luddita, pretexto ao governo antijacobino de um Sidmouth, Castlereagh etc., para as mais reacionárias medidas de violência. (Marx, 1988. p. 45). O tear de fitas foi inventado na Alemanha. O abade italiano Lancellotti conta, como o Conselho Municipal receava que essa invenção transformasse uma porção de trabalhadores em mendigos, suprimiu o emprego da invenção e mandou secretamente estrangular ou afogar o inventor”. [...] Essa mesma máquina foi proibida em Colônia em 1676, enquanto sua introdução na Inglaterra provocou na mesma época agitações entre os trabalhadores. Por meio de um édito imperial de 19 de fevereiro de 1685, seu uso foi proibido em toda a Alemanha, em Hamburgo, ela foi queimada publicamente por ordem do magistrado. Carlos VI renovou a 9 de fevereiro de 1719 o édito de 1685 e o eleitorado da Saxônia só permitiu seu uso em 1765. No nosso século o grande medo é de que a IA substitua completamente o trabalho humano, e, portanto, medo e revolta tomam conta da população trabalhadora mundial que será substituída e trocada por drones, robôs e aplicativos.

Finalmente, trato de um dos resultados da aplicação das novas tecnologias que aparece invertido, para este precisaremos do “olho da mente”, já que nossos olhos não podem ver a essência, por isso, precisamos da ciência, diria o velho Marx. A grita sobre a dificuldade de conseguir mão de obra qualificada é geral. Parece que as novas tecnologias são muito mais difíceis de operar que as antigas, e que por isso, há muitos desempregados.  O tema é bastante polêmico, precisaria de um capítulo a parte para que fosse tratado com mais profundidade. Mas, para os objetivos deste artigo, as informações que reunimos a partir das próprias notícias são suficientes.

A 6ª e última informação que se evidencia é que quanto mais Tecnologia menor é a qualificação da Força de Trabalho exigida para operá-la. Dito de outro modo, quanto mais a tecnologia avança, menos exigida é nossa inteligência, ou seja, nós “emburrecemos”. Ainda não vamos recorrer as citações. Quem como nós tem mais de 60 anos vai recordar de como aprendíamos a operar os PCs (computadores Pessoais). Utilizávamos o sistema operacional MS-DOS, sendo assim, para escrever um texto a gente tinha que criar o Word, para fazer planilha, tínhamos que elaborar o Excel, e assim sucessivamente, tínhamos que criar nosso próprio aplicativo. É claro que não criávamos o pacote office, nossos “aplicativos-ferramenta”, não tinham estes nomes fantasias.

Com o advento do Windows (sem saudosismos) basta um clic e as janelas vão se abrindo, depois é só seguir as instruções. Quando puder converse com um operador de torno mecânico do sistema fabril antigo e com um “novo” operador de Torno automático de controle numérico (CNC) e você verá quem precisa de mais qualificação. O primeiro, precisa ler desenho técnico, calcular os ângulos, usar teoremas, calcular raiz quadrada, calcular perdas durante o uso das brocas, etc; o segundo, só precisa saber ligar a máquina e conhecer medidas para supervisionar o trabalho da máquina, como quem usa um celular com muitos recursos. 

As telefonistas dos Estados Unidos foram trocadas por secretária mecânica nos anos 1920 e  1930,  segundo Emilio Gennari, em Artigo recentemente publicado no Blog Conselhodaclasse[16]: “O fim desta que era a quinta ocupação mais importante para as mulheres que ingressavam no mercado de trabalho (telefonistas) ocorreu enquanto as novas funções de baixa qualificação na cadeia produtiva dos equipamentos introduzidos nas centrais telefônicas ofereciam às jovens empregos com níveis de remuneração semelhantes”[17].

Quando voltamos no tempo, encontramos o mesmo modus operandi dos capitalistas do século XXI quando trocam um professor mais caro por uma videoaula, ou um dublador caro por IA ou uma plataforma, um editor de texto ou roteirista pelo Chatgpt, etc. No século XIX (1851), em seu depoimento perante a Trades Union Comission, Nasmyth, o inventor do martelo a vapor, relata que o traço característico dos modernos aperfeiçoamentos mecânicos era a introdução de máquinas-ferramentas automáticas. O que permitia um trabalhador mecânico fazer o que qualquer garoto podia fazer, pois, não é ele mesmo a trabalhar, mas supervisionar o belo trabalho da máquina. Já está posta de lado toda a classe de trabalhadores que depende exclusivamente de sua própria habilidade. (Marx, 1988. p. 50)

Em 1863 durante a crise algodoeira devida a guerra Civil nos EUA, o comportamento se repete: [...] Finalmente, a velocidade com que o trabalho na máquina é aprendido na juventude elimina igualmente a necessidade de preparar uma classe especial de trabalhadores exclusivamente para o trabalho em máquinas. Mas os serviços dos meros ajudantes são substituíveis na fábrica em parte por máquinas, em parte possibilitam, por causa de sua total simplicidade, troca rápida e constante das pessoas submetidas a essa labuta. (Marx, 1988. p.40) [...]

Entendo que estes exemplos de todas as épocas já são suficientes para demonstrar que quanto mais a tecnologia avança, mais simples se tornam os processos de trabalho, menos esforço intelectual é exigido do proletariado. Então, deixo o Marx fechar este tema com uma citação do Dr Ure que poderia muito bem ser do Bill Gattes ou Elon Musk, entre outros: “O objetivo constante e a tendência de cada aperfeiçoamento do mecanismo é, de fato, eliminar completamente o trabalho do homem ou diminuir seu preço pela substituição do trabalho de homens adultos pelo de mulheres e de crianças ou o de operários qualificados pelo de não-qualificados” (URE. [Loc. cit., p. 23.]) (Marx. p.46-48) 

Na sociedade do Capital, escreve Marx, “Enquanto o trabalho em máquinas agride o sistema nervoso ao máximo, ele reprime o jogo polivalente dos músculos e confisca toda a livre atividade corpórea e espiritual. Mesmo a facilitação do trabalho torna-se um meio de tortura, já que a máquina não livra o trabalhador do trabalho, mas seu trabalho de conteúdo. (Marx, 1988. p. 41).

Em síntese, desde que as Relações Sociais de Produção Capitalistas deram o ar da graça no planeta no século XVI, até as duas primeiras décadas do século XXI, nas quais a Relação Social de Produção Capitalista é determinante nos quatro cantos do planeta, em nossa época histórica,  o resultado da aplicação prática das assim chamadas novas tecnologias pode se assim resumido:  - Se materializam em máquinas que substituem trabalho humano por trabalho mecânico; Proporcionam um fantástico crescimento da produtividade do Trabalho; : Aumenta a Intensidade do Trabalho e extenua (Cansaço) o proprietário da Força de Trabalho; - Cria pauperismo, a miséria  irreversível de parte da população dentro da Relação Social Capitalista de Produção; 5º - Provoca a luta dos trabalhadores contra as máquinas (ou o espírito dos Ludditas) uma espécie de revolta contra a tecnologia; 6º- Reduz a  necessidade de qualificação da Força de Trabalho (Emburrece).

Por meio desta seleção de acontecimentos relacionados a introdução de novas tecnologias ao processo de produção, observamos que, independentemente do período histórico, onde quer que essas tecnologias são aplicadas sob o comando do Capital (na Relação Social de Produção Capitalista) os resultados são sempre os mesmos. O Capital muda tudo o tempo todo para que tudo permaneça como está.

3. Considerações Finais  

Agora podemos tratar do que é essencial para o Capital, o que mais lhe interessa quando se trata do permanente desenvolvimento de novas tecnologias, e, portanto, da apropriação de todo o conhecimento, de toda ciência, com objetivo de extrair Mais Valor pra a sua autovalorização. Do Motor movido a água, passando pelo Martelo a Vapor, até chegarmos as colheitadeiras de Chá, Drones e a Inteligência Artificial, tem uma distância maior que da Terra a Beteleuze. Um Operador de Máquina a Vapor que visse as portas de um supermercado abrindo sozinhas ou um controle remoto de televisão, um comando de voz no celular, um robô, um prédio inteligente, pensaria estar na casa dos espíritos. As tecnologias utilizadas, as formas de organização da produção e dos processos de produção passaram por transformações inimagináveis desde o século XVII até hoje. O chamado trabalho concreto mudou da água para o vinho.

Mas, porém, contudo, todavia, entretanto, há algo nas relações Capitalistas que nunca mudam, que permanece imutável como o movimento:

1º: - Todos os dias no mercado (esfera da circulação), os proprietários privados de mercadoria se confrontam enquanto compradores e vendedores, cada pessoa desse planeta é proprietário privado de mercadoria. Nesta Relação Social de Produção, quem não vende mercadoria, não vive, portanto, quem não é proprietário privado de mercadoria, não se relaciona nesta sociedade. É a lei da Sociedade do Capital.

- Os proprietários privados de mercadoria precisam ser livres para vender suas mercadorias.

- Para o Capital existir, e, sobretudo para que haja acumulação de Capital, ou seja, Relação Social de Produção Capitalista, o proprietário da mercadoria Força de Trabalho (Proletário) não pode consumir seu Valor de Uso para si próprio, ou seja, não pode criar os produtos que precisa para existir. Por isso, não pode ter meios de produção, máquinas equipamentos, ferramentas, matéria prima. O Dono da mercadoria Força de Trabalho precisa ser despossuído e tem que encontrar no mercado, um comerciante como ele, mas que tenha dinheiro suficiente para comprar sua Força de Trabalho e também os meios de produção necessários para que ele possa realizar o consumo produtivo do Valor de Uso da sua mercadoria Força de Trabalho.

4º -   A personificação do Capital Constante (O Capitalista) não pode utilizar os produtos criados em sua empresa para seu consumo pessoal, assim como a personificação do Capital Variável (O Proletariado), tão pouco pode consumir os produtos que cria enquanto o Capitalista consome o Valor de Uso da sua Força de Trabalho.

5º -   As novas mercadorias criadas nessa relação, tem que ser vendidas a um terceiro.  

6º - O Livre Proprietário da Força de Trabalho vende sua mercadoria para o Livre Proprietário dos meios de Produção e do dinheiro. O Proprietário da Força De Trabalho aliena o Valor de uso de sua mercadoria por um período determinado e recebe por isso, o Valor de troca, o Valor de sua mercadoria Força de trabalho. Esta é a condição sine qua non da existência do Capital e de sua sociedade.  

Fora da esfera da Circulação, o Capital será criado e valorizado. Todos os Dias o Proletariado mundial trabalha uma parte da Jornada diária para si e outra para o Capital. Vamos usar um exemplo criado por nós para ilustração deste fenômeno oculto.  

Vamos supor que durante uma jornada de 8 horas, o Proletariado mundial (Cerca de 3 bilhões pessoas) trabalha 2 horas para si e 6 horas para o Capital (Para sua personificação o Capitalista). Durante duas horas o Proletariado dispende energia, criando o Valor de sua Força de trabalho. Este Valor se incorpora nos valores de uso criados pelo Proletariado mundial, aqueles produtos e serviços que precisa para manter-se durante o dia. No final do dia o Proletariado repõe o que consumiu e assim devolve para o Capitalista o que ele “adiantou” ao proletariado como salário, como Valor da Força de trabalho. Nas demais 6 horas o Proletariado mundial dispende sua energia criando Mais Valor do que seu próprio Valor, criando Mais Valia para o Capital. No nosso exemplo, são 6 horas de Valor que são incorporadas aos valores de uso criados durante esta Jornada.

Estamos abstraindo o fato do Proletariado conservar todos os dias o Valor Antigo que estava na forma de Capital Constante (prédio, maquinas, matéria prima, Dinheiro, etc) enquanto cria o Valor Novo, parte do Valor Antigo é inteiramente transferida numa jornada, como a Valor da matéria-prima, óleos, energia, etc, outros, tais como o Valor do prédio e máquinas, tem seu Valor em parte transferidos diariamente para as novas mercadorias criadas durante a Jornada diária de trabalho. Este processo ocorre na esfera da produção de Capital. O Valor se Valorizou, o Proletariado mundial, acrescenta em uma jornada, 8 horas de Valor Novo.

De acordo com nossa convenção para ilustrar o fenômeno, temos 3 bilhões de proletários no mundo (devemos estar perto desse número, volto ao tema num próximo artigo). Sendo assim o Proletariado Mundial trabalharia 6 bilhões de horas no dia para si, criando seu próprio Valor e 18 bilhões de horas para o Capital acrescentando Mais Valor ao Valor Antigo. Ou seja, 6 bilhões de horas de Valor se convertem em 18 bilhões de Horas de Valor. O Valor se valorizou.

O Valor encarna nas mercadorias criadas durante a jornada. De acordo com nosso exemplo para elucidar o fenômeno, a Valorização do Valor, estas 24 bilhões de horas de Valor diárias sevem pra calcular o Valor e o preço de todas as mercadorias criadas pelo proletariado mundial durante um dia. Os aviões, drones e mísseis que cruzam os céus, os grãos que atravessam os oceanos, a carne que percorre o mundo, automóveis que circulam pelas estradas, os aplicativos para realizar toda sorte de operações digitais, enfim, todos estes valores de uso estão possuídos pelo Valor, pelo espirito do Capital, Valor em processo de Valorização. Então precisam deixar a esfera da produção e voltar para esfera da circulação e se reconverter em dinheiro, para assim revelar-se o Valor Valorizado. 

Vamos recorrer novamente a Cassia Eller. Desde seu nascimento no século XVI, desde que Marx o desvendou, este Ser, Valor em Processo de Valorização e sua substância, o Trabalho Humano Abstrato são o que são, o mesmo ser, o mesmo espírito, desde o princípio, não mudaram um átomo. Na Sociedade do Capital, tudo muda para que tudo permaneça como está. Apesar do Meszzáros, que gastou 900 páginas e praticamente uma vida pra dizer que o Capital do Marx estaria anacrônico, que seria datado, sem sucesso – como provou o André Ricardo Oliveira em sua Tese de Doutoramento pela UFSC.[18] Apesar do ciúme da Academia da burguesia capitalista pelos 4 cantos do mundo, Marx é para o Capital, o  mesmo que Darwin para a evolução das espécies, Galileu Galilei para a Astronomia, Newton para a Gravitação Universal, Einstein para a Física,  Freud para a psicanálise (para o inconsciente), Mendel para as ervilhas, etc. Não adianta teimar, pode parar de “fazer biquinho”, de ter inveja. Enquanto houver Relação Social Capitalista de Produção, O Ser taí. Como escreve Paulo Sergio Tumolo, ou master como dizem carinhosamente seus orientandos: - quer conhecer o Ser do Capital, leia o Capital do Marx, tá tudo lá.

É o que nós divergentes dizemos: deixe de procurar o “novo ser” do Capital na esfera ruidosa da circulação e do concreto aparente, poupe seu tempo, neste caso é melhor procurar uma colônia de férias, um resort, um lago, uma praia ou uma casinha de sapé. Ou gaste seu precioso tempo lidando com a questão da emancipação humana. Para conhecer o Ser do Capital Basta ler o Capital de Marx, é o mínimo que podemos fazer por ele que gastou as melhores energias de sua vida para nos deixar esta obra singular.

Se você chegou até aqui, merece um último presente. A verdadeira razão do permanente desenvolvimento das forças produtivas na sociedade do Capital, que se materializa nas invenções, nas novas tecnologias é baratear o Valor da Força de trabalho, é reduzir o Valor da Força de Trabalho para aumentar a Mais Valia, o resto é lenda urbana.  

Saile, o Divergente. 06.01.2025.

 

 

2. Versão Resumida

 

 

Mudaram as Estações Nada Mudou

 

“Mudaram as Estações nada Mudou, mas eu sei que alguma coisa aconteceu tá tudo assim tão diferente” (Cássia Eller e Renato Manfredini Junior)

O Ser Na Fábrica

 


Recentemente em Velozes e Furiosos, deixa a Esquerda livre[19] lançamos um desafio e prometemos um “generoso prêmio” para explicasse poque “diabos” os passageiros correrem na escada rolante dos metrôs e os motoristas em alta velocidade, dão luz alta para os carros da frente que já estão na velocidade máxima permitida nas rodovias (120 km/hora), numa corrida desenfreada para chegar depressa ao destino, apenas para esperar impacientemente a hora de sair novamente a toda velocidade. Ninguém veio buscar o prêmio. Sendo assim, o prêmio acumulou e nós lançamos um novo desafio. Vejamos:

O pânico volta ao cotidiano dos trabalhadores, pois, mais uma nova tecnologia vem para eliminar milhares de empregos. Trata-se da Inteligência Artificial (IA).[20] Mais uma vez os que navegam na aparência do mundo, anunciam o “fim do emprego” e o advento de um “novo capitalismo” (Capital sem Trabalho Assalariado).  As profecias (distopias) anunciadas por Hollywood em o Exterminador do Futuro, voltam a povoar corações e mentes. Os bombardeios levados a cabo pelo Estado Sionista e seus aliados alimentam o espírito dos distópicos de todo o mundo.

Enquanto muitos desacreditam e lamentam, a Burguesia Capitalista derrama algumas lágrimas como os crocodilos antes de devorarem suas presas, enquanto enchem os bolsos de dólares a cada hospital palestino que os Bombardeios do Estado sionista mandam pelos ares, lançando mísseis das grandes corporações mundiais de armas soterrando crianças e velhos. Parece mesmo que tudo caminha para que o mundo seja uma faixa de Gaza planetária dos distópicos e não a comunidade humana sem fronteiras sonhada pelos emancipacionistas. Será que finalmente os céticos e catastrofistas acertaram? Estamos realmente no Admirável mundo Novo de Huxley? As máquinas realmente venceram? O Capitalismo realmente vai mudar depois do advento da IA?

Para levar o prêmio acumulado, você só precisa acertar os acontecimentos abaixo na ordem cronológica colocando o número da notícia ao lado do ano correto[21]. Boa sorte:

Notícia 1: “Empresa de Chá realiza rápida mecanização das plantações e 30.000 mulheres perdem seus empregos na África em alguns meses, e o salário das que continuam empregadas caiu, em média, de 150 para 80 dólares mensais.[22] 

Notícia 2:“Invenções de  Everet  e Arkwright deixam respectivamente  100 mil pessoas sem trabalho na produção de lã e 50 mil na indústria(Carda)

Noticia 3: “Em vez de 75 máquinas de cardar, agora precisamos apenas de 12, que fornecem a mesma quantidade de produto de igual, se não de melhor, qualidade. (...) Numa fiação fina de Manchester, “por meio do movimento mais acelerado e da adoção de diversos processos selfacting foi afastado 1/4 do pessoal de trabalho de um departamento, mais da metade em outro”. 

Notícia 4: “Companhias Telefônicas nos EUA eliminam 240 mil empregos por meio do uso de máquinas nas centrais telefônicas nos EUA, ou seja, 80% das 300.000 vagas nos setores que efetuavam a conexão manual nas ligações interurbanas.

 

O Ser do Capital


 

Ilustração: Cacinho.

Quando observamos as notícias de novas tecnológicas, do século XVI até o XXI, os resultados da sua aplicação prática podem ser assim resumidos:  Elas substituem trabalho humano por trabalho mecânico; proporcionam um fantástico crescimento da produtividade, aumentam a Intensidade do trabalho, extenua o proprietário da Força de Trabalho, criam o pauperismo, provocam a luta dos trabalhadores contra as máquinas e reduzem a necessidade de qualificação da Força de Trabalho.

Entretanto, quando se trata do permanente desenvolvimento de novas tecnologias, o que é essencial para o Capital, é extrair Mais Valor pra a sua autovalorização. Do Motor movido a água, até os Drones da era da Inteligência Artificial, tem uma distância maior que daqui da Terra a Beteleuze. Um Operador de Máquina a Vapor que visse um autômato voando pelos ares ou robô em ação pensaria estar na casa dos espíritos.  O chamado trabalho concreto mudou da água para o vinho. Porém, há algo nas relações Capitalistas que permanece imutável:  O Livre Proprietário da Força de Trabalho vende sua mercadoria para o Livre Proprietário dos meios de Produção e do dinheiro, enquanto o Proprietário da Força De Trabalho aliena o Valor de uso de sua mercadoria por um período determinado e recebe por isso, o Valor de troca, o Valor de Sua mercadoria Força de trabalho, de sorte que todos os dias o Proletariado mundial trabalha uma parte da Jornada diária para si e outra para o Capital, criando Mais Valia. Esta é a condição sine qua non da existência do Capital e de sua sociedade. 

Vamos usar um exemplo criado para ilustração deste fenômeno oculto:  Se durante uma jornada de 8 horas o Proletariado mundial trabalha 2 horas para si e 6 horas para o Capital, no final do dia ele devolve para o Capitalista o que ele “adiantou” ao proletariado como salário, como Valor da Força de trabalho e entrega 6 horas de Mais Valia para o Capital. O Valor se Valorizou.  Se o número de proletários for, por exemplo, 3 bilhões, resulta que o Proletariado Mundial trabalha 6 bilhões de horas no dia para si, criando seu próprio Valor e 18 bilhões de horas para o Capital acrescentando Mais Valor ao Valor Antigo ou Capital adiantado. Ou seja, 6 bilhões de horas de Valor se convertem em 18 bilhões de Horas de Valor. O Valor se Valoriza.

Desde seu nascimento no século XVI até os nossos dias este Ser, Valor em Processo de Valorização e sua substância, o Trabalho Humano Abstrato são o que são, o mesmo ser, o mesmo espírito, desde o princípio, não mudaram um átomo. Na Sociedade do Capital, tudo muda para que tudo permaneça como está.  Apesar do Meszáros, que gastou 900 páginas e praticamente uma vida inteira para dizer que o Capital do Marx, estaria anacrônico, que seria datado, sem sucesso - como provou o André Ricardo Oliveira em sua Tese de Doutoramento pela UFSC.[23] Apesar do ciúme da Academia da burguesia capitalista pelos 4 cantos do mundo, Marx é para o Capital, o mesmo que Darwin para a evolução das espécies. Enquanto houver Relação Social Capitalista de Produção, O Ser taí. Como escreve Paulo Sergio Tumolo, ou master como dizem carinhosamente seus orientandos: - quer conhecer o Ser do Capital, leia o Capital do Marx, tá tudo lá.

Se você chegou até aqui você merece um último presente. A verdadeira razão do permanente desenvolvimento das forças produtivas na sociedade do Capital, que se materializa nas invenções, nas novas tecnologias é baratear o Valor da Força de trabalho, é reduzir o Valor da Força de Trabalho para aumentar a Mais Valia, o resto é lenda urbana. (Leia Artigo completo em   Conselhodaclasse.com)

 Saile, o Divergente. 06.01.2025.

 



[2] Inteligência artificial deve afetar 40% dos empregos no mundo, diz FMI. .https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/inteligencia-artificial-deve-afetar-40-dos-empregos-no-mundo-diz-fmi/ . Acesso 4.1.2025. 18:26. Os trabalhadores que perderam o emprego para inteligência artificial. https://www.bbc.com/portuguese/articles/cgr8kydkj9po acesso 4.1.2025  18:06 acesso 4. 1. 2025

 

 

[3] Responda aqui: [  ] 1758.  II [  ] 1851. III [  ] 1860. IV [  ] 1861- 1868. V [  ] 1920/1930. VI [  ] 1990- 2014. VII [  ]. 2024 . VIII [   ] 2025.

 

[5] 1º case:  “Everet construiu a primeira máquina de tosquiar lã movida a água, ela foi queimada pelas 100 mil pessoas que deixou sem trabalho. Contra as scribbling mills e máquinas de cardar de Arkwright se dirigiram ao Parlamento 50 mil trabalhadores, que até então tinham vivido de cardar lã “[...] (1758)

 

2º case:  Em seu depoimento perante a Trades Union Comission, Nasmyth, o inventor do martelo a vapor, relata o seguinte sobre os aperfeiçoamentos da maquinaria introduzidos por ele [...]. Antes, eu ocupava 4 garotos para cada mecânico. Graças a essas novas combinações mecânicas, reduzi o número de homens adultos de 1.500 para 750. O resultado foi um considerável aumento em meu lucro”. (p. 50) (1851)

 

3º case [...] desapareceram, portanto, 338 fábricas de algodão; ou seja, maquinaria mais produtiva e mais potente concentrou-se nas mãos de um número menor de capitalistas. O número de teares a vapor diminuiu em 20 663; mas seu produto ao mesmo tempo aumentou de modo que um tear aperfeiçoado produzia agora mais do que um antigo. Finalmente, o número de fusos cresceu de 1 612 547, enquanto o número de trabalhadores empregados diminuiu de 50 505. (De 1861 a 1868) (p.49) 

 

Case: “Em vez de 75 máquinas de cardar, agora precisamos apenas de 12, que fornecem a mesma quantidade de produto de igual, se não de melhor, qualidade. (...) Numa fiação fina de Manchester, “por meio do movimento mais acelerado e da adoção de diversos processos selfacting foi afastado 1/4 do pessoal de trabalho de um departamento, mais da metade em outro, enquanto a máquina de pentear no lugar da segunda máquina de cardagem diminuiu consideravelmente o número de operários empregados na sala de cardar”.  (1860)

 

5º Case: “A mecanização das centrais telefônicas dos EUA permitiu as companhias a eliminação de 240 mil empregos, 80% das 300.000 vagas nos setores que efetuavam a conexão manual nas ligações interurbanas. (1920/ 1930)”

 

6º Case: A indústria automobilística brasileira passou por um processo de reestruturação e modernização, que levou a uma redução do hiato tecnológico com relação aos países mais avançados [Resultado]: A produção de automóveis no país saltou de 432.796 unidades em 1970 para 1.242.652 unidades nos anos 1990 chegando a 3.255.068 em 2014 (Anuário, 2015). O Número de funcionários neste setor caiu de 133.683 em 1980 para 79.047 em 2003 (Anuário, 2015)[5].

 

 7º Case: Ekaterra, “multinacional que fabrica os chás Lipton e Tazo, realizou uma rápida mecanização das plantações do Quênia. Em alguns meses, 30.000 mulheres perderam seus empregos e o salário das que continuavam empregadas caiu, em média, de 150 para 80 dólares mensais.” [5] (2024)

 

8º Case:  Inteligência artificial deve afetar 40% dos empregos no mundo, diz FMI. “Nos casos mais extremos, alguns desses empregos podem desaparecer.” IA pode impactar 37 milhões de trabalhadores no Brasil; mulheres têm maior risco de substituição, aponta OIT. (O Globo & CNN Brasil. jan. 2025)[5] 

 

[6] Os trabalhadores que perderam o emprego para inteligência artificial. https: //www.bbc. com/ portuguese/articles/cgr8kydkj9poacesso 4.1.2025  18:06 acesso 4. 1. 2025

[7] Movimentos de lançadeira

[8] KARL MARX. O Capital: Crítica Da Economia Política, Livro Primeiro, O Processo De Produção Do Capital, Tomo 2, (Capítulos XIII a XXV), Coordenação e revisão de Paul Singer. Tradução de Regis Barbosa e Flávio R. Kothe.3º Ed. São Paulo: Editora Nova Cultural Ltda. 1988.

[9] Maquina de Fiar.

[10]  (REDGRAVE, Alexander, inspetor de fábrica. In: Journal of the Soc. of Arts. 5 de   janeiro de 1872.) apud Marx, 1988. p. 37-38.

[11] Informações extraídas em publicação da Folha de São Paulo do dia 8 de outubro de 1995.

[12] (Idem. p. 68).

[13] KARL MARX. O Capital: Crítica Da Economia Política, Livro Primeiro, O Processo De Produção Do Capital, Tomo 2, (Capítulos XIII a XXV), Coordenação e revisão de Paul Singer. Tradução de Regis Barbosa e Flávio R. Kothe.3º Ed. São Paulo: Editora Nova Cultural Ltda. 1988. (p. 33-34)

[14]  (Marx, 1988. p. 37-38)

[16] Inteligência Artificial - promessas e realidades. https://conselhodaclasse. blogspot.com/2024/11/notas-para-uma-reflexao-coletiva.html  Acesso 6.1.2025.

 

[18] Para Além Ou Para Aquém Do Capital? Apontamentos Críticos Acerca Do Universo Categorial De István Mészáros - André Ricardo Oliveira .Https:// Drive.Google. Com/File/D/1hfe2...  Acesso 7.1.2025 15:08

[20] Inteligência artificial deve afetar 40% dos empregos no mundo, diz FMI. .https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/inteligencia-artificial-deve-afetar-40-dos-empregos-no-mundo-diz-fmi/ . Acesso 4.1.2025. 18:26. Os trabalhadores que perderam o emprego para inteligência artificial. https:// www.bbc.com /portuguese /articles/cgr8kydkj9po acesso 4.1.2025  18:06 acesso 4. 1. 2025.

[21] Ver matéria Completa no Blog conselho da Classe com as invenções mais importantes de cada período histórico a começar pelo motor a Vapor.

 

[23] Para Além Ou Para Aquém Do Capital? Apontamentos Críticos Acerca Do Universo Categorial De István Mészáros - André Ricardo Oliveira .Https://Drive.Google.Com/File/D/1hfe2... Acesso 7.1.2025 15:08