quarta-feira, 16 de julho de 2025

Marx contra Marx: O Triunfo do Esboço sobre a Obra-Prima!

 


 

“Acredite, nada é trivial!”

(Filme: O Corvo)

Desenho de uma pessoa

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1.    Introdução

 

Marx dedicou a maior parte de sua vida aos estudos sobre a sociedade capitalista e a busca por compreender seu ser, sua funcionalidade real. Um feito inédito na História da humanidade foi realizado e o resultado saiu em sua obra fundamental e mais importante “O Capital”. Foi a primeira vez que uma sociedade teve o seu ser descrito já no início de sua existência. As sociedades somente eram compreendias em maior profundidade depois de longos períodos após seu nascedouro, porém, assim que o Capitalismo “se coloca” de pé no mundo, como um grande feito inédito Marx expõe sua essência. Os Manuscritos são seu laboratório de pesquisa e “O capital” sua grande descoberta.

É muito comum, ao falar-se de Marx e dos marxistas, encontrarmos quem afirme que haveria um problema em relação ao pensamento de Lenin ou Rosa Luxemburgo, entre outros, que viveram antes da publicação de obras como os Manuscritos Econômico-Filosóficos ou os Grundrisse, desqualificando de certa forma sua contribuição teórica ou compreensão do capitalismo, alguns até descartam e/ou ignoram em partes ou totalmente a Opus Magnum Marxiana, ressaltando em seu lugar os rascunhos:

“Com a doutrina de Marx acontece hoje o que na história aconteceu mais de uma vez com as doutrinas dos pensadores revolucionários e dos chefes das classes oprimidas em sua luta pela libertação. As classes opressoras durante a vida dos grandes revolucionários, retribuíam-nos com incessantes perseguições, acolhiam sua doutrina com a fúria mais selvagem, com o ódio mais feroz, com as mais furibundas campanhas de mentiras e calúnias. Depois da morte deles, tentam transformá-los em ícones inofensivos, canonizá-los, por assim dizer, conceder a seu nome certa glória para consolar as classes oprimidas e para enganá-las, castrando o conteúdo da doutrina revolucionária, embotando seu gume revolucionário, vulgarizando-a.” (Lenin 2017, p.27)

Com estas palavras Lenin inicia o livro “O Estado e a Revolução” escrito há pouco mais de 100 anos, suas palavras continuam atuais e com o agravante do monumental feito histórico do proletariado, a Revolução de Outubro não mais existir. A perda dessa batalha, teve implicações seríssimas sobre a moral da nossa classe e dos nossos intelectuais. Como escreve Marx (1985, p.112), “quanto mais uma classe dominante é capaz de acolher em seus quadros os homens mais valiosos das classes dominadas, tanto mais sólido e perigoso é seu domínio”, alguns se juntaram ao adversário como expressão de derrota daquela série de batalhas entre o Proletariado e o Capitalismo que foi o século XX. O Recuo teórico foi brutal, ganharam ainda mais força propostas como a defesa do protagonismo dos novos movimentos sociais nas lutas sociais, a ideia do fim do trabalho, a crença na democracia como meio para conquista do socialismo etc. Nossos intelectuais não saíram ilesos, muitas vezes criando novas nomenclaturas para fenômenos há muito conhecidos, ou utilizando-se de categorias anacrônicas que não mais correspondem as relações capitalistas de produção. Vejamos um exemplo:

Marx é outro que concebe a alienação do corpo como um traço distintivo da relação entre capitalista e trabalhador. Ao transformar o trabalho em uma mercadoria, o capitalismo faz com que os trabalhadores subordinem sua atividade a uma ordem externa, sobre a qual não tem controle e com a qual não podem se identificar.” (Federici 2017, p. 243, grifo nosso)

De forma alguma a afirmação acima pode ser atribuída a Marx, basta lembrarmos que “para ser vendido no mercado como mercadoria, o trabalho, pelo menos, tem de existir antes de ser vendido. Mas, se o trabalhador pudesse dar-lhe existência independente, então ele venderia mercadoria e não trabalho.” (Marx 1984a, p.127). Como veremos nas páginas seguintes essa afirmação parece fundada sobre a compressão de trabalho alienado que não vigora na relação capitalista de produção. A autora também afirma que seu livro “[...] Calibã e a Bruxa desmistifica a natureza democrática da sociedade capitalista e a possibilidade de qualquer “troca igualitária” dentro do capitalismo. (Federici 2017, p. 13-14). Se levarmos às últimas consequências essa afirmação, chegaremos à conclusão de que não há capitalismo, pois sem a troca equivalente, a lei do valor pode ser jogada na lata do lixo.

Talvez, concepções como essas que são fundadas na incompreensão do ser do Capital, portanto, da realidade atual, contribuam para elaboração de muitas teses segundo as quais, estaríamos retornando ao colonialismo ou que o feudalismo teria voltado como tecnofeudalismo. Isso é um assunto para quem sabe, tratarmos, em um outro momento. O principal objetivo deste artigo, é fazer um comparativo entre alguns aspectos da Obra Máxima de Marx “O Capital” (1867) e os Manuscritos de 1844, analisando algumas das categorias fundamentais que são parte destas obras.

As razões para escrever nosso texto são simples, porém de suma importância, fundamentar nossa prática buscando conhecer melhor nosso verdadeiro adversário, o Capital.

 

2.    Mercadoria e Trabalho

 

Nos Manuscritos Econômico-Filosóficos de 1844 Marx trabalha com o conceito de trabalho alienado caracterizando o trabalhador como uma mercadoria:

“A existência do trabalhador é, portanto, reduzida à condição da existência de qualquer outra mercadoria. O trabalhador tornou-se uma mercadoria e é uma sorte para ele quando consegue encontrar quem o compre.” (Marx, 2017, p.245, grifo nosso)

No período da acumulação primitiva do Capital, a classe burguesa entrava em cena na história, corroendo as relações feudais, processo durante o qual, por meio do comércio, converteria parte da humanidade em mercadoria, milhares de seres humanos foram sequestrados do Continente Africano e vendidos como meras mercadorias. A escravidão pode ser definida como:

“Condição em que um ser humano – o escravo – é propriedade de outro – o senhor -, dono absoluto do produto de seu trabalho. [...] O escravo constitui também uma mercadoria, podendo, portanto, ser objeto de compra e venda, herança, doação, aluguel, hipoteca e sequestro judicial.”[1]

Nos manuscritos Marx faz sua primeira grande aproximação com a economia política, após conhecer o livro de Engels “Esboço para uma Crítica da Economia Política”, faz uma série de estudos sobre a Economia Política e rascunha em seus cadernos sua compreensão até então (1844). Como primeiro grande esforço teórico no terreno da economia política Marx vem a “[...]considerar centralmente, o trabalhador como mercadoria, e transitar, em alguns momentos secundários, para a compreensão de trabalho como mercadoria” (Oliveira, 2021, p. 354). As sociedades onde vigorou o Trabalho Alienado, ou seja, o trabalhador sendo alienado na relação de troca, são as sociedades, nas quais, a escravidão era a relação de trabalho predominante, relação distinta da que vigora contemporaneamente.

Encontramos ainda no texto de 1844 duas compreensões equívocas, uma sobre a economia política que naquele período Marx denominava como Economia Nacional, outra sobre os trabalhadores na sociedade capitalista:

A partir da própria economia nacional, com as suas próprias palavras, mostramos que o trabalhador decai em mercadoria e na mais miserável mercadoria, que a miséria do trabalhador está na relação inversa do poder e da magnitude da sua produção, que o resultado necessário da concorrência é a acumulação do capital em poucas mãos, portanto, o mais terrível restabelecimento do monopólio, que, finalmente, a diferença de capitalista e arrendador fundiário [Grundrentner], tal como a de agricultor e trabalhador manufatureiro desaparece, e toda a sociedade tem de dividir-se nas duas classes dos proprietários e dos trabalhadores desprovidos de propriedade.” (Marx, 2017, p.302, grifo nosso)

A compreensão de que para a Economia Política o trabalhador era sinônimo de mercadoria já havia sido superada por exemplo por David Ricardo para quem “[...] não é o trabalhador, mas o trabalho uma mercadoria.”, (Oliveira, 2021, p.358).

No final da citação acima é afirmado que os trabalhadores não possuem nenhuma propriedade, no entanto, em sua obra máxima “O Capital” - lançada em 1867 após duas décadas de estudo - Marx demonstra que o “Proprietário de sua força de trabalho é o trabalhador [...]” (Marx, 1983, p.264). Na sociedade capitalista vigora a liberdade jurídica, e na relação de troca a classe capitalista entra em cena como proprietária dos meios de produção enquanto o proletariado como Capital Variável possui a mercadoria fundamental com a qualidade única de produzir valor e mais-valor, uma relação de igualdade jurídica. Nos dois polos da relação encontram-se proprietários, “o que se defronta diretamente ao possuidor de dinheiro, no mercado, não é, de fato, o trabalho, mas o trabalhador. O que este último vende é sua força de trabalho.” (Marx, 1983, p. 128. grifo nosso). Como se vê uma relação completamente distinta da relação escravista.

Em uma passagem bem conhecida dos Manuscritos Econômico-Filosóficos de 1844, onde Marx faz um contraste entre a valorização e a desvalorização do mundo das coisas e dos homens respectivamente, a compreensão do trabalhador como mercadoria também aparece:

O trabalhador torna-se uma mercadoria tanto mais barata quanto mais mercadoria cria. Com a valorização do mundo das coisas, cresce a desvalorização do mundo dos homens em proporção direta. O trabalho não produz apenas mercadorias; produz-se a si próprio e o trabalhador como uma mercadoria, e, a saber, na mesma proporção em que produz mercadorias em geral. (Marx, 2017, p.304, grifo nosso)

Podemos recorrer ainda as palavras de Engels em sua introdução ao livro “Trabalho Assalariado e Capital” originalmente publicado em 1849 e que ganharia nova edição em 1891:

“Nos anos 40, Marx ainda não tinha terminado a sua crítica da Economia Política. Isso só aconteceu nos finais dos anos 50. Por isso, os escritos que apareceram antes do primeiro fascículo de Para a Crítica da Economia Política (1859) diferem aqui e ali dos redigidos a partir de 1859 [...]” (Marx, 2009)

Não só Marx descobre ao longo de seus anos de estudo que não é o Trabalho Alienado que corresponde ao modo de produção capitalista, mas também que “o trabalho é a substância e a medida imanente dos valores, mas ele mesmo não tem valor.” (Marx, 1984, p. 128, grifo nosso). Em seu acerto com a Economia Política, em como ela concebia o trabalho Marx afirma:

“Portanto, o que ela chama de valor do trabalho (value of labour) é na realidade o valor da força de trabalho, que existe na personalidade do trabalhador e difere de sua função, o trabalho, tanto quanto uma máquina de suas operações.” (Marx, 1984a, p. 129, grifo nosso)

Como proprietários vendemos nossa mercadoria força de trabalho ao capitalista durante um determinado período, colocamos a sua função em ação durante o processo de produção e assim produzimos valor e mais-valor, produzimos Capital, portanto:

“[...]o “valor de uso” que o trabalhador fornece ao capitalista não é, na verdade, sua força de trabalho, mas sim a função dela, determinado trabalho útil, trabalho do alfaiate, trabalho do sapateiro, trabalho do fiandeiro etc. O fato de que esse mesmo trabalho, sob outro aspecto, é elemento geral criador de valor, o que o distingue das demais mercadorias, não está ao alcance da consciência ordinária.” (Marx, 1984a, p. 131, grifo nosso)

Na sociedade capitalista predomina o Trabalho Assalariado não o Trabalho Alienado, (pensar nesta frase acho que seria mais correto dizer Trabalho Assalariado no lugar de trabalho abstrato) e só a partir dessa descoberta se tornou possível desvendar como o Capital realmente se constitui. A mercadoria possui Valor de Uso - satisfação de uma necessidade humana - e Valor - que tem como substância o Trabalho Abstrato e se se mede pela duração do dispêndio de músculos, nervos, cérebro e sentidos etc., parafraseando Marx, durante o processo de trabalho, sob o capitalismo, o trabalho, assim como a mercadoria (Valor de uso e Valor), também possui uma duplicidade:

Todo trabalho é, por um lado, dispêndio de força de trabalho do homem no sentido fisiológico, e nessa qualidade de trabalho humano igual ou trabalho humano abstrato gera o valor da mercadoria. Todo trabalho é, por outro lado, dispêndio de força de trabalho do homem sob forma especificamente adequada a um fim, e nessa qualidade de trabalho concreto útil produz valores de uso. (Marx, 1983, p.53. grifo nosso)

Por um lado, no processo de trabalho se produz Valores de Uso - Trabalho Concreto -, nos mais diferentes trabalhos como por exemplo: o trabalho do enfermeiro, do psicólogo, do Gari, da médica, da professora, da advogada etc. Por outro lado, se produz Valor e Mais-Valor – Trabalho Abstrato – o trabalho produtor de Capital, o trabalho especificamente correspondente a relação capitalista. É o Trabalho Assalariado que corresponde ao modo de produção Capitalista, o Trabalho Alienado, pertence a outros períodos históricos, sob o Capitalismo ele não tem lugar, é um anacronismo. O segredo que se ocultava quando Marx analisou pela primeira vez a Economia Política e registrou em seus primeiros rascunhos foi descoberto muito mais tarde. Sob o Trabalho Alienado não era possível compreender de fato o Capital, pois, este corresponde ao trabalho escravo, não ao trabalho assalariado. Marx explica ainda que para analisar o capital é preciso abstrair os trabalhos concretos indo assim ao trabalho especificamente produtor de Capital:

“Ao desaparecer o caráter útil dos produtos do trabalho, desaparece o caráter útil dos trabalhos neles representados, e desaparecem também, portanto, as diferentes formas concretas desses trabalhos, que deixam de diferenciar-se um do outro para reduzir-se em sua totalidade a igual trabalho humano, a trabalho humano abstrato.” (Marx 1983, p. 47, grifo nosso)

Sabemos agora que sob determinação do Trabalho Abstrato está constituída a relação Capitalista. Ao vender-se a Mercadoria Força de Trabalho, aliena-se, a sua função, o Trabalho Útil que é Valor de uso para o Capitalista. Sob seu caráter de Trabalho Concreto produz Valores de Uso e pelo caráter de Trabalho Abstrato produz Valor e Mais Valor, e este é o que realmente interessa ao Capital:

“[...] o trabalhador sai do processo sempre como nele entrou — fonte pessoal de riqueza, mas despojado de todos os meios, para tornar essa riqueza realidade para si. Como, ao entrar no processo, seu próprio trabalho já está alienado dele, apropriado pelo capitalista e incorporado ao capital, este se objetiva, durante o processo, continuamente em produto alheio.” (Marx 1984a, p. 156. grifo nosso)

O Capitalista compra a mercadoria Força de Trabalho para satisfazer sua necessidade de acumular Capital, ela se torna Capital Variável no processo, produzindo Valor e Mais Valor - Trabalho Abstrato -, ao consumir seu Valor de Uso, o Capitalista se apropria das mercadorias produzidas. Ao colocar a Força de Trabalho em ação, que foi cedida/transferida - alienada - durante determinado período ou jornada de trabalho pelo proletário, todo Valor de Uso, Valor e Mais Valor produzido torna-se propriedade do capitalista - relação fundada pela troca entre Capital e Trabalho - e o Capital aliena o Salário – Valor/Preço da Força de Trabalho - ao proletário mesmo que este o receba sempre posteriormente. Embora o proletário saia do processo “despojado” da riqueza produzida, é uma relação contratual onde vigora a igualdade jurídica entre proprietários de Mercadoria.

Ao analisar a sociedade capitalista com as lentes do Trabalho Alienado em seus primeiros manuscritos (1844) não era possível uma análise precisa e consequente do Capital, o que não retira a importância desse primeiro estudo de fôlego de Marx.

 

3.    Dinheiro

 

Nos Manuscritos (Marx, 2017, p. 416), Marx afirma que “Shakespeare descreve acertadamente a essência do dinheiro,” ao afirmar que este teria as seguintes propriedades:

“1) Ele é a divindade visível, a transformação de todas as qualidades humanas e naturais no seu contrário, a universal confusão e inversão das coisas; ele fraterniza impossibilidades; 2) Ele é a meretriz universal, o alcoviteiro universal dos homens e dos povos. A inversão e confusão de todas as qualidades humanas e naturais, a fraternização das impossibilidades – a força divina –, pelo dinheiro, reside na sua essência como ser genérico – alienado, exteriorizando e vendendo-se [entfremdeten, entäussernden und sich veräussernden] – do homem. Ele é o poder [Vermögen] exteriorizado da humanidade (Marx, 2017, p.417-418, grifo nosso)

Aqui vemos que o dinheiro é descrito como uma “força divina”, um “poder exteriorizado” que é próprio da humanidade, “[...] é, portanto, o objeto como possessão eminente (Marx, 2017, p. 414, grifo nosso) O dinheiro de certa forma seria como um deus encarnado, onde “a universalidade da sua qualidade é a onipotência do seu ser; por isso, ele vale como ser onipotente.”

Outras duas palavras são usadas para defini-lo: Alcoviteiro, ou seja, intermediário entre amantes, fazedor de intriga, corretor de prostitutas; e Meretriz (Prostituta). O dinheiro então teria características sociais universais, tais como, o causador de intrigas, o cafetão e a prostituta universais.

Entretanto, em sua obra magna “O Capital”, trabalhando a partir do conceito de Trabalho Humano Abstrato, Marx nos demonstra que o dinheiro incorpora várias funções: Medida dos valores, padrão dos preços, meio de circulação, moeda (signo do valor), meio de pagamento. Como dinheiro mundial, ele é meio geral de pagamento, meio geral de compra e materialização absoluta da riqueza em geral. O dinheiro é circulação das mercadorias:

“Como ao dinheiro não se pode notar o que se transformou nele, converte-se tudo, mercadoria ou não, em dinheiro. Tudo se torna vendável e comprável. A circulação torna-se a grande retorta social, na qual lança-se tudo, para que volte como cristal monetário. E não escapam dessa alquimia nem mesmo os ossos dos santos nem as res sacrosanctae, extra commercium hominum.” (Marx, 1983, p. 112, grifo nosso)

A compreensão do que de fato é o dinheiro está umbilicalmente ligada ao Trabalho Abstrato: “como medida de valor, é forma necessária de manifestação da medida imanente do valor das mercadorias: o tempo de trabalho.” (Marx, 1983, p.87, grifo nosso).

 

4.    Capital

  

A compreensão de Capital presente nos Manuscritos Econômico-Filosóficos está fundada no conceito de Trabalho Alienado. Por meio desta compreensão, o proletário venderia a si próprio - o que o caracterizaria como um escravo –, naquela época Marx equivocadamente considerava que essa era a compreensão da Economia Política. Vimos acima que a economia política naquele período já compreendia o trabalho como mercadoria e não o trabalhador:

O economista nacional diz-nos que tudo se compra com trabalho, e que o capital não é mais que trabalho acumulado; mas diz-nos, simultaneamente, que o trabalhador, longe de poder comprar tudo, tem de vender-se a si próprio e a sua humanidade. (Marx, 2017, p.251, grifo nosso)

Na realidade o trabalho sob o capitalismo possui um “duplo caráter”, é Trabalho Concreto e Trabalho Abstrato. Com a compreensão equivocada sobre o trabalho -alienado -, Marx aqui (1844) recorre ao trabalho produtor de Valores de Uso que satisfazem as necessidades humanas, o Trabalho Concreto:

“Quando se encontra uma sociedade em enriquecimento progressivo? Com o crescimento de capitais e rendimentos (Revenuen) de um país. Mas isto só é possível α) contanto que seja reunido (zusammengehäuft) muito trabalho, pois capital é trabalho amontoado [aufgehäufte]; portanto, contanto que sejam retirados ao trabalhador cada vez mais produtos seus, que o seu próprio trabalho cada vez mais o defronte como propriedade alheia (fremdes Eigentum) e cada vez mais os meios da sua existência e da sua atividade se concentrem na mão do capitalista.” (Marx, 2017, p.247, grifo nosso)

Portanto, sem a chave de leitura do Trabalho Abstrato - descoberto mais tarde por Marx - que é correspondente ao Capital não era possível a descoberta de que no Modo de Produção Capitalista a riqueza é determinada pelo processo de valorização do valor, que o proletário - Capital variável na relação de produção do Capital - ao vender a sua Força de Trabalho produz Valor e Mais Valor que são apropriados pelo Capitalista, e que “portanto, um valor de uso ou bem possui valor, apenas, porque nele está objetivado ou materializado trabalho humano abstrato.” (Marx, 1983, p. 47)

 

5.    Salário

 

Nos manuscritos a compreensão do que realmente é o Salário, assim como Capital e Dinheiro também é inacessível, devido a chave de leitura equivocada e atualmente anacrônica. Visto que, ao utilizar esta chave anacrônica, o “salário é compreendido como uma consequência imediata do trabalho alienado[...]” (Marx,2017, p.318). Sem o período de estudo que se seguiram a estes primeiros estudos e sem o acúmulo categorial adquirido ao longo destes anos, a compreensão do Capitalismo de Marx em 1844 estava fundamentada no,

“[...] conceito de propriedade privada a partir do conceito do trabalho alienado, exteriorizado, assim todas as categorias nacional-econômicas podem ser desenvolvidas com a ajuda desses dois fatores, e reencontraremos em cada categoria, p. ex., a mesquinharia (Schacher), a concorrência, o capital, o dinheiro, apenas uma expressão determinada e desenvolvida dessas primeiras bases. (Marx, 2017, p.319, grifo nosso)

 

Temos então, de acordo com esta compreensão equívoca, que a determinação do salário ocorre nos seguintes termos:

Segundo o conceito, renda fundiária e ganho de capital são deduções que o salário sofre. Mas, na realidade, o salário é uma dedução que terra e capital deixam chegar ao trabalhador, uma concessão do produto do trabalho ao trabalhador, ao trabalho.” (Marx, 2017, p.252-253, grifo nosso)

O salário é definido aqui como uma concessão da Terra e do Capital ao proletariado, e ainda mais:

“Vemos por isso também que salário e propriedade privada são idênticos: porque o salário, donde o produto, objeto do trabalho, paga o próprio trabalho, é apenas uma consequência necessária da alienação do trabalho, bem como porque no salário o trabalho também não aparece como autofinalidade, mas como servidor do salário.” (Marx, 2017, p.318, grifo nosso)

Se conforme descrito acima, o proletário recebe pelo seu trabalho, fica uma pergunta no ar: De onde viria então o lucro?

Vejamos como Marx trabalha essa questão n’O Capital, onde o autor necessariamente segue a sequência que evidência a relação capitalista: da Mercadoria ao Dinheiro e deste finalmente ao Capital, para depois trabalhar a Mais-Valia Absoluta e Relativa chegando então ao Salário; movimento necessário para exposição do ser do Capital.

Assim como fez ao iniciar seu livro alertando sobre como nos aparece a riqueza na sociedade capitalista, alerta semelhante é feito agora logo no primeiro parágrafo do capítulo sobre o Salário: Na superfície da sociedade burguesa, o salário do trabalhador aparece como preço do trabalho, como um quantum determinado de dinheiro pago por um quantum determinado de trabalho.” (Marx, 1984a, p. 127, grifo nosso). Então, na sequência de sua exposição, Marx compara a relação de trabalho escravista e a assalariada, fazendo uma afirmação diametralmente oposta à que fez nos manuscritos:

No trabalho escravo, a parte da jornada de trabalho em que o escravo apenas repõe o valor de seus próprios meios de subsistência, em que, portanto, realmente só trabalho para si mesmo, aparece como trabalho para seu dono. Todo seu trabalho aparece como trabalho não pago. No trabalho assalariado, ao contrário, mesmo o mais-trabalho ou trabalho não pago aparece como trabalho pago. Ali a relação de propriedade oculta o trabalho do escravo para si mesmo; aqui a relação de dinheiro oculta o trabalho gratuito do assalariado.” (Marx, 1984a, p. 130, grifo nosso)

Sob o Trabalho Alienado todo o trabalho aparece como não pago ao escravo e sob o Trabalho Assalariado o Trabalho aparece como pago; ao associar o trabalho alienado ao assalariado, a conclusão a que se chegou nos Manuscritos não se sustenta, sob o trabalho alienado não há salário, e sob o Trabalho Assalariado o salário não paga o próprio trabalho.

Ressaltamos ainda que a relação social capitalista é mais complexa que a escravista, onde temos os trabalhos Concreto, Abstrato e Assalariado. A afirmação de que todo trabalho seria pago – Manuscritos - não é nada mais que a aparência: A forma salário extingue, portanto, todo vestígio da divisão da jornada de trabalho em trabalho necessário e mais-trabalho, em trabalho pago e trabalho não pago. Todo trabalho aparece como trabalho pago.” (Marx, 1984a, p. 130, grifo nosso)

O Salário oculta na relação capitalista o trabalho não pago. Se todo trabalho fosse pago ao proletariado não existiria o lucro. Na relação de produção capitalista o proletariado vende sua Força de Trabalho em troca do Salário - na realidade adianta e só recebe após produzir. A mercadoria Força de trabalho tem a peculiaridade de produzir Valor e Mais valor, durante parte da jornada o proletário produz o Valor de sua mercadoria, na parte restante da jornada produz Mais Valor, um valor maior do que o valor da mercadoria que vendeu ao capitalista, é daí que vem o ganho do capitalista, o mais valor divide-se em lucro, juro, renda da terra etc. Portanto,

“Compreende-se, assim, a importância decisiva da transformação do valor e do preço da força de trabalho na forma salário ou em valor e preço do próprio trabalho. Sobre essa forma de manifestação, que torna invisível a verdadeira relação e mostra justamente o contrário dela, repousam todas as concepções jurídicas tanto do trabalhador como do capitalista, todas as mistificações do modo de produção capitalista, todas as suas ilusões de liberdade, todas as pequenas mentiras apologéticas da Economia vulgar.” (Marx 1984a, p.130, grifo nosso)

Ainda sobre o Trabalho assalariado e o Trabalho escravo Marx faz mais uma distinção fundamental: “em um caso sua força de trabalho é vendida por ele mesmo, no outro, por terceira pessoa.” (Marx,1984, p. 131). No capitalismo é o proprietário da mercadoria Força de Trabalho quem a vende diretamente ao capitalista, ou seja:

“Para ser vendido no mercado como mercadoria, o trabalho, pelo menos, tem de existir antes de ser vendido. Mas, se o trabalhador pudesse dar-lhe existência independente, então ele venderia mercadoria e não trabalho.” (Marx 1984a, p. 127)

Não é o trabalho que tem em si o Valor sendo uma mercadoria (Valor de Uso + Valor) produzida sob o Capital, se o fosse capitalista não pensaria duas vezes em contratar mão de obra escrava. O fato de no capitalismo vigorar a relação de compra e venda da Força de Trabalho e não a relação escravista, é uma condição sine qua non da existência do Capital. A relação social escravista é completamente distinta da relação Capitalista, no entanto, a escravidão dos indígenas e dos povos de África foi condição para o nascimento do Capital. Enquanto ainda não tinha se colocado sob seus próprios pés, nutriu-se com a mais brutal escravização da humanidade, produziu as condições iniciais de acumulação e separou os trabalhadores dos seus meios de produção e de subsistência, restando-lhes para viver, apenas a possibilidade de venderem sua capacidade de trabalho, assim “[...] o capital nasce escorrendo por todos os poros, sangue e sujeira da cabeça aos pés” (Marx, 1984a, p.292).

Por isso, em sua obra magna Marx faz uma afirmação “tsunâmica” para os economistas clássicos e ao mesmo tempo para os adoradores da categoria Trabalho Alienado. Vejamos:

Na expressão “valor do trabalho”, o conceito de valor não está apenas inteiramente apagado, mas convertido em seu contrário. É uma expressão imaginária como, por exemplo, valor da terra. Essas expressões imaginárias surgem, entretanto, das próprias condições de produção. São categorias para formas em que se manifestam condições essenciais. Que na aparência as coisas se apresentam frequentemente invertidas, é conhecido em quase todas as ciências, exceto na Economia Política.” (Marx 1984a, p. 128, grifo nosso)

O Capital como sistema político econômico ergue-se sob o pedestal do Trabalho Abstrato, sem a venda da mercadoria Força de Trabalho ao Capitalista pelo Proletariado não há lugar para a produção de Capital, de Valor e Mais Valor.

 

 6.    Alienação e Fetichismo 

 

Comecemos analisando alguns trechos da exposição n’O Capital, nos quais, Marx faz uso das categorias Alienação e Estranhamento. Em nossa pesquisa constatamos que a categoria Alienação aparece diversas vezes na obra “O Capital”, notamos também que “[...]a concepção de alienação em Marx não tem uma significação de negatividade[...]”, ou seja, a alienação é resultado de uma relação de troca entre proprietários de mercadoria, uma relação entre iguais juridicamente:

A realização da lei do valor, e do mais-valor, se impõem. O trabalhador recebe o valor de sua força de trabalho e, ao alienar, ou seja, por não ser sua propriedade o valor-de-uso dessa mercadoria, não o é também o que essa força produziu. Veja que a alienação, no contexto de O capital, refere-se, exclusivamente, às determinações da lei do valor. (Oliveira, 2021, p. 320, grifo nosso)

A palavra Estranhamento aparece somente uma vez em todos os três tomos da opus magnum marxiana. No terceiro tomo encontramos o termo estranhável com o que parece ser um sentido mais próximo do conceito presente nos Manuscritos – dependendo da tradução. As palavras estranho, estranha e estranhamente aparecem algumas vezes nos três tomos, muitas vezes com uma significação dentro do uso mais comum dos termos.

Em sua obra de 1844, com base nos conceitos de Alienação e Estranhamento como compreendidos à época “[...] Marx explicava a situação de penúria da classe trabalhadora ou, se se quiser, a negação da essência humana, por meio do processo de expropriação[...]” (Tumolo, 2019, p.23, grifo do autor). A expropriação foi característica da fase de acumulação primitiva ou onde as relações capitalistas de produção ainda não haviam sido inseridas, hoje por toda parte do planeta vigora a relação de compra e venda da Força de Trabalho, portanto a exploração do proletariado é o determinante. Nas palavras de Tumolo (2019):

“No caso da expropriação, supõe-se que o trabalhador está desprovido, ou melhor, que o capital o expropriou de toda e qualquer propriedade, o que provoca um processo de estranhamento/alienação e, por desdobramento, a negação de sua essência humana. No caso da relação de exploração, pressupõe-se que o trabalhador não foi expropriado de tudo, mas, ao contrário, é proprietário de uma mercadoria específica e fundamental, sua força de trabalho, e é nesta condição que comparece ao mercado para vendê-la ao proprietário de meios de produção.”  (Tumolo, 2019, p.24-25, grifo do nosso)

Por isso, entendemos então que o conceito de Alienação tem, portanto, um sentido positivo e o conceito de Estranhamento um sentido negativo estando relacionado diretamente a expropriação.

Marx afirma, no capítulo sobre o salário de “O Capital” que esta forma torna invisível a verdadeira relação ocultando o trabalho gratuito do proletariado, portanto, essa relação aparece como totalmente justa ao trabalhador, e no senso comum nos leva a questionar o “preço do trabalho”, caso o consideremos muito baixo, ou ainda que procuremos um novo emprego com o salário condizente com nossas expectativas. Dessa forma a alienação da nossa mercadoria aparece como uma relação entre iguais e como a forma mais justa possível, não nos é uma relação em que haveria um estranhamento, ao contrário, temos um reconhecimento do “nosso valor”, da importância do nosso trabalho, da nossa profissão, tal qual o professor que ao demonstrar a importância de seu trabalho se indigna com justa razão, diante do salário recebido que não corresponde ao valor de sua atividade e as condições degradantes do exercício de sua profissão.

Reafirmamos que toda luta salarial é fundamental para nossa classe, e deve ser arrancado o máximo possível de Mais Valia das mãos dos Capitalistas e de seu Estado. Nos perguntamos, o que nos diria o senso comum se saíssemos a propagar abertamente o fim do trabalho assalariado, o fim do salário? Seria um exercício interessante, talvez surgisse a pergunta: E como vamos viver sem receber o justo “preço do nosso trabalho”?

Sabemos agora, por meio de tudo que foi exposto até aqui, que em sua obra máxima Marx não trabalha os conceitos de Estranhamento e Alienação como nos Manuscritos Econômico-Filosóficos. Vejamos três exemplos de como aparecem tais conceitos nos manuscritos de 1844, para em seguida analisá-los a luz do Conceito de Fetiche:

1º- Um poder inumano que domina a todos, Capitalistas e Proletários:

A alienação aparece tanto em que o meu meio de vida é de um outro, em que aquilo que é meu desejo é a posse inacessível de um outro, como em que mesmo cada coisa é ela própria um outro de si mesma, como em que a minha atividade é algo de outro, finalmente – e isto vale também para os capitalistas – em que em geral o poder inumano domina.” (Marx 2017, p.403, grifo nosso)

2º- A alienação em dois momentos, a religiosa se passa na consciência e a econômica no mundo real: “A alienação religiosa como tal processa-se apenas na região da consciência, do interior humano, mas a alienação econômica é a da vida real – por isso a sua superação abrange ambos os lados.” (Marx 2017, p.345-346, grifo nosso)

3º - Com o dinheiro o mundo estaria de ponta cabeça, uma combinação entre as características naturais e humanas:

“Uma vez que o dinheiro, como conceito – existente e acionando-se – do valor, confunde, mistura todas as coisas, ele é então a confusão e mistura universal de todas as coisas, portanto, o mundo invertido, a confusão e a mistura de todas as qualidades naturais e humanas.” (Marx 2017, p.419-420, grifo nosso)

No Capital consta a afirmação de que “o próprio trabalhador produz [...] constantemente a riqueza objetiva como capital, como poder estranho, que o domina e explora” (Marx 1984a, p.156, grifo nosso), onde mais Marx fala de tal dominação sob o proletariado, que é fruto de suas mãos, é no capítulo sobre o Fetiche da Mercadoria:

“Não é mais nada que determinada relação social entre os próprios homens que para eles aqui assume a forma fantasmagórica de uma relação entre coisas. Por isso, para encontrar uma analogia, temos de nos deslocar à região nebulosa do mundo da religião. Aqui, os produtos do cérebro humano parecem dotados de vida própria, figuras autônomas, que mantêm relações entre si e com os homens. Assim, no mundo das mercadorias, acontece com os produtos da mão humana. Isso eu chamo o fetichismo que adere aos produtos de trabalho, tão logo são produzidos como mercadorias, e que, por isso, é inseparável da produção de mercadorias.” (Marx 1983, p. 71, grifo nosso)

O Fetiche da Mercadoria tem uma característica que o diferencia fundamentalmente do Fetiche Religioso, é possível a nós no plano da consciência, do conhecimento, superar a crença em quaisquer divindades, o fetiche religioso está encarnado em nossas cabeças e agimos a partir daí como se de fato tivessem vida, portanto, como de fato não estão objetivamente encarnados na realidade podemos superá-los ao erradicá-los em nossa consciência, em nossos cérebros.

Já o Fetiche da Mercadoria está encarnado na própria forma mercadoria, não está fora dela como ocorre ao ídolo – em nossa cabeça -, portanto, não pode ser superado pela consciência, podemos saber sobre e compreender o Fetiche, mas a própria forma mercadoria nos obriga a nos relacionarmos entre nós como coisas e elas assim nos parecem - as mercadorias - dotadas de vida. O mesmo acontece aos Fetiches do Capital e do Dinheiro, é preciso destruir esses “ídolos” para que não tenham nenhum poder sobre a Humanidade, enquanto continuarmos a produzi-los estaremos sob seu domínio:

“O reflexo religioso do mundo real somente pode desaparecer quando as circunstâncias cotidianas, da vida prática, representarem para os homens relações transparentes e racionais entre si e com a natureza. A figura do processo social da vida, isto é, do processo da produção material, apenas se desprenderá do seu místico véu nebuloso quando, como produto de homens livremente socializados, ela ficar sob seu controle consciente e planejado. (Marx, 1983, p.76, grifo nosso)

 

Nos Fetichismos da Mercadoria, do Dinheiro e do Capital objetivamente vigora o domínio objetivo sob a humanidade, quando na realidade são produto das mãos humanas. O Capital aparece como dotado de vida própria, como se não fosse mais necessário o proletariado - que curiosamente na relação torna-se Capital Variável -, como criador de si próprio e o Dinheiro que parece possuir Valor por si e para si, é na verdade uma mercadoria, é circulação de mercadorias, nas palavras de Marx:

“As mercadorias encontram, sem nenhuma colaboração sua, sua própria figura de valor pronta, como um corpo de mercadoria existente fora e ao lado delas. [...] são imediatamente a encarnação direta de todo o trabalho humano. Daí a magia do dinheiro. A conduta meramente atomística dos homens em seu processo de produção social e, portanto, a figura reificada de suas próprias condições de produção, que é independente de seu controle e de sua ação consciente individual, se manifestam inicialmente no fato de que seus produtos de trabalho assumem em geral a forma mercadoria. O enigma do fetiche do dinheiro é, portanto, apenas o enigma do fetiche da mercadoria, tornado visível e ofuscante.” (Marx, 1983, p.85, grifo nosso)

Aquilo que Marx apenas intuiu em seu primeiro grande esforço de apreensão do ser do capital – conforme demonstrado nos 3 itens acima -, o domínio do Capitalismo sob o proletariado para além da consciência, a inversão onde as criaturas (Mercadoria, Dinheiro e Capital) aparecem como os criadores e vice-versa, aparece em sua obra máxima em um outra qualidade, saindo do Trabalho Alienado – anacrônico - e demonstrando a alienação como não negativa - relação  de troca entre proprietários de mercadoria -, para o Trabalho Abstrato levando-o a descoberta de como se dão de fato as relações capitalistas de produção.

Acreditamos que podemos recorrer agora a um exemplo na arte, na produção da humanidade para demonstrar com um exemplo o Fetichismo. Recentemente foi lançado um jogo de vídeo game, “Clair Obscur: Expedition 33” - clair obscur é uma técnica de pintura muito utilizada no Renascimento onde se contrastam as áreas claras e escuras de uma pintura.

No jogo somos apresentados a todo um universo onde os habitantes de uma ilha, Lumière, anualmente realizam uma cerimônia denominada Gommage. No porto da ilha, no continente longínquo avistam-se uma figura gigantesca, a Artífice e um igualmente dantesco Monólito, uma vez ao ano essa figura, a Artífice se levanta e pinta um número no monólito seguindo uma ordem decrescente e todos os habitantes da ilha que possuem a idade correspondente ao número são apagados, desaparecem, assim sendo, se as coisas continuarem como estão aquela sociedade desaparecerá do mapa.

Para impedir tal destino, anualmente muitos dos que estão em seu último ano de vida - que será ceifada no Gommage - partem em uma expedição para impedir a artífice de pintar o próximo número no monólito. O Jogo se passa durante a expedição 33 – 67 expedições aconteceram antes -, acompanhamos os expedicionários em sua tentativa de fazer que a Artífice nunca mais se levante e volte a pintar no monólito. Sem mais demoras, finalmente a Artífice é detida. Logo em seguida descobrimos que a Artífice que na realidade é Aline, estava durante 67 anos impedindo que Renoir seu esposo - que vivia preso embaixo do monólito, “apagasse” todos de Lumière. Com a Artífice “detida”, todos então são apagados e sobram os personagens controlados pelo jogador.

Finalmente vem a descoberta de que todo aquele universo é um quadro pintado por Verso, filho de Aline Dessendre e Renoir Dessendre. No mundo fora daquela pintura são chamados de Pintores e estão em uma guerra contra os Escritores, todos aqueles presentes no quadro, exceto a família Dessendre, são criações dos pintores. Sem mais delongas temos de escolher ao final entre destruir o quadro ou permanecer naquele universo em forma de obra de arte.  

 


Afinal o que toda essa história tem que ver com o Fetichismo? Muito bem, o Fetichismo assim como o quadro é uma obra real das mãos humanas, não é uma mera ilusão, enquanto o quadro existir haverá vida dentro dele, os habitantes de Lumière, mesmo sendo criações no quadro, choram, sorriem, tem filhos, sofrem etc., são, portanto, vivos graças as mãos humanas dos Dessendre; assim também se passa com os Fetiches, da Mercadoria, do Dinheiro e do Capital. Eles possuem aparência objetiva, nos relacionamos com eles como se fossemos criaturas e não criadores, assim como parte dos Dessendre - Aline e Alícia - que não queriam sair de dentro de sua obra, que preferiam viver nela, mesmo tendo plena consciência de que o quadro era uma criação. O Fetiche não pode ser superado pela consciência. Era necessário destruir o quadro para libertar os Dessendre, assim como é necessário fazê-lo em relação a Mercadoria e ao Capital. Tanto o quadro quanto o Fetichismo possuem existência objetiva, Lumiére não é mera ilusão ou imaginação, existe, assim também se dá com a forma mercadoria e seu fetiche, onde a humanidade só pode se relacionar entre si como coisas e suas criações as próprias mercadorias como dotadas de vida. Como escreveu Marx (1983, p, 70, grifo nosso): À primeira vista, a mercadoria parece uma coisa trivial, evidente. Analisando-a, vê-se que ela é uma coisa muito complicada, cheia de sutileza metafísica e manhas teológicas.”

O quadro possuía parte do espírito inventivo da energia vital de seu criador Verso Dessendre, o mesmo se passa com a Mercadoria, dotada do Valor que tem como substância o Trabalho Abstrato, ou seja, músculos, nervos e cérebros de todo o Proletariado Mundial.

 

7.    As Crises e o Fetichismo

Imagem gerada

“O povo, ao ver que Moisés demorava a descer do monte, juntou-se ao redor de Arão e lhe disse: "Venha, faça para nós deuses que nos conduzam, pois a esse Moisés, o homem que nos tirou do Egito, não sabemos o que lhe aconteceu". Respondeu-lhes Arão: "Tirem os brincos de ouro de suas mulheres, de seus filhos e de suas filhas e tragam-nos a mim". Todos tiraram os seus brincos de ouro e os levaram a Arão.

Ele os recebeu e os fundiu, transformando tudo num ídolo, que modelou com uma ferramenta própria, dando-lhe a forma de um bezerro. Então disseram: "Eis aí os seus deuses, ó Israel, que tiraram vocês do Egito!" Vendo isso, Arão edificou um altar diante do bezerro e anunciou: "Amanhã haverá uma festa dedicada ao Senhor". Na manhã seguinte, ofereceram holocaustos e sacrifícios de comunhão. O povo se assentou para comer e beber, e levantou-se para se entregar à farra.” (Êxodo 32: 1-6)”

 

Em Wallstreet no ano de 1989, após a crise de 1987 o artista italiano Arturo Di Modica instalou ilegalmente a obra conhecida por Charging Bull, com cerca de 3,5 toneladas. É um símbolo do poder do Capitalismo, foi criado sob inspiração de outra obra “O Touro e o Urso” que está em frente a bolsa de valores de Frankfurt na Alemanha desde 1985, o touro representa o período de alta no mercado referente ao seu ataque onde ao chifrar joga para cima o alvo do ataque e o urso simboliza o período de queda já que seu ataque acontece de cima para baixo.

 Inicialmente convém lembrarmos, como escreveu Marx (1984, p.64), que “a vida da indústria se transforma numa sequência de períodos de vitalidade média, prosperidade, superprodução, crise e estagnação.” assim, em Wallstreet é exaltado o período de prosperidade do ciclo, em Frankfurt este e as crises, encarnando a ilusão derivada dos Fetiches do Dinheiro e do Capital. Na esfera da circulação onde se encontra a bolsa de valores, reina o Fetichismo do Capital e do Dinheiro, segundo a reportagem do Valor Econômico “[...] a escultura original em bronze é reconhecida no mundo dos negócios como um símbolo de sorte. Diz a lenda que coçar o focinho, agarrar seus chifres ou testículos traz sucesso.” O chamado “mercado financeiro”, que crê no dinheiro que nasce de si próprio e do Capital que se autovaloriza, como originário e produzido no além ou em Nerverland, onde seus habitantes se recusariam a sair da infância, tal qual Peter Pan assombrado por um Capitão Gancho, que insiste em lhes recobrar a sua ligação umbilical com o Capital Industrial - que não é sinônimo de fábrica, mas de produção sob a relação capitalista - e as outras fases do ciclo: vitalidade média, superprodução e estagnação.

Por outro lado, as duas obras escancaram uma coisa que a princípio parece óbvia a nós, mas não o é, a crise que nos parece ser o anúncio do fim da relação social capitalista é na realidade parte constituinte de todo o ciclo, em outras palavras a produção de capital leva a ela e ela leva de volta ao ciclo, é a parte constituinte e necessária como todas as outras fases, portanto, “[...] sob nenhuma hipótese, tal movimento pode ser entendido como base para uma imediata reação dos trabalhadores numa perspectiva insurrecional.” (Oliveira, 2021, p.409)

A obra “O Touro e o Urso”, nos serve por esse outro ângulo como alerta de algo que está ali escancarado e ao mesmo tempo velado: o Urso – crise - é parte fundamental do ciclo, na matéria do site encontramos as seguintes definições: -Pergunta: “O que é Bear market? Resposta:

Já o Bear Market (mercado urso) se trata do movimento inverso: acontece quando o mercado espera uma tendência de baixas. Quando há um pessimismo em relação à economia, os preços das ações caem. Quem opta por investir nestes momentos pode obter lucros no futuro, pois os ativos costumam estar com preços abaixo do esperado. Assim, quando a economia se recuperar, a tendência é que o valor do papel suba, valorizando o investimento.” (Santos, 2023)

O momento da crise também pode ser usado na bolsa de valores como oportunidade de enriquecimento para seus investidores nos ciclos subsequentes, assim como o é na esfera da produção de Capital:

“As crises gerais, portanto, se configuram sempre como uma verdadeira catástrofe. No entanto, como se tem demonstrado neste estudo, isso não se configura como condições objetivas para um processo revolucionário. Ao contrário, nas épocas de crise, a classe trabalhadora é submetida às mais diversas penúrias e as aceita para conseguir manter sua existência. Não há, em Marx de O capital, uma relação de igualação entre as crises gerais do capital com a abertura de uma possível janela revolucionária. Aliás, como se observou neste trabalho, as crises gerais do capital se manifestam como mecanismo de sobrevivência da vida do capital e como desespero pela sobrevivência dos trabalhadores. O ponto de chegada de um ciclo não é a crise estrutural, e sim o ponto de partida para um novo ciclo. Esse movimento é constante: onde o capital penetra, consolida-se e desenvolve-se. Trata-se de uma lei geral da forma de ser do capital.” (Oliveira, 2021, p.409, grifo nosso)

Quando vem a crise, o “deus” Capital exige com toda violência o aumento da quantidade de sacrifícios de seres humanos no altar do Capital, saindo renovado das cinzas do proletariado reinicia novamente seu ciclo até a próxima crise. Há, portanto, um “deus” no altar do mercado financeiro.

Mas os seus adoradores sempre se esquecem que essa divindade está fundada sobre o Trabalho Abstrato, realizado pelo Proletariado em todas as partes do globo, volta e meia essa realidade é escancarada caindo como um raio sobre as suas cabeças, lançado por um Moisés furioso, nessas situações a realidade revela momentaneamente que o Trabalho Abstrato realizado pelos produtores de Capital, os trabalhadores e sua Força de Trabalho, que produzem as Mercadorias e o Capital são o elemento fundante do ser do Capital.

 

8.      Considerações Finais

 

Na introdução citamos como exemplo de utilização da categoria Trabalho Alienado, Silvia Federici e seu Livro “Calibã e a Bruxa”, porém, o teórico de maior envergadura cuja obra tem como grande pilar a categoria Trabalho Alienado é István Mészáros, sua concepção sobre o capitalismo é predominante na academia e em grande parte dos movimentos e partidos anticapitalistas.  Como demonstrou, Oliveira (2021) em sua tese “Para Além ou Para Aquém do capital? Apontamentos Críticos Acerca do Universo Categorial de István Mészáros”.

Em sua análise minuciosa da obra máxima do filosofo húngaro, Oliveira (2021) demonstra com grande rigor as implicações desta obra - tanto teóricas quanto práticas- para a luta do proletário contra o Capital.

Com escrevemos neste artigo, Marx abandona o carácter negativo da Categoria Alienação utilizada nos manuscritos e adota a categoria Fetichismo em o Capital conforme demostrado por Tumolo (2019) a incompreensão da categoria Fetichismo é danosa para os que lutam contra o Capital.

O Livro de Bueno (2021): “A teoria do fetichismo em Karl Marx e a educação” - na qual no qual autora publica sua análise de vital importância sobre o tema - é sem dúvidas fundamental, incontornável, para conhecermos a fundo o oponente do proletariado em sua luta pela Emancipação.

As duas obras fundamentais (Oliveira e Bueno), oferecem um arsenal poderoso para aqueles que estão na luta contra a relação anticapitalista, na luta contra a exploração capitalista da grande maioria da humanidade por uma "meia dúzia" de exploradores. Recomendamos o estudo de ambas e também de “O Capital” para aqueles que querem cientificamente compreender o capitalismo.

Para travar um bom combate com reais possibilidades de vitória, não podemos procurar justificar nossas hipóteses e argumentos "ao bel prazer",  encaixando de forma arbitrária a realidade ás nossas ideias, escolhendo partes das obras de Marx - negando a totalidade de sua pesquisa e  ignorando a incontornabilidade de sua obra maior que  revelou o Ser do Capital utilizando um rascunho, anotações de um estudioso como se fosse um livro sagrado em trechos recortados, quando o próprio autor publicou sua obra magna, sua obra prima, que estes senhores subestimam ou simplesmente abandonam. 

O método científico passa longe de recorrer a afirmações categóricas, ora nos Grundrisse, ora nos Manuscritos, opondo rascunhos e esboços frente ao trabalho onde está a grande descoberta de Marx. Que nome deveríamos dar a tal prática?

Em nome das “teses” mais estapafúrdias Marx é colocado no ringue contra ele próprio, como se existisse um Marx cindido, um jovem e um velho - nunca se falou e se estudou tanto um homem, e ao mesmo tempo se conheceu tão pouco sobre ele.

E onde aposta a esquerda atualmente?  No “jovem”! Cegos pela aparência mais mesquinha e tacanha, esses cavaleiros carregam em sua fronte três palavras marcadas a ferro: Trabalho Alienado, Alienação e Estranhamento.

Eis aí a sua santíssima trindade! Agarrados a esses conceitos como os hebreus se agarraram ao bezerro de ouro.

Frente a essa esquerda do e para o Capital, o que nós Emancipacionistas afirmamos é simples:

 - “Seu ringue na realidade não passa de um altar onde insistem em fazer sacrifícios ao deus Capital! A obra-prima não pode ser convertida em um ‘ícone inofensivo’!”

Nosso ponto de partida é a obra-prima, nossa luta é contra o capitalismo com o objetivo claro de dar fim a todas as degradações e conquistar a Emancipação Humana.

Não podemos nos dar ao luxo de abandonar nossa poderosa veste teórica – O Capital -, os Capitalistas e suas grandes corporações não brincam em serviço, em nome do lucro utilizam seu Estado para os fins da acumulação sempre crescente de Capital, e no caso da Palestina cometendo um genocídio sem mover sequer uma única ruga.

O capital não só nasceu escorrendo sangue por todos seus poros como continua a se alimentar da exploração do proletariado, sugando com toda sanha seu sangue, músculos, nervos e cérebros.

Criamos esse ser com nossas mãos! Pela exploração, por meio do nosso Trabalho Abstrato ele se mantém vivo, podemos destruí-lo assim como o criamos, por meio de nossas próprias mãos.

E se alguém nos questionar por onde andará a Emancipação Humana, responderemos:

Ela está encarnada em todos aqueles que buscam “por quaisquer meios necessários” - como diria Malcolm X - o fim da exploração capitalista.

Na luta do esboço contra a obra prima, nós, apesar da moda reversa, ficamos com a obra capital.

Por Malcolm S. Dias 

 

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 Leituras Recomendadas:

1- PARA ALÉM OU PARA AQUÉM DO CAPITAL? APONTAMENTOS CRÍTICOS ACERCA DO UNIVERSO CATEGORIAL DE ISTVÁN MÉSZÁROS - ANDRÉ RICARDO OLIVEIRA

Link de acesso:

https://drive.google.com/file/d/1HfE2SIwD8NnQE-JnFIbicJPkTLFdfHHT/view

2- A TEORIA DO FETICHISMO EM KARL MARX E A EDUCAÇÃO - JULIANE ZACHARIAS BUENO

Link de acesso: 

https://www.google.com/url?sa=t&source=web&rct=j&opi=89978449&url=https://editoriaemdebate.ufsc.br/catalogo/wp-content/uploads/JULIANE_BUENO-TEORIA-DO-FETICHISMO.pdf&ved=2ahUKEwjmjczLs8GOAxVsqpUCHXimGnoQFnoECBYQAQ&usg=AOvVaw3Ak2bb1JY3f1f7M-iTB1aQ

3- TRABALHO, CAPITAL E FORMAÇÃO DA CLASSE TRABALHADORA 

TRABALHO ALIENADO E CAPITAL EM MARX: CONTRIBUIÇÕES PARA UM DEBATE - PAULO SERGIO TUMOLO 

Link de acesso: 

https://www.google.com/url?sa=t&source=web&rct=j&opi=89978449&url=https://editoriaemdebate.ufsc.br/catalogo/wp-content/uploads/TUMOLO-TRABALHO-CAPITAL-CLASSE-EBOOK.pdf&ved=2ahUKEwjS5vD1u8GOAxXCDrkGHUjQKo8QFnoECBUQAQ&usg=AOvVaw23-tCte3mkyP6mI80UXfbT 

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Referências

OLIVEIRA, André Ricardo. Para além ou para aquém do capital? Apontamentos críticos acerca do universo categorial de István Mészáros. 2021. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Ciências da Educação, Programa de Pós-Graduação em Educação, Florianópolis, 2021.

BUENO, Juliane Zacharias. A teoria do fetichismo em Karl Marx e a educação [recurso eletrônico]. Florianópolis: Editoria Em Debate/UFSC, 2021.

TRABALHO, capital e formação da classe trabalhadora [recurso eletrônico] / Paulo Sergio Tumolo (org.); Neide de Almeida Lança Galvão Favaro [et al.]. Dados eletrônicos. Florianópolis: Editoria Em Debate/UFSC, 2019.

MARX, Karl. Cadernos de Paris e Manuscritos Econômico-Filosóficos de 1844. São Paulo: Expressão Popular. [1ª reimpressão, 2017].

MARX, Karl. O Capital: Crítica da Economia Política. Livro I, tomo 1. São Paulo: Abril Cultural, 1983.

MARX, Karl. O Capital: Crítica da Economia Política. Livro I, tomo 2. São Paulo: Abril Cultural, 1984a.

MARX, Karl. O Capital: Crítica da Economia Política. Livro II. São Paulo: Abril Cultural, 1984b.

MARX, Karl. O Capital: Crítica da Economia Política. Livro III, tomo 1. São Paulo: Abril Cultural, 1984c.

MARX, Karl. O Capital: Crítica da Economia Política. Livro III, tomo 1. São Paulo: Abril Cultural, 1985.

MARX, Karl. Trabalho Assalariado e Capital. São João del Rei, 2009. E-book.

LENIN, Vladímir Ilitch. O Estado e a revolução: a doutrina do marxismo sobre o Estado e as tarefas do proletariado na revolução. São Paulo: Boitempo, 2017.

FEDERICI, Silvia. Calibã e a Bruxa: mulheres, corpo e acumulação primitiva. São Paulo: Elefante, 2017. 

https://valor.globo.com/financas/noticia/2021/11/18/touro-de-wall-street-conheca-a-historia-de-um-simbolo-de-forca-e-poder.ghtml

https://borainvestir.b3.com.br/tipos-de-investimentos/renda-variavel/acoes/bull-market-e-bear-market-o-que-sao-e-quando-acontecem/

https://super.abril.com.br/coluna/oraculo/por-que-o-touro-e-simbolo-da-bolsa-de-valores/#google_vignette

 



[1] Definição presente no Dicionário de Economia (Os Economistas), Editora Abril Cultural, 1985.