terça-feira, 5 de julho de 2016

Último Credo

Este poema foi retirado do livro, Eu e outras poesias, edição de 1928 que por acaso temos em nossos arquivos. Augusto dos Anjos, médico e poeta, acostumado a ver a dor e a decomposição do homem. Transformou esta fragilidade e toda a dor da humanidade em poesia e nos deixou uma joia rara que agora compartilhamos: Último credo. A recomendamos aos alunos do segundo grau e todos os trabalhadores da educação e da produção do pão nosso de cada dia. Sem poesia a existência seria insuportável.


Último Credo

Como ama o homem adúltero o adultério
E o ébrio a garrafa tóxica de rum
Amo o coveiro – este ladrão comum
Que arrasta a gente para o cemitério

É o transcendentalíssimo mistério!
É o nous, é o penuma , é o ego  sum qui sum
É a morte, é esse danado número Um
Que matou Cristo e que matou Tibério

Creio, como o filósofo mais crente
Na generalidade decrescente
Com que a substância cósmica evolui

Creio, perante a evolução imensa,
Que o homem universal de amanhã vença
O homem particular que ontem fui
                                                        Augusto dos anjos

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