Em tempos de
polêmica sobre a Educação de Gênero, Pablo Vitar na música e Tiffany no vôlei, reascendem o debate. O festival
de besteiras que são comuns nas redes sociais, nas rodas de conversas, no
Congresso Nacional, etc, enfim, em todas as esferas da sociedade, pede informação para
auxiliar o debate. Por isto, compartilhamos o esclarecedor artigo do Professor
Marcos Francisco, pulicado na Revista Espaço Acadêmico (REA).
Você pode achar estranho que o artigo não trate diretamente dos personagens citados, mas ele é perfeito para entendermos a polêmica. Esperamos assim contribuir para que o debate seja
produtivo e
ajude a combater o preconceito e a ignorância sobre o tema. Quem
sabe
assim vamos nos tornando seres humanos melhores.
Sexo é uma coisa e gênero outra
MARCOS FRANCISCO MARTINS*
Tenho recebido
vídeos com pessoas religiosas criticando o que chamam de “ideologia de gênero”.
Tenho respondido que conheço e convivo com a comunidade LGBT e nunca li e nem
vi gay defendendo o fim da família, mas pedindo respeito aos diferentes tipos
de união, como a formada por dois homens e duas mulheres. Dia desses, uma aluna
estava a me contar uma “história linda”, nas palavras dela: o cara com quem
estava “ficando”, ajoelhou-se frente a ela, durante um festival universitário,
e a pediu em namoro, com alianças nas mãos. Sabe por quem ele foi criado? Por
uma família! Mas família formada por duas mulheres!
Seria ridículo
duvidar que “homem nasce homem e mulher nasce mulher” (frase repetida nos
vídeos), pois isso é incontestável não só para religiosos, mas também para a
biologia. Quando alguém fala isso está se referindo ao “sexo” (feminino e
masculino) e não ao “gênero”. Sexo é uma coisa e “gênero” outra! “Sexo”
refere-se aos atributos físico-biológicos, às funções do organismo: só o
“homem” pode inseminar a “mulher”! “Gênero” diz respeito a como se vê o próprio
corpo e como lida com ele. Eu tenho amigos que são do “sexo” masculino, mas
preferem se vestir, ter gestos e comportamentos ligados ao “sexo” feminino. E
são felizes assim… até que alguém tenta impor a eles outro “gênero”!
Nasce-se com o
“sexo” (masculino/feminino), mas a orientação em relação ao “gênero”, que será
assumida ou não, é formada pelo complexo que envolve questões biológicas,
sociais, culturais, psicológicas, religiosas, morais etc. Academicamente, isso
é traduzido na frase: “‘Gênero’ é uma construção social!”. “Gênero” envolve
coisas complicadas como gostos e desejos em relação a mim mesmo e às outras
pessoas. Eu, por exemplo, gosto da Ponte Preta, mas é difícil explicar como
isso surgiu em mim. Alguém acha que simplesmente escolhi torcer para a Ponte?
Não! Esse desejo surgiu em mim. E eu sofro com isso, mas sou feliz, mesmo
torcendo para esse time, que parte das pessoas não gostam. Quem tem um “gênero”
que difere do “sexo” com o qual nasceu, também sofre, porque amigos, parentes,
pastores … querem lhe impor desejos que não são deles. Já pensou alguém me
dizendo: “Professor, torcer para a Ponte Preta está errado; você tem que gostar
do Guarani!”. Posso até me calar no momento, caso alguma coisa que fale resulte
em agressão, mas a imposição não mudará o meu desejo. O meu desejo é
incontrolável!
Na sociedade em que
vivemos, quem assume que tem outra orientação de “gênero” sofre com intensidade
e, em muitos casos, é violentado física e psicologicamente. Veja as inúmeras
reportagens disponíveis sobre isso na Internet.
Sempre me preocupei
com o mundo, mas o que tem me assustado, ultimamente, é que, com a internet,
muitos falam de coisas que desconhecem, falam sem propriedade e são seguidos
por outros, que espalham ainda mais o que foi dito. Veja, por exemplo, essa
reportagem sobre o ridículo da ignorância: “Polenguinho é atacada após post
sobre Pink Floyd ser confundido com arco-íris LGBT”. É o mundo da “pós-verdade”
(mentira tão espalhada, que é assumida como verdade), que chegou a eleger o
atual presidente dos EUA.
Se há professor que
tenta impor determinado “gênero” às crianças, ele deve ser reprovado, até
porque não terá sucesso, pois “gênero” não se impõe: é uma “construção social”.
Todavia, considero uma das tarefas mais importantes da escola ensinar as
crianças a respeitar as pessoas como elas são, mesmo que sejam diferentes. Nos
casos recorrentes de o professor saber que determinado aluno(a) está sendo
maltratado pelos colegas, por outros docentes, pelos irmãos de fé e até pela
família, porque está manifestando determinada orientação de “gênero”, é papel
do professor acolher o aluno(a) e dar-lhe a possibilidade de viver em sala de
aula de maneira digna, sendo respeitado(a), sem ser agredido(a).
Enfim, como os
vídeos envolvem religiosos, posso dizer que, pelo meu espírito cristão, eu
penso que as pessoas devem ser condenadas por muitas coisas, menos por amar
outra, seja ela do mesmo “sexo” ou não. A propósito, isso, ao meu juízo, foi
uma das principais mensagens deixadas por Jesus Cristo, creia-se nele ou não.
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