domingo, 21 de fevereiro de 2021

Ecos de 2020!

Emilio Gennari

No calendário dos povos, 2020 ficou para trás. Seria ótimo se, ao findar um ano tão sofrido, fosse possível começar um novo tempo sem o fardo por ele deixado. Infelizmente, as angústias do passado ressoam entre as esperanças de 2021, marcam o ritmo dos seus passos, fazem tremer as projeções dos economistas e deixam perplexos aqueles que querem mudar os rumos do presente.

O mundo que levou sete meses para chegar ao primeiro milhão de vítimas da Covid-19 dobrou esse número 90 dias depois e, diante das novas cepas do coronavírus, mais contagiosas e mais letais do que as anteriores, assiste a uma nova enxurrada de dor e sofrimento sem saber ao certo quando sairá deste pesadelo.1

Enquanto as vacinas permanecem na esfera dos sonhos de consumo, as paralisações das atividades econômicas em vários países ameaçam a recuperação dos estragos produzidos pela crise e projetam a necessidade de tempos ainda mais longos para que o emprego e a renda voltem aos patamares de 2019.

Em 2020, o esforço dos estados para manter vivo o capital alcançou níveis inéditos e promete novas medidas ao longo deste ano. Com base nos dados da União Europeia e de outros 97 países, o Bank of America afirma que, em meados de dezembro, a injeção de dinheiro público já havia alcançado os 25 trilhões de dólares, quase 30% do PIB global de 2019, estimado em 83 trilhões e 840 bilhões de dólares.2

Quando é para salvar o capital com estímulos ao consumo, isenções fiscais, perdão das dívidas, empréstimos a juros irrisórios, o dinheiro nunca é um problema, ainda que parte considerável dos investidores use os recursos públicos para buscar na valorização artificial das ações os lucros que a produção real não pode oferecer.

Entre os exemplos mais emblemáticos deste processo, encontramos o caso da Tesla, uma empresa de carros elétricos cujas ações conheceram uma valorização de 734,4%, em 2020. Um resultado fantástico que não pode ser explicado pelo lucro de 721 milhões de dólares, o primeiro da história, após um prejuízo de 862 milhões de dólares em 2019. 3 Graças a esta façanha, o patrimônio pessoal de Elon Musk, o maior acionista da empresa, passou de 27 bilhões e 700 milhões de dólares, em 2019, para 160 bilhões e 700 milhões de dólares em 2020, um aumento de 482%.4

Enquanto poucos felizardos sorriam ao ver suas fortunas crescerem como cogumelos na chuva, milhões de trabalhadores tinham suas vidas inundadas por uma enxurrada de sofrimentos.

Ao passar o bastão do tempo, 2020 emitiu inúmeros gemidos de angústia e de dor cujos ecos permeiam os primeiros vagidos de 2021. A análise que aqui iniciamos busca resgatar os sons que permitem delinear os desafios dos próximos meses.

  1. Quando as boas notícias escondem as ruins.

No dia 26 de janeiro, o Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgou um novo relatório com as estimativas do PIB para 2021. A cooperação internacional para controlar a pandemia, a manutenção das politicas destinadas a frear os efeitos da crise econômica e a eficácia das vacinas são as colunas sobre as quais os técnicos do Fundo assentam as apostas de uma aceleração das atividades econômicas no segundo semestre deste ano.

Vejamos o que dizem os números:5


Quadro 1: Estimativas de crescimento do PIB veiculadas em out de 2020 e em jan de 2021.

Países

2021 (out)

2021 (jan)

Diferença em pontos percentuais

Mundo

5,2%

5,5%

0,3

Estados Unidos

3,1%

5,1%

2,0

Zona Euro (19 países)

5,2%

4,2%

- 1,0

China

8,2%

8,1%

- 0,1

Japão

2,3%

3,1%

0,8

América Latina e Caribe

3,6%

4,1%

0,5

Fonte: elaboração própria a partir dos dados do FMI.


De acordo com o FMI, em 2021, a economia mundial deve crescer 5,5% em relação ao patamar de 2020, na que se configura como uma melhora de 0,3 ponto percentual em relação às estimativas divulgadas em outubro passado. O PIB da China que, em 2020, registrou uma alta de 2,3%, teve a projeção de crescimento de 2021 reduzida em 0,1 ponto percentual.6 Por sua vez, a economia estadunidense, após sofrer uma queda de 3,5% no ano passado, deve crescer 5,1%, superando levemente a produção de riquezas registrada em 2019.

Apesar da melhora na projeção de desempenho, Japão e América Latina continuam precisando de parte considerável do próximo ano para recomporem as perdas da crise.7 Realidade semelhante é apontada na Zona Euro onde a gravidade da pandemia fez as expectativas de crescimento caírem 1 ponto percentual.

No dia 26 de janeiro, a Conferência das Nações Unidas sobre o Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) divulgou os dados relativos aos investimentos estrangeiros que se destinam às atividades produtivas. O impacto da crise econômica que assolou a economia mundial em 2020 é visível na redução de 42,31% destes recursos que passaram de um trilhão e 489 bilhões de dólares, em 2019, para 859 bilhões de dólares em 2020.

Os EUA assistiram a uma queda de 49% ao registrar a entrada líquida de apenas 134 bilhões de dólares, enquanto a Europa se deparou com um desinvestimento de 4 bilhões de dólares. Ou seja, no balanço de entradas e saídas, no lugar de registrar um saldo positivo, o velho continente perdeu uma pequena parte do capital produtivo instalado no seu território.

A América Latina viu esse tipo de investimento cair 37% ao passar de 160 bilhões de dólares para 101 bilhões de dólares. No México, o recuo foi de apenas 8%, enquanto no Brasil atingiu os 50% devido, sobretudo, à frustração do programa de privatizações.

Na contramão da tendência mundial, a China viu estes recursos aumentarem 4% em relação a 2019 para um total de 163 bilhões de dólares. Pela primeira vez na história, o gigante asiático superou os EUA como destino dos investimentos estrangeiros diretos com um resultado que, apesar de pequeno, confirma as preocupações mundiais que apontávamos em nossa análise de dezembro de 2020. 8

Diante delas, o discurso do presidente da China na abertura do Fórum Econômico Mundial em Davos, mostrou que o seu país acredita no multilateralismo e na cooperação internacional e que está preparado para responder às políticas que marcham em sentido contrário.

De um lado, Xi Jinping defendeu que, diante das incertezas que marcam a recuperação econômica global, é necessário aumentar a integração entre os países, promover o crescimento sustentável e inclusivo, abandonar os preconceitos ideológicos, reduzir a divisão entre nações desenvolvidas e em desenvolvimento e somar forças diante dos desafios globais criados pela pandemia. De outro, deixou claro que “Construir pequenos círculos ou começar uma nova Guerra Fria para rejeitar, ameaçar ou intimidar outros países (...) irá só empurrar o mundo para a divisão e até para os confrontos”. Diplomaticamente, Pequim mandou um recado a Joe Biden: a China não quer guerra, mas não se dobrará às manobras dos EUA que buscam reafirmar a supremacia estadunidense.9


  1. As marcas de Trump no governo Biden

A relação dos EUA com a China continua ao centro das expectativas que cercam a definição da política externa de Biden. As tensões aumentaram em janeiro quando, no apagar das luzes do seu mandato, Donald Trump levantou as restrições da Casa Branca aos contatos diretos com os diplomatas taiwaneses. Trata-se de um passo que amplia o apoio de Washington à independência de Taiwan e entra em confronto aberto com a China que vê a ilha como parte inviolável do seu território.10

A confirmação de que se trata de uma política de Estado, e não de um gesto inoportuno do ex-presidente, veio no dia 28 de janeiro quando, após a China aumentar suas atividades militares em volta da ilha, Biden reafirmou os compromissos dos EUA com Taiwan.11

Pequim recebeu a fala do presidente recém-eleito como uma ameaça, à medida que o “compromisso” estadunidense implica em levar adiante a política de armar Taiwan, iniciada em julho de 2019 (quando o Congresso dos EUA aprovou uma venda de armas de caráter defensivo no valor de 2 bilhões e 200 milhões de dólares ao governo de Taipé), e em aprofundar o apoio político e econômico aos movimentos independentistas da ilha.12

A resposta do Ministério da Defesa chinês não deixa margem a dúvidas: “Seriamente, dizemos a essas forças independentistas taiwanesas: aqueles que brincam com o fogo se queimarão e a independência de Taiwan significa guerra”.13

Horas depois, os EUA acusaram o golpe e buscaram colocar panos quentes dizendo que as tensões atuais não devem levar “a nada que se pareça com um enfrentamento”. Mas, apesar do tom tranquilizador de Washington, é inegável que as posições defendidas por China e EUA elevaram em alguns graus a temperatura do caldeirão onde fervem as tensões entre os dois países.14

Se isso não bastasse, Trump também acusou Pequim de genocídio pela forma como trata os uigures, uma minoria étnica da província de Xinjiang que vem denunciando condições de trabalho análogas à escravidão nas lavouras de algodão e a esterilização em massa de suas mulheres.15

Ao fazer isso, o ex-presidente não só comprometeu Biden que, durante a campanha eleitoral, chamou Xi Jinping de “mafioso” e usou o termo “genocídio” para se referir à relação de Pequim com esta minoria étnica, como busca mostrar o acerto de suas posições em relação à China e a necessidade de Biden seguir os passos por ele traçados.16

Inicialmente, um dos caminhos com os quais o novo presidente dos EUA planejava pressionar o gigante asiático estava em somar forças com aliados tradicionais para articular uma política de contenção às aspirações chinesas. A primeira tentativa desta construção seria com a União Europeia, mas esta possibilidade se esgotou antes mesmo de ser viabilizada.

No dia 30 de dezembro de 2020, UE e China fecharam o acordo de investimentos que vinha sendo negociado há 7 anos. As mais de mil páginas que definem as relações entre as partes assentam-se em três pilares fundamentais para a UE: transparência no sistema de subsídios com o qual o Estado beneficia as empresas chinesas dentro e fora do país; maior igualdade de condições de acesso aos mercados chineses por parte das empresas europeias; e regras que freiam a transferência de tecnologia para a China. Pode parecer pouco, mas, no momento, é quanto basta para Pequim dialogar com os interesses dos principais países do bloco a fim de impedir a aproximação dos EUA com a UE.17

O clima de cooperação desejado pelo FMI como ambiente capaz de transformar estimativas de crescimento em realidade é ameaçado também por outras duas medidas assinadas por Trump antes de deixar a Casa Branca.

Na primeira delas, o ex-presidente coloca Cuba na lista de países que patrocinam o terrorismo internacional em função da recusa de Havana de extraditar os guerrilheiros do Exército de Libertação Nacional da Colômbia acusados de realizarem um atentado a bomba em Bogotá, em janeiro de 2019.18 Esta medida situa Trump na posição que os estadunidenses consideram correta e cobre com o manto da desconfiança o desejo de Biden de melhorar as relações com Cuba.

Ainda mais grave pelas consequências que projeta, o ex-presidente dos EUA acusa o Irã de sediar o novo quartel general da Al Qaeda e de apoiar os huties do Iêmen uma organização rebelde que há anos enfrenta uma coalizão liderada pela Arábia Saudita e que Trump colocou na lista das organizações que Washington considera terroristas.19

Ao golpear o Irã com estas afirmações, o ex-presidente incendeia o ambiente no qual Biden pretende retomar as negociações para a assinatura de um novo acordo nuclear com Teerã. Um ambiente cuja temperatura subiu após o Irã afirmar que se recusa a aceitar pré-condições referentes à produção de urânio enriquecido nas instalações do país e pede que, além de remover as sanções, Washington pague uma indenização correspondente aos danos econômicos por elas causados.

Neste contexto, o obstáculo mais sério à retomada do diálogo está justamente no processo de enriquecimento do urânio. Em julho de 2019, Teerã optou por ultrapassar a barreira dos 3,67% destinada a fabricar o combustível para as usinas nucleares que produzem a energia elétrica do país e elevou os estoques deste material a um patamar doze vezes superior ao volume máximo previsto no acordo de 2015.

Em dezembro de 2020, o Parlamento iraniano contrariou mais uma vez o acordo de 2015 ao aprovar uma lei que impede as inspeções da ONU nas instalações nucleares do país e elevar a 20% a taxa de enriquecimento do urânio.20 Esta medida, além de reafirmar a independência do país em questões de política nuclear, guarda uma relação direta com as eleições presidenciais, marcadas para junho deste ano.

De um lado, a piora da realidade econômica trazida pelas sanções dos EUA desgastou o apoio popular ao atual presidente Hassan Rouhani, um moderado que gostaria de melhorar as relações com o Ocidente. De outro, fortaleceu os setores que pregam o enfrentamento aberto com os Estados Unidos e que, partindo do fato de que não foi o Irã a romper o acordo, criaram as condições para a aprovação da lei.

Recusar o cumprimento desta norma ou atrasar o processo de enriquecimento a 20% daria aos grupos radicais motivos suficientes para acusar a cúpula dirigente de submeter o país aos desmandos estadunidenses. Com uma opinião pública sensível a esse tipo de discursos, a possibilidade de uma derrota eleitoral de Rouhani colocaria em maus lençóis o próprio aiatolá Ali Khamenei que, no papel de autoridade máxima do país, vê com bons olhos a ideia de recolocar o Irã na rota de aproximação ao Ocidente.21

Neste campo minado, os primeiros passos de Biden, de um lado, se afastam das reivindicações iranianas ao negar o fim das sanções antes da assinatura de um novo acordo, e, de outro, estendem a mão a Teerã ao retirar o apoio militar à coalizão liderada pela Arábia Saudita na guerra contra os huties, no Iêmen.

Quanto à inclusão dos rebeldes iemenitas na lista de organizações que Washington considera terroristas, o novo governo dos EUA parece querer adiar a sua decisão para o momento em que as críticas da ONU relativas às dificuldades que esta inclusão impõe à entrega da ajuda humanitária à população iemenita criarem um clima que justifica a volta à situação anterior às últimas medidas de Trump.22


  1. As agruras do Brexit e as angústias que a direita planta na Europa.

Contrariando os temores gerados pelo forte atraso nas negociações do Brexit, o acordo para que o Reino Unido deixasse amigavelmente a União Europeia saiu nos estertores de 2020. Mas as comemorações que ambos os lados fizeram para festejar o feito foram rapidamente caladas pelos primeiros dissabores da separação.

O ponto crucial da negociação entre as partes estava no interesse de Bruxelas de fixar as regras de uma concorrência justa e leal na produção das mercadorias destinadas à exportação. A UE temia que o Reino Unido recorresse a subsídios ou a uma flexibilização da legislação trabalhista e ambiental a fim de aumentar a vantagem competitiva das suas empresas rumo a uma elevação das vendas externas que diminuísse os impactos negativos da saída do bloco.

Ao serem aplicadas, estas medidas colocariam os países da União Europeia diante da necessidade de impor tarifas alfandegárias às exportações britânicas, o que, por sua vez, seria respondido por Londres com medidas semelhantes. Nesta espiral de retaliações, o fluxo de comércio sofreria uma redução considerável, prejudicando as empresas instaladas nos dois territórios. Ao fixar mecanismos de vigilância e sanções em caso de descumprimento, o acordo trouxe alívio aos capitalistas de ambos os lados.

Contudo, isso não significa que não haja perdas e prejuízos tanto no Reino Unido como na União Europeia. A França, por exemplo, é o país mais afetado pelo corte de 25% a 35% das cotas pesqueiras em águas britânicas reservadas às frotas dos países da UE. Do lado britânico, as empresas escocesas que atuam na pesca de mariscos esbarram nos rígidos controles sanitários dos produtos que se destinam à União Europeia. Os fortes atrasos nos embarques já fizeram apodrecer uma quantidade considerável do pescado por falta de condições de armazenamento. Além de encarecer os custos para o consumidor final, esta situação ameaça reduzir as frotas pesqueiras e, obviamente, os empregos do setor.23

Lojas e restaurantes da Grã Bretanha e da União Europeia já estão sentindo no aumento dos preços dos importados os efeitos negativos do rigor com o qual são efetuadas as fiscalizações alfandegárias. Aumentos dos preços atingem também os produtos que, por conterem partes fabricadas fora da UE e do Reino Unido, sofrem a imposição de tarifas alfandegárias. De fato, as regras do país de origem fazem com que muitas empresas que dependem de insumos importados fora desses territórios paguem mais impostos ao exportar seus manufaturados do Reino Unido para a União Europeia e vice-versa. O encarecimento destes produtos, e a consequente queda nas vendas, estão levando muitos fabricantes a suspenderem boa parte das importações que garantem seus suprimentos e a cancelarem as encomendas recebidas. Esta situação deve perdurar até que se encontrem fornecedores locais que se encaixem nas normas definidas pelo acordo.24

A soma entre a redução do volume de comércio, a elevação dos tempos e o aumento dos custos das viagens levaram as transportadoras a cancelarem os contratos assinados antes do Brexit e a renegociar tanto os valores dos fretes, como os prazos de entrega.25

As novas regras alfandegárias têm criados surpresas desagradáveis também para os caminhoneiros encarregados de levar as exportações britânicas aos mercados europeus. Além das filas intermináveis nos postos de fiscalização e da demora na realização dos procedimentos alfandegários, a queixa mais comum diz respeito ao sequestro dos lanches e demais produtos alimentícios que trazem de casa. Segundo as normas da União Europeia, os viajantes procedentes de países fora do bloco não podem introduzir qualquer produto que contenha carne, leite e seus derivados, sob pena de retenção pelos fiscais que atuam nas fronteiras.26

Mas se perder a refeição é irritante e pagar mais pelos mesmos produtos dói no bolso, vários problemas mais sérios ainda não tiveram tempo de se manifestar. Sem a livre circulação de pessoas entre Reino Unido e União Europeia, os profissionais de várias áreas (como medicina, enfermagem, arquitetura e engenharia) que, antes do Brexit, tinham seus diplomas homologados automaticamente, agora terão que passar por testes e processos burocráticos suplementares para reconhecer os títulos de estudo conseguidos fora do país. Nas universidades, os programas de intercâmbio sofrerão restrições e a possibilidade de trabalhar no exterior dependerá da concessão de vistos específicos.

Mas o primeiro atrito mais sério do período pós-Brexit é motivado pelo atraso no fornecimento das vacinas produzidas pela Oxford-Astra Zeneca. A UE investiu bilhões de euros na produção desta vacina e esperava receber 80 milhões de doses até o final de março. De acordo com as informações disponíveis, o bloco conseguirá apenas 31 milhões de doses, menos da metade do previsto, enquanto o abastecimento do imunizante no Reino Unido não enfrenta restrições.

A Astra Zeneca alega que a Grã Bretanha reservou as doses e aprovou o imunizante antes da Comissão Europeia encarregada deste processo, razão pela qual ela está recebendo a vacina segundo o cronograma esperado sendo que, devido à forte demanda, a UE terá que esperar um pouco mais. Diante deste quadro, a Espanha teve que suspender a imunização em Madri e a França está preste a fazer o mesmo em Paris. A tensão com o fabricante do Reino Unido acirra os ânimos, alimenta o nacionalismo nos dois lados e levou a Comissão Europeia a ameaçar o bloqueio das exportações da vacina da Pfizer, produzida na Bélgica.27

Mas os problemas da Europa não se limitam ao desgaste causado pelos primeiros passos do Brexit. Após os embates infrutíferos contras as políticas de combate da pandemia, o partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AFD, na sigla em alemão) trata de reorganizar suas fileiras em volta de temas que mostram a piora das condições de vida em amplos setores da população. Entre eles, as filas de idosos nas paróquias onde se distribui comida e os aposentados que, apesar de doentes, trabalham repondo mercadorias nas prateleiras dos supermercados, entregando jornais de madrugada ou recolhendo material reciclável nas lixeiras espalhadas pelas ruas são parte do arsenal com o qual a AFD mostra que o governo não cuida dos alemães.

As estatísticas oficiais estimam que a população maior de 65 anos em risco de pobreza (ou seja, com uma renda inferior aos 430 euros mensais) passou de 4,7% em 2005 para 15,7% em 2019, perfazendo um contingente de quase 2,7 milhões de pessoas. A porcentagem deste grupo que se vê obrigada a trabalhar passou de 8% em 2009, para 18% em 2019, tornando as cenas que citávamos bem mais visíveis e corriqueiras em qualquer cidade do país.

Em janeiro deste ano, começou a ser paga uma renda básica que se destina a complementar as aposentadorias mais baixas de quem mantêm filhos, cônjuge ou outras pessoas sob os seus cuidados. Estima-se que o benefício seja concedido a um milhão e 300 mil pessoas, menos da metade das que se encontram em risco de pobreza.

Difícil dizer até que ponto esta medida conseguirá minorar o ressentimento que muitos alemães têm em relação ao governo ao ver que os esforços de uma vida não são reconhecidos com uma aposentadoria da qual podem tirar o seu sustento sem depender de mais um trabalho precário ou da caridade alheia.28

Na Romênia, enquanto a mídia andava ocupada com os seguidos escândalos de corrupção que cercam o governo, os setores mais conservadores aproveitaram 2020 para organizar suas fileiras e, sem fazer alarde, criaram um partido para influir diretamente nas disputas parlamentares e governamentais. Contando com o apoio de sacerdotes ortodoxos radicais e das forças armadas, a Aliança para a União dos Romenos (AUR) se apresentou ao país como uma identidade antissistema, baseada em valores tradicionais de família, fé cristã, identidade nacional e liberdade, e com um discurso contrário à permanência na União Europeia, ao matrimônio entre pessoas do mesmo sexo, ao aborto e à minoria húngara que mora no país.29 Em dezembro do ano passado, a AUR surpreendeu ao conseguir 9% dos votos na que foi a sua primeira disputa eleitoral.

Silenciosamente e explicitando uma forte identificação com os anseios dos setores da sociedade que não costumam manifestar publicamente suas opiniões, mas que são sensíveis ao nacionalismo e aos apelos do conservadorismo, a direita continua semeando os elementos que esgarçam as bases da frágil identidade Europeia construída a duras penas após a segunda guerra mundial.


  1. A economia do Brasil nos números do emprego

De acordo com as estimativas oficiais, o PIB de 2020 deve sofrer uma retração entre 4,0% e 4,5%. Apesar de negativo, não se trata de um resultado ruim, sobretudo quando comparado às expectativas catastróficas que se desenhavam no começo da pandemia e ao desempenho dos demais países da América Latina.30

Para 2021, as projeções do Banco Central indicam um crescimento em torno de 3,5%, ou seja, não será este ano que a economia do país voltará ao patamar de 2019, que, por sua vez, ainda carregava as perdas da recessão de 2015 e 2016.

Além do avanço da pandemia, o horizonte de 2021 é marcado por vários fatores econômicos que agravam a sensação de incerteza. Entre eles, destacamos três que, a nosso ver, são determinantes para delinear com maior precisão os rumos do futuro.

O primeiro guarda relação com o número de vagas extintas em 2020. Ingenuamente, muitas pessoas focam suas atenções na taxa de desemprego ou no número de desocupados e não percebem as perdas de postos de trabalho que as regras estatísticas acabam ocultando. Para tomarmos o pulso desta realidade, vamos resgatar os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD-contínua), do IBGE, que se referem ao trimestre composto pelos meses de setembro, outubro e novembro e compará-los com o mesmo período de 2019: 31


Quadro 2 – emprego e desemprego no trimestre set-out-nov de 2019 e 2020

Indicador

Set-Nov 2019

Set-Nov 2020

Diferença

Var %

População Econ. Ativa

171.401.000

176.014.000

4.613.000

2,7

Na força de trabalho

106.279.000

99.601.000

- 6.678.000

- 6,3

Ocupada

94.416.000

85.578.000

- 8.838.000

- 9,4

Desocupada

11.863.000

14.023.000

2.160.000

18,2

Fora da força de trabalho

65.122.000

76.413.000

11.291.000

17,3

Fonte: elaboração própria a partir dos dados do IBGE.


O quadro 2 mostra que o número de pessoas com mais de 14 anos aumentou 2,7%, enquanto o contingente daquelas que integram a força de trabalho (o grupo dos ocupados e dos que desejam encontrar um emprego) caiu 6,3%. Considerando que o país atravessou uma das mais duras crises econômicas da sua história, a forte redução dos que integram a força de trabalho num cenário de crescimento da população economicamente ativa é uma primeira indicação de que um grupo expressivo de brasileiros e brasileiras deixou de procurar uma ocupação em função da baixíssima oferta de vagas do mercado de trabalho.

Os números que seguem confirmam a gravidade da situação ao mostrar que o contingente de ocupados perdeu 8 milhões e 838 mil pessoas. Deste total, 2 milhões e 160 mil indivíduos ingressaram no grupo dos que continuam procurando uma ocupação e, justamente por isso, são considerados desocupados.

Mas, onde estão aqueles que, ao perderem seus empregos desistiram de encontrar um e os que, apesar de terem mais de 14 anos de idade não estão na força de trabalho do país por não estarem procurando um trabalho?

Seguindo as regras que orientam as pesquisas do IBGE, este grupo passou a integrar a população que está fora da força de trabalho e que, no período considerado, conheceu um aumento de 17,3% em relação aos mesmos meses de 2019. Isso significa que, para termos uma ideia das vagas que faltam, precisamos somar os mais de 14 milhões de desempregados a uma parte considerável das 11 milhões e 291 mil pessoas que elevaram este contingente.

Diante deste quadro, a segunda preocupação diz respeito, justamente, a como este grupo que reúne cerca de 25 milhões de pessoas que deseja trabalhar, precisa desta renda, procura emprego ou desistiu momentaneamente de encontrar um por não ver possibilidades de encontrá-lo, vai conseguir meios para sobreviver.

A pesquisa Datafolha divulgada no dia 25 de janeiro confirma esta preocupação ao mostrar que 69% dos quase 67 milhões de brasileiros que receberam o auxílio emergencial não têm outra fonte de renda. Entre os beneficiados, 32% economizaram algum dinheiro, mas, para os 68% restantes, o que entrou foi totalmente gasto nas compras do dia-a-dia. Isso significa que, já neste mês de fevereiro, parte considerável da população que continua sem uma ocupação e sem perspectivas de encontrá-la em prazos razoavelmente curtos está engrossando os setores que vivem na pobreza e poderão criar tensões sociais em função à penúria em que se encontram.32

Sem nenhum tipo de auxílio emergencial, em 2021, a renda dos trabalhadores deve encolher 8% em relação a 2020, reduzindo ainda mais o consumo das famílias e a possibilidade de este contribuir para a recuperação da economia.33

Parte deste efeito negativo pode ser compensada pela poupança que, em 2020, viu seus recursos aumentarem em 166 bilhões e 310 milhões de reais em relação ao patamar de 2019.34 Oriundo de uma redução de gastos diante das incertezas do futuro, este dinheiro deve voltar ao consumo assim que a melhora da economia e do emprego convencer as pessoas de que podem gastar as reservas guardadas para os tempos difíceis. Mas, no momento em que escrevemos, nada garante que isso venha a acontecer em curto prazo.

A última preocupação diz respeito ao nível de atividade dos setores da economia e às apostas do empresariado num cenário em que a pandemia não dá sinais de trégua e a vacinação da população caminha a passos de lesma cansada.

A evolução do emprego em cada setor ajuda a termos uma visão do país a partir da realidade dos trabalhadores.

Vamos aos dados:35


Quadro 3: quadro comparativo do número de vagas em cada setor

Setor

Empregos

Set-Nov 2019

Empregos

Set-Nov 2020

Diferença

Var. %

Agricultura, pecuária, pesca, etc.

8.388.000

8.479.000

91.000

1,1

Indústria geral

12.105.000

10.972.000

- 1.134.000

- 9,4

Construção civil

6.925.000

5.922.000

- 1.004.000

- 14,5

Comércio, reparação veículos aut.

17.833.000

15.970.000

- 1.863.000

- 10,4

Transporte, armazenagem, correio

4.911.000

4.281.000

- 630.000

- 12,8

Alojamento e alimentação

5.613.000

4.112.000

- 1.501.000

- 26,7

Informação, comunicação, finanças, etc.

10.572.000

10.266.000

- 307.000

- 2,9

Adm. pública, defesa, seguridade, etc

16.561.000

16.621.000

60.000

0,4

Outros serviços

5.088.000

4.077.000

- 1.011.000

- 19,9

Serviços domésticos

6.400.000

4.853.000

- 1.547.000

- 24,2

Fonte: elaboração própria a partir dos dados do IBGE.


Na comparação entre os mesmos trimestres de 2019 e 2020, as marcas da crise são particularmente visíveis nos serviços domésticos, de alojamento e alimentação onde o corte de vagas ficou acima dos 20%, ao passo que os setores de comunicação, informação e finanças foram os menos atingidos com uma perda de 2,9%.

Fruto da redução dos lançamentos imobiliários diante da queda da demanda por moradias e salas comerciais, a construção civil viu o seu mercado de trabalho encolher 14,5%.

A redução de 12,8% nas vagas dos setores de transporte, armazenagem e correio reflete tanto o impacto da crise nas atividades econômicas, como a forte redução no número de passageiros no transporte aéreo e terrestre.

A indústria apresenta uma perda de 9,4% com a extinção de mais de 1 milhão e 100 mil postos de trabalho. Além do fechamento de um elevado número de fábricas36, o corte de vagas reflete a redução das atividades produtivas diante da incerteza na manutenção do nível da demanda após o fim do auxílio emergencial, os efeitos negativos da desvalorização do real frente ao dólar e a falta de insumos para a fabricação de vários produtos que, a partir de outubro de 2020, levaram a uma situação de escassez de matérias-primas em 11 dos 19 setores pesquisados pela Fundação Getúlio Vargas.37

Alguns exemplos ajudam a termos uma ideia do impacto destes fatores.

Com o dólar médio acima dos R$ 5,20, os exportadores que vendem parte da sua produção no mercado interno impuseram preços que trariam os mesmos ganhos das vendas para outros países. Foi o que ocorreu, por exemplo, com o quilo do fio de algodão que passou de R$ 13,00 no inicio de 2020 para R$ 30,00, em dezembro do mesmo ano, encarecendo as roupas muito acima do que a maioria dos consumidores podia pagar.

O aumento de 45% das compras online, registrado no ano passado, fez disparar a demanda de embalagens plásticas e de papelão. No caso das primeiras, as empresas produtoras se depararam com os entraves criados pela redução de 36% da capacidade produtiva da Braskem, a única empresa do país a fabricar resina plástica para este fim, o que fez os preços das embalagens aumentarem entre 60% e 80%. Por sua vez, o preço do quilo do papelão, devido aos efeitos da desvalorização do real e das exportações no mercado interno, subiu de R$ 10,00 para R$ 18,00.38

A partir de outubro do ano passado, empurrados pela ideia de evitar o transporte público nos deslocamentos do trabalho e melhor se protegerem do contágio, muitas pessoas pensaram em comprar um carro.

Em novembro, o aumento da demanda superou as expectativas mais otimistas do setor automobilístico ao ficar 15,5% acima do nível registrado mesmo mês de 2019. Contudo, devido à forte diminuição da produção nas montadoras, quem foi às concessionárias acreditando que sairia de lá dirigindo um carro zero quilômetros foi convidado a entrar numa fila de espera que, a depender do modelo, variava de 90 a 180 dias.39

Segundo o Índice de Preços ao Produtor, do IBGE, em 2020, a somatória destes fatores fez os preços da indústria aumentarem 19,40%, sendo que 7,11 pontos percentuais do total auferido se devem à desvalorização de 25,2% do real diante do dólar.40

A contratação de médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem para atender às necessidades da pandemia constitui parte significativa da elevação de 0,4% dos postos de trabalho na administração pública.

A agropecuária é o setor que apresenta os melhores resultados com um aumento das vagas de 1,1%. Únicos setores a crescerem em relação a 2019, a agricultura e a pecuária devem este resultado, sobretudo, ao aumento da demanda da China que contribuiu fortemente para fazer com que suas exportações somassem 100 bilhões e 810 milhões de dólares, uma elevação de 4,1% em relação ao desempenho de 2019.41

A exuberância destes números e a ênfase que é dada à sua divulgação escondem que a felicidade dos latifundiários foi paga com a tristeza dos consumidores brasileiros que se depararam com a forte elevação dos preços de vários produtos.

Ao levantar o valor da Cesta Básica na cidade de São Paulo, o DIEESE calcula que, entre janeiro e dezembro de 2020, o óleo de soja, por exemplo, teve seus preços médios elevados em 118,5%, o arroz agulhinha em 61,41%, a carne bovina em 24,84% e o café em pó em 21,67%.42

Enquanto o agronegócio lavava a égua com lucros superiores às suas melhores expectativas, os trabalhadores eram obrigados a fazer das tripas coração para comprar o básico.


  1. Um país de pernas para o ar

Diante da alta dos preços dos alimentos, do número de vítimas da Covid-19 e da forma como o governo lidou com a pandemia, os movimentos sociais e os partidos de esquerda esperavam uma queda significativa da aprovação do Presidente da República nas pesquisas de opinião.

Infelizmente, em dezembro de 2020, todos eles ficaram pasmos diante do relatório do Datafolha que apontava um aumento consistente das pessoas que apoiam o governo Bolsonaro em relação ao mesmo mês de 2019. As sensações não foram muito diferentes ao ver que, mesmo depois do caos no sistema de saúde em Manaus (AM), a aprovação do Presidente se mantinha longe de um patamar que possibilitasse o impeachment.

Vamos iniciar nossas reflexões resgatando os resultados das pesquisas citadas:43


Quadro 4: aprovação do governo Bolsonaro - Datafolha dez de 2019 e de 2020 e jan de 2021

Indicador

Dezembro 2019

Dezembro 2020

Janeiro 2021

Ótimo/bom

30%

37%

31%

Regular

32%

29%

26%

Ruim/péssimo

36%

32%

40%

Não sabe

1%

3%

3%

Fonte: elaboração própria a partir dos relatórios do Datafolha


Realizada entre os dias 8 e 10 de dezembro, a última pesquisa de 2020 revela que, em relação ao mesmo mês de 2019, Bolsonaro havia ampliado em sete pontos percentuais o contingente de pessoas que consideravam o seu governo como ótimo e bom, ao passo que a desaprovação caia de 36% para 32%.

Um mês e dez dias depois, quando a falta de oxigênio em Manaus, elevava o número de vidas perdidas pela Covid no Amazonas, a porcentagem de ótimo e bom caiu de 37% para 31% e a de ruim e péssimo foi a 40%.

Em primeiro lugar, é importante ressaltar que, apesar de a pesquisa Datafolha realizada em 20 e 21 de janeiro de 2021 indicar uma piora, os índices apresentados ainda mostram um nível de aprovação superior ao de junho do ano passado quando, ao apelar à possibilidade de um golpe militar, o Presidente da República viu a porcentagem de ótimo e bom cair a 29% e a de ruim e péssimo chegar a 44%.44

Como é possível que, entre os dias 8 e 10 de dezembro do ano passado, quando o país amargava 179.000 mortes pela Covid e a mídia não parava de denunciar a forma criminosa com a qual o governo lidava com a pandemia, o nível de aprovação tenha subido em relação ao que havia sido detectado um ano antes?45

Podemos encontrar alguns indícios de resposta na parte do relatório onde a pesquisa Datafolha compara a escolha dos principais problemas do país de acordo com a opinião das pessoas entrevistadas.

Levando em consideração que cada uma delas podia apontar um único problema, temos o resultado que segue:46



Quadro 5: principais problemas apontados nas pesquisas de dezembro de 2019 e de 2020

Categorias

05-06/12/2019

08-10/12/2020

Saúde

19%

27%

Desemprego

13%

13%

Economia

8%

8%

Corrupção

8%

7%

Educação

14%

6%

Governantes/governos/políticos/política

1%

5%

Violência/segurança

13%

4%

Covid/coronavírus/pandemia

- - -

3%

Fome/miséria

2%

2%

Inflação

- - -

2%

Má administração/falta de adm./governabilidade

- - -

1%

Presidente Bolsonaro

- - -

1%

Meio ambiente

1%

1%

Distribuição da renda/desigualdade social

- - -

- - -

Salário

1%

- - -

Outro problema

10%

11%

Não sabe

5%

8%

Fonte: elaboração própria a partir dos dados do Datafolha


Não é de estranhar que, tanto em 2019, como em 2020, o atendimento à saúde seja apontado como o principal problema do Brasil e nem que, no ano passado, as lacunas do SUS tenham mostrado uma gravidade ainda maior diante do avanço do coronavírus. O que causa espanto é que, algumas linhas depois, a pandemia tenha recebido apenas 3% dos votos dos entrevistados e que a avaliação negativa da ação política do presidente, governadores, ministros e parlamentares em geral não seja proporcional ao descaso com o qual trataram a saúde pública nos últimos anos.

É como se a Covid-19 não passasse de uma doença qualquer, cuja evolução não depende de políticas nacionais para combater o vírus, mas tão somente de um sistema de saúde eficiente. Ou seja, as pessoas veem o SUS como uma espécie de entidade independente da ação governamental e das normas aprovadas pelos legisladores que, ao destinar recursos abaixo do que seria necessário para prestar um bom atendimento à população são aqueles que determinam as lacunas e os problemas dos serviços oferecidos.

Seguindo na análise do quadro 5, percebemos que a fome, a miséria, o salário, a desigualdade social e a má administração do país ou não foram indicados como problemas principais ou receberam pouquíssimos votos. É como se todas estas questões não passassem de uma espécie de doença crônica ou de uma fatalidade em relação às quais pouco pode ser feito ou cuja presença é naturalizada a ponto de ser desconsiderada pelos entrevistados como causa de problemas maiores.

Em relação à desigualdade social e à distribuição da renda, porém, acreditamos que outros elementos contribuem para explicar a ausência de pontuação deste problema no governo Bolsonaro e o fato de, também nos governos Dilma e Temer estas questões terem recebido, no máximo, 1% das indicações dos entrevistados.

Não é segredo para ninguém que, nas duas últimas décadas, os sindicatos e a maioria dos setores da própria esquerda deixaram de tratar a exploração do trabalho como problema que está na base das principais contradições da sociedade. Ao mesmo tempo, não faltavam dirigentes sindicais e empresários que, ao valorizar as políticas de participação nos lucros e resultados, transformavam o salário variável em espelho do esforço pessoal e caminho que permitiria ao funcionário provar o seu valor.

Ao sair do radar das organizações que deveriam defender os trabalhadores, o lugar da exploração do trabalho como explicação da desigualdade social e da péssima distribuição da renda foi ocupado por elementos que dependem quase exclusivamente do esforço individual, do mérito de quem não se acomoda, da disposição para sair da mesmice e buscar novas oportunidades, do talento de quem arrisca o certo pelo incerto para crescer ainda mais.

Pouco a pouco, o senso comum passou a ver o enriquecimento pessoal como o coroamento natural dos que lutam para ter mais. Sob esta ótica, ganhar dinheiro é algo legítimo, que não empobrece ninguém e está nos sonhos e nas vontades dos trabalhadores que querem ser patrões para fazerem o mesmo.

O Quadro 5 revela também que, na comparação entre os dois períodos, o desemprego e a condução da economia mantiveram os mesmos índices, indicando que os estragos da pandemia receberam um tratamento que não agravou a percepção popular destes problemas.

A queda de um ponto percentual no quesito corrupção não surpreende quem acompanha os acontecimentos. O esvaziamento da operação lava-jato, as denúncias que cercam as autoridades do judiciário que articulavam as investigações e uma presença inconstante na mídia deram a este tema um tom muito diferentes em relação àquele que caracterizou o período anterior ao impeachment da Presidente Dilma Rousseff.

Seguindo na ordem de importância, percebemos que a educação perdeu 8 pontos percentuais. Ainda que parte destes votos possa ter migrado para a saúde, não deixa de ser estranho que todas as dificuldades que cercaram as diferentes tentativas de ensino remoto não tenham marcado as opiniões das pessoas em dezembro de 2020.

Violência e segurança pública perderam nove pontos percentuais, o que leva a crer que a primeira diminuiu e a segunda aumentou. Infelizmente, para entender esta queda, não podemos contar com o levantamento da quantidade de crimes cometidos, da relação entre a sua evolução em 2020 e as respectivas comparações com 2019. O máximo que podemos fazer é formular algumas hipóteses a serem verificadas no caminhar de 2021.

De acordo, por exemplo, com os números divulgados pela Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo, de janeiro a junho de 2020, as polícias civil e militar mataram juntas 514 pessoas, 20,6% a mais em relação às 426 mortes registradas no mesmo período de 2019 e o maior número da série histórica iniciada em 2001.47 Se, em outros estados da federação, e durante o segundo semestre, tiver ocorrido algo semelhante, podemos dizer que a percepção da contenção da violência e da falta de segurança guarda relação, sobretudo, com o aumento da letalidade policial. Em 2020, não faltaram situações de abuso de autoridade e uso excessivo da força por parte de agentes do Estado. Mas estes fatos são considerados deploráveis por alguns e aplaudidos por muitos outros como uma forma eficiente de combater a criminalidade.

O descaso com o meio-ambiente foi outro assunto que teve presença constante nos noticiários através dos dados e das imagens da devastação, das acusações de omissão e da postura do ministro Ricardo Sales, bem mais preocupado em fragilizar os instrumentos que visam proteger a natureza do que em zelar pela sua preservação. Apesar de, em 2020, as queimadas do Pantanal terem aumentado 120% e o desmatamento da floresta amazônica ter crescido 30% em relação a 2019, o meio-ambiente recebeu apenas 1% das indicações populares como principal problema do país, a mesma porcentagem de 2019. 48

Sem menosprezar a possibilidade de as pessoas não verem uma relação direta entre a preservação da natureza e a vida pessoal de todos os dias, a baixíssima indicação deste problema ajuda a entender por que o orçamento de 2021 prevê mais um corte de 27,4% nas verbas destinadas à fiscalização ambiental e ao combate aos incêndios florestais.49 Pelo visto, as “boiadas” do Ministro Ricardo Salles terão um ano ainda mais promissor.

Diante deste quadro, parece claro que o nosso esforço para fazer o povo ver o país a partir dos problemas estruturais que marcam a vida coletiva não dialoga com o Brasil real das pessoas comuns. Para elas, o cotidiano se movimenta nas tramas dos problemas individuais e imediatos, de uma subjetividade que define o certo e o errado e na qual a realidade passa longe de estimular uma reflexão crítica.

As dúvidas levantadas pelos acontecimentos são combatidas com as certezas da fé, com a magia dos pensamentos positivos, com o eterno otimismo da vontade que projeta no futuro o que o presente teima em negar ou subestimando e, quando necessário, negando os próprios acontecimentos. Quando ocorre, a reflexão privilegia o que confirma a visão de mundo do sujeito e o sentido que ele dá aos acontecimentos. Por isso, as posições de autoridades religiosas e civis que se alinham com suas crenças, criando uma identidade de sentidos e percepções do cotidiano, são elevadas pelo indivíduo a critério de verdade.

O eco deste movimento que marca a história com a superficialidade e a teimosia de uma subjetividade que se recusa a acertar contas com a realidade faz ressoar perguntas que demandam respostas sem as quais não conseguiremos dialogar com o povo simples: o que as pessoas veem de positivo na atuação do Presidente, do seu governo e dos seus seguidores? Será que encontram neles a possibilidade de expressar livremente ideias e posturas que sufocaram durante anos? Ou buscam a confirmação de que suas convicções e suas crenças estão corretas?

Qual a força real que o povo coloca na determinação de destruir os avanços da ciência e dos direitos conquistados em anos de luta em nome de uma moralidade hipócrita, mas que se apresenta com a chancela do divino? Ou será que o sujeito vê na religião o alicerce de uma sociedade que, pelo fato de ter a lei de Deus como único guia, resolverá magicamente todos os problemas com os quais ele se depara?

Até que ponto a liberdade de expressar as convicções mais estapafúrdias como verdade absoluta é vista como uma afirmação imprescindível da própria subjetividade? A negação das causas dos acontecimentos que colocam o dedo nas feridas abertas pelas contradições sociais é parte deste esforço para afirmar a supremacia da vontade do sujeito e seus méritos sobre a realidade material? Por que as pessoas se tornaram incapazes de ver que o “eu acho” colocado acima de tudo pode ser extremamente nocivo a elas próprias, aos seus familiares e à sociedade?

Enfim, o que seduz o povo simples a ponto de desativar sua capacidade de refletir sobre o que vê e sente a partir dos fatos que desnudam suas convicções?

Cada uma destas perguntas é o eco de fatos que nos deixam perplexos.

Em outubro do ano passado, por exemplo, as secretarias de saúde de vários estados e municípios se viram forçadas a prorrogar a campanha de vacinação contra a poliomielite das crianças entre 1 e 5 anos de idade. De acordo com o Ministério de Saúde, até o último dia da campanha, apenas 44,1% das 11 milhões e 200 mil crianças que constituíam o público-alvo haviam recebido as gotas da vacina, menos da metade dos 95% de cobertura vacinal necessários para manter a doença longe do país.50

Perplexos diante deste fato, perguntamos: em nome de que liberdade, ação divina, teoria da conspiração, etc., se justifica expor um filho a uma deformidade permanente por lhe negar a gota que pode salvá-lo deste sofrimento?

Infelizmente, nós mesmos não temos as respostas.

Sabemos apenas que, quando o “EU” é absolutizado como fonte de verdade e virtude, as únicas preocupações coletivas por ele aceitas são as que fortalecem a visibilidade do sujeito entre os seus pares.

Neste cenário desconcertante, a única chance de colocar o indivíduo diante de uma reflexão necessária é a que aparece na hora em que a realidade por ele vivida está em aberta contradição com as escolhas que está preste a fazer. Trata-se de uma pequena abertura no arcabouço defensivo do sujeito que só pode ser aproveitada por quem convive e domina a sua mesma linguagem e não por quem, longe desta realidade, discursa a partir de elementos teóricos ou parâmetros que, para ele, não fazem sentido algum.

Diante dos desafios que se agigantam e das angústias que ecoam mundo afora, acolhemos este desafio como parte do esforço para entender e dialogar com o povo, uma condição sem a qual será impossível fazer ressoar nas pessoas a necessidade das mudanças que o sofrimento impõe.


Brasil, 09 de fevereiro de 2021.


1 Maiores informações a este respeito podem ser encontradas em: https://www.bbc.com/mundo/noticias-55780908 e em https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/noticia/2021/01/26/casos-de-coronavirus-no-mundo-passam-de-100-milhoes-diz-levantamento.ghtml?utm_source=push&utm_medium=app&utm_campaign=pushg1 Acessos em 27/01/2021.

2 Em: https://valorinveste.globo.com/mercados/internacional-e-commodities/noticia/2020/12/21/estimulos-a-economia-na-pandemia-representam-29percent-do-pib-global.ghtml Acesso em 25/01/2021

3 A valorização anual das ações da Tesla foi publicada em: https://www.cnnbrasil.com.br/business/2021/01/04/acoes-da-tesla-sobem-743-em-2020-empresa-vale-mais-que-sete-montadoras-juntas e os principais dados do seu balanço em: https://exame.com/negocios/tesla-registra-lucro-em-ano-cheio-pela-primeira-vez-na-historia/?utm_source=crm&utm_medium=email&utm_campaign=desperta_newsletter&utm_term=consideration_assinante&utm_content=tesla-registra-lucro-em-ano-cheio-pela-primeira-vez-na-historia/ Acesso em 28/01/2021


4 O detalhamento da fortuna de Elon Musk e de outros bilionários encontra-se em: https://brasil.elpais.com/economia/2021-01-01/pandemia-faz-as-maiores-fortunas-do-planeta-dispararem.html Acesso em 23/01/2021.

Elon Musk também é proprietário da Space X que recebeu vários investimentos e foi objeto de inúmeras especulações quanto ao seu real valor de mercado após o sucesso da missão espacial com a NASA, em junho de 2020. A Space X, porém, ainda não abriu seu capital na Bolsa de Valores. Em: https://www.istoedinheiro.com.br/spacex-e-um-dos-tres-maiores-unicornios-do-mundo-avaliada-em-us-46-bi/ e em: https://olhardigital.com.br/2020/07/27/ciencia-e-espaco/spacex-pode-se-tornar-a-3-maior-empresa-de-capital-fechado-do-mundo/ Acessos em 03/02/2021.

5 Os dados completos encontram-se disponíveis em: https://www.imf.org/en/Publications/WEO/Issues/2021/01/26/2021-world-economic-outlook-update Acesso em 26/01/2021.

6 O crescimento do PIB chinês ficou 0,4 pontos percentuais acima do esperado pelo FMI no relatório de outubro de 2020. Este resultado foi obtido graças à forma pela qual o governo enfrentou a pandemia, aos investimentos em infraestrutura que movimentaram a economia durante a crise do coronavírus e ao crescimento de 3,6% das exportações do país. Mais informações em: https://exame.com/economia/china-supera-expectativas-e-pib-cresce-23-unica-grande-economia-a-crescer/?utm_source=crm&utm_medium=email&utm_campaign=desperta_newsletter&utm_term=consideration_assinante&utm_content=china-supera-expectativas-e-pib-cresce-23-unica-grande-economia-a-crescer/ Acesso em 22/01/2021

7 Em relação ao nosso continente, registramos aqui que a Comissão Econômica Para a América Latina (CEPAL), em dezembro de 2020, projetou um crescimento do PIB de 3,7% e vinculou este resultado a cinco fatores fundamentais: não haver atrasos nos programas de vacinação, a manutenção dos estímulos fiscais e da ajuda à população carente, um patamar médio de preços das commodities não inferior ao de 2020, nenhuma restrição de acesso às linhas de financiamento mundial, a ausência de tensões sociais nos países do continente e de atritos comerciais com as maiores economias. As estimativas encontram-se em: http://www.cepal.org/pt-br/comunicados/america-latina-o-caribe-terao-crescimento-positivo-2021-mas-nao-sera-suficiente Acesso em 22/01/2021.

8 O relatório da UNCTAD está disponível em: https://unctad.org/news/global-foreign-direct-investment-fell-42-2020-outlook-remains-weak

No dia 27 de janeiro, o Banco Central do Brasil reconheceu que, em 2020, o investimento estrangeiro direto no país sofreu uma queda de 50,61% ao passar de 69 bilhões e 174 milhões de dólares, em 2019, para 34 bilhões e 167 milhões de dólares, em 2020.. Em: https://g1.globo.com/economia/noticia/2021/01/27/rombo-das-contas-externas-recua-75percent-em-2020-e-investimento-estrangeiro-cai-pela-metade.ghtml?utm_source=push&utm_medium=app&utm_campaign=pushg1 Os acessos foram realizados em 27/01/2021.

9 Estes e outros trechos do discurso de Xi Jinping estão disponíveis em: https://exame.com/mundo/comecar-nova-guerra-fria-empurrara-o-mundo-para-divisao-e-confrontos-diz-xi-em-davos/?utm_source=crm&utm_medium=email&utm_campaign=desperta_newsletter&utm_term=consideration_assinante&utm_content=comecar-nova-guerra-fria-empurrara-o-mundo-para-divisao-e-confrontos-diz-xi-em-davos/ Acesso em 26/01/2021

10 Em: https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-55725976 Acesso em 20/01/2021.

11 Em: https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-54727928 Acesso em 20/01/2021

12 Em: https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-48944773 Acesso em 20/01/2021

13 Em: https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-55858618 Acesso em 29/01/2021.

14 Idem.

15 Maiores informações sobre este minoria étnica e as denúncias por ela veiculadas encontram-se disponíveis em:

- https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-55725976

- https://www.dw.com/en/uighur-exploitation-in-china-slammed-as-modern-day-slavery/a-55953464

- https://www.bbc.com/news/world-asia-china-22278037

- https://apnews.com/article/269b3de1af34e17c1941a514f78d764c

- https://www.bbc.com/portuguese/internacional-55367199

Acessos realizados em 25/01/2021.

16 Em: https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-55751814 Acesso em 23/01/2021.

17 Em relação ao acordo em si, há um consenso quanto ao fato de que seus termos não resolvem todas as questões da relação entre UE e China, mas fazem com que Pequim assuma compromissos significativos que rumam na direção desejada por Bruxelas. Em troca, a China mantém a possibilidade de investir em território europeu e amplia o seu espaço em vários setores como o das energias renováveis. Quanto aos interesses particulares de cada país, destacamos os da Alemanha que, ao exercer a presidência rotativa da UE, capitaneava as negociações com Pequim e viu nas preocupações da China o caminho que levaria a deter as práticas que prejudicam a indústria do país. Apesar de a chanceler alemã, Angela Merkel, não concorrer às eleições nacionais marcadas para setembro deste ano, o partido que ela representa precisava deste resultado para encurralar os grupos nacionalistas de extrema direita que buscam mostrar o papel das políticas externas do bloco na deterioração da economia alemã e das condições de vida da população autóctone.

Sabendo disso e dos debates em torno da necessidade de reduzir a dependência das importações da China para suprir as demandas europeias, em Pequim, ninguém se ilude quanto à possibilidade de as concessões do acordo dirimirem as tensões com a UE durante um longo período de tempo. Mas, neste momento, ainda que por motivos diferentes, o acerto conseguido é importante para todos os países envolvidos. Estas e outras informações estão disponíveis em:

- https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2021/01/cinco-pontos-importantes-sobre-o-novo-acordo-entre-a-china-e-a-uniao-europeia.shtml

- https://elpais.com/internacional/2020-12-29/china-acelera-los-contactos-para-aprobar-el-gran-acuerdo-de-inversiones-con-la-ue.html#?sma=newsletter_diaria_noche20201229m

Acessos realizados em 15/01/2021

18 Em: https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-55725976 Acesso em 20/01/2021

19 O conflito no Iêmen começou, em 2011, no âmbito da Primavera Árabe, quando um levante armado forçou o presidente Ali Abdullah Saleh a entregar o poder ao vice-presidente Abdrabuh Mansour Hadi. A transição não levou o país à estabilidade. Seguiram-se ataques da Al Qaeda e de um movimento separatista no sul do país, acusações de corrupção e uma crise alimentar de sérias proporções. O movimento huties, que lutou em várias rebeliões contra Saleh nos dez anos que antecederam o seu afastamento, se aproveitou da debilidade de Hadi para assumir o controle da província de Saada, ao norte do país. Desiludidos com os acontecimentos que cercavam a transição no poder, muitos iemenitas passaram a apoiar os huties no final de 2014 e início de 2015, quando os rebeldes tomaram Sana a capital do país e forçaram Hadi a ir para o exílio. O conflito ganhou dimensões bem maiores a partir de março de 2015, quando uma coalizão liderada pela Arábia Saudita, com o apoio de EUA, Reino Unido e França, conquistou a cidade de Áden e instalou o governo de Hadi na qualidade de presidente em exílio. Militantes da Al Qaeda e grupos filiados ao Estado Islâmico aproveitaram o caos instalado no país para tomar uma área ao sul do Iêmen, de onde seguem realizando ataques em Áden. A coalizão liderada pela Arábia Saudita afirma que o seu objetivo é de deter o contrabando de armas do Irã aos grupos rebeldes, o que inclui a Al Qaeda, uma acusação que Teerã nega terminantemente. Estas e outras informações estão disponíveis em: https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-46287160 Acesso em 20/01/2021.

20 Vale lembrar que para produzir armas nucleares, o urânio precisa ter um grau de enriquecimento de 90%. Um patamar por volta de 20% se destina à produção de material que costuma ser usado em reatores de pesquisa, e isso mantém o país no âmbito da produção e do uso de material nuclear para fins pacíficos.

21 Estas e outras informações estão disponíveis em:

- https://g1.globo.com/mundo/noticia/2021/01/04/ira-retoma-enriquecimento-de-uranio-e-viola-de-novo-acordo-nuclear.ghtml

- https://g1.globo.com/mundo/noticia/2021/01/04/o-que-significa-a-volta-do-enriquecimento-de-uranio-a-20-pelo-ira.ghtml

- https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-55371039

- https://www.bbc.com/portuguese/internacional-55401918

Todos os acessos foram realizados em 28/01/2021

22 Em: https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/rfi/2021/02/04/biden-encerra-apoio-dos-eua-a-guerra-do-iemen-e-endurece-tom-contra-russia.htm?utm_source=NexoNL&utm_medium=Email&utm_campaign=anexo Acesso em 05/02/2021

23 Em: https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-55548194 Acesso em 27/01/2021.

24 Idem.

25 Idem.

27 Estas e outras informações estão disponíveis em:

- Em: https://g1.globo.com/mundo/blog/sandra-cohen/post/2021/01/29/escassez-de-vacinas-deflagra-o-primeiro-conflito-entre-uniao-europeia-e-reino-unido-no-pos-brexit.ghtml?utm_source=push&utm_medium=app&utm_campaign=pushg1

- https://exame.com/ciencia/astrazeneca-defende-vacina-de-oxford-da-covid-19-para-uniao-europeia/?utm_source=crm&utm_medium=email&utm_campaign=desperta_newsletter&utm_term=consideration_assinante&utm_content=astrazeneca-defende-vacina-de-oxford-da-covid-19-para-uniao-europeia/

Acessos em 30/01/2021.

28 Em: https://brasil.elpais.com/internacional/2020-12-28/o-mito-de-prosperidade-do-aposentado-alemao-esbarra-na-pobreza.html Acesso em 30/01/2021

29 Estas e outras informações podem ser encontradas em: https://elpais.com/internacional/2020-12-29/una-nueva-extrema-derecha-emerge-en-rumania.html#?sma=newsletter_global20 210105m Acesso em 05/01/2021

30 De acordo com as estimativas do Banco Mundial, o PIB dos demais países do continente deve apresentar os resultados que seguem: Argentina -10,6%; Bolívia -6,7%; Chile -6,3%; Colômbia -7,5%; Costa Rica -4,8%; República Dominicana -6,7%; Equador -9,5%; Haiti -3,8%; Jamaica -9,0%; México -9,0%; Nicarágua -6,0%; Panamá -8,1%; Paraguai -1,1%; Peru -12%; Suriname -13,1%; Uruguai -4,3%. Em: https://6minutos.uol.com.br/economia/tombo-d-pib-do-brasil-em-2020-est-aentre-os-menores-da-al-mas-retomada-em-2021-sera-mais-fraca/ Acesso em 30/01/2021

31 Em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-detalhe-de-midia.html?view=mediaibge&catid=2103&id=4480 Acesso em 29/01/2021

32 Em: https://g1.globo.com/economia/auxilio-emergencial/noticia/2021/01/25/datafolha-69percent-dos-brasileiros-que-receberam-auxilio-emergencial-nao-encontraram-outra-fonte-de-renda-para-substituir-beneficio.ghtml Acesso em 26/01/2021

33 Em: https://6minutos.uol.com.br/economia/sinal-vermelho-ou-nao-fim-do-auxilio-e-desemprego-em-alta-devem-derrubar-consumo-das-familias/ Acesso em 24/01/2021

34 Em: https://6minutos.uol.com.br/economia/brasileiro-pisa-no-freio-adia-consumo-e-faz-poupanca-para-se-garantir-em-2021/ e em: https://6minutos.uol.com.br/minhas-financas/poupanca-fecha-2020-com-captacao-liquida-recorde-de-r1663-bi-em-ano-de-pandemia/ Acessos em 24/01/2021

35 Em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-detalhe-de-midia.html?view=mediaibge&catid=2103&id=4480 Acesso em 29/01/2021

36 Segundo o jornal O Estado de São Paulo, em 2020, cerca de 5.500 fábricas fecharam as portas, ampliando o processo de desindustrialização que vem se agravando desde 2015. Além dos elementos citados no texto, vale lembrar que, há décadas, o parque industrial brasileiro não recebe investimentos em maquinários que elevem a competitividade da produção nacional, fator que se torna ainda mais pesado quando a economia é atingida por uma crise de sérias proporções como a do coronavírus. Em 2021, a esperada reestruturação mundial do capital, da qual o encerramento das atividades da Ford é apenas um exemplo, pode piorar esta situação. Em: https://6minutos.uol.com.br/economia/pais-perdeu-em-media-17-fabricas-por-dia-nos-ultimos-seis-anos/ Acesso em 25/01/2021.

37 Em: https://6minutos.uol.com.br/agencia-estado/falta-de-materia-prima-e-a-maior-em-19-anos-e-leva-industria-a-reduzir-producao/ Acesso em 20/01/2021.

38 Estas e outras informações estão disponíveis em https://6minutos.uol.com.br/economia/prateleiras-vazias-por-que-esta-faltando-tanto-produto-nas-lojas/ e em: https://6minutos.uol.com.br/agencia-estado/falta-de-materia-prima-e-a-maior-em-19-anos-e-leva-industria-a-reduzir-producao/ Ambos os acessos foram realizados em 20/01/2021.

40 Em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/29949-precos-da-industria-crescem-19-40-em-2020-puxados-por-alimentos Acesso em 02/02/2021.

41 Os dados completos do comércio exterior estão disponíveis em: https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/estatisticas/balanca-comercial-brasileira-acumulado-do-ano Acesso em 31/01/2021.

42 Os dados completos da Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos do DIEESE referente à cidade de São Paulo estão disponíveis em: https://www.dieese.org.br/analisecestabasica/2020/202012cestabasica.pdf Acesso em 31/01/2021.

43 Em: http://media.folha.uol.com.br/datafolha/2021/01/26/b212555312706e10691cf0ef9a8c981babpckt.pdf Acesso em 31/01/2021.

44 Em: http://media.folha.uol.com.br/datafolha/2020/06/26/5523e982193513b0d5c49b599edbd2bdblsnrqrz.pdf Acesso em 01/02/2021.

45 Em: https://g1.globo.com/agenda-do-dia/noticia/2020/12/10/10-de-dezembro-quinta-feira.ghtml Acesso em 01/02/2021.

46 Em: http://media.folha.uol.com.br/datafolha/2020/12/14/ad8a599af4864554583c395d7dde7aedagp.pdf Acesso em 01/02/2021

47 Em: https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2020/07/letalidade-policial-bate-recorde-e-homicidios-durante-a-pandemia-em-sp.shtml Acesso em 31/01/2021

48 Em: https://g1.globo.com/pa/para/noticia/2021/01/18/desmatamento-na-amazonia-em-2020-e-o-maior-dos-ultimos-10-anos.ghtml?utm_source=email&utm_medium=newsletter&utm_campaign=g1 Acesso em 23/01/2021

49 Maiores informações em: https://g1.globo.com/natureza/noticia/2021/01/22/atual-proposta-de-orcamento-para-ministerio-do-meio-ambiente-e-a-menor-em-21-anos-aponta-relatorio.ghtml Acesso em 27/01/2021

50 Em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2020-10/campanha-nacional-de-vacinacao-contra-polio-termina-hoje Acesso em 31/01/2021


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