“O último trimestre de 2021 traz a esperança de que o novo ano dará
passos decisivos para sairmos do atoleiro da pandemia. Os índices de
crescimento da economia mundial prometem reduzir o desemprego e as vacinas
alimentam a expectativa de um 2022 sem máscaras e muitos abraços.
Sob o caldeirão onde as angústias e os sonhos do povo simples se
movimentam ao sabor da rotina diária, as chamas da recuperação econômica
prometem lucros compensatórios para os ricos e uma dose de esperança para quem,
após apertar o cinto, faz de cada migalha recebida um motivo para renovar a sua
confiança no sistema.
A poucas semanas de virar as últimas páginas do calendário, quando se
olha o panorama internacional, três perguntas expressam as preocupações de quem
não se deixa levar pelo otimismo e busca nos fatos os sinais que permitem
entrever as sendas do futuro.
O que revela o primeiro ano de mandato do presidente dos EUA, Joe Biden? Em que medida os problemas da economia mundial podem frear o seu crescimento e trazer de volta o espectro da crise? Quantas voltas dará o torniquete da exploração antes que a revolta dos de baixo detenha os planos dos grupos de poder?...
( Emilio Gennari)
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Análise de Conjuntura
16 de novembro de 2021 |
À espera de 2022 - Panorama
internacional.
O último trimestre de 2021 traz a esperança de que o novo
ano dará passos decisivos para sairmos do atoleiro da pandemia. Os índices de crescimento
da economia mundial prometem reduzir o desemprego e as vacinas alimentam a
expectativa de um 2022 sem máscaras e muitos abraços.
Sob o caldeirão onde as angústias e os sonhos do povo
simples se movimentam ao sabor da rotina diária, as chamas da recuperação
econômica prometem lucros compensatórios para os ricos e uma dose de esperança
para quem, após apertar o cinto, faz de cada migalha recebida um motivo para
renovar a sua confiança no sistema.
A poucas semanas de virar as últimas páginas do
calendário, quando se olha o panorama internacional, três perguntas expressam
as preocupações de quem não se deixa levar pelo otimismo e busca nos fatos os
sinais que permitem entrever as sendas do futuro.
O que revela o primeiro ano de mandato do presidente dos
EUA, Joe Biden? Em que medida os problemas da economia mundial podem frear o
seu crescimento e trazer de volta o espectro da crise? Quantas voltas dará o
torniquete da exploração antes que a revolta dos de baixo detenha os planos dos
grupos de poder?
Não estamos diante de questões que podem ser respondidas
somente com teorias e, menos ainda, fazendo os acontecimentos dizerem o que os nossos
anseios desejam ouvir. Precisamos reunir pacientemente as peças do mosaico, que
foram moldadas durante a crise, montá-las e projetar cenários que alertem a
classe trabalhadora para os acontecimentos que virão.
Resgatar as pegadas do capital no terreno da história é o
primeiro passo para limitar o que o futuro apresenta como imponderável e para
percebermos em que medida as nossas formas de luta esgotaram as possibilidades
de produzir o que desejávamos. Mensurar estas pegadas, calcular a intensidade do
passo que as produziu, identificar a meta à qual se dirigem são tarefas que
ajudam a preparar respostas capazes de alterar os destinos que o capital
pretende impor à humanidade.
1. A política internacional de Joe Biden
Em dezembro do ano passado, mostramos que o protagonismo
da China no cenário mundial estava envolvendo antigos aliados dos EUA e
arranhando a influência de Washington nas decisões dos seus governos. Este
fenômeno não ocorria apenas pelo peso das relações comerciais que o país
mantinha com seus parceiros, mas, sobretudo, pelos investimentos que Pequim
realizava no exterior e pelos atritos que Donald Trump semeava mundo afora.1
Diante deste cenário, a estratégia do presidente dos EUA,
Joe Biden não podia ser outra: recuperar o protagonismo do seu país com base em
ações destinadas a esfriar o apoio que a China vinha conseguindo e em acordos
capazes de fazer recuar as pretensões de Pequim.
A União Européia foi o primeiro destinatário das
investidas estadunidenses. Enquanto Trump havia fustigado Bruxelas com impostos
alfandegários, com sanções às empresas envolvidas na construção do segundo
gasoduto que transportaria o gás russo para a Alemanha sem passar pela Ucrânia
(o Nord Stream 2) e com uma dura cobrança a aumentar a participação do bloco
nos gastos da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), Biden buscou
distencionar as relações com medidas que dialogam diretamente com os interesses
dos europeus.
A reconciliação foi selada com o fim das disputas entre
Airbus e Boeing junto à OMC pela questão dos subsídios estatais às duas
empresas, com a celebração do acordo sobre a importação pelos EUA do alumínio e
do aço produzidos no velho continente,2 com os esforços para
reavivar a integração da Europa à OTAN e com o levantamento das sanções que
haviam interrompido a construção do gasoduto russo, citado anteriormente,
denominado Nord Stream 2.
Ainda que não reste nenhuma dúvida quanto à importância
de afastar a UE da China para enfrentar Pequim numa posição mais vantajosa, as
concessões de Biden no terreno das relações comerciais não deixam de provocar
alguns receios. De um lado, aumentar as importações de aço e alumínio vai
fornecer semimanufaturados a preços menores para a indústria estadunidense,
mas, de outro, a concorrência acirrada da China nos mercados europeus pode
inviabilizar a contrapartida esperada com a compra de produtos fabricados nos
Estados Unidos e contribuir para elevar ainda mais o déficit da balança
comercial do país.
Em relação à OTAN, Biden sabe que a UE deseja caminhar
para garantir sozinha a segurança da Europa, o que implica na possibilidade de
agir autonomamente para gerenciar as crises que envolvem as relações com
Rússia, China e o Oriente Médio. Este processo deve ganhar contornos mais
definidos a partir de março de 2022, quando uma reunião de cúpula detalhará as relações militares com os países fora do bloco,
as regras
para a gestão das crises e as metas de desenvolvimento da
infraestrutura e dos equipamentos bélicos que se destinam a reduzir a
dependência da OTAN.3 Ainda que estejamos longe de poder falar de um
claro afastamento da geopolítica estadunidense, ter esta "autonomia"
no radar do futuro esboça a possibilidade de as respostas de Bruxelas não se
alinharem necessariamente aos interesses de Washington.
A revogação das sanções às empresas envolvidas na
construção do novo gasoduto foi vista como um presente da Alemanha para a
Rússia, país que é o fornecedor de uma das principais fontes de energia da
Europa e um grande comprador de seus manufaturados. E o fato deste presente
trazer a marca dos EUA sinaliza também o desejo de um clima de distensão nas
relações entre Washington e Moscou.
O fato de esta medida estar vinculada à obrigatoriedade
de manter o trânsito do gás através da Ucrânia até 2034, não é um grande
problema para a Rússia, apesar dos protestos formais do seu governo. As
estimativas para o futuro próximo falam de uma exportação anual de 200 bilhões
de metros cúbicos de gás, uma quantidade que, mesmo após a entrada em operação do
Nord Stream 2, demanda a utilização das linhas que hoje atravessam o território
ucraniano.4
Quem detestou a notícia foi o governo da Ucrânia que
considerou o fim das sanções como uma espécie de traição por parte dos EUA.
Esvaziar a importância do país como caminho do gás russo para a Europa reduz o
poder de barganha de Kiev em relação às pressões militares de Moscou na
fronteira entre os dois países e diminui os recursos que o país obtinha com os
volumes de gás transportados pelo seu território. A insensibilidade de Biden às
queixas ucranianas está apenas mostrando quem manda no jogo e quem para receber
alguns favores precisa baixar a crista e aguardar a sua vez. Enquanto trata de
se reaproximar da Rússia, Washington guarda na manga um coringa que jogará na
hora certa para manter os vínculos com Kiev e dissuadir Moscou de opções
bélicas perigosas: o pedido da Ucrânia de integrar a OTAN, uma possibilidade
que a Rússia rejeita veementemente.5
O clima de aparente cordialidade entre Joe Biden e
Vladimir Putin quando da renovação do Acordo de Redução de Armas Nucleares no
início de 2021, não esconde os burburinhos da nova corrida armamentista. O
primeiro sinal inquietante deita raízes no seguido crescimento dos gastos
mundiais em armamentos. Segundo o relatório do Instituto Internacional de
Pesquisas para a Paz (SIPRI), com sede em Estocolmo, na Suécia, as nações do
globo elevaram este montante para um trilhão e 981 bilhões de dólares em 2020,
um aumento real de 2,6% em relação a 2019. Além de ser o maior dispêndio bélico
dos últimos 32 anos, é necessário ressaltar que ele ocorreu no período mais
duro da crise econômica desencadeada pela pandemia. O fato de os governos
aumentarem os gastos em armamentos num contexto tão adverso revela a
importância do aumento do poder de fogo nos passos da geopolítica atual.
Para compreendermos melhor o que está ocorrendo, vamos
comparar os dispêndios dos 10 países que, juntos, representam 75% do volume
apurado pelo SIPRI, e, eliminada a inflação do dólar, verificar a sua variação
percentual em relação a 2019 e a 2011. Esta dupla comparação ajuda a melhor
dimensionar a importância do que ocorreu no ano passado. De fato, além de
identificarmos a sua evolução em relação ao ano imediatamente anterior podemos
averiguar a posição de cada país em relação a 2011, quando o volume total de
dispêndios em armamentos atingiu o pico de uma longa fase de crescimento,
iniciada em 1998, para, em seguida, se estabilizar num patamar inferior até
2017.6
Quadro
1: Gastos em armamentos, variação em relação a 2019 e 2011
e
participação no total mundial
Países |
2020: Gastos em bilhões de dólares |
Variação percentual 2019-2020 |
Variação percentual 2011-2020 |
Porcentagem do gasto mundial em 2020 |
1. Estados Unidos |
778 |
4,4 |
- 10 |
39 |
2. China |
[252] |
1,9 |
76 |
[13] |
3. Índia |
72,9 |
2,1 |
34 |
3,7 |
4. Rússia |
61,7 |
2,5 |
26 |
3,1 |
5. Reino
Unido |
59,2 |
2,9 |
-
4,2 |
3,0 |
6. Arábia
Saudita |
[57,5] |
-
10 |
2,3 |
[2,9] |
7. Alemanha |
52,8 |
5,2 |
28 |
2,7 |
8. França |
52,7 |
2,9 |
9.8 |
2,7 |
9. Japão |
49,1 |
1,2 |
2,4 |
2,5 |
10. Coréia do Sul |
45,7 |
4,9 |
41 |
2,3 |
Fonte: Elaboração própria
a partir do relatório do SIPRI.
De acordo com o quadro 1, EUA, Reino Unido, Alemanha e
Coréia do Sul elevaram seus gastos militares acima da média mundial registrada
em 2020. Mas, enquanto os dispêndios de Washington são 10% inferiores aos de
2011 e Londres registra uma queda de 4,2% nesta mesma base de comparação,
Berlim aumentou o total em 28% e Seul em 41% em relação a dez anos antes. Não é
segredo para ninguém que a Alemanha pretende capitanear o processo que se destina
a equipar a União Européia, para que possa decidir sua estratégia militar
independentemente da OTAN. Por sua vez, o primeiro-ministro britânico, Boris
Johnson, anunciou em março deste ano que o Reino Unido reduzirá o número de
tropas, de tanques e de aviões militares para que parte do dinheiro poupado com
estes cortes seja investida no aumento das ogivas nucleares do país de 180 para
260 unidades. Não temos informações em relação aos planos da Coréia do Sul, mas
as seguidas tensões com o vizinho do norte e o crescimento do poder ofensivo da
China devem levar o país a ampliar tanto os sistemas de defesa existentes como
a integração de suas forças armadas com as dos EUA.7
Com dispêndios estimados em 252 bilhões de dólares, a
China elevou seus investimentos bélicos em 1,9%, ante 2019, e em 76% quando
comparados com o patamar de 2011. Vale lembrar que, atualmente, Pequim tem
entre 250 e 350 ogivas nucleares prontas para o uso e pretende chegar a 700
ogivas em 2027. Além disso, em agosto deste ano, a China testou com sucesso um
míssil hipersônico com capacidade de atingir os EUA entrando pela fronteira sul
do seu território, onde as defesas contra esse tipo de ataque são bem mais
frágeis em relação às que são posicionadas para interceptar artefatos nucleares
que a Rússia poderia lançar na rota que sobrevoa o Polo Norte.8 Vale
lembrar que as opções bélicas da China não são limitadas por nenhum acordo
internacional e o país é aliado da Rússia, que também possui armas hipersônicas
e, em 2020, elevou em 26% seus gastos em relação a 2011.9
A Índia é, sem dúvida, o país que mais surpreende pela
variação percentual dos seus gastos. Ainda que o montante de quase 73 bilhões
de dólares não seja comparável ao da China e dos EUA, é importante frisar que o
aumento dos investimentos bélicos em 2,1% ante 2019 e em 34% em relação a 2011
ocorreu no ano em que a crise econômica causada pela pandemia fez o PIB do país
amargar uma queda de 10,3%. Ainda que não tenhamos informações mais precisas
quanto ao destino destes recursos, parece impossível explicar o esforço
gigantesco da Índia somente em função dos atritos com o Paquistão cujos gastos
somaram 10 bilhões e 400 milhões de dólares, uma queda de 2,8% em relação a
2019.10
Com base nesses dados e no estágio da atual corrida
armamentista que expressam, o número de armas nucleares vai aumentar em 2021?
Os especialistas do SIPRI apresentam um cenário
intrigante. Segundo as estimativas do Instituto, na passagem de 2020 para 2021,
os EUA devem reduzir o número total de artefatos nucleares de 5.800 para 5.550
e a Rússia deve passar de 6.375 para 6.255, ou seja, as duas grandes potências
reduziriam seus artefatos atômicos num total de 370 unidades. Do total que
continua nos arsenais, o Acordo de Redução de Armas Nucleares vigente
estabelece que os EUA tenham 1.800 ogivas montadas em mísseis prontos para o
uso e a Rússia 1.625.11
Mas a que se apresenta como uma boa notícia ganha tons de
preocupação por três fatores que apontam na direção oposta. O primeiro deles
diz respeito ao tamanho do arsenal de França, Reino Unido, Israel, China,
Índia, Coreia do Norte e Paquistão, países que não são submetidos a nenhum tipo
de verificação efetiva ou de limitação desse tipo de armamento. Num único ano,
a soma dos artefatos atômicos disponíveis passaria de um total estimado de
1.265, em 2020, para 1.326, em 2021. Sabendo que todos eles são aliados das
grandes potências ou orbitam em suas áreas de influência, podemos concluir que,
à diminuição dos artefatos sediados nos territórios russos e estadunidense
corresponde um crescimento da disponibilidade desse tipo de armamento em outras
regiões do globo. Ainda que se trate de um número proporcionalmente pequeno
quando comparado ao das grandes potências, a disponibilidade destas armas nos
países aliados eleva as chances de golpear os inimigos a partir de outras bases
e se torna mais um elemento perigoso no frágil equilíbrio da paz armada na qual
o mundo se encontra.12
O segundo elemento diz respeito aos mísseis que
transportam as ogivas atômicas. O Acordo de Redução de Armas Nucleares
estabelece apenas quantos mísseis balísticos intercontinentais podem estar
carregados e prontos para o lançamento na Rússia e nos EUA, mas não os demais
vetores que também podem levar cargas atômicas com um poder de destruição
semelhante. A maior preocupação diz respeito aos mísseis hipersônicos de Rússia
e China, países que vêm aprimorando mais de um modelo desse tipo de arma. A
pesquisa estadunidense relativa a esses foguetes está relativamente atrasada em
relação aos seus concorrentes, à medida que os testes realizados por Washington
em 15 de julho e 21 de outubro de 2021 falharam por problemas técnicos.13
Do mesmo modo, não podemos esquecer que os demais países
também vêm desenvolvendo foguetes convencionais capazes de alcançar distâncias
mais longas com sua carga mortífera. Além dos mais que conhecidos testes da
Coreia do Norte, no dia 27 de outubro deste ano, a Índia realizou com sucesso o
lançamento do seu novo míssil balístico Agni-V que, com um alcance de 5000 km,
pode levar, por exemplo, uma carga nuclear a qualquer ponto do território
chinês.14
Último, mas não menos importante, é o movimento pelo qual
os EUA usam a tecnologia militar que desenvolveram para fortalecer os laços com
seus aliados. Numa clara manobra para ampliar o poder de dissuasão militar nos
oceanos Índico e Pacífico, no dia 16 de setembro de 2021, Washington e Londres
assinaram com a Austrália o que foi denominado "Plano AUKUS" (das siglas
internacionais dos países signatários).
Negociado em segredo, o acordo visa compartilhar
capacidades cibernéticas, inteligência artificial, tecnologia quântica e,
sobretudo, fornece à Austrália a capacidade de construir 12 submarinos
nucleares com tecnologia estadunidense. Chama a atenção o fato de que é a
primeira vez que Washington compartilha esta tecnologia com outro país e que,
com estes equipamentos, a Austrália passaria a ter o mesmo número de submarinos
nucleares que hoje são operados pela China. Além de serem bem mais rápidos e
difíceis de detectar, estes equipamentos podem ficar submersos por meses,
alcançar distâncias muito mais longas das que são percorridas pelos que são
movidos a diesel e carregar mísseis nucleares que, por terem bandeira australiana,
escapam às limitações dos acordos vigentes.
Não resta dúvida que, para a Austrália, se trata de um
ganho tecnológico relevante, mas, ao dar este passo, o país amarra o seu
destino ao dos EUA. Uma concessão dessa monta abre espaço para a Austrália vir
a ser uma base de interceptação dos mísseis que cruzarem os céus do Polo Sul em
direção aos Estados Unidos. Caso isso se concretize, o país estaria exposto a
qualquer confronto que envolva EUA, Rússia e China.15
Enquanto os governantes das grandes potências proferem
palavras de paz, assinam acordos que mantêm a redução de armas nucleares e dão
declarações conjuntas que buscam tranquilizar a humanidade, a ampliação e a
modernização dos arsenais bélicos corroem vagarosa e incessantemente o
equilíbrio de forças que sustenta a paz mundial. As pegadas no solo da
geopolítica internacional não deixam dúvidas que, sob a retórica de distensão,
são plantadas sementes de guerra.
2. A inflação no caminho da recuperação mundial
O desempenho das principais economias do planeta ao longo
de 2021 é acompanhado por uma incômoda taxa de inflação. Para uma parte dos
economistas, trata-se de um problema passageiro que será resolvido com a
normalização das atividades produtivas até o final do primeiro semestre de 2022.
Para outros, ela sinaliza a possibilidade de um conjunto de fatores frearem
perigosamente o crescimento da economia mundial por muito mais tempo.
As projeções do Fundo Monetário Internacional estimam
que, em 2022, a riqueza gerada pelos trabalhadores do mundo inteiro deve
registrar um aumento de 4,9%, um ponto percentual a menos em relação ao ritmo
esperado em 2021, e deve ficar em 3,3% em 2023.16 Pelos números da
entidade, não teríamos nenhuma situação capaz de mergulhar o mundo numa nova
recessão, mas sim de causar uma desaceleração progressiva do crescimento.
Para entendermos melhor o que está acontecendo, vamos
remontar em grandes linhas o impacto da pandemia na produção de riquezas e os
problemas da recuperação que está em andamento.
À medida que o vírus se espalhava pelo mundo e o
isolamento social era o único fator capaz de conter o seu rastro de morte, as
atividades econômicas foram paralisadas em graus e tempos diferenciados. Muitos
trabalhadores perderam seus empregos, outros assumiram parte dos custos da
profissão com o trabalho remoto e inúmeras empresas foram hibernadas num
patamar que buscava preservar os equipamentos existentes e reduzir as perdas
geradas pela crise.
Setores da indústria desativaram parcial ou totalmente a
sua produção, cancelaram pedidos de matérias-primas e componentes e buscaram se
adaptar a uma demanda marcada por flutuações constantes. Em sentido oposto, as
empresas de materiais de higiene e limpeza e de equipamentos destinados ao
setor de saúde trabalhavam a todo vapor.
No setor de serviços, várias atividades fecharam
totalmente as portas durante um longo período e outras adaptaram suas
estruturas a uma demanda bem inferior à do período anterior à pandemia. Portos,
aeroportos, modais ferroviários e rodoviários viram despencar o fluxo de
mercadorias, demitiram um contingente considerável de profissionais e deixaram
sem utilização navios, aviões, trens e caminhões. O setor hoteleiro, de
refeições coletivas e lazer sofreu uma paralização abrupta com sérias
consequências em termos de emprego e manutenção das estruturas.
Bastam estas poucas linhas para percebermos que a fase
aguda da pandemia desencadeou na economia mundial uma reação em cadeia que
atingiu os centros nevrálgicos da produção, paralisou grande parte do transporte
de carga e fez cair os preços das matérias-primas e da energia.
Em geral, só a agricultura e a pecuária viram a produção
e os lucros prosperarem com a ampliação dos negócios.
Assim como a redução das atividades econômicas conheceu
impactos diferenciados em todos os países e em cada setor da economia, a
retomada do crescimento proporcionada pelo avanço da vacinação e a diminuição
da taxa de contaminação vem ocorrendo de forma desigual. Na base deste ritmo
diferenciado encontramos uma somatória de fatores que vão de uma demanda que
sente os efeitos negativos da diminuição da renda e do desemprego à elevação
dos custos da energia, da falta de profissionais à escassez de materiais, a uma
oferta freada pela necessidade de voltar a paralisar a produção para conter os
novos casos de contaminação pelo coronavírus e pelo amplo processo de fusões e
incorporações de empresas que ocorreu durante a pandemia.
Alguns exemplos ajudam a ilustrar este processo. Os
principais portos e inúmeras indústrias da China, Índia, Vietnã, Bangladesh e
Coréia do Sul têm suas atividades suspensas sempre que entre os trabalhadores
são constatados focos de Covid-19, o que, obviamente, atrasa a entrega das
encomendas e obriga os compradores a uma longa espera que pode paralisar suas
atividades.
Nos Estados Unidos, as classes média e média-alta que, em
função da pandemia, se viam proibidas de viajar a passeio e a negócios, de
frequentar cinemas, teatros, restaurantes, etc. usaram a renda não gasta nestas
atividades para elevar a compra de bens de consumo. No mesmo período, as
empresas que ensaiavam o retorno ao trabalho presencial aumentaram
significativamente as aquisições dos suprimentos, gerando um pico de demanda
sem precedentes. Segundo o Containers Trades Statistics, nos primeiros oito
meses de 2021, as cargas de bens de consumo e materiais encomendados pelas
empresas aumentaram 25% em relação ao mesmo período de 2019. Este volume
considerável esvaziou os estoques existentes, elevou os preços dos insumos das
cadeias produtivas e teve que acertar contas com operações portuárias,
rodoviárias e ferroviárias que estavam longe de operar nos níveis anteriores à
pandemia, tanto no país de origem dos importados como nos EUA.
Para termos uma ideia do que isso significa, basta pensar
que o desembarque nos principais portos estadunidenses conheceu inúmeros pontos
de estrangulamento que levaram os navios a tempos de espera prolongados. Em
setembro deste ano, por exemplo, em Long Beach e Los Angeles, foi registrada
uma fila de 73 embarcações que aguardavam a permissão de atracar para efetuar o
desembarque e o embarque dos contêineres, quando, em tempo normais, não
deveríamos ter mais que duas ou três aguardando a vez de entrar nestes portos.17
Não é necessário sermos economistas para entender que,
quanto maiores os atrasos no desembarque e no despacho dos contêineres através
do transporte rodoviário e ferroviário, mais escassa é a sua disponibilidade
para novas cargas e mais caros se tornam os fretes. Segundo dados da Drewry
Shipping, em agosto deste ano, o custo médio para enviar um container de 12
metros quadrados dos portos da costa leste da Ásia para o Oeste dos Estados
Unidos aumentou 360% quando comparado ao valor do mesmo mês de 2020. Ainda
segundo esta empresa, a rota marítima entre Shangai, na China, e Rotterdam, na
Holanda, teve os custos do transporte do mesmo container elevados em 659% na
mesma base de comparação. Situações parecidas são registradas nas linhas que
ligam o sudeste asiático aos demais portos europeus e à América Latina. Ou
seja, não estamos diante de um problema pontual ou localizado, e sim de uma
realidade que se faz presente no mundo inteiro e que é difícil prever quando
será normalizada. Os mais otimistas afirmam que isso ocorrerá no terceiro
trimestre de 2022, enquanto os mais cautelosos adiam este prazo para março de
2023.18
Do lado da oferta, não podemos esquecer o impacto do
processo de fusões e aquisições causado pela crise econômica. Diante da queda
do faturamento, muitas pequenas e médias empresas se uniram a empresas maiores,
reduzindo tanto o número de empregados, como a capacidade de produção. Este
mesmo processo foi promovido por grandes empreendimentos que viram na crise a
oportunidade de adquirir a baixo preço negócios promissores a fim de incorporar
os conhecimentos disponíveis e as estruturas que complementariam o cardápio de
seus produtos num processo que, via de regra, envolve um enxugamento de postos
e ambientes de trabalho como forma de otimizar a capacidade produtiva e os
retornos esperados. Concretamente, isso significa menos gente trabalhando, uma
redução da oferta de mercadorias e serviços e um impacto na elevação dos preços
em função do maior controle que as grandes empresas passam a exercer sobre os
mesmos.
Para termos uma ideia do volume de capital envolvido,
basta pensar que, segundo um estudo da consultoria Bain & Company, em 2020,
as fusões e as incorporações movimentaram 2 trilhões e 800 bilhões de dólares
e, nos primeiros dez meses de 2021, a agência Bloomberg calcula esse montante em
4 trilhões e 110 bilhões de dólares, um volume que, faltando dois meses para o
final do ano, já superou o recorde histórico registrado em 2007. Para termos
uma ideia do que isso significa, basta pensar que a soma destes valores
corresponde a quase quatro anos de PIB do Brasil. Ou seja, a pandemia promoveu
um processo de concentração de capitais cujos efeitos sobre a oferta e os
preços se somam aos problemas que descrevemos nos parágrafos anteriores.19
Mas o impacto da retomada econômica nos preços não guarda
relação apenas com os problemas que listamos. Os combustíveis, por exemplo,
encareceram no mundo inteiro sob o impulso da maior demanda de petróleo e de
carvão mineral. Ao longo do mês de outubro, o preço do petróleo tipo WTI
ultrapassou os 80 dólares por barril, sendo que, no mesmo mês de 2020, as
cotações flutuavam em torno dos 40 dólares.
A explicação para esta forte elevação não está apenas no
crescimento econômico mundial, mas guarda uma relação direta com a falta de
interesse dos países produtores em elevar rapidamente as cotas de extração para
encolher os preços desta commodity. O mesmo ocorre com as empresas
estadunidenses que extraem petróleo das rochas de xisto. Em outubro deste ano,
suas atividades se restringiam a 533 perfurações, quase um terço das 1580 de
outubro de 2014, quando os preços do petróleo estavam nos patamares atuais.
Duramente atingido pela desaceleração econômica causada pela pandemia, o preço
do barril tende a se manter elevado à medida que as empresas petrolíferas se
negam a aumentar a extração a patamares compatíveis com a alta da demanda para
recuperar parte dos lucros perdidos no auge da pandemia.20
Considerada a "fábrica do mundo", a China é
fortemente afetada pelos preços da energia, e isso não se deve apenas aos
valores atingidos pelo petróleo. Os preços do carvão mineral, que representa
67% de sua matriz energética, dispararam devido a uma combinação de forte
demanda, baixa oferta e elevação dos custos do transporte. Entre janeiro e
agosto deste ano, a produção industrial do gigante asiático cresceu 13,1% em
relação ao mesmo período do ano passado, mas a produção local de carvão
aumentou míseros 4,4%. A desativação de várias minas chinesas em função da
total falta de segurança elevou a demanda de Pequim no mercado mundial,
aumentando em 205% os preços do carvão importado da Austrália e em 233% o do
que é produzido na Indonésia. Estes aumentos inviabilizam a operação das
centrais termoelétricas a carvão que, por lei, são proibidas de repassar a
elevação dos custos para o consumidor final. Desativadas ou operando com
capacidade reduzida, a quantidade de energia que sai de suas turbinas caiu a
níveis tão baixos que os apagões se tornaram uma realidade cada vez mais
frequente em várias regiões do país.21
O setor imobiliário do gigante asiático é outro fator que
desperta as preocupações do mundo inteiro. Na segunda metade de setembro, os
investidores foram sacudidos pelas notícias de que a Evergrande, um gigante da
construção civil, estava sem recursos para pagar as parcelas de suas dívidas
que somavam cerca de 300 bilhões de dólares. A quebra da empresa de
investimentos imobiliários foi evitada graças à intervenção do governo, mas a
desconfiança de que outras grandes empreiteiras têm o mesmo problema eleva os
temores de que um possível calote coletivo atinja fortemente os bancos
chineses. O mundo teme que, ao bloquear o fluxo de recursos que anima os
investimentos do setor, o PIB chinês despenque para níveis próximos do zero e
que os problemas internos se espalhem como um rastilho de pólvora pelos canais
da economia mundial. E não é para menos. A construção civil responde por cerca
de 7% do PIB da China, uma porcentagem que chega a 20% quando incluímos a rede
de fornecedores. Daí que uma crise das grandes empreiteiras e dos bancos que as
financiam teria um impacto devastador. 22
Diante dos elementos apresentados, podemos dizer que, em
2022, não faltam espaços para a economia mundial crescer, mas também não faltam
obstáculos para uma recuperação sustentada. O aumento da inflação pelo
encarecimento da energia, pelas dificuldades nos transportes e pelos
descompassos entre oferta e demanda deve levar os Bancos Centrais de vários
países a retirarem os estímulos que sustentaram a economia durante a pandemia e
a elevarem os juros a fim de esfriar a demanda. Por outro lado, o combate à
inflação terá que acertar contas também com a possibilidade de uma nova onda de
contaminação pelo Coronavírus que, a depender da gravidade, poderá voltar a
paralisar as atividades econômicas das regiões atingidas.
O grau de incerteza é grande. Os riscos não são pequenos.
Por isso precisamos redobrar as atenções ao tamanho e à complexidade dos
obstáculos que podem gerar surpresas desagradáveis no caminhar da economia
mundial em 2022.
3. O capital aperta o torniquete da exploração.
Em meio à incerteza imposta pelo desemprego e pela
inflação que encolhe o poder de compra dos salários, o aumento da exploração se
configura como o único aspecto líquido e certo da retomada do crescimento. Segundo
o relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT), o quarto trimestre
de 2021 deve se encerrar com 94 milhões e 600 mil vagas de trabalho em tempo
integral a menos em relação ao mesmo período de 2019.
Contudo, encolher o número de empregos disponíveis não
implica numa diminuição proporcional da produção de valor. Ao contrário,
segundo as estimativas da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento
Econômico (OCDE), o PIB mundial deste ano deve ficar 2,1% acima do patamar de
2019. Ou seja, ao se confirmarem estas estimativas, teremos um aumento da
produção de valor em relação ao período anterior à pandemia com um contingente
de ocupados que, em média, é 4,3% menor.
Todos sabemos que, em tempos de crise, o medo do
desemprego e a alegria de ter encontrado um trabalho para garantir o próprio
sustento funcionam como uma espécie de acelerador da produtividade. Esta
tendência geral é confirmada pela OIT cujos cálculos apontam uma elevação do
valor produzido em cada hora trabalhada de uma média correspondente a 18
dólares em 2019 para 18 dólares e 80 centavos estimados em 2021.23
Mas o medo e a felicidade não dão conta de explicar as
situações peculiares que a mídia vem alardeando como sinais de pujança do
sistema e nem permite entender como as pressões das empresas usam a exploração
do sofrimento como combustível da produção de valor e dos lucros. Vamos
visualizar esta realidade mostrando o que se esconde atrás do biombo das
aparências que deixam de queixo caído quem, em busca de uma vaga, anseia por
ter acesso a ditas oportunidades.
Começamos pelos Estados Unidos onde, em junho deste ano,
as estatísticas mostravam a existência de 9 milhões de desempregados para 10
milhões e cem mil vagas disponíveis. De posse destes números, os empresários
pediam a imediata suspensão dos benefícios que o Estado oferece aos
desempregados a fim de forçar as pessoas a trabalharem. De outro, os relatos
dos empregados revelavam uma realidade bem diferente da que era apresentada
pelos patrões. Vamos aos fatos.
Em primeiro lugar, é necessário deixar claro que a grande
maioria das vagas disponíveis é para trabalhos precários que, apesar dos
aumentos salariais oferecidos não compensam os riscos e aos quais os
funcionários são submetidos. No comércio varejista, por exemplo, 94% das lojas
têm problemas para completar o quadro de funcionários à medida que os postos
são quase sempre em lugares fechados, não arejados, a contato direto com as pessoas durante toda a
jornada de trabalho e sem os meios necessários para evitar o contágio.
Ainda que a grande
maioria dos casos de Covid-19 não leve a óbito, é o trabalhador quem arca com
os caríssimos custos do atendimento médico e, até mesmo, nos casos em que as empresas oferecem um seguro
saúde, a parcela desembolsada quando de uma internação hospitalar continua
sendo alta demais diante dos salários pagos pelos empresários. Concretamente,
quem trabalharia tranquilo sabendo que tem uma grande chance de pagar mais do
que ganha para escapar da Covid à qual está sistematicamente exposto?
Nas grandes corporações, o ritmo, as condições de
trabalho e a política salarial têm levado muitas pessoas a experimentarem o
novo normal da exploração. Recentemente, Microsoft, Facebook, Twitter e Google
anunciaram que pretendem rebaixar os salários dos empregados em trabalho
remoto. Os cortes ficariam entre 5% e 15% dos ordenados vigentes, sendo que a
porcentagem é diretamente proporcional à distância entre a unidade da empresa
onde o funcionário trabalhava e a sua moradia. A redução é justificada pelo fato
de que os empregados não precisam gastar com esse tipo de deslocamento, como se
este critério tivesse sido levado em consideração para calcular o salário da
contratação de cada um para o trabalho presencial.
Diante desta postura, não é difícil imaginar a angústia
de quem, ao decidir recusar, sabe estar se colocando fora do quadro de
empregados e tem plena consciência de que o próximo emprego poderá oferecer um
salário menor em relação ao que receberia após os descontos. Por outro lado,
aceitar é abrir caminhos para engolir outras demandas relativas ao desempenho e
ao cumprimento de metas que virão na esteira desta submissão. Em ambos os
casos, uma dose generosa de angústias e sofrimentos é a única coisa que o
trabalhador garante qualquer que seja a sua escolha.
No caso da Amazon, o tipo de contrato e a carga de
trabalho revelam o peso da exploração praticada por esta gigante do comércio
eletrônico cujos negócios dispararam durante a pandemia. Muitos trabalhadores são pagos por hora
efetivamente trabalhada, o que exclui benefícios como seguro saúde, descanso
semanal remunerado e férias.
Da chegada do pedido à
entrega dos produtos aos compradores, o processo de trabalho é controlado por
sistemas que gravam todas as informações relativas ao desempenho de cada
funcionário. Qualquer fração de tempo alheia ao processo de produção é
computada e, caso extrapole o padrão estabelecido, o sistema prepara
automaticamente a carta de demissão do empregado.
Esta mesma realidade
vale para os motoristas que entregam as
encomendas. Qualquer parada para almoçar, tomar café ou ir ao banheiro é
registrada como tempo de não trabalho. Para não sofrerem retaliações, os
motoristas urinam em garrafas plásticas no interior dos veículos, comem e tomam
café enquanto dirigem numa jornada que nunca é inferior às 10 horas diárias.
A pressão do ritmo de
trabalho se reflete na impossibilidade de respeitar as regras de distanciamento
social, de higienizar frequentemente as mãos e no número de acidentes com
afastamento. Em 21 unidades da Amazon foram registrados casos de Covid-19, mas,
além de não suspender o trabalho, quem protestou pela falta de medidas de
proteção foi sumariamente demitido. No que diz respeito aos acidentes de
trabalho, em 2020, as unidades sediadas nos EUA registraram 5,9 ocorrências com
afastamento para cada 100 trabalhadores contratados em tempo integral, um
índice 80% maior do que a média nacional. Ficar na Amazon implica em aguentar
um ritmo de trabalho que não deixa tempo para respirar. Sair dela envolve repensar
o cotidiano da vida com um salário menor e uma lista de incertezas. Mas, à
medida que seguir segurando a barra é sinônimo de se aniquilar sob o peso do
trabalho, os sacrifícios da mudança de emprego começam a ser vistos com bons
olhos.
Diante deste conjunto
de fatores, não é difícil entender porque, nos EUA, a rotatividade mensal está
acima dos 3% dos ocupados. Ou seja, não são os desocupados que querem
aproveitar o salário desemprego para não trabalhar e sim as condições
oferecidas pelo emprego e a gravidade dos riscos a fazer com que muitos
trabalhadores desistam das vagas que ocupam, mantendo assim a discrepância
entre o número de postos em aberto e o de trabalhadores e trabalhadoras que se
candidatam a eles.24
No
Reino Unido, a dificuldade de encontrar empregados para determinadas funções
revela o peso e a importância dos imigrantes para que as atividades econômicas
ofereçam os lucros esperados. A saída da União Europeia e a paralização das
empresas no início da pandemia fizeram com que mais de um milhão de
trabalhadores estrangeiros deixassem o território britânico para retornar aos
países de origem. A retomada das atividades econômicas e as dificuldades de uma
recontratação no Reino Unido levaram grande parte deste contingente a procurar
emprego nas nações da UE.
O fato de os britânicos de nascimento não terem o menor
interesse em ocupar as vagas que a escassez de imigrantes faz brotar nos
setores onde se trabalha muito e se ganha pouco faz com que atividades essenciais
se deparem com situações de desabastecimento. Em agosto deste ano, por exemplo, a Associação Britânica de
Produtores Independentes de Carne afirmava ter 14 mil vagas disponíveis e os
criadores de aves apontavam a necessidade de preencher imediatamente 7 mil
vagas a fim de garantir a demanda dos supermercados. Contudo, criar aves e
acondicionar as carnes espelhavam apenas os problemas que se faziam presentes
nas fases iniciais da cadeia produtiva. De fato, o transporte de carga também
registrava uma situação particularmente grave com 102 mil postos disponíveis
para as funções de motorista e carregador.
Algumas semanas depois do anúncio desta enorme
disponibilidade de vagas, prateleiras vazias, filas intermináveis de veículos
nos postos que recebiam o combustível transportado pelos poucos
caminhões-tanques em circulação, falta de matérias-primas e suprimentos para as
empresas de todos os tipos e tamanho se tornaram acontecimentos corriqueiros em
várias cidades britânicas.
Apesar do impacto desta situação sobre a receita e os
lucros, levantar as barreiras à contratação de imigrantes seria reconhecer a
importância de um trabalho que sempre foi menosprezado e admitir que o Brexit
foi um tiro no pé em termos de disponibilidade de força de trabalho barata e
pronta a se deixar esfolar. Elevar os salários locais para tentar atrair os
autóctones comprometeria as margens de lucros numa economia que ainda vive as
incertezas da pandemia e cuja recuperação não apresenta setores capazes de
promover um crescimento sustentado. Ao capital resta então apelar ao Estado
para amenizar a escassez de força de trabalho. Neste sentido, o setor de
processamento de carnes solicitou e obteve do Ministério da Justiça o aumento
da cota de presos autorizados a trabalhar em seus galpões por ordenados
inferiores aos dos próprios imigrantes; o transporte de combustível ganhou o
envolvimento de 150 motoristas do Exército de Sua Majestade; e o tempo máximo
de volante dos condutores teve seu limite ampliado de 9 para 11 horas diárias.
Apesar destes "quebra-galhos", a situação está
longe de se normalizar e o caso dos motoristas apresenta um elemento que
dificilmente será alterado pelos empregadores. É fato que muitos autóctones
deixaram a profissão depois que o valor do frete começou a ser calculado com
base nos quilómetros rodados e não por hora de volante. Os seguidos atrasos nas
passagens de fronteiras depois da saída da União Européia, os engarrafamentos
nos portos e nos centros de distribuição causados pelas normas que passaram a regular
o comércio exterior depois do Brexit fizeram com que ganhar a vida como
motorista de caminhão começasse a não valer a pena. De fato, independentemente
do tempo necessário para levar as cargas ao seu destino, o salário é
rigorosamente o mesmo. Ampliar a jornada de 9 para 11 horas faz com que os
caminhoneiros possam percorrer mais quilômetros e ganhar um pouco mais, ainda
que o preço a pagar seja a elevação da fadiga e do risco de acidentes. Mas,
garantido o lucro das transportadoras e das empresas que dependem dos seus
serviços, a perda de vidas humanas é um fator que o capital aceita sem
pestanejar.25
Na
Finlândia, a abundância de vagas guarda uma relação direta com uma série de
fatores. De um lado, o país enfrenta uma escassez aguda de força de trabalho em
função do envelhecimento da sua população à qual se soma a recusa dos
autóctones de trabalharem como enfermeiros e técnicos de enfermagem, como
operários metalúrgicos e marítimos ou de assumirem as vagas menos qualificadas
do setor de tecnologia da informação. De outro, as dificuldades que os
imigrantes enfrentam para aprender a língua local, o forte preconceito dos
autóctones em relação aos não finlandeses, o inverno rigoroso, a relutância dos
empregadores em reconhecer experiências e qualificações obtidas no exterior e,
sobretudo, o custo de vida elevado para os salários pagos a quem ocupa as vagas
disponíveis alimentam a defasagem entre a oferta de postos e as pessoas
dispostas a ocupá-los.
Contudo,
a pressa do governo em dobrar os níveis de imigração para 20-30 mil pessoas ao
ano guarda também uma relação direta com a necessidade de sustentar o sistema
previdenciário finlandês. De fato, além de o imigrante ser uma força de
trabalho que, ao entrar no país em idade adulta, dispensa os governos de
gastarem uma quantidade considerável de recursos para a sua formação, as
vicissitudes às quais costuma ser submetido elevam suas chances de um retorno
ao país de origem ou de migrar para outras nações onde seus familiares se
instalaram.
Desta
forma, em todos os países europeus, é comum encontrar estrangeiros que
trabalham durante anos e contribuem regularmente para a previdência social,
mas, ao saírem deles antes de completar o período necessário para obter os
benefícios, acabam engordando o caixa da seguridade social sem receber nenhum
retorno. Os motivos pelos quais a Finlândia abre os braços aos estrangeiros não
guarda nenhuma relação com questões humanitárias, mas tão somente com as
necessidades de um capital que não encontra espaços suficientes para ampliar a
acumulação no país e precisa tirar dos estrangeiros os recursos que garantem a
paz social entre os nativos.26
Resgatar
o que se esconde atrás das notícias de "sobra de vagas" e "falta
de trabalhadores" que insinuam a presença de um capitalismo pródigo em
oportunidades permite mostrar que o capital não tem nenhuma intenção de
afrouxar o torniquete da exploração. É nesta direção que, a nosso ver, devem
ser lidas as pressões da iniciativa privada para que os governos retirem os
auxílios concedidos durante a pandemia e os limites impostos às demissões em
função das necessidades do isolamento social. Sem nenhum tipo de proteção, a
força de trabalho disponível estaria totalmente exposta às exigências da
acumulação pós-pandemia.
Uma
amostra das possibilidades que se preparam em escala global pode ser vista nos
acontecimentos da Itália, país onde sobram trabalhadores e faltam empregos. No
dia 30 de junho, o governo deixou de reeditar o decreto que, desde 17 de março
de 2020, proibia as demissões que não fossem ligadas à falência ou à redução de
efetivos mediante um plano de demissões voluntárias acordado com os sindicatos.
Para poupar o caixa das empresas, o Estado pagava o correspondente a 80% das horas
não trabalhadas de quem estava com o contrato suspenso, sem nenhum custo por
parte dos empregadores. Desta forma, os patrões arcavam apenas com os
"prejuízos" oriundos da baixa utilização da capacidade instalada, mas
não da manutenção de funcionários capacitados que estariam imediatamente
disponíveis quando da retomada das atividades.27
Como
todos os dirigentes sindicais e os delegados de base esperavam, uma onda de
demissões percorreu a Itália de norte a sul a partir de 1º de julho. Em poucos
dias, inúmeras empresas aproveitaram para fechar setores e unidades de produção
a fim de transferir, parcial ou totalmente, as atividades aí realizadas para
países onde os custos do trabalho são menores. Outras justificaram com
"motivos econômicos" a eliminação seletiva tanto de profissionais com
os salários mais elevados, como de delegados sindicais e de membros das
organizações nos locais de trabalho cujos ordenados não se distanciavam das
médias setoriais.
Do
mesmo modo, as demissões que golpearam quem estava articulando os protestos
após o fim do decreto, ou havia participado de ações de resistência anteriores,
se associaram a uma longa lista de ativistas, delegados e representantes de
base que permaneceriam com o contrato suspenso, mesmo após a retomada das atividades,
a fim de impedir a presença deles na articulação do chão de fábrica no momento
mais delicado dos enfrentamentos.28
Felizmente,
os golpes desferidos pelos empresários despertaram reações inesperadas. Em
poucos dias, a resposta dos trabalhadores e das trabalhadoras se fez ouvir
intensamente de norte a sul do país. Greves de diferentes durações pipocaram em
todas as regiões italianas. Na cidade de Florença, ocorreu um dos momentos mais
significativos da retomada dos enfrentamentos. Os 400 operários da empresa de
componentes automotivos GKN, demitidos com o fechamento abrupto da unidade onde
trabalhavam, sacudiram a cidade com seus protestos, bloquearam as demissões
coletivas na justiça e lançaram as bases de um questionamento nacional sobre a
possibilidade de as empresas beneficiadas pelos incentivos governamentais
transferirem abruptamente as instalações para outros países.29
Além
dos atritos com a polícia, nos portões das empresas, não foram poucos os
momentos em que os piqueteiros enfrentaram a
violência de jagunços assoldados pelos empregadores, sob a vista grossa dos
policiais que acompanhavam os acontecimentos, a poucos metros de distância.30
Neste cenário no qual
se manifesta a rebeldia de uma classe que estava adormecida, não faltam elementos
que elevam as preocupações de quantos estão envolvidos na sua organização. O
ataque à sede da Confederação Geral Italiana do Trabalho (CGIL) perpetrada por
grupos neofascistas, no dia 9 de outubro, em Roma, acendeu um sinal de alerta
que as manifestações de repúdio ocorridas nos dias seguintes não conseguiram
apagar. Enquanto muitos limitaram suas observações ao debate sobre a
obrigatoriedade da vacina para todos os trabalhadores como a motivação para o
ataque à maior central sindical do país, poucos observaram que esta ação não
foi realizada por um grupo isolado de pessoas, e sim por uma multidão que, do
lado de fora da sede, assistia à invasão realizada pelos líderes de extrema
direita.
Cuidadosamente
preparada em todos os detalhes, a manifestação revelou a capacidade de
recrutamento e de mobilização da direita na periferia de Roma, um fenômeno que
vem se repetindo nas grandes cidades italianas. Neste sentido, o ataque se
apresenta como a ação de quem catalisa o descontentamento social que grassa
nestes ambientes, nos quais pequenos comerciantes, desempregados e
trabalhadores precários não conseguem fazer ouvir a própria voz, para se
credenciar como liderança disposta a enfrentar o status quo.
Ainda que, no momento,
seja impossível tirar maiores conclusões deste acontecimento, a confusão
ideológica e os apelos contra as vacinas que ganharam terreno entre o povo
simples, podem criar um caldo de cultura favorável à penetração neofascista na
base da pirâmide social. Se as manifestações de repúdio à invasão da sede da
CGIL eram essenciais sob todos os pontos de vista, a tarefa de reverter o apoio
das pessoas comuns aos grupos neofascistas é tão importante quanto urgente.
A pandemia chegou ao
nosso continente num cenário de 6 anos de baixo crescimento econômico, marcado
pelo aumento da pobreza e das tensões sociais. De acordo com a Comissão
Econômica para a América Latina (CEPAL), a economia da região sofreu uma
retração de 6,8%, em 2020, mais que o dobro da média mundial (- 3,2%); cerca de
2 milhões de micro e pequenas empresas fecharam as portas; e a redução de horas
trabalhadas sinalizou uma perda correspondente a 26 milhões de postos de
trabalho em tempo integral. A precariedade das condições de vida e o
empobrecimento da população associado ao desemprego, a impossibilidade de
muitos trabalhadores por conta própria exercerem suas atividades e os precários
serviços assistenciais do Estado potencializaram o impacto mortífero da
pandemia. Apesar de a região ter apenas 8,4% da população mundial, o coronavírus
fez com que ela respondesse por 27,8% das mortes por Covid-19 registradas no
mundo inteiro.
De acordo com o estudo
da CEPAL, publicado em setembro de 2021, a América Latina e o Caribe devem
crescer 5,9% este ano e conhecer uma expansão do PIB de 2,9% em 2022. Isso
significa que o continente voltará a igualar a quantidade de riquezas de 2019
somente em meados do próximo ano. Contudo, este passo ocorrerá sem que a renda
das famílias volte ao patamar anterior à crise. Se, antes da pandemia, um em
cada dois empregos era de trabalho informal, os dados de 2021 revelam que, em
média, sete em cada dez vagas geradas pelo crescimento econômico estão na
informalidade.31
Trata-se de um dado preocupante, à medida que esses
postos, além de não oferecerem nenhum tipo de direito e proteção social, pagam
salários inferiores aos do trabalho com carteira assinada. Ou seja, ainda que o
crescimento traga algum alívio em relação à situação atual, o aprofundamento da
exploração vai manter o número das famílias em situação de vulnerabilidade bem
acima dos patamares de 2019. A ausência de reações populares aos desmandos
empresariais, uma inflação que corrói o poder de compra dos salários, um Estado
que prende e condena quem rouba para comer e atua para dar mais a quem tem demais
abrem novos caminhos ao massacre dos mais pobres.
A um passo de entrar no
último mês de 2021, as preocupações com uma nova onda de contaminações
percorrem os países da Europa. Diante da forte elevação dos contágios, muitos
chefes de Estado voltaram a falar em lockdown.32 A líder técnica da
Organização Mundial da Saúde (OMS) para a Covid-19, Maria Van Kerkhove, disse
que, entre o dia 8 de outubro e 5 de novembro, na Europa, as contaminações
aumentaram em mais de 55%. Ainda segundo a OMS, mantido este ritmo, o velho
continente pode amargar mais de 500 mil mortes até o final de fevereiro de
2022.33
No mundo inteiro, a sede de lucros que força a marcha
rumo ao fim das restrições impostas pelo combate à pandemia é a mesma que usa o
desejo da população de voltar à normalidade para pressionar os governos a
assumirem os riscos e os custos da completa reabertura das atividades
econômicas. Nesta correnteza onde toda precaução é vista como uma ameaça aos
negócios, a Covid-19 prepara a conta que a humanidade pagará em vidas humanas.
Emilio
Gennari, 16 de novembro de 2021.
____________________________________________________
(1) Em:
Emilio Gennari, O mundo no final de 2020, texto disponível através do
link https://drive.google.com/file/d/1zACZhmiuqYSYpAA0yKrtdr_q46smBxz-/view?usp=drivesdk
(2)
Os dados citados encontram-se disponíveis em: https://brasil.elpais.com/internacional/2021-06-15/ue-e-eua-selam-fim-do-conflito-airbus-boeing-apos-17-anos-de-disputa.html e em:
https://brasil.elpais.com/internacional/2021-11-01/biden-promove-resposta-internacional-a-crise-das-cadeias-de-abastecimento.html
Acessos em 02/11/2021.
(3)
Em: https://elpais.com/internacional/2021-02-25/la-ue-impulsa-sus-planes-de-autonomia-militar-pese-a-la-sintonia-con-washington.html#?sma=newsletter_global20210301m e em: https://elpais.com/internacional/2021-11-15/la-ue-preve-realizar-en-2023-las-primeras-maniobras-militares-de-su-historia.html?sma=newsletter_diaria_manana20211115m Acesso em 15/11/2021.
(4)
Resumimos neste bloco as informações divulgadas em:
- https://elpais.com/internacional/2021-07-22/el-aparente-enfado-del-kremlin-con-el-nord-stream-2.html
Acessos em 25/10/2021.
(5)
Dados divulgados em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-58582195
Acesso em 16/09/2021.
(6)
O relatório completo do Instituto está disponível em: https://www.defesanet.com.br/tt/noticia/40451/SIPRI---Gastos-militares-mundiais-sobem-para-quase-US-%24-2-trilhoes-em-2020/
Acesso em 30/10/2021
(7)
Em: https://internacional.estadao.com.br/noticias/geral,reino-unido-amplia-arsenal-nuclear-pela-primeira-vez-em-30-anos,70003649950?utm_source=NexoNL&utm_medium=Email&utm_campaign=anexo Acesso em 19/03/2021.
(8) Maiores informações sobre o
tema podem ser encontradas em: https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/sputnik-foi-alerta-para-os-eua-mas-missil-hipersonico-chines-e-desafio-maior/ Acesso em 13/11/2021.
(9) Para entendermos a importância
das armas hipersônicas num conflito, basta pensar que elas não seguem a
trajetória parabólica fixa de um míssil balístico convencional, podem voar em
altitudes mais baixas e seu percurso até o alvo pode seguir trajetórias diferentes,
o que dificulta o rastreamento e a interceptação pelos sistemas de defesa
antimísseis em uso na maioria dos países. As armas hipersônicas podem ser
lançadas de foguetes balísticos que as colocam em órbita antes de elas
acionarem seus propulsores ou de um avião, como é o caso do míssil hipersônico
Kinjal, fabricado pela Rússia. A arma testada por Pequim atingiu 7.344 km por
hora, o que possibilitaria dar uma volta completa na terra na linha do Equador
em pouco menos de duas horas. Os mísseis da série Avanguard que estão sendo
testados pela Rússia podem cobrir distâncias intercontinentais a mais de 24 mil
km por hora. Os mísseis hipersônicos acoplados a aviões militares podem levar
cargas capazes de afundar um porta-aviões, um objetivo que não pode ser atingido
pelos mísseis convencionais existentes. Ao que tudo indica, China e Rússia
estão à frente dos EUA no desenvolvimento desse tipo de armamento que, apesar
de poder carregar ogivas nucleares, não está sujeito a nenhum acordo que limite
a sua fabricação e o seu uso. Os dados citados no texto e maiores informações
sobre este tema podem ser encontradas em:
- https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-45123118
Acessos
em 08/11/2021.
(10) Os dados do Paquistão
encontram-se no mesmo relatório do SIPRI, disponível em: https://www.defesanet.com.br/tt/noticia/40451/SIPRI---Gastos-militares-mundiais-sobem-para-quase-US-%24-2-trilhoes-em-2020/
Acesso em 30/10/2021
(11) Dados disponíveis em: https://www.sipri.org/media/press-release/2021/global-nuclear-arsenals-grow-states-continue-modernize-new-sipri-yearbook-out-now Acesso em 14/11/2021.
(12) Os valores apresentados foram
calculados somando as estimativas do número de artefatos nucleares de França,
Reino Unido, China, Índia, Paquistão, Israel e Coreia do Norte, em 2020 e 2021,
disponíveis em: https://www.sipri.org/media/press-release/2021/global-nuclear-arsenals-grow-states-continue-modernize-new-sipri-yearbook-out-now Acesso em 14/11/2021.
(13) Em: https://super.abril.com.br/tecnologia/missil-hipersonico-dos-eua-falha-no-primeiro-teste/ e em: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2021/10/22/teste-com-missil-hipersonico-dos-eua-falha.ghtml Acessos realizados em 14/11/2021.
(14) Maiores informações sobre o
tema podem ser encontradas em: https://www.indiatoday.in/india-today-insight/story/agni-v-and-the-end-of-india-s-northeastern-dilemma-1871754-2021-10-31 Acesso em 14/11/2021.
(15)
Estas e outras informações estão disponíveis em:
- https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-58545229
- https://www.bbc.com/portuguese/internacional-58582195
(16)
O relatório completo divulgado pelo FMI em outubro de 2021 está disponível em: https://www.imf.org/pt/Publications/WEO/Issues/2021/10/12/world-economic-outlook-october-2021
Acesso em 30/10/2021.
(17)
Em: https://www.bbc.com/mundo/noticias-58943545
Acesso em 02/11/2021.
(18)
Em: https://www.bbc.com/mundo/noticias-58324770
Acesso em 02/11/2021.
(19) Em: https://tiinside.com.br/04/03/2021/fusoes-e-aquisicoes-movimentam-us-28-trilhoes-em-ano-marcado-pela-pandemia-aponta-bain-company/ e em:
https://www.infomoney.com.br/mercados/fusoes-e-aquisicoes-globais-atingem-recorde-de-us-41-trilhoes/ Acessos em 14/11/2021
(20)
Em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-58934505
Acesso em 22/10/2021.
(21)
Em: https://brasil.elpais.com/internacional/2021-09-30/china-enfrenta-onda-de-blecautes.html?prm=ep-app-cabecera
Acesso em 16/10/2021.
(22)
Estas e outras informações sobre o tema podem ser encontradas em:
- https://www.bbc.com/portuguese/internacional-58762811
- https://www.bbc.com/portuguese/brasil-59085524
Todos os
acessos foram realizados em 31/10/2021.
(23)
Cálculos realizados pelo autor a partir dos dados que constam no relatório La COVID-19 y el mundo del trabajo. Octava edición - Estimaciones
actualizadas y análisis, 27 de outubro de 2021 da OIT (disponível em: https://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/---dgreports/---dcomm/documents/briefingnote/wcms_824097.pdf Acesso em 09/11/2021) e das estimativas do
PIB mundial, divulgadas pela OCDE em: https://data.oecd.org/gdp/real-gdp-forecast.htm#indicator-chart Acesso em 08/11/2021.
(24)
Estas e outras informações sobre a realidade do trabalho nos EUA estão
disponíveis em:
- https://www.bbc.com/mundo/noticias-58182076
- https://www.bbc.com/portuguese/internacional-58141303
- https://www.bbc.com/mundo/noticias-58181006
- https://www.bbc.com/portuguese/internacional-58428025
- https://www.bbc.com/mundo/noticias-52114445
- https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-56696522
- https://www.bbc.com/mundo/noticias-56631854
- https://www.wsws.org/pt/articles/2020/07/01/amaz-j01.html
- https://www.dmtemdebate.com.br/a-amazon-prime-day-e-um-pesadelo-para-os-trabalhadores-da-amazon/
- https://progressive.international/wire/2020-06-30-the-amazon-strikes-and-the-language-of-power/pt-br
- https://www.bbc.com/news/technology-57332390
- https://www.bbc.com/news/business-55927024
- https://www.bbc.com/news/technology-54355803
- https://www.cnnbrasil.com.br/business/estados-unidos-registram-recorde-de-pedidos-de-demissao/
- https://www.bbc.com/mundo/noticias-58935177
Acessos em 19/10/2021
(25) Resumimos neste bloco as informações
divulgadas em:
- https://www.bbc.com/portuguese/geral-58354157
- https://www.em.com.br/app/noticia/internacional/2021/09/29/interna_internacional,1309996/soldados-britanicos-se-preparam-para-substituir-caminhoneiros-na-crise-de-c.shtml Acessos
em 17/10/2021.
(26)
Em: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2021/06/22/finlandia-busca-desesperadamente-trabalhadores-imigrantes-mas-tropeca-no-preconceito.ghtml Acesso em
15/09/2021
(27) Informações mais detalhadas
podem ser obtidas em:
- https://www.inps.it/pages/standard/46118
Acessos
em 06/11/2021.
(28) A descrição de alguns casos que
ilustram os motivos das demissões pode ser encontrada em:
Acessos em 07/11/2021.
(29) Algumas matérias ajudam a termos
uma noção da dimensão do movimento grevista que percorre a Itália desde julho
deste ano:
- https://www.milanotoday.it/attualita/sciopero-unes-vimodrone.html
- http://sicobas.org/tag/licenziamenti/
Acessos em 19/10/2021.
(30) Maiores informações estão
disponíveis em:
- https://ilmanifesto.it/fedex-altre-botte-agli-operai-vigilantes-ne-feriscono-otto/?utm_source=lunedi-rosso&utm_medium=email&utm_campaign=14-06 Acessos em 06/10/2021
(31) Todos os dados citados e maiores
informações sobre a realidade da América Latina e do Caribe podem ser
encontradas em:
- Roxana Maurizio, Empleo e informalidad en AMerica Latina y el
Caribe: una recuperación insuficiente y desigual. Ed. Organização
Internacional do Trabalho, setembro de 2021.
- https://www.ilo.org/brasilia/noticias/WCMS_779120/lang--pt/index.htm
- https://static.poder360.com.br/2021/03/Panorama-social-America-Latina-2020.pdf
Todos os acessos foram realizados em 13/11/2021.
(32) Dados publicados em: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2021/11/05/na-alemanha-ha-recorde-de-casos-de-covid-19-pelo-segundo-dia-consecutivo-ministro-de-saude-fala-em-voltar-a-lockdown.ghtml Acesso em 06/11/2021
(33) Estas e outras informações da situação nos países
da Europa estão disponíveis em:
Acessos
realizados em 07/11/2021
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