A Bancada Evangélica tem se consolidado como uma das principais forças políticas no Brasil contemporâneo. Formada por parlamentares ligados a igrejas protestantes, sua atuação visa influenciar a legislação e as políticas públicas a partir de uma perspectiva supostamente cristã. No entanto, sua trajetória revela interesses muitas vezes distantes dos valores do Evangelho, levantando questionamentos sobre sua verdadeira agenda e compromisso com Cristo.
Origem da Bancada Evangélica
A influência política evangélica no Brasil remonta à década de 1980, com o aumento da participação de pastores e líderes religiosos em cargos eletivos. Com o crescimento das igrejas neopentecostais, especialmente as ligadas às denominações como a Igreja Universal do Reino de Deus, Assembleia de Deus e Igreja Internacional da Graça de Deus, formou-se um grupo coeso que passou a atuar no Congresso Nacional a partir dos anos 1990 (MARIANO, 2012). Seu crescimento exponencial coincidiu com a ascensão do pentecostalismo na sociedade brasileira, que hoje representa cerca de 30% da população (IBGE, 2022).
Interesses e Agendas Políticas
A bancada evangélica costuma se posicionar em questões morais e culturais, promovendo projetos contra direitos reprodutivos das mulheres, união homoafetiva e educação sexual nas escolas (FONSECA, 2018). No entanto, há uma incoerência evidente ao ignorarem questões essenciais como combate à desigualdade, erradicação da pobreza e defesa dos mais vulneráveis, que são temas centrais na mensagem de Jesus Cristo (Mateus 25:35-40). Em muitos casos, os parlamentares usam a fé como ferramenta política, aliando-se a setores empresariais e adotando pautas neoliberais que pouco beneficiam os mais necessitados (PIERUCCI, 2004).
Projeto de Poder e Instrumentalização da Fé
A estratégia da bancada evangélica envolve a ocupação de espaços de poder através da eleição de candidatos alinhados às lideranças religiosas, consolidando uma rede de influência política e econômica (MACHADO, 2016). Este projeto visa não apenas a legislação de valores morais, mas também a obtenção de vantagens econômicas para certos grupos religiosos, como isenção de impostos e concessões de emissoras de rádio e televisão.
Essa busca pelo poder contrasta com os ensinamentos de Jesus, que rejeitou a instrumentalização política de sua mensagem (João 18:36). Cristo ensinou que seu Reino não era deste mundo e criticou os fariseus por utilizarem a fé para obter status e controle sobre as pessoas (Mateus 23:1-7).
Descompromisso com Cristo e seus Ensinamentos
Apesar do discurso religioso, a atuação da bancada evangélica demonstra um distanciamento dos valores cristãos essenciais. A falta de compromisso com a justiça social, a conivência com corrupção e a busca incessante pelo poder são evidências de uma agenda mais política do que espiritual. Como alertou o profeta Isaías: "Este povo se aproxima de mim com a sua boca e me honra com os seus lábios, mas o seu coração está longe de mim" (Isaías 29:13).
Enquanto Jesus acolhia os marginalizados, a bancada evangélica frequentemente apoia políticas excludentes e punitivistas, que reforçam desigualdades em vez de buscar a redenção e a justiça. As Escrituras são claras ao afirmar que a verdadeira religião consiste em cuidar dos órfãos, viúvas e necessitados (Tiago 1:27), algo que muitos desses parlamentares negligenciam em suas práticas.
Fé ou Poder?
A bancada evangélica, longe de representar os valores do Evangelho, tem se consolidado como um grupo de interesses que instrumentaliza a fé para fins políticos e econômicos. Seu descompromisso com Cristo fica evidente na contradição entre suas práticas e os ensinamentos de Jesus, que pregava amor, justiça e solidariedade. O verdadeiro cristão não está na busca pelo poder, mas no serviço ao próximo e na defesa dos mais fracos. Cabe aos fiéis discernirem entre uma fé autêntica e sua exploração política.
Referências
FONSECA, Alexandre Brasil. Religião e Política no Brasil Contemporâneo. São Paulo: Paulinas, 2018.
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Demográfico 2022. Disponível em: www.ibge.gov.br
MACHADO, Maria das Dores Campos. Política e Religião: A Participação dos Evangélicos nas Eleições. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2016.
MARIANO, Ricardo. Neopentecostais: Sociologia do Novo Pentecostalismo no Brasil. São Paulo: Loyola, 2012.
PIERUCCI, Antônio Flávio. O Desencantamento do Mundo: Todos os Passos do Protestantismo. São Paulo: Editora 34, 2004.
BÍBLIA. Almeida Revista e Atualizada. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993.
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