Estaríamos diante de uma “paz armada” no início do
século 21, numa espécie de “deja vu” do cenário que antecedeu a primeira
guerra? As velhas potências imperialistas se armando e as novas entrando em
disputas militares desde o Ártico até o mar da china.
Este é o tema da excelente análise de conjuntura de
Emílio Gennari. Em sua opinião, os trilhões de dólares que esperam uma chance
de explorar o proletariado voltando ao processo de extração da Mais Valia,
aumenta as chances de mergulho do planeta em nova crise cíclica, o aumento dos
conflitos e do armamento revelam a possibilidade do imperialismo usar a guerra
como forma de queima de capital e posterior retomada de taxas de lucro
saudáveis para o capital.
O Problema é que uma guerra no estágio atual de
desenvolvimento da capacidade de destruição poderia levar todo o planeta a
destruição ou trazer de volta a possibilidade das revoluções socialistas.
Estaremos diante de um possível 3ª
Guerra ou de mais uma chantagem do imperialismo? Boa leitura.
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Emilio Gennari –
Educador Popular
E-mail: epcursos@gmail.com
|
O
capital desocupado e as fronteiras da valorização
Em
meados de janeiro deste ano, a organização não governamental britânica Oxfam divulgou
suas estimativas a respeito da concentração da renda mundial. O quadro desenhado
pela entidade é assombroso: 82% das riquezas produzidas em 2017 foram
apropriadas pelo 1% mais rico. Neste grupo, os bilionários que possuem a mesma
quantidade de bens e dinheiro de metade da população mais pobre do planeta passaram
de 62, em 2016, para 41 no ano seguinte.
No
Brasil, os empresários com fortunas acima de um bilhão de reais aumentaram suas
riquezas em 13%. O abismo que separa ricos e pobres pode ser visualizado nos 19
anos de trabalho ininterrupto com os quais quem ganha um salário mínimo iguala
o que um bilionário recebe, em média, em um único mês.
Contudo,
os problemas do relatório começam a aparecer na hora de analisar as causas da
desigualdade. Para a Oxfam, a sonegação de impostos, o corte dos gastos
públicos, a influência das empresas na política e a preocupação em aumentar os
ganhos dos acionistas seriam a base deste fenômeno que transforma o capitalismo
num sistema falido. Para reverter a concentração de renda, os ricos deveriam
repensar a economia a partir do impacto que suas escolhas produzem na sociedade
e os governos teriam o desafio de viabilizar políticas que reduzam o abismo entre
o topo e a base da pirâmide social.
Chama a
atenção o fato de que, apesar das evidências levantadas ano após ano, a promessa
de o sistema capitalista nos livrar da pobreza impede de ver que isto é materialmente
impossível. Pobreza, desemprego, corte de direitos, reformas que garantem
lucros adicionais, sistemas de fiscalização ineficientes, ingerência direta nas
decisões e investimentos do Estado, etc. não são desvios de uma ordem que tem
tudo para dar certo, e sim elementos sem os quais o capital não ampliaria a sua
valorização. Vistas sob este ângulo, a concentração e a acumulação da riqueza
não são sinais de falência, e sim da eficiência de um sistema que constrói
sociedades e estados para realizar a sua vocação de continuamente investir,
lucrar, e aumentar ainda mais seus ganhos.
Neste
contexto, escolhas governamentais absurdas do ponto de vista do bem estar coletivo
ganham sentido quando percebemos que o capital vota todos os dias, à medida que
suas ações e interesses dirigem as políticas econômicas, transformando
governantes e parlamentares eleitos em serviçais dispostos a ampliar as chances
de sua valorização.
Os
problemas se acirram quando há muito capital desocupado. Estima-se que só nos
paraísos fiscais haveria 36 trilhões de dólares aguardando oportunidades de
valorização, algo como 18 vezes o Produto Interno Bruto (PIB) anual do Brasil. Entre
os gigantes da economia, a Apple, por exemplo, reconheceu publicamente que
mantém neles 252 bilhões de dólares à espera de serem utilizados em algo que
seja interessante para a empresa.
Ao
contrário do que ocorre com os trabalhadores, cujas poupanças preparam a compra
de bens de certo valor ou servem de colchão amortecedor para os infortúnios da
vida, os trilhões de dólares que dormem nas contas bancárias ao redor do mundo
sinalizam que algo não está funcionando como deveria. Manter o dinheiro parado
pode ser comparado a uma empresa de transporte cuja frota de veículos é guardada
na garagem por falta de rotas em que pode ser utilizada. Ninguém duvida de que
se trata de bens de alto valor, mas é fato que, no lugar de serem empregados
para produzir lucros destinados a ampliar ainda mais as posses do proprietário,
os veículo parados apenas se desgastam à espera de cumprirem a sua função.
Ao
mergulhar na crise de 2008-2009, o mundo se deparou com uma situação que somava
vários elementos contrários à retomada do crescimento sustentado: Estados que,
em função dos elevados déficits públicos e da renúncia fiscal, não tinham
recursos para investir em obras que reanimassem a economia, setores cuja
capacidade instalada superava abundantemente a demanda mais otimista e mercados
especulativos onde os riscos de amargar perdas ultrapassavam as promessas de
ganhos.[1]
Neste contexto, o investimento, que é o motor principal da retomada do
crescimento, encolheu, o dinheiro acumulado permaneceu nos cofres e a economia
viveu à beira de uma nova crise.[2]
O que
tira o sono dos capitalistas, portanto, não é a miséria nem, muito menos, a
desigualdade da renda e sim o não saber o que fazer com os capitais acumulados diante
das incertezas e instabilidades da economia mundial. Longe de ser uma mão na
roda, a forte diminuição do desemprego e o consequente aumento dos salários
encolhem os lucros e reduzem o retorno sobre o capital investido. Daí a
preocupação em manter sempre um número de desocupados grande quanto basta para
achatar os salários, mas não tão elevado a ponto de alimentar uma convulsão
social.
O que
deixa os capitalistas com a pulga atrás da orelha neste primeiro trimestre de
2018 é que a economia mundial esteja se dirigindo rumo a mais uma crise
econômica cuja ocorrência desvalorizaria as empresas, frearia os negócios e deixaria
desocupadas quantias ainda maiores. Diante desta realidade, a análise que
esboçamos a seguir tenta detectar as primeiras buscas de novas fontes de
investimento e valorização numa fase de crescimento econômico que não esconde a
fragilidade dos seus fundamentos.[3]
Até o momento, para afastar o
perigo de uma nova recessão, os bancos centrais da Zona Euro, Grã Bretanha,
Japão, Estados Unidos, Canadá e Austrália, que representam em torno de 65% do
PIB mundial, fixaram as taxas de juros abaixo da inflação e aprimoraram políticas
de estímulo ao investimento a fim de fazer a economia crescer.[4]
Para isso, criaram um sistema de suporte financeiro que eleva o endividamento
do Estado e fortalece seu papel de fiador dos créditos concedidos aos agentes
do mercado.[5]
Apesar das diferenças entre um país e outro, esta ação busca fundamentalmente:
Ø Permitir que governos e administrações
locais movimentem a economia graças a emissões de dinheiro novo dos respectivos
bancos centrais. Os governos usam parte dessas quantias para substituir títulos
da dívida pública lançados a juros maiores e prazos de resgate mais curtos por
outros que pagam juros menores e têm vencimentos estendidos. Esta operação se
torna possível à medida que as emissões de moeda e a política de juros
negativos fazem com que os novos títulos da dívida pública sejam atraentes para
o sistema financeiro apesar de pagarem menos do que as obrigações que são
resgatadas. Desta forma, os governos reanimam a economia ao investir em obras
públicas parte dos recursos que seriam destinados ao pagamento dos serviços de
suas dívidas.
Ø Uma fatia do dinheiro novo é usada
também para socorrer grandes empresas cujos balanços são afetados pelos custos
dos empréstimos contratados antes da crise e pela diminuição do faturamento.
Numa modalidade semelhante à que descrevemos anteriormente, os créditos
destinados aos empresários também visam aumentar os prazos de pagamento e
diminuir a conta dos juros, liberando recursos para qualquer tipo de
investimento.
Ø As instituições financeiras se
beneficiam deste mecanismo à medida que os bancos centrais compram os títulos
“tóxicos” de suas carteiras de crédito. Ou seja, o Estado assume as obrigações
daqueles devedores que, ao darem um calote, iriam corroer os balanços destas
instituições colocando em risco a sua sobrevivência.
Ø Graças ao dinheiro disponível, os
juros e prazos do mercado financeiro como um todo se tornam mais favoráveis.
Desta forma, um número maior de pessoas pode se endividar, por exemplo, para
comprar a casa própria ou bens duráveis que seriam menos acessíveis nas
condições anteriores.
Vale
ressaltar que o encadeamento positivo desses fatores se deve às taxas de juros
negativas e à ameaça de deflação que ronda as economias desenvolvidas. No caso
do Banco Central dos EUA, os juros levaram 8 anos para se aproximarem da
inflação anual do país, fazendo com que poupar fosse um mau negócio. As coisas
caminham nesta mesma direção nos 19 países que adotam o euro como moeda. De fato, o BCE
mantém juros negativos em 0,5% ao ano que, em 2017, somados à inflação, levaram
o poupador a perder quase 2 de cada cem euros depositados. E, como os juros negativos
são aplicados também às quantias que as instituições financeiras deixam no
próprio BCE, cidadãos e bancos são estimulados a investir e a consumir como
forma de proteger seus recursos.
Até o
momento, a inflação baixa e a preocupação com a deflação fazem com que a emissão
de dinheiro novo pelos bancos centrais não desvalorize a moeda. Mas a mesma política
monetária criada para empurrar o crescimento da economia prepara problemas que
vão se manifestar quando a injeção desse dinheiro cessar e as taxas de juros
subirem acima da inflação. Os estudos alertam em relação aos fatores que seguem:
1. O aumento das dificuldades de
pagamento das dívidas contraídas, ou de refinanciamento das mesmas com novos
títulos, caso ocorram desequilíbrios entre arrecadação e gastos públicos ou
entre receita e despesa das empresas. Neste cenário, as instituições
financeiras iriam se deparar com o aumento do risco de calote. Seus balanços,
como o das empresas devedoras, enfrentariam uma situação periclitante que iria
frear a economia.
2. É difícil estimar quanto dinheiro
colocado à disposição dos empresários pelos mecanismos que descrevemos se
tornou investimento na produção de bens e serviços e quanto alimentou a
especulação nas Bolsas de Valores.[6]
Somada à moeda sem lastro emitida pelos bancos centrais, a estagnação da
produtividade do trabalho causada por um conjunto de fatores, entre os quais o
baixo nível de investimento em novas tecnologias, pode soprar na fogueira da
inflação. O aumento dos preços levaria a uma alta dos juros que encolheria
ainda mais os investimentos, colocando a economia à beira de uma nova recessão.
3. Um número crescente de
economistas alerta em relação ao ótimo desempenho das Bolsas de Valores
registrado em 2017 e às perspectivas de que, em 2018, possam repetir resultados
parecidos. O excesso de capitais que buscam se valorizar neste meio, onde a
especulação promete lucros que não podem ser obtidos na produção e na compra de
títulos públicos, projeta ganhos muito acima do que a economia real pode
oferecer. Somadas às questões anteriores, uma desvalorização entre 10% e 20%
dos papéis negociados nas Bolsas traria perdas significativas e aumentaria os
riscos de calote. De fato, à medida que os recursos dos balanços liberados pelos
empréstimos do banco central não foram investidos na produção e na elevação da
competitividade, parte do dinheiro aplicado na Bolsa simplesmente evaporaria
com a desvalorização dos títulos negociados, colocando em risco os balanços
futuros.[7]
Enquanto
as reduções de impostos nos países desenvolvidos e as facilidades de crédito
alimentam as atuais possibilidades de valorização, o capital desocupado cresce
dia após dia.[8]
Daí uma pergunta intrigante: se os lucros da produção não são atraentes, se os
títulos das dívidas públicas oferecem ganhos pequenos demais, e as Bolsas de
Valores unem valorizações invejáveis a riscos crescentes...então...que novos
espaços o capital vai ocupar para realizar sua vocação de acumular e ampliar seguidamente
as riquezas conseguidas?
Longe
de distribuir renda e reduzir desigualdades, o caminho para o futuro aponta para
a necessidade de apertar o torniquete que espreme os trabalhadores em formas e
condições que extrapolam as relações de trabalho e preparam aventuras em que a
destruição se perfila no horizonte da humanidade.
Sem
paranoias e alarmismos, apontamos focos de tensão que estão se agravando e cuja
solução pode deixar o âmbito da diplomacia para enveredar no caminho da guerra.
Longe de serem manifestações de desequilíbrios mentais, as posições do presidente
dos EUA, Donald Trump, se apresentam como aspectos visíveis da busca agressiva do
capital por uma ordem que não limite suas chances de expansão em nome da paz, da
preservação ambiental e da igualdade. Tão assustadora quanto a retórica em relação
ao aquecimento global adotada na ruptura do Acordo de Paris e na troca de
ameaças com a Coreia do Norte, é a falta de resposta parlamentar à altura da
situação e a posição favorável de uma parte significativa da sociedade
estadunidense que considera as expressões de Trump como necessárias para reafirmar
a grandeza e o poder do país.[9]
Na
história do capitalismo, a guerra tem sido um instrumento eficiente para
investir recursos tanto na destruição, como na reconstrução de países inteiros.
Volumes enormes de dinheiro movimentam esta economia da morte, cujas
engrenagens demandam vultosos investimentos em pesquisa e produção de materiais
bélicos sofisticados, eficientes e caros que os Estados comprarão em nome da
defesa da população e dos interesses da nação.
No momento
em que escrevemos, ganha espaço a ideia de utilizar armas atômicas em situações
que extrapolam o âmbito de um conflito entre potências que dispõem desse
armamento. Enquanto a política nuclear de Barack Obama previa o seu uso somente
em caso de ataques atômicos contra os EUA, a Revisão da Postura Nuclear do
governo Trump, divulgada em 2 de fevereiro deste ano, introduz possibilidades
preocupantes.[10]
Após apontar
Rússia, China, Coreia do Norte e Irã como possíveis ameaças, o texto parte do
pressuposto pelo qual os Estados Unidos estariam em desvantagem em relação à
posição dos seus adversários. Apesar de terem o segundo maior arsenal nuclear
com 6.800 ogivas e um gasto anual com a defesa de 610 bilhões de dólares (ante
os 117 bilhões de dólares da China e os 85 bilhões de dólares da Rússia), o
país não poderia usar as armas atômicas existentes. A capacidade de destruição
de um míssil de ogivas múltiplas é tamanha que as retaliações e os
contra-ataques ao seu lançamento poderiam impossibilitar a vida sobre a terra.
Sendo assim, para o governo Trump, ter armas poderosas que não podem ser utilizadas
equivale a dizer que os artefatos estadunidenses perdem a capacidade de
dissuadir seus adversários.
Para
recompor a superioridade estratégica, os EUA vão desenvolver ogivas com um
poder de destruição próximo ao da bomba lançada durante a segunda guerra
mundial, sobre a cidade de Nagasaki, no Japão, e usá-las para equipar um número
bem maior dos mísseis existentes e dos novos que serão desenvolvidos para este
fim.[11]
Desta forma, elas poderiam ser empregadas contra qualquer tipo de ataque significativo
à população e às infraestruturas vitais dos Estados Unidos e de seus aliados. O
fato de os submarinos serem citados como bases de lançamento das novas armas envia
ao mundo um recado claro: Washington irá usar o dispositivo mais furtivo de que
dispõe para lançar artefatos nucleares a qualquer momento e de qualquer lugar,
sempre que considerar necessário.
Com
7.000 ogivas em seus arsenais, o Ministro das Relações Exteriores russo acusou
os EUA de estimular a guerra e de viabilizar uma política de confronto que
levará Moscou a tomar as medidas necessárias para garantir a segurança do país.
Por sua vez, a China, que conta com 270 ogivas nucleares e é assinalada pelo
documento supracitado como principal desafio para os interesses dos EUA na
Ásia, já reafirmou o compromisso de não ser a primeira a utilizar estas armas sob
qualquer circunstância, e que não usará ou ameaçará usá-las contra estados sem
armamento atômico.
Pelo visto,
estamos assistindo ao primeiro ensaio de uma corrida armamentista justo no
momento em que os focos de tensão existentes podem levar a conflitos de amplas
proporções até mesmo por erros de avaliação ou acidentes. As preocupações
maiores se concentram nas duas Coreias (e envolvem EUA, Rússia, China e Japão[12])
e no Mar do Sul da China, onde Pequim construiu ilhas artificiais equipadas com
instalações militares de última geração e criou um espaço de exclusão aérea que
já provocou vários atritos com as forças armadas estadunidenses no Pacífico.
Por
outro lado, a crescente importância da Rússia no cenário mundial está levando a
situações que incomodam os Estados Unidos. Uma das que chama a atenção está no
Oriente Médio. Além do papel militar desempenhado na Síria e da aliança com o
Irã, Moscou está atraindo a Turquia, aliado importante dos Estados Unidos no
Mar Mediterrâneo, para a própria área de influência. O governo turco mudou de
posição à medida que os EUA armaram forças curdas para derrotar o Estado Islâmico
na Síria, ajudam os curdos a controlarem os campos de petróleo e de gás
instalados naquele país e planejam novas ações bélicas envolvendo estes
contingentes. Os EUA lançam mão destas forças para tirar de Bashar Assad,
presidente sírio, recursos preciosos para a reconstrução da economia e para limitar
a vitória da Rússia e do Irã na região.
Mas o
governo turco teme que os curdos usem os equipamentos e os treinamentos
militares recebidos em futuras ações armadas que se destinam a criar um estado
independente em seu território. Por isso, as forças turcas já realizaram várias
incursões aéreas contra posições militares curdas, e o presidente do país, Tayyip
Recep Erdogan, deixou claro que manter a política atual é afastar
a Turquia dos Estados Unidos. Por sua vez, a Rússia tem se revelado um parceiro
menos problemático do que os países ocidentais. Ao contrário de EUA e União
Europeia, Moscou não critica o histórico de violações dos direitos humanos da
Turquia (usado para justificar sua não admissão à União Europeia) e tem
articulado com ela ações militares contra as tropas curdas na Síria, dando a entender
que as relações entre os dois países podem ir além dos interesses imediatos.
Os
acordos da Arábia Saudita com Moscou também prometem semear tensões entre Riad
e Washington. No início de outubro do ano passado, o rei Salman Bin Abdulaziz
realizou a primeira visita oficial de um soberano saudita à Rússia, na que se
apresentou como uma tentativa de ampliar as alianças da Arábia. Sauditas e
russos são os maiores produtores de petróleo e gás do mundo e querem conter a
extração diária para estabilizar os preços e garantir recursos aos respectivos
governos. Os cortes se fazem necessários, sobretudo, ante o aumento da produção
petrolífera estadunidense, graças à qual Washington planeja reduzir a dependência
em relação ao petróleo árabe e aumentar a sua autonomia ao traçar a política
para o Oriente Médio.
Os
diálogos entre russos e sauditas levaram á assinatura de contratos para o
fornecimento do sistema antimíssil S400 (mais avançado em relação aos vendidos
pelos EUA), compra de equipamentos bélicos no total de 3 bilhões de dólares e a
construção de uma fábrica de fuzis de assalto Kalashnikov na Arábia Saudita. Estes
passos enviam uma mensagem preocupante: Washington deixa de ter a preferência
absoluta da Arábia, cujos planos para o Oriente Médio demandam mais do que os
estadunidenses se dispõem a fornecer.
Na
Europa, dois focos de tensão prometem dores de cabeça à União Europeia que
busca se afastar das posições estadunidenses.
O
primeiro deles é na Ucrânia, onde inúmeras dificuldades atrasaram a implantação
dos acordos de paz, assinados em fevereiro de 2015, entre forças governamentais
e rebeldes separatistas pró-russos. Em 23 de dezembro do ano passado, os EUA
optaram por fornecer novos armamentos às tropas de Kiev, alegando a necessidade
de fortalecer as linhas de defesa ucranianas. Recebida como uma espécie de
vingança pelo papel que Moscou teve na Síria, a Rússia acusou os Estados Unidos
de fomentar um novo banho de sangue na região.
França
e Alemanha se pronunciaram condenando qualquer violação ao cessar-fogo e
pediram às partes para que assumam suas responsabilidades na aplicação integral
dos acordos. Os dois países, que disputam a direção da política exterior da
União Europeia, temem que atritos desnecessários com a Rússia, de um lado, e a
condenação da postura estadunidense, de outro, coloquem em maus lençóis o árduo
desafio de se equilibrar entre Washington e Moscou em termos de interesses
econômicos, políticos e militares. Difícil prever neste momento se a mediação
europeia terá sucesso diante de recursos bélicos que alteram substancialmente o
equilíbrio de forças no terreno a favor do exército ucraniano e, menos ainda,
se os 27 países da União Europeia conseguirão tecer uma posição comum.
O
segundo foco vai ganhando corpo à medida que o aquecimento global amplia as
possibilidades de usar as rotas que unem o Oceano Pacífico aos mercados
europeus, passando pelo Ártico e começa a tornar viável a exploração dos
recursos da região.[13]
A China,
cuja economia depende fortemente do comércio exterior, é sem dúvida o país mais
interessado no assunto, e é com Moscou que Pequim vem fortalecendo os laços de
cooperação nos negócios do Ártico. De fato, além das questões relativas ao
transporte de carga, é nesta região que os especialistas estimam encontrar 16%
das reservas terrestres de petróleo e 30% das de gás ainda não descobertas, terras
raras em quantidade suficiente para cobrir 25% da demanda mundial dos setores ligados
à tecnologia digital, além de jazidas abundantes de níquel, ferro e urânio.[14]
Pelos
acordos vigentes, Rússia, Dinamarca (à qual pertence a Groenlândia), Noruega,
Islândia, EUA (em função do Alaska) e Canadá podem explorar os recursos do
Ártico até 370 km de suas costas, nas que são consideradas Zonas Econômicas Exclusivas
de cada nação. Mas esta área pode ser ampliada quando um país do grupo comprova
junto às Nações Unidas que a sua plataforma na placa continental vai além disso.
A Rússia, por exemplo, reivindica uma ampliação correspondente a um milhão e
191 mil km2 e a Dinamarca pede para si mais 900 mil km2,
sendo que partes destas regiões estão sendo reivindicadas pelos dois países e
pela Noruega.
Até
agora, as disputas têm sido resolvidas pacificamente, mas o quadro deve mudar nos
próximos 5 anos quando uma ulterior retração do gelo e o avanço dos
investimentos prometem levar os países do Ártico a fortalecer suas demandas,
corroendo a cooperação que até agora caracterizou as soluções encontradas.
Os
movimentos no tabuleiro das forças militares não deixam dúvidas quanto ao aumento
considerável dos investimentos bélicos nesta região em cujos céus passam as trajetórias
dos mísseis balísticos intercontinentais das grandes potências. Em graus e formas
diferentes, todas as nações do Ártico estão acelerando o processo de
modernização de suas forças armadas por considerar que a região será um dos
novos teatros de operações de guerra. Investimentos em bases militares
avançadas, lançadores de mísseis e sistemas antimísseis, modernização da
aviação militar e das frotas de navios de guerra (especialmente construídos
para as condições do Ártico), submarinos nucleares, tropas especiais treinadas e
equipadas para atuar nas condições extremas da região, ampliação da vigilância eletrônica
através de satélites espiões, drones, aviões militares especificamente
preparados para esta finalidade, etc. são os pratos de um cardápio que tende a
se ampliar muito nos próximos anos.
Entre
as principais demonstrações de força, em março do ano passado, a Rússia testou
a capacidade de combate da sua Frota do Norte envolvendo nada menos do que 41
navios de guerra, 15 submarinos e 40 mil soldados. Cinco meses depois, e pela
primeira vez desde o fim da era soviética, o país realizou exercícios militares
de grandes proporções na costa do Ártico. Treinamentos parecidos foram feitos
por Finlândia e Canadá, muitas vezes em conjunto com os EUA cujos navios de
guerra aparecem frequentemente nas águas do mar Báltico enquanto os submarinos
nucleares marcam presença no Mar de Barents por onde passa a trajetória mais
curta dos mísseis balísticos intercontinentais. Quanto mais armas, tropas e
operações militares na região, maiores as chances de simples incidentes terem
consequências inesperadas.[15]
O
desenrolar dos acontecimentos no Ártico ajuda também a derrubar as esperanças
de preservação ambiental deste canto do mundo. A cobertura de gelo ter se retraído
cerca de 30% desde 1970 preocupa pela diminuição da influência positiva que as
correntes marítimas entre os dois polos tem no equilíbrio da vida marinha. Ao se
movimentarem de um polo ao outro, estas correntes ajudam a controlar a
temperatura dos oceanos e distribuem nutrientes das regiões profundas para a
superfície. Mas o que é bom para as espécies marinhas e as populações que vivem
da pesca não é tão bom para os negócios que apostam na devastação dos recursos
naturais como possibilidade de valorização imediata dos capitais e pensam o
combate à poluição apenas como mais um campo para os investimentos futuros.
Esta
parece ser a interpretação mais apropriada das palavras de Scott Pruitt, chefe
da Agência de Proteção Ambiental dos EUA que, no dia 7 de fevereiro deste ano, perguntou
publicamente se o aquecimento global é necessariamente algo ruim. Ao contrário
do que a mídia costuma publicar, Trump não desconhece nem as pesquisas
científicas, nem as projeções que elas desenham para o futuro. Ele apenas
atende às demandas empresariais que buscam descobrir como transformá-las em
chances reais de investimento e valorização do dinheiro que dorme nos seus
cofres.
De um
lado, é impossível acreditar que o governo estadunidense não conheça os estudos
e as projeções da própria NASA, a agência espacial norte-americana, relativos à
emissão de gases que causam o efeito estufa. Pelos cálculos dos seus
pesquisadores, em 1988, quando os líderes mundiais se encontraram no Canadá para
a 1ª Conferência Global sobre Mudanças Climáticas, as emissões anuais eram
equivalentes a 30 bilhões de toneladas de dióxido de carbono (excluídas as que
vêm dos processos de desmatamento) e a temperatura média da terra havia subido
pouco mais de meio grau Célsius em relação a 1880, a era pré-industrial usada
como referência histórica. Na assinatura do protocolo sobre o clima, em 1997,
em Kioto, no Japão, já eram 35 bilhões de toneladas e a temperatura média havia
subido 0,7 grau Célsius. Nove anos depois, em Paris, onde chegou-se ao Acordo
sobre o clima, as emissões anuais de gases de efeito estufa estavam a um passo
de atingir os 50 bilhões de toneladas e a temperatura média estava 1,1 grau
Célsius acima de 1880. Nas projeções da NASA para 2030, se o acordo de Paris
for integralmente respeitado, a emissão de gases excederia entre 12 e 14
bilhões de toneladas o nível necessário para manter o aquecimento médio da
temperatura mundial abaixo dos 2 graus Célsius, patamar além do qual os oceanos
avançariam perigosamente sobre a terra.[16]
Por
outro lado, os cientistas da própria NASA estão estudando como transformar o
combate ao aquecimento global em oportunidade de investimento graças às
descobertas feitas após erupções vulcânicas de grandes proporções. Tudo começou
em 1991, quando o Pinatubo, vulcão das Filipinas, lançou na atmosfera cerca de
20 milhões de toneladas de dióxido de enxofre. As correntes de ar levaram o dióxido
de enxofre pelo mundo e este se combinou com o vapor d’água formando aerossóis,
ou seja, gotículas que refletiam uma parte da luz do sol para fora da
atmosfera, fazendo a temperatura média da terra diminuir. Agora, os cientistas
estudam como aviões preparados para despejar sua carga às altitudes necessárias
poderiam “semear” compostos químicos que produzem o mesmo efeito sem prejudicar
a atmosfera.[17]
Desvendar
a realidade que se esconde sob o manto das aparências pode ser assustador, mas
proporciona uma visão dos interesses que movimentam o processo de destruição-reconstrução
que está na base do sistema. Sedento de ampliar as fronteiras da valorização, o
capital não vê os problemas socioambientais causados pela sua ação como um obstáculo
ou uma ameaça à humanidade, mas tão somente como oportunidades de negócios e
caminhos para ampliar o seu poder.
Enquanto
isso, os trabalhadores revelam não ter consciência da dominação à qual são
submetidos, à medida que seguem encontrando nela o ambiente no qual confiam
poder construir o seu próprio futuro. Ao aceitar com naturalidade situações
que, em outras épocas, despertariam indignação e revolta, a classe foi se tornando
incapaz de ver que as diferentes faces da desigualdade são os dentes de uma
engrenagem sem a qual a exploração e a acumulação do sistema capitalista não
poderiam se sustentar em nenhum lugar do mundo.
Desconcertada
com os dados levantados, a própria Oxfam revela a sua perplexidade ao afirmar
que, no ritmo atual, as próprias diferenças salariais entre homens e mulheres,
objeto de décadas de luta, serão eliminadas apenas daqui a 217 anos. Trata-se,
sem dúvida, de um prazo longo demais até para quem acredita poder construir a
igualdade no interior do capitalismo.
Brasil,
21 de fevereiro de 2018.
[1] Basta pensar que, por
exemplo, de 2 de janeiro de 2008 a 24 de outubro do mesmo ano, as empresas
cujas ações são negociadas nas bolsas de valores do mundo inteiro perderam nada
menos do que 25 trilhões de dólares em valor de mercado. Dado publicado na
edição impressa do jornal francês Le Monde, em 27 de outubro de 2008.
[2] A importância dos
investimentos públicos e privados se deve ao fato pelo qual as encomendas
geradas movimentam as engrenagens da produção antes mesmo de uma única
mercadoria ser vendida. Um exemplo ajuda a entender este processo. Em média, um
carro é composto por cerca de 2500 peças cuja produção depende de maquinários
preparados para este fim. Ao investir em novos equipamentos, os empresários
movimentam toda a cadeia produtiva que dará origem às máquinas ferramentas e
aos robôs que serão instalados nas linhas de montagem antes mesmo de montar nelas
o primeiro carro destinado ao consumidor final.
[3] A tese com a qual
trabalhamos não é nova. Entre seus defensores está o geógrafo britânico David
Harvey no livro “O enigma do capital e as crises do capitalismo”, Ed. Boitempo,
São Paulo 2011.
[4] A tabela que segue
mostra a distância entre índices de inflação e taxas de juros destas nações em
2017:
Países
|
Inflação oficial em 2017
|
Taxa de juros em 31/12/2017
|
Austrália
|
1,8%
|
1,5%
|
Canadá
|
1,87%
|
1,25%
|
Estados
Unidos
|
2,1%
|
1,5%
|
Grã
Bretanha
|
2,94%
|
0,5%
|
Japão
|
1.09%
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- 0,1%
|
Zona
Euro
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1,35%
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- 0,5%
|
Dados
publicados em http://pt.global-rates.com/estatisticas-economicas/inflacao/inflacao.aspx
e http://pt.global-rates.com/taxa-de-juros/bancos-centrais/bancos-centrais.aspx
acesso em 06/02/2018.
[5] Para termos uma ideia
do volume de dinheiro envolvido nestas operações, basta pensar que, por
exemplo, o Banco Central dos EUA injetou na economia nada menos do que 3
trilhões e 700 bilhões de dólares entre 2008 e 2015, enquanto o Banco Central
Europeu deve colocar em circulação um total de 2 trilhões e 550 bilhões de
euros (3 trilhões e 170 bilhões de dólares) até setembro deste ano. Dados publicados,
respectivamente, em http://www.bbc.com/news/business-15198789
acesso em 15/02/2018, e Diário do Comércio e da Indústria, edição impressa
de 05/02/2018
[6] Vários indícios apontam
que as coisas não saíram exatamente conforme esperado pelos Bancos Centrais. A
Agência das Nações Unidas para o Comércio e o Investimento (UNCTAD, pela sigla
em inglês) chama a atenção para o fato de que o investimento estrangeiro direto
no mundo inteiro passou de um trilhão e 800 bilhões de dólares em 2016 para um
trilhão e 520 bilhões no ano passado. Neste mesmo período, os bancos centrais
compraram títulos de dívidas da ordem de um trilhão e 500 bilhões de dólares,
acima da média histórica de um trilhão e 250 bilhões, registrada nos anos
anteriores. Ou seja, a tênue melhora no crescimento do PIB mundial, de 2,9% em
2016 para 3,1% em 2017, teria como base o aumento dos estímulos do estado e a
redução do desemprego, não uma elevação significativa dos investimentos. Dados
publicados na edição impressa do jornal Valor Econômico, em 23/01/2018.
[7] A queda nas bolsas de
valores registrada no mundo inteiro entre 2 e 6 de fevereiro deste ano fez com
que as ações das empresas perdessem cerca de 4 trilhões de dólares em valor de
mercado, o que corresponde a quase 75% do produto interno bruto da América
Latina e do Caribe. Isso nos dá uma ideia dos riscos deste investimento e da
fragilidade do crescimento econômico mundial. Em: http://jornada.com.mx/2018/02/07/economia/019n1eco
acesso em 08/02/2018.
[8] Basta pensar que a
reforma tributária estadunidense, aprovada em dezembro de 2017, corta os
impostos federais das empresas de 35% para 21%. Graças a este presente de
Natal, os negócios do grupo Trump, por exemplo, irão embolsar como lucros
adicionais cerca de 15 milhões de dólares que antes eram pagos em impostos
anuais. Em: http://www.vermelho.org.br/noticia/305834-1 acesso em 07/02/2018.
[9] O Acordo de Paris foi
assinado por Obama em dezembro de 2015 durante a cúpula da ONU sobre mudanças
climáticas. Os 195 países signatários farão o possível para que o aquecimento
global fique abaixo dos 2 graus Célsius em relação aos níveis de 1880. Os EUA
haviam se comprometido em reduzir em 28% as emissões de gases de efeito estufa
além de transferir cerca de 3 bilhões de dólares ao ano para ajudar os países
pobres a lutarem contra as mudanças climáticas.
Em outra frente, o líder norte-coreano
Kim Jon um usou o pronunciamento de Ano Novo para dizer que todo o território
dos EUA está ao alcance das armas nucleares do seu país e que ele tem sempre
sobre a mesa o botão com o qual pode dispará-las. No dia 3 de janeiro, Trump
enviou um twitter dizendo que ele também tem um botão nuclear, mas é muito
maior e mais poderoso e que o dele, Trump, funciona. A relação entre EUA e
Coreia do Norte é bastante complexa. Tratamos dela mais detidamente em “Os
labirintos de Donald Trump”, de agosto de 2017, acessível através de https://drive.google.com/file/d/0B-LG-oiNBV_MVktYUzVkS2JjRFE/view?usp=drivesdk
[10] Estamos nos referindo ao
The Nuclear Posture Review, divulgado pelo Vice-secretário de Defesa, Patrick
M. Shanahan como uma resposta sob medida a um ambiente em que garantir a
segurança do país ante as mudanças na geopolítica internacional e as possíveis
agressões futuras se tornou um desafio mais complexo e exigente em relação a
qualquer outro momento desde a guerra fria.
[11] A bomba atômica lançada
sobre a cidade japonesa de Nagasaki, em 1945, tinha um poder de destruição de
20 kilotons e matou cerca de 70.000 pessoas instantes após a sua detonação. As
novas ogivas teriam um tamanho menor, um poder de destruição parecido e seriam
mais letais. De acordo com o ministério da defesa, esta opção não iria violar
os acordos de não proliferação de armas nucleares, à medida que o novo arsenal
seria criado a partir da reutilização de parte das 6.800 ogivas permitidas
pelos próprios acordos. Em http://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-42936264 acesso em 15/02/2018 e http://www.bbc.com/portuguese/internacional-43101604 acesso em 19/02/2018
[12] Já faz mais de uma
década que os militares japoneses pressionam para que sejam revogados os
artigos constitucionais que limitam o papel do exército a ações puramente
defensivas e, de consequência, impedem de investir pesado em armas de nova
geração. Ampliar a produção bélica proporcionaria à economia nipônica fôlego
suficiente para crescer a taxas bem superiores em relação às atuais. O problema
está justamente em convencer a sociedade. Neste sentido, a possibilidade de os
Estados Unidos reduzirem os gastos com a defesa do país e as ameaças da Coreia
do Norte têm sido de grande ajuda para fazer o Japão caminhar em direção ao rearmamento.
Enviar mensagens de alerta a todos os celulares e tocar as sirenes sem parar
enquanto um foguete norte-coreano cruza os céus do país, recusando-se a
abatê-lo apesar de contar com modernos sistemas antimísseis, já contribuiu para
tornar majoritária entre os juristas locais a interpretação para a qual a
Constituição não impede usar forças militares além dos limites da autodefesa e
nem exclui golpear alvos no exterior com equipes e meios baseados no Japão, o
que abre a porta para os legisladores mudarem as normas vigentes.
[13] Para termos uma ideia
das vantagens comerciais, basta pensar que a distância entre o porto de São
Francisco nos EUA e o de Roterdã, na Holanda, via Ártico, ficaria 3700 km mais
curta em relação à que passa pelo canal do Panamá. Do mesmo modo, um cargueiro
chinês pode cortar em 12-15 dias o tempo de navegação usado para atracar em
Roterdã em relação aos 30 que seriam necessários se percorresse a rota
convencional pelo Canal de Suez.
[14] Dados publicados em http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?pid=S0009-67252013000200008&script=sci_arttext
acesso em 07/02/2018
[15] Para termos uma ideia
melhor do que está ocorrendo, vamos listar agora as principais opções militares
que EUA, Rússia, Canadá, Noruega e Dinamarca vêm aprimorando ao longo dos
últimos anos. Por se tratar de informações cobertas por segredo militar, temos
plena consciência de que as publicações em circulação conseguem mostrar apenas
a ponta do iceberg, mas não o alcance e as reais proporções dos investimentos
bélicos em andamento.
Estados
Unidos: o
país mantém nove bases militares no Alaska com cerca de 30.000 soldados, boa
parte dos quais treinados para o combate no Ártico. Nas instalações de Fort
Greely, sempre no Alaska, há um sistema de interceptação com 44 mísseis prontos
para serem disparados. Seis das nove bases militares estão equipadas com
esquadrilhas de caças que desempenham várias funções bélicas e um elevado número
de aviões radares AWACS destinados à vigilância eletrônica. Não dispomos de
informações sobre drones. No ano passado, os EUA instalaram no Alaska um
moderníssimo sistema de detecção de mísseis em grandes altitudes. No futuro
imediato, Washington planeja aumentar o número de bases militares no Alaska e
equipá-las com sistemas de mísseis.
Rússia: ao longo da última
década, reativou cerca de 50 bases militares que a antiga União Soviética
mantinha na região do Ártico e as equipou com o que tem de mais moderno em
termos de tecnologia de ataque e defesa, segundo as especificidades do papel
que cada uma irá desempenhar. Construiu novas bases no arquipélago de
Novosibirsk, na ilha de Wrangel e em Novaia Zemiliá. Desde 2009, a marinha de
guerra russa vem intensificando as operações de patrulhamento com submarinos
nucleares dotados de lançadores de mísseis balísticos. Cerca de 2 anos atrás,
criou um novo comando militar para coordenar e melhorar o alcance das forças do
Ártico, além de alocar 6.000 soldados em duas brigadas de tropas especiais de
infantaria motorizada equipadas com o que tem de mais moderno para
deslocamentos e combates no gelo. Os estaleiros russos estão construindo 40
navios quebra-gelo com propulsão nuclear, oficialmente destinados à marinha mercante,
mas facilmente adaptáveis para desempenhar funções militares
Canadá: em 2002, o país retomou
os programas de treinamento para combates na região do Ártico e, um ano depois,
encomendou a construção de 8 navios para o patrulhamento marítimo da região.
Construiu bases militares avançadas dotadas de modernos sistemas de vigilância
e preparadas para servir de postos de reabastecimento em caso de conflito. O
Canadá vem preparando soldados especificamente treinados para o combate no
Ártico e realizando exercitações militares de peso, muitas vezes em
treinamentos conjuntos com tropas estadunidenses. Adquiriu drones para elevar o
nível de vigilância e, até 2020, deve substituir todos os 18 aviões militares
com sistemas antissubmarinos em operação por aeronaves de última geração.
Noruega: em 2008, o Ministério
da Defesa anunciou que a prioridade máxima da política de segurança do país
seria a região do Ártico. Desde então, o orçamento bélico foi aumentando ano
após ano. A marinha de guerra aguarda a entrega de 5 novas fragatas com
capacidades árticas e, em 2015, em Finnmark, no extremo norte do país, a
Noruega realizou os maiores exercícios militares desde 1945 tendo como
preocupação central o seu papel num possível conflito no Ártico.
Dinamarca:
o país
está criando uma força especial para atuar na Groenlândia (território sobre o
qual exerce a sua soberania) e em outras regiões do Ártico. O número de
fragatas preparadas para as condições da região vai passar de 3 para 5 e um
terceiro quebra-gelo militar se unirá aos dois encarregados de fazer o
patrulhamento.
Informações disponíveis em: http://www.defesaaereanaval.com.br/tag/artico?print=pdf-page
; https://militarybases.com/alaska/
; http://www.bbc.com/mundo/vert-fut-42345338
; https://brasil.elpais.com/brasil/2015/04/02/internacional/1427998445_036342.html .
http://www.dw.com/pt-br/pa%C3%ADses-se-armam-para-defender-territ%C3%B3rio-no-%C3%A1rtico/a-15848242 acessos realizados em 07/02/2018
[16] Dados publicados em: https://www.nytimes.com/2018/01/23/business/economy/fighting-climate-change.html?ref=nyt-es&mcid=nyt-es&subid=article acesso em 30/01/2018.
[17] Dados publicados em: https://www.nytimes.com/es/2018/02/08/volcanes-geoingenieria-calentamiento-global/ acesso em 09/02/2018.
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