A PROFECIA
Enganam-se
os que querem restringir o pensamento conservador a uma categoria de eleitores,
ou apenas aos segmentos médios. O grande risco é que a base de massas para
alternativas conservadoras (não creio que no momento possam ser identificadas
como fascistas) não pode ser somente as chamadas “classes médias”, ainda que
sejam estas a caixa de ressonância por natureza da proposta conservadora. O
alvo é outro. São os trabalhadores. Por isso o abandono das demandas próprias
de nossa classe pelo governo de pacto social é o caminho mais rápido para dotar
a alternativa de direita da base social que ela precisa.
(Mauri Iasi. 2015)
De onde vem o
conservadorismo?
Publicado em 15/04/2015
“Atrás da aparente beleza, estão os
assassinos em massa, a abolição da dignidade, os campos de trabalho
forçado, a rejeição de toda a noção de liberdade e fraternidade. (…)
[O comunista] é aparentemente inofensivo, será o seu mais querido amigo, o
mais sincero, o mais leal… até o dia em que ele o assassinará pelas
costas.”
(O GORILA, folheto
anticomunista distribuído no interior das Forças Armadas como preparação
para o Golpe de 1964)
Há um certo espanto com as recentes
manifestações de direita no Brasil, como se fossem algo fora do lugar e do
tempo, resquícios de um tempo obscuro que se esperava superado. Por outro lado,
espantam-se os que crêem que tal fenômeno é absolutamente novo – daí os
epítetos tais como “nova direita”, “onda conservadora” e outros. Acreditamos
que o conservadorismo que se apresenta na ação política de direita não é algo
do passado que se apresenta anacronicamente no cenário de uma democracia, nem
algo novo que brota do nada.
O conservadorismo sempre esteve por
aqui, forte e persistente. O fato é que não foi enfrentado como deveria e nos
cabe perguntar: por que?
CONSERVADORISMO E LUTA DE CLASSES
O conservadorismo não pode ser
entendido em si mesmo, ele é expressão de algo mais profundo que o determina.
Estamos convencidos que ele é uma expressão da luta de classes, isto é, que
manifesta em sua aparência a dinâmica de luta entre interesses antagônicos que
formam a sociabilidade burguesa. Nesta direção é importante que comecemos por
delinear o cenário no qual o conservadorismo se apresenta.
O impacto da ação política de direita
espanta aqueles que julgavam que as classes sociais não eram mais categorias
que poderiam explicar a sociedade contemporânea. De certa forma, prevaleceu uma
estratégia política que orientou de forma determinante a ação política dos
trabalhadores que esperava amenizar ou contornar a luta de classes para que
fosse possível um conjunto de reformas de baixa intensidade no longo prazo.
Esta estratégia, denominada de
Democrática e Popular, se fundamenta na convicção que a crise da autocracia
burguesa permitiria superar uma característica histórica de nossa formação
social, isto é, seu caráter “prussiano”. O Brasil era uma sociedade com um
Estado forte e uma sociedade civil fraca, assim o fortalecimento da “sociedade
civil” geraria um cenário no qual a disputa de hegemonia favoreceria às classes
trabalhadoras, diminuindo o espaço próprio da direta e favorecendo a política
de esquerda.
Não foi o que ocorreu. A estratégia
burguesa de transição pelo alto, controlada e segura, venceu. Não porque não se
tenha fortalecido a sociedade civil burguesa e o Brasil não tenha se
“ocidentalizado” nos termos gramscianos, mas justamente pelo fato do
fortalecimento da sociedade civil burguesa ter acabado por criar um quadro no
qual a hegemonia burguesa se consolidou, diminuindo e não ampliando o espaço
para a política de esquerda.
Há aqui duas incompreensões graves no
que diz respeito ao conceito de hegemonia e, por conseguinte, da compreensão do
caráter do Estado. Prevaleceu uma visão mecânica que associou a autocracia ao
uso da força e a democracia ao consenso. Desta forma dicotômica, ao optar pela
disputa de hegemonia supostamente favorecida pelo fortalecimento da sociedade
civil burguesa, retira-se da paleta de opções políticas o uso da força – seja
da esquerda, abandonando a perspectiva de ruptura revolucionária, seja pela
direita, com sua tradicional tendência golpista que interrompe os processos
institucionais.
A maneira de contornar a luta de
classes e tornar possível as reformas de longo prazo seria o pacto social. Isto
é, deixar a burguesia ganhar seus lucros e criar as condições favoráveis para
seus negócios enquanto, pouco a pouco, gotejam melhorias pontuais para os mais
pobres. Assim a burguesia não teria razão para interromper o processo político
e a disputa seria desviada para o terreno que interessaria aos trabalhadores: a
disputa eleitoral e o reformismo de baixa intensidade gradualista que seria
aceito pelas classes dominantes uma vez que não se trata de nenhuma mudança
socialista, mas de buscar uma maior justiça social.
Neste cenário ideal a direita e suas
manifestações mais gritantes se isolariam, o conservadorismo iria cedendo
espaço para uma consciência social cada vez mais progressista e viveríamos
felizes para sempre.
A primeira incompreensão grave é que a
hegemonia de uma classe social não se define, pelo menos como Gramsci pensava a
questão, pela mera disputa das consciências sociais e da legitimidade, mas tem
suas raízes nas relações sociais de produção e de propriedade determinantes
numa certa época histórica. A hegemonia nasce da fábrica, dizia o comunista
italiano. Querer reverter a direção moral de uma sociedade mantendo as relações
sociais de produção e formas de propriedade inalterada é uma tarefa impossível.
Da mesma forma é impossível separar os
dois elementos constitutivos do Estado, isto é, a coerção e a busca do
consenso. Dizia Gramsci:
“O exercício “normal” da hegemonia, no
terreno tornado clássico do regime parlamentar, caracteriza-se pela combinação
da força e do consenso, que se equilibram de modo variado, sem que a força
suplante muito o consenso, mas ao contrário, tentando fazer com que a força
pareça apoiada no consenso da maioria”
(Antonio Gramsci, Cadernos do Cárcere, v. III, 2007, p. 95)
(Antonio Gramsci, Cadernos do Cárcere, v. III, 2007, p. 95)
Vejam que combinados os elementos do
par dialético força/consentimento, o Estado burguês precisa apresentar sua
dominação de classe como expressão de um interesse geral, e não de seus
egoístas interesses particulares.
Esta é a função da ideologia, mas como
isso é possível?
Como já diziam Marx e Engels na Ideologia alemã, as ideias dominantes em uma
soctiedade são as ideias das classes dominantes, mas estas só são dominantes
porque expressam no campo das ideias as relações que fazem de uma classe a
classe dominante. Tal aproximação teórica é essencial à compreensão do nosso
tema.
O conservadorismo não é um desvio
cognitivo ou moral, não é fruto de uma educação mal feita ou de preconceitos
vazios de significado. O conservadorismo é uma das expressões da consciência
reificada, nos termos de Lukács, ou do chamado senso comum, nas palavras de
Gramsci, isto é, é uma expresso da consciência imediata que prevalece em uma
certa sociedade e que manifesta, ainda que de forma desordenada e bizarra, os
valores determinantes que tem por fundamento as relações sociais determinantes.
Neste sentido, o conservadorismo não
veio de lugar nenhum, sempre esteve ali nas relações que constituem o cotidiano
e na consciência imediata. As características desta consciência imediata já
foram delineadas por Lukács e se centram nos seguintes aspectos:
a) imediaticidade, o que
significa que é uma consciência que se forma nas relações imediatas do ser
social com as coisas e pessoas próximas, nos contextos presenciais e que tem
por horizonte de ação o tempo presente;
b) heterogeneidade, o que
implica que as diferentes esferas de ação da pessoa no trabalho, na vida
afetiva, nos vínculos com o sagrado (o que inclui o futebol, além da religião),
na adesão à valores morais, ganham autonomia e coexistem lado a lado sem a
exigência de coerência entre os elementos que conformam um determinado modo de
vida e uma correspondente concepção ideal de mundo;
c) superficialidade extensiva,
ou ultrageneralização, mecanismo pelo qual a experiência imediata é
estendida e universalizada de contextos particulares para generalizações
carentes de mediações, o que leva ao preconceito como forma imediata do
pensamento no cotidiano.
Esta consciência imediata forma uma
senso comum, bizarro e ocasional, isto é, formado por elementos dispares e
heterogêneos relativos aos diferentes grupos ou segmentos sociais que o
indivíduo entra em contato em sua vida, na família, nos diversos grupos, no
trabalho, na vida pública e outras esferas.
Ainda que todo senso comum expresse as
relações sociais determinantes e portanto valores da ordem burguesa, nem todo
senso comum é conservador. Faz parte do senso comum, até pela característica
da imediaticidade, a reação a uma situação vivida como injusta ou
intolerável, a necessidade da solidariedade entre os que vivem as mesmas
situações, o que constitui um núcleo saudável do senso comum ou o bom senso.
Entretanto, tais características também são cruzadas pela luta de classes, isto
é, podem ser elementos basilares da constituição de uma consciência de classe
dos trabalhadores ou de formação de uma ação política conservadora.
Neste ponto as duas dimensões da
análise se encontram. A estratégia gradualista e o governo de pacto social que
dela deriva, desarmam a consciência de classe forjada nas décadas anteriores e
criam uma situação na qual a consciência dos trabalhadores reverte-se novamente
em alienação, em serialidade, fortalecendo o senso comum. A
consciência de classe dos trabalhadores pressupõe uma clara definição do
inimigo, como dizia Marx, para que os trabalhadores se vejam como uma classe
que pode representar uma alternativa universal para o sociedade, outra classe
tem que se expressar como um empecilho universal, um entrave que precisa ser
superado; ou como dizia Freud, só é possível manter alguns em união quando se
dirige o ódio para outros.
O pacto social e a política da pequena
burguesia procura diluir as diferenciações de classe, em outras coisas, com a
enganosa ideia de nação. Ocorre que a consciência de classe não é uma
naturalidade sociológica, de forma que cada classe tem a consciência que lhe
corresponde, mas ela se forma na ação política desta classe e, em grande
medida, pala forma política que assume sua vanguarda. Uma ação política
classista gera um forte sentimento de pertencimento e identidade de classe, uma
política diluída de cidadãos, consumidores, parceiros, e outras gera indiferenciação,
permitindo que se imponha a inércia da visão de mundo própria da sociedade dos
indivíduos em livre concorrência.
Desarmada a classe trabalhadora de sua
consciência de classe, a luta de classes que se esperava contornar e que é
impossível de evitar, se manifesta. É fácil identificar os setores de direita
que operam no jogo político, mas não é tão simples entender por que meios
logram a adesão de segmentos sociais diversos.
A iniciativa política e o trabalho
ideológico da direita é facilitado por um mecanismo que Althusser identificava
como “reconhecimento”, isto é, a ideologia só pode ser efetiva se o valor
ideológico encontrar na consciência imediata algo que produza um reconhecimento
e assujeite a pessoa a determinadas práticas. Neste ponto, o funcionamento da
ideologia é preciso. As relações sociais interiorizadas na forma de valores que
constituem uma determinada visão de mundo são apresentada à estes valores agora
na forma do discurso ideológico.
Ocorre que o discurso não é uma mera
reapresentação do conteúdo mais substantivo das relações sociais
internalizadas, ele o conforma de uma determinada maneira e com certa
intencionalidade, produzindo um efeito político extremamente útil à dominação.
Certas palavras chaves, “significantes mestres” nos termos de Lacan, ordenam a
serie de palavras que são veículos de valores dando consistência a uma
determinada visão de mundo orientada ideologicamente.
Isto significa, em última instância,
algo muito simples. A disputa de hegemonia, que implica também, mas não
somente, na disputa das consciências, é uma luta de classes e não um debate
sobre valores. Só se afirma uma visão de mundo, numa sociedade de classes,
contra outra visão de mundo. Neste sentido a meta do consenso nos quadros do
Estado burguês é ela mesma ideológica.
No inevitável acirramento da luta de
classes, os governistas do pacto social ficam à deriva porque não esperavam ter
que enfrentar a direita neste cenário na qual ela, ao contrario dos
gradualistas, consegue dialogar com a consciência imediata das massas. E o
fazem operando eficientemente os elementos do conservadorismo deixado
inalterado.
CONSERVADORISMO E FASCISMO
Há um certo exagero conceitual na
tentativa de identificar este conservadorismo como fascista. Mas, nos seria
útil identificar nesta ideologia elementos que correspondem ao discurso
conservador no intuito de compreender sob que significantes o conservadorismo
abre o dialogo com a consciência imediata.
Leandro Konder em seu livro Introdução
ao fascismo (São Paulo, Expressão Popular, 2009) nos dá um bom caminho
nesta direção. Primeiro ressaltemos que o fascismo, tal como Togliatti e outros
definiram, é uma expressão política da pequena burguesia que serve aos
interesses do grande capital monopolista/financeiro e que logra uma apoio de
massas nas classes trabalhadoras. Ideologicamente ele opera necessariamente
apagando suas pegadas relativas ao seu pertencimento de classe, e para tanto é
essencial a ideia de Nação, de onde deriva a primeira característica do pensamento
conservador: ele é extremadamente nacionalista.
A esquerda sempre flertou com a ideia
de nação, mas ela é uma patrimônio da direita e uma propriedade intelectual da
pequena burguesia, que por ser uma classe de transição (não é trabalhadora nem
burguesa) se crê acima dos interesses de classe, sendo a legitima detentora do
interesse nacional. Não cabe aqui avançar na discussão se este valor pode ou
não servir a propósitos de esquerda – já serviram. Sempre achei temerário e as
consequências não costumam ser boas. O que nos interessa diretamente aqui nesta
reflexão é que a direita, de novo, manipula com eficiência esta ideia vaga que
a nação precisa ser defendida contra seus adversários e sai às ruas com as
cores da CBF.
Outro aspecto importante a ser
destacado na ideologia fascista, que aqui nos serve apenas de parâmetro de
análise, é o pragmatismo imediatista. Derivado de um quadro de
referencia imediato, de problemas ou contradições que lhe afetam de forma
direta, o fascista assim como todo conservador quer uma solução. Não há
história, assim como inexistem determinações fora do campo do visível. Desta
forma o pensamento conservador não se preocupa se antes falava uma coisa e
agora fala outra, pois não conexão entre estas dimensões, só existe o agora,
o presentismoexacerbado. Dane-se o passado e não me interessa as
consequências disso para o futuro, me interessa o gozo presente, o êxtase.
Tal característica remete a outras duas
próprias do pensamento conservador: a preponderância das paixões e
o irracionalismo. Como não existem determinações mais profundas
além da aparência dos fenômenos, assim como não existe história que articule
formas passadas às presentes, tudo se resume a reação instintiva e animal, as
paixões. Daí que o conservador é por natureza violento e irracional.
Um fato ilustra bem isso. Um fotógrafo
mineiro foi agredido na manifestação da direita porque se parecia com Lula.
Vejam, um ser racional não agrediria alguém por querer participar de ato
público, mas um ser irracional não se permite perguntar algo ainda mais
elementar: o que estaria fazendo o ex-presidente da República disfarçado de
repórter num ato da direita?
Tentar buscar algum tipo de
racionalidade na direita conservadora (uma redundância, não é?) é tarefa
inútil. Assim como a Globo tentando derivar dos atos uma
pauta, quando se via claramente um exercício sistemático de ódio; ou ainda a
presidente Dilma e seus perdidos ministros reafirmando questão abertas ao
dialogo com a malta que pede sua cabeça.
Há um aspecto que deriva, tanto do
nacionalismo, como do imediatismo e do irracionalismo apaixonado: o preconceito.
Todo fascista e a maioria dos conservadores tem que desembocar, mais cedo ou
mais tarde, em algum tipo de supremacia que justifique sua ação. Aqui ganha uma
densidade visível a operação do princípio freudiano segundo o qual o que
permite a solidificação da identidade grupal é a transferência do ódio para
algo ou alguém fora do grupo. É preciso criar um estigma, um preconceito, para
que a paixão violenta se expresse.
Não basta a oposição a um governo, um
debate sobre alternativas de sociedade. Isto tudo é racional demais. É preciso
colar algo mais atávico, afetivo, que mobilize paixões irracionais. Daí a
funcionalidade dos estigmas, e entre eles do anticomunismo, ainda que o alvo da
raiva não seja, nem de longe, algo parecido com um alternativa comunista. Desta
maneira eu posso atacar, pedir o impedimento, xingar, desejar matar e acusar
sem entender o porquê. Simplesmente porque é comunista (ou judeu, ou negro, ou
homossexual, etc…).
Em função da grande carga afetiva
mobilizada na opção conservadora, ela exige e pressupõe a repressão da
sexualidade, como já analisou brilhantemente Willian Reich. Por isso o fascista
e o conservador é um moralista. O moralismo e suas manifestações
associadas, como a intransigente defesa da família, por exemplo, são um
elemento constante no discurso conservador, mas aqui também é necessário a
alteridade, um outro que ameace a ordem e a harmonia do padrão moral, daí que
não nos espanta que o discurso conservador associe o nacionalismo, a
irracionalidade, o moralismo com a homofobia.
Por fim, o fascismo sempre foi um
crítico da democracia e do regime parlamentar e defendeu a solução autoritária.
O conservadorismo é sempre elitista. A noção de supremacia, seja
racial ou outra qualquer, age aqui como a convicção que o governo deve ser
entregue a uma elite capaz, forte e moralmente firme, para conduzir a sociedade
na direção correta. No fundo o autoritarismo é uma consequência de tudo o que
foi dito, pois aquele que clama contra o desvio moral, o risco da corrupção, na
verdade está clamando por controle, inclusive contra seus próprios impulsos.
Todo conservador é um sádico.
O que nos salta aos olhos é que estes
elementos do discurso ideológico conservador produz a função do reconhecimento
com os elementos da consciência imediata reificada, com o senso comum. Por ouro
lado, a consciência de classe se constitui num tortuoso processo de rompimento
com o senso comum, ainda que sempre partindo dele.
A única maneira de enfrentar o discurso
e a prática política da direita é revelando sua particularidade e a natureza de
seus interesses de classe. No entanto esta não é uma mera operação racional, em
grande medida a luta de classes exige que a transição da alienação para a
consciência de classe também opere com mecanismos subjetivos, de identidade de
classe, de formação de uma nova subjetividade, de transformação cultural. O
fascismo só tem espaço para crescer na derrota da esquerda.
Contra esta ofensiva da direita, que
era inevitável, seria necessário agora uma classe trabalhadora que constituída
enquanto classe e portadora de valores e uma visão de mundo revolucionária, que
visse na ameaça fascista a necessidade de sua maior unidade. Na ausência desta
consciência de classe, na desarticulação da visão de mundo de esquerda que
poderia ordenar o senso comum numa direção diferente, os membros das classes
trabalhadoras são devolvidos à serialidade e viram presas do discurso
conservador.
Enganam-se os que querem restringir o
pensamento conservador a uma categoria de eleitores, ou apenas aos segmentos
médios. O grande risco é que a base de massas para alternativas conservadoras
(não creio que no momento possam ser identificadas como fascistas) não pode ser
somente as chamadas “classes médias”, ainda que sejam estas a caixa de
ressonância por natureza da proposta conservadora. O alvo é outro. São os
trabalhadores. Por isso o abandono das demandas próprias de nossa classe pelo
governo de pacto social é o caminho mais rápido para dotar a alternativa de
direita da base social que ela precisa
Mauro
Iasi é
professor adjunto da Escola de Serviço Social da UFRJ, pesquisador do NEPEM
(Núcleo de Estudos e Pesquisas Marxistas), do NEP 13 de Maio e membro do Comitê
Central do PCB. É autor do livro O dilema de Hamlet: o ser e o não ser
da consciência (Boitempo, 2002) e colabora com os
livros Cidades rebeldes: Passe Livre e as
manifestações que tomaram as ruas do Brasil e György Lukács e a emancipação humana (Boitempo, 2013), organizado por
Marcos Del Roio. Colabora para o Blog da
Boitempo mensalmente,
às quartas.
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