Max Digógenes
Há pouco mais de um ano e meio, eu jogava futebol em uma quadra sintética, na sede do XV de Novembro, tradicional clube de futebol amador da cidade, com meus companheiros da fábrica. Era sábado de manhã e assim que terminou o nosso tempo de aluguel – é possível que tenhamos reservado a quadra, por umas duas horas – juntamos algumas das mesas do boteco do clube, ajeitamos nossas cadeiras e nos acomodamos para umas rodadas de cervejas, tira-gostos e até umas partidas de truco.
Obviamente, nem todos ficaram para o terceiro tempo. Alguns tinham outros jogos marcados; outros tinham compromissos com seus familiares. Eu iria à casa da patroa, primeiro para dar uma volta pelo centro com nosso cachorro de estimação e depois, para assistirmos a algum filme ou série, só após as seis da tarde, portanto, tinha a manhã toda livre para um lazer com os companheiros de trabalho.
Dentre os que ficaram até o final da reunião, estava Willy. Tratava-se de um jovem de mais ou menos vinte e cinco anos de idade; trabalhava em horário fixo na empresa – era um dos poucos privilegiados que não estava sujeito ao revezamento de turnos semanais; sua equipe também era fixa. Willy era ajudante em uma dos tornos e seu time era composto pelo operador desta máquina e por outro ajudante. Os três eram inseparáveis dentro da empresa. Tomavam café juntos, chegavam juntos ao setor, almoçavam juntos – em cada dia, um era responsável pelo pagamento de uma Coca dois litros no momento de refeição. Esse trio de fato aparentava ser, no mínimo, entrosado. Não consigo dizer o quanto de amizade genuína havia entre eles. Um ano e meio mais tarde, essa minha dúvida se acentuou. Mas ao longo dos turnos, davam-se muito bem. Relacionavam-se bem e cumpriam suas funções coletivas bem.
Neste sábado em especial, fazia muito calor. Eu e outro peão, estávamos bem dispostos a tomar cervejas. Pedimos muitas delas. Esse outro sujeito só havia levado seu cartão para débito. Mas como o negócio de locação de quadra e o próprio bar, haviam sido recentemente reabertos, ainda não havia a possibilidade de quitação da conta por meio do débito em conta. Ele me pediu grana emprestada para quitar sua parte, mas meu dinheiro estava contado. Willy emprestou a grana ao sujeito. E recebeu a promessa de acerto na segunda-feira seguinte.
– Nem esquente... Respondeu o bom Willy.
O sujeito que passou a ter débito para com Willy, na segunda-feira em questão, me procurou pedindo dez pratas emprestadas, pois gastou parte da grana de sua conta, com uma mulher que, surpreendentemente, havia aceitado dar pra ele na noite anterior. Por isso, lhe faltou dez mangos, mas desejava sanar logo sua dívida com o jovem rapaz. Não sei bem o porquê, mas emprestei os dez cruzados, tendo em mente a certeza de que não o receberia de volta. E assim se fez.
Eu nunca fui amigo de Willy. Não houve entre nós, ocasião de conversa para além daquela manhã de sábado. Mas ele me deixou boa impressão. Parecia ser um bom rapaz. Bom trabalhador, bom filho, bom amigo, bom estudante... Dizem que se formou em administração; outros falam em engenharia. Mas poucos sabem ao certo. Muito provavelmente, o operador com quem tanto conviveu e o ajudante com o qual muito trabalhou devam saber. Mas nunca questionei tal informação. Nunca houve motivo.
O fato é que, para Willy, surgiu a chance de cobrir as férias de um funcionário da área administrativa ligada à gerência de nossos setores de produção. O rapaz sempre fazia hora-extra quando lhe era solicitado; cumpria com as metas estipuladas. Era merecedor dessa chance. Tanto quanto foi de sua promoção após mês de cobrimento de férias. Havia vaga à disposição e ele demonstrou ser eficiente ao longo do último mês.
E o tempo passa... Para todos nós... Willy era sujeito introvertido, estatura média, fora do peso ideal – tanto quanto eu – e gostava de deixar a barba crescer. Senhor Corona surge...
***
Sob o pretexto de se manter o maior número de empregos possível, nosso governo opta por permitir que empresas diminuam jornadas semanais de trabalho e salários, enquanto o senhor Corona não for embora – apesar de o próprio Bozo, sempre ter posto em questão, ou a existência, ou a malevolência do senhor Corona.
As áreas produtivas da empresa pouco são afetadas. Um ou outro centro de custo acaba por entrar no plano em pró dos empregos. Vinte e cinco por cento a menos de jornada e de salário, que seria complementado no fim do mês, se não me engano, por dinheiro oriundo do fundo de garantia ou de futuro seguro desemprego do próprio trabalhador... Algo assim...
Há de se imaginar que os trabalhadores demonstraram-se infelizes com tal condição. Talvez um susto inicial. Mas a real, é que experimentaram o quanto uma jornada menor de trabalho, mesmo que com redução de salário, pode tornar a vida infinitamente melhor. Lamentaram, semanas depois, quando jornada e salários, voltaram ao normal. Deveríamos ter aproveitado a chance para brigar, a nível nacional, pela continuidade de redução da jornada, tornando-a padrão, com o nível dos salários de antes da medida provisória. Nossa classe deixou essa passar. Quanto a mim? Bom... Infelizmente, meu centro de custo não constava na lista... Eu teria de continuar a frequentar meu “amado” emprego, em tempos de pandemia, com uma galera que pouco a levava a sério, em tempo integral. Por sorte, as férias estavam próximas... E eu jogaria muito FIFA 18!!!!!
Mas com os setores administrativos, foi diferente. Eles entraram no plano, com raras exceções, desde o início da coisa. E talvez tenham tido até maior redução de jornada e salário. Willy entrou no pacote. Tanto quanto com Willy, o simples deparar-se com funcionários de setores administrativos, ficou muito confuso. Pois a cada semana folgavam em horas diferentes ou dias diferentes do que fora folgado na semana anterior. Não sabíamos ao certo quem nos atenderia no escritório caso fossemos buscar algum apoio, como requisição para retirada de uniforme novo; ou quem seria o líder da vez; ou supervisor da vez.
E o tempo continuou a passar... Para todos nós... Senhor Corona levou muitos com ele... E nos acostumamos a isso. O plano para salvar empregos, junto com uma série de outras medidas, expirou. Mas são tantas informações, tantas coisas para acompanhar, tanta mentira vinda do Planalto, que nos perdemos nesse caos. O contato com os empregados do administrativo continua raro. Creio que já voltaram para jornada completa, mas ainda assim, nos encontramos menos, se comparado a como era antes do senhor Corona. Willy, desde que retornei de férias, há pouco mais de um mês e meio, não cruzou meu caminho. As pessoas, quando comentam algo sobre ele, de modo muito breve, dizem tê-lo visto no inicio da semana, ou na quarta-feira, ou no final dela... Mas não há relatos de vê-lo por dias seguidos. Eu não o vi, desde meu retorno...
***
Todos ansiávamos pelo feriado prolongado. Em nossa cidade, seria maior do que na maior parte das cidades desse Brasil. Era a semana do turno da manhã, logo, começaríamos nossa jornada na segunda-feira e a encerraríamos no sábado, as duas da tarde. O ritmo da produção já voltara ao normal há algum tempo. Entregas estavam atrasadas. Os líderes e supervisores nos enxiam o saco para ficarmos até mais tarde todo dia ou para abrirmos mão de um sábado ou domingo de descanso, para realizar horas-extras e, assim, colaborar com a produção de pedidos dentro do prazo prometido ao cliente.
Até voltaram a contratar. E aos montes. Mas nenhum efetivo. Todos por agência de emprego. Com vínculos empregatícios com essa agência. Assim sendo, esses novos funcionários, se limitariam a receber o piso salarial de um ajudante de produção, transporte e refeição. Nada de cesta básica, nada de vale-alimentação, convênio médico, odontológico ou adicional noturno de quarenta por cento pra essa galera – para os da agência, são vinte. O contrato pode ser estendido seguindo esse modelo por até nove meses. E aí se algum “merecer” ou der a sorte de ser efetivado, para além dos nove meses de serviços prestados, realizando os mesmos trabalhos dos efetivos, só conseguirão igualar salários e benefícios, com os ajudantes que já os recebem no teto, um ano e meio após a efetivação... Nove meses + um ano e meio = dois anos e três meses de muita energia despendida em pró do detentor do meio de produção para se chegar ao teto de salários e benefícios, ao qual um ajudante pode vir a ter direito. Eis o Brasil do liberalismo.
Mas enfim... O feriado prolongado surgiu em momento para lá de inconveniente para a empresa. Convencer os novos funcionários a abrir mão de quatro dias seguidos de descanso para fazer horas-extras foi moleza. Mas os veteranos, inclusive eu... Sobretudo eu... Não estavam dispostos a ceder. A real é que comigo, já pouco perdiam tempo perguntando se estaria disponível em algum dia do fim de semana, ou mesmo no feriado, já que “poderia ser visto por mim como um dia no qual eu teria mesmo de trabalhar e ainda ganhar uma grana a mais”, pois o sete de setembro seria na segunda e o oito de setembro – padroeira do município, na terça. A verdade é que só voltei a me lembrar da empresa e que deveria me apresentar ao serviço, na quarta, dia nove, por volta do meio-dia e meio.
Em certa ocasião, um supervisor chamou para conversar em particular, muitos dos que haviam dito não para horas-extras no sábado a tarde. Também fui chamado. Ao perguntar sobre os motivos de eu não fazer mais hora-extra, recebeu uma resposta simples, educada, quase que toda sincera e direta:
– Moro sozinho há quatro anos; logo ou eu cuido da casa ou ninguém cuida e só posso fazer isso de modo decente, se tiver o fim de semana completo – era mentira.
Meus pais já não são tão jovens e preciso dispor um tempo para visita-los ou no sábado, ou no domingo. Minha noiva também requer atenção. Para além, fui muito tocado por essa pandemia. Sou gordo, tenho pressão alta e assim sendo, se eu for apresentado ao senhor Corona, é bem provável que eu vire presunto. Tomo como exemplo a não ser seguido, o caso do senhor José. Se aposentou e continuou a trabalhar, vá lá se saber porque, por mais sete anos naquela maldita prensa. Quando resolveu parar, só o fez por já estar doente e uma semana depois, morreu. Ele gostava muito de futebol, gostava muito de cerveja... Quantos jogos mais poderia ter assistido? Quantas bebedeiras mais poderia ter vivenciado? Poderia ter morrido antes? Claro, mas teria válido a pena... Assumo todas as consequências dessa minha fala para você, Sergião, mas eu não faço mais horas-extras por aqui... Trabalharei o tempo que me é exigido por lei, nada mais que isso... Quero exaurir minha vida com outras coisas... Cem reais a mais no mês, se for doado, ajuda; se for achado, ajuda. Mas não valem um sábado, ou domingo, ou feriado a mais fora daqui...
***
E o turno de sábado de véspera de feriado, finalmente chegou. Eu fui designado para o setor de embalagens. Antes isso me irritava profundamente; eu sou alto e o embalo dos produtos é feito em uma bancada não muito favorável à minha estatura. Nessa ocasião, eu já era indiferente. Eu trabalharia no ritmo que quisesse, do jeito que quisesse, na quantidade que quisesse... Então não havia problemas. Nem me recordo qual foi a quantidade de pacotes despachados, mas posso garantir que passou longe da meta estipulada pela empresa. Optei por fazer com que o time de minha bancada parasse de produzir, por volta de uma e dez da tarde. Em geral, sem mim, o fazem por volta de uma e quarenta. Mas eu já estava desgostoso. Bati o ar comprimido o mais rápido que pude para limparmos o local, preenchi o relatório de produção, me besuntei com álcool gel, e por volta de uma e meia, arrumei minhas coisas e decidi que queria ver outras pessoas trabalhando. Então sai vagando pelos setores.
Mas a maioria já estava na etapa da limpeza de seus postos. Passei então a apenas caminhar por caminhar. Eu comprara dezoito latas de Lokal e minha boca já aguava quando me via tomando as nove que seriam referentes ao sábado, provavelmente sendo acompanhadas pelos torresminhos que só meu velho sabe fritar.
Mas aí, um funcionário com menos tempo de casa que eu, mas já efetivo, me aborda e pergunta:
– Ei, Montanha... Você conhecia o Willy, que trabalhava na salinha lá em cima? – e aponta para a salinha.
– Eu o conheço!! – respondo.
– Então, cara... Ele morreu hoje, umas oito da manhã.
Foi instantâneo. Em minha mente, veio o senhor Corona. Mas não expressei isso.
– O Willy? Da sala lá de cima? Morreu? Hoje? Como?
– Então, Montanha, parece que ele tinha câncer no estômago, ou algo assim. Parece que tinha cirurgia marcada, mas não deu tempo de fazer...
– Como assim? O cara jogava bola com a gente – só havia jogado uma vez comigo...
– É... Ele era goleiro, né?
– É... Ele era goleiro!!! – eu só havia me lembrado disso, quando o parceiro me atentou ao detalhe...
Me sentei em um pacote de parafusos, como sempre faço antes de passar o crachá no relógio ponto e ir embora. Geralmente, pego meu celular e começo a ler algum livro que tenho salvo ou fuço alguma baboseira na internet... Mas dessa vez, apenas sentei...
Quando recebo notícias assim, de mortes ou catástrofes inesperadas, sempre me vêm à mente o poema O CORVO, do Edgar Alan Poe... Não o saberia recitar de modo literal, é longo e com uma linguagem nada coloquial, mas sei seu significado... NUNCA MAIS... Para mais nada... Nunca mais haveria Willy...
Os companheiros, preparando-se para irem embora, vão passando. Como de costume, me olham sentado. Como de costume, se dirigem a mim para conversar alguma tolice cotidiana – tolice no bom sentido; sem ofensas. Como de costume, a coisa assim se sucede. Mas eu mudo o rumo da conversa. Pergunto se estão sabendo da morte de Willy. Todos fazem uma cara triste, relatam seus pêsames, mas pouco tempo depois, voltam ao cotidiano. Eu não paro de pensar que nunca mais haverá Willy.
Vamos formar a fila para passarmos o crachá no relógio ponto. Coincidentemente, me posiciono atrás do ajudante de torno que por muito tempo trabalhou com Willy. Ele conversa com outro ajudante, de outra máquina, sobre o ocorrido. Mas o mais profundo que observo sair de sua boca é um...
– Estranho, né... Conversei com ele pelo whats há quatro dias!!!!
O primeiro da fila, é o operador que com os dois ajudantes, trabalhara por longo período. Ele combinava um horário de pescaria no domingo, com um operador de empilhadeira. Insensíveis? Creio que não.
Há dezenas de milhares de anos estamos morrendo. Há bilhões de anos, tudo está morrendo. E ainda assim, para todos nós, a morte é um tabu. A fala daqueles que por mais tempo conviveram com Willy, pode não expressar o que realmente sentiam naquele momento. Talvez estivessem sofrendo. Mas optaram por não pensar muito sobre o assunto. Afinal, haveria pela frente, um feriado de quatro dias para ser aproveitado.
Mas, e se porventura, falar de modo “raso” sobre o acontecido, ou nem citá-lo, ou programar uma pescaria naquele momento, não forem comportamentos, factualmente de fuga? E se todo esse comportamento, simplesmente condizer com o real sentimento que permeava cada um dos trabalhadores que ali, acabaram de superar mais uma semana de trabalho dos diabos e estão prestes a – em sua maioria – usufruir do nirvana via feriado com quatro dias em casa? Aí sim podemos apontar o dedo e vociferar... “INCENSÍVEIS!!!!!”... Correto?
Não... Procure na net, um vídeo de um cara bem legal, chamado Sérgio Lessa. É meio parecido com o Mr. Bean, tem uma voz agradável e é inteligência pura. Fala sobre família monogâmica e sobre o amor... Nós temos a necessidade – historicamente adquirida – de amar. Contudo, em sociedades de classe, não só o amor, mas tudo o que aflora a sensibilidade humana, encontra-se imerso, devido às relações de dominação. Os que dominam, podem ler poesia; ouvem músicas eruditas; aprendem filosofia... Os dominados – no escravagismo, na servidão ou como proletariado – trabalham. Se embrutecem. Mas nem por isso, deixam de amar; de sentir. Mas não sabem exprimir ao máximo a sensibilidade. Não puderam aprender. Pois precisam serrar madeira; apenas serrar madeira. Ou pregar paletes. Ou atenderem balcões. Ou soldar metal. Ou preencherem planilhas; apenas preencherem planilhas. Ou fecharem folhas de pagamento. Ou realizar cálculos de engenharia. E apenas calcular.
“Poxa... Você, mesmo em linha de produção, se sensibilizou!!!!!!” – pode você, argumentar.
Bom... Para o bem ou para o mal... De modo porco ou com alguma boa qualidade, eu pude estudar. Eu tive algum contato com poesia; eu pude ouvir música clássica; me foi permitido assistir Sociedade dos poetas mortos; eu tive a chance de ler Marx ou Nietzsche... Ou mesmo um texto único de Michel de Montaigne – De como filosofar é aprender a morrer. Eu sou um privilegiado. Me autorizaram ler O CORVO. Mas isso não me faz melhor que essa galera. Ao contrário; como me adverte Eduardo Marinho, eu tenho uma dívida para com eles. O dever de, mesmo em uma sociedade de classes, poder sensibilizá-los; para poderem ser, ao máximo, potência de vida.
***
É 2018. Você acorda, toma café, tira o carro da garagem e verifica que o sábado está ensolarado. Vai se encontrar com a galera da firma para futebol, truco e cerveja. Você não imagina que, apesar dos pesares, em um ano e meio... NUNCA MAIS...
Você não pediu para estar aqui; mas aqui foi colocado. Você observa fome, injustiças, violência, exploração, maldade, Bolsonaro...
Mas também ouve música, assiste jogos, se masturba, se embebeda, dorme, caga, transa, come...
***
É sábado à tarde. O sol está escaldante. Mas há muito que você não se expõe a um sol desses. Seja pela sua rotina chata ou por ter de se isolar em uma pandemia, por exemplo. Mas aí há a situação na qual você pode simplesmente parar, relaxar seu corpo, erguer a cabeça, vislumbrar o céu absurdamente azul e deixar a luz do sol torrar seu rosto...
Ou o domingo está chuvoso. Chuvoso e frio. Você acorda cedo com o intento de ir ao mercado, visitar algum amigo ou parente, fazer uma corrida, ir a um campo de
várzea ver um jogo, ou ir jogar com os amigos. Mas é domingo. Está chuvoso e frio. Você ergue a cabeça; vê o céu cinza; se encanta com tudo isso... E volta a dormir...
Você está com seu peguete – hétero, gay, pan... Foda-se... É dia de “programa de índio”... Filme, série, lanche, nada... Apenas presença... Dívidas não param; problemas não param... Mas há o sorriso do crush... Ora se fica nisso; ora transam feito cães...
Você está com aqueles que te colocaram no mundo. Com aqueles que, apesar de tudo, nunca deixaram de te vestir, ou de te alimentar, ou de assistirem televisão com você. Mas hoje, em companhia deles e de outros que por eles foram colocados por aqui também, há torresmo, panceta, pizza, refrigerante, cerveja e conversa jogada fora...
Há o encontro com aqueles que foram colocados no mundo por outras pessoas que não as mesmas que te colocaram... Vocês comem lanche e falam merda... Isso basta...
Há o passeio com o cachorro que estava prestes a morrer, mas que foi pela patroa ou por algum conhecido ou parente acolhido e que não morreu. Pelo contrário, virou um boi. E os gatos que foram paridos no seu quintal, ou os gatos que não estão no seu quintal, mas no quintal da firma, para os quais você leva ração... E tem de tomar cuidado, pois uns foram castrados e outros não e aí você precisa comprar ração para gatos castrados e não castrados e separá-las adequadamente em recipientes diferentes...
Há os passeios com a irmã que é vinte anos mais nova que você e que começou a ler muito antes de você e que será infinitamente mais inteligente que você e que terá relevância no mundo muito maior que a sua e que assiste filmes bons com você ou joga vídeo-game com você...
Há a irmã que leva um cunhado gente boa para morar no quarto que por décadas foi seu e que te acode quando de ajuda precisa...
Há natais, há ano novo, carnavais, finais de brasileirão, carreteis de linha para pipas, dvd’s piratas, bicicletas com rodinhas, perda de virgindade, a inserção no mercado, os vômitos dos exageros, o gel no cabelo, a viagem para a praia, as aulas de matemática, a catequese, a briga no bar, o primeiro peido na frente da primeira namorada, Porta dos Fundos, Neymar, Van Damme, salsicha em molho, Orkut, milongas, Brasil x Argentina, palitos de dentes, tolhas de mesa floridas, baralhos de R$1,99, dicionários, carregadores de energia do notebook, o SBT, a geladeira vermelha, os peitos da evangélica boazuda que você não vai pegar, limão, tubaína, detergente, sabão de coco, guardanapos, cuecas, salto-alto, calendários, tesouras, gavetas, varais, chupeta, pirulitos, coxinhas, baratas, paralelepípedos, pontos de ônibus, bolsa de valores, currículos, ventiladores, camisinhas, estojo de canetas, maquiagem, pijama, banana, ânus, pênis, raquetes, mosquitos, espadas, cotonete, Bruce Lee, Mortal Kombat II, cadernos, agendas, maçanetas, bombas, rojões, paçocas, pipoca, locadoras, martelos, copos, wi-fi, dinheiro, jarra, bíblia, fones de ouvido, sapatos de segurança com bicos de aço, requisições, abridores de garrafa, Londres, Ponte Preta, maconha, aids, churros, montanha russa, bueiros, orelhões, mesas de bilhar, Sonhos de Valsa, Solta o Azulão, Paixão, miojo, cobertor, Pepe Mujica, Casas Bahia, espetos, lesbianismo, teclados, gripe, saxofones...
E aí... Sem aviso... Quando menos esperamos... Quando sequer imaginamos... Daqui a... Um ano e meio... Talvez??
NUNCA MAIS!!!!!
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