Vivemos um momento bizarro: lutamos, nos revoltamos, procuramos aliados para engrossar a revolta contra o desemprego, a morte em massa e as injustiças...
Mas, cotidianamente, os que sofrem como a gente não esboçam reação alguma, mesmo quando nos movimentamos para estimular a indignação; a revolta e quiçá a revolução.
Se você também se pergunta sobre como é possível tanta passividade diante de tantas injustiças e sofrimento e sobre como nos sintonizar com essa gente, nós, do Conselho da Classe, convidamos você a refletir, lendo o texto "A vida nas dobras do senso comum", de Emílio Genari.
A vida nas dobras do senso comum
Emilio Gennari
Após 20 meses de pandemia, genocídio e miséria, é assustador perceber que as maiores vítimas da marginalização continuam não esboçando reações significativas. Neste período, falamos, informamos, agitamos, gritamos, às vezes até imploramos as pessoas a lutarem, mas o silêncio e a falta de adesão foram as respostas mais comuns aos nossos apelos.
Respaldados nas teorias que fundamentam nossas análises, culpamos a falta de consciência do povo, a mídia, as igrejas, o desemprego, as políticas gerenciais dos empresários e as posturas de inúmeras organizações sociais pelos fracassos dos nossos esforços. Certos do diagnóstico, dirigentes e militantes dispensam uma avaliação profunda das formas com as quais lidam com a visão de mundo das pessoas comuns e rejeitam as perguntas que insinuam a possibilidade de haver erros graves de nossa parte.
Insensíveis a estas reações, acreditamos que já passou da hora de despirmos das certezas com as quais ocultamos as razões mais incômodas dos nossos fracassos e de colocarmo-nos perguntas que, há tempos, aguardam uma resposta: é possível construir uma sintonia com as pessoas comuns sem partilhar as agruras do seu cotidiano e sem incorporar as formas de resistência com as quais respondem aos seus sofrimentos? Há quanto tempo os simples deixaram de ser protagonistas do esforço de fazer com que a ação nasça de baixo para cima para serem destinatários do que elaboramos em grupos restritos? Quando e com base em que vivências nos tornaram representantes legítimos de suas demandas?
Podemos achar que estas perguntas não passam de uma provocação barata, reagir a elas com indignação e indiferença, apontar o futuro como o lugar de grandes realizações, mas os fracassos provam que há um abismo entre o mundo dos espoliados e o dos movimentos que dizem representá-los.
A análise que aqui se inicia levanta as dificuldades e algumas possibilidades de construir uma ponte entre estes mundos. Longe de esgotar o assunto, as nossas reflexões e provocações são um convite a fazer com que você participe deste debate com a experiência e as ponderações que o envolvimento na luta colocou na sua bagagem de organizador e militante.
1. Onde nasce a visão de mundo que chamamos de senso comum
Nas inúmeras vezes em que ouvi educadores populares, dirigentes e militantes desqualificar como "alienada" a leitura que o povo faz da realidade tive a impressão de que se referiam a um conjunto de ideias cuja superação dependia, fundamentalmente, da capacidade de contrapor, com criatividade e persistência, outras ideias tidas como "esclarecidas", "classistas" e "de luta".
Ainda que se trate de uma empreitada difícil e demorada, parece possível dar conta dela através de vídeos, cartazes, cartilhas, boletins, charges, adesivos, textos em linguagem simples e direta, cursos e camisetas com frases de personalidades que se destacaram na ação junto aos movimentos sociais do seu tempo. Uma cruzada que demanda assessores capazes de produzir novas ideias, dirigentes que discursam com frases acessíveis, redes sociais para disseminar os conteúdos, carros de som, pessoas com dedicação exclusiva às tarefas da agitação e recursos financeiros para bancar tudo isso. Em breves palavras, trata-se de fazer melhor o que já estamos fazendo para substituir uma visão de mundo alienada por outra que espelhe os "reais interesses do povo", levando-o a aderir às nossas posições.
O problema desta compreensão não está só no fato de que buscamos ampliar o que não está dando certo, mas que esta postura prova que desconhecemos por que a forma de pensar o mundo, proporcionada pelo senso comum, tem raízes tão sólidas e profundas. Ao dizer isso, não estamos duvidando da importância da comunicação e da formação na organização da luta popular e sindical. Queremos apenas mostrar que estamos diante da ingenuidade de quem julga poder convencer os simples com base em discursos contundentes, em raciocínios lógicos, em frases de efeito, mas sem uma conexão de sentido com as vivências diárias.
O que a nossa esquerda costuma esquecer, ou não sabe, é que a base do senso comum não é constituída de ideias, e sim de relações e de práticas com as quais o povo responde às necessidades concretas, dá sentido aos acontecimentos e desenvolve seus saberes. Ou seja, a visão de mundo dos simples não deita raízes na areia movediça das palavras e dos conceitos, mas na solidez do vivido. Por isso, nenhuma ideia, conceito ou demonstração teórica, por si só, é capaz de superar o que nasceu e se alimenta da vida cotidiana.
É o vivido que orienta as respostas dos indivíduos aos desafios que a realidade coloca, que fornece os meios para pensar e construir o futuro, que aprimora e aprofunda percepções e convicções, que nutre as crenças, tendo como critérios de verdade a tradição, os laços afetivos, a experimentação empírica, a confiança nas expressões da maioria e na experiência de "quem sabe das coisas". Por isso, os critérios para pensar o cotidiano, o sentido dos acontecimentos e os valores que orientam as ações das pessoas não são derrotados pelo convencimento verbal.
Focar as atenções na origem do senso comum ajuda a entender por que em nenhum momento Antônio Gramsci usa o termo alienação e nem se refere ao povo simples como alienado.1 Para ele, à medida que todos agem e pensam o seu cotidiano no interior de uma concepção de mundo alicerçada no vivido e seguem conscientemente uma linha de conduta, gostemos ou não, nos colocam na obrigação de conhecer profundamente este cotidiano. Longe de ser um acessório, esta é a condição sem a qual é impossível entender a maneira de pensar e agir do povo e, menos ainda, de instaurar um diálogo prático-teórico que supere suas compreensões atuais.
Para quem deseja organizar vontades dispersas numa causa comum, pouco importa quais são os elementos que tipificam a alienação. Ao chamar o povo de alienado, dizemos apenas que o modo capitalista de produção teve êxito na sua tarefa de, por exemplo, criar operários com cabeça de patrão ou de convencer os pobres de que sua penúria é fruto de uma sina cruel, de um demônio sem escrúpulos ou da incapacidade de aproveitar as oportunidades.
Ainda que, pontualmente, venhamos a ter algum resultado agindo de fora dos ambientes onde as pessoas se movimentam, trata-se quase sempre de algo superficial, imediato, que se desfaz rapidamente com o simples passar do tempo. Somente quando estamos no cotidiano do povo é que podemos construir as mudanças à realidade existente e, a partir delas, abrir brechas no senso comum. Partilhar vários momentos da vida onde as pessoas agem com naturalidade permite ver e compreender o papel e o peso dos elementos que não dependem da vontade das pessoas, dos fatores individuais e subjetivos com os quais enfrentam as adversidades, das vivências e sentidos que moldam a vida pessoal e coletiva e de como isso se transforma numa visão de mundo que, ao funcionar como uma espécie de argamassa que cimenta o senso comum, levanta barreiras intransponíveis ao que não faz parte do vivido.
O movimento incessante e dinâmico que leva à formação do senso comum pode ser comparado a um entroncamento de estradas pelas quais transitam freneticamente veículos de todos os tipos e tamanhos. Por uma destas estradas, trafegam os elementos que traduzem a rotina da sobrevivência diária, as restrições que impõem às escolhas de cada um, as possibilidades que oferecem, os espaços e as pessoas que permitem conhecer, os saberes que possibilitam e as respostas peculiares do indivíduo aos desafios que apresentam.
Por outro caminho, transitam os sonhos de ascensão social que projetam para o futuro a vida que as pessoas bem-sucedidas têm no presente. Em volta deles se constroem projetos pessoais que, quase sempre, se encaixam nas possibilidades oferecidas pelos grupos de poder e que definem tanto as competências que são consideradas essenciais, como as atitudes que devem ser evitadas. Trata-se de um processo de subordinação e conformação ativa no qual as pessoas assumem ideias e valores que contrastam com suas convicções, desenvolvem novas crenças, engolem sapos cada vez mais gordos e são coagidas por uma roda-viva de demandas que marginalizam quem não se molda ao que é por elas exigido.
Não faltam também estradas pelas quais trafegam os pesadelos de um cotidiano onde as incertezas e as ameaças à vida condenam a um medo que paralisa e impede de viver, onde circulam as crenças assimiladas do ambiente circunstante a fim de proporcionar uma sensação de segurança, a apropriação individual das normas, dos valores, dos modos de pensar e de sentir das pessoas com as quais o indivíduo se relaciona.
Em todas as estradas, encontramos uma mescla desordenada e bizarra de resistência, de fatalismo, de indignação, de esperança resignada e de apelos para que alguém fora da história altere o curso dos acontecimentos nos quais o sujeito não vê saídas.2 Mas, ao contrário do que muitos imaginam, ao passar pelo cruzamento, nenhum dos elementos que citamos respeita uma ordem de prioridades, como ocorre numa rotatória comum. A depender da situação em que as pessoas se encontram, é fácil nos depararmos com elementos que travam o fluxo e impõem durante certo período uma interpretação da realidade que não deixa espaço a nenhum tipo de questionamento.
Guardadas as devidas proporções, quem já viu as imagens do trânsito nas principais cidades da Índia tem uma ideia do que acabamos de esboçar com as nossas observações. Veículos, pessoas e animais se mesclam desordenadamente o tempo todo, sem preferenciais, sem faróis, sem faixas exclusivas, com o seu passo e o ritmo que lhe é peculiar. Trata-se de uma realidade que se apresenta como absurda aos olhos de quem não está familiarizado com ela e que irrita os de fora pela demora em percorrer distâncias relativamente curtas. Criticar esse tráfego caótico e imprevisível a partir do que ocorre em outros países é o movimento típico de quem, para resolver um incômodo, sugere o que considera lógico e civilizado, segundo a sua visão de mundo, claro. Mas o problema é de quem vem de fora, não de quem, nascido e criado na Índia, acha natural que as coisas sejam e continuem assim.
"Fazer diferente" ou "pensar diferente" não são hipóteses descartadas pelo senso comum. Mas, para aceitar o novo, é necessário que ele se afirme no âmbito do vivido, o único lugar onde é possível colocar em dúvida as crenças que sustentavam o que, por ser habitual, já está consolidado na vida das pessoas. E isso não ocorre por acaso.
Enquanto seres humanos, construímos nossas crenças e os hábitos nos quais se materializam a partir das necessidades da sobrevivência, por razões pessoais, emocionais, psicológicas, influenciados pela família, pelos amigos e colegas, pela religião, pela cultura, pelas relações socioeconômicas nas quais estamos inseridos, por medo de errar, mas também por vermos nestes elementos o caminho que permite alcançar a felicidade que almejamos.
Conforme explica o psicólogo e historiador da ciência Michael Shermer, produzir uma crença é algo que os seres humanos fazem naturalmente, à medida que o cérebro procura, e encontra, padrões comuns nos dados que são captados pelos sentidos e imprime a eles um determinado significado.3 A partir desses padrões, a mente cria lógicas que explicam por que as coisas acontecem ou deixam de acontecer, faz com que a crença assuma um papel de proteção para os momentos de angústia ou de confirmação de estarmos caminhando na direção certa.
Ainda segundo este pesquisador, quanto mais forte a motivação que reafirma os elementos nos quais acreditamos, mais o indivíduo encontra sentido nas coincidências da vida às quais atribui significados e padrões. A sensação de bem-estar criada neste processo faz com que busquemos sistematicamente o que produz e amplia esse tipo de satisfação. Em sentido oposto, tudo o que se opõe às nossas convicções, traz de volta a angústia e a incerteza que as crenças haviam sufocado. Quanto maior o sofrimento gerado pela dúvida, mais o ser humano tende a demonizá-la e a eliminá-la do campo das suas reflexões.
Por isso as crenças são capazes de resistir às investidas do ensino escolar, da ciência, do raciocínio lógico que prova o erro por "A+B", de tudo o que não tem origem no vivido. Para mudar uma crença é necessária a vivência de fatos e relações perante os quais os pilares que a sustentam são incapazes de oferecer respostas satisfatórias e forçam uma mudança na visão de mundo que projetava. No próximo capítulo, vamos mostrar como as políticas neoliberais usaram o cotidiano das relações econômicas para moldar crenças que conquistaram corações e mentes de milhões de pessoas.
2. O trabalhador "empresário-de-si-mesmo".
É bastante comum ouvirmos dirigentes e militantes dos movimentos comentarem as mudanças econômicas e sociais fruto da implantação das políticas neoliberais, mas raramente as atenções se voltam para as ideias que levaram as pessoas a naturalizarem aspectos que despertavam indignação e rejeição.
No início dos anos 80, por exemplo, era difícil encontrar quem, estando desempregado, aceitasse "rebaixar a carteira de trabalho" pelo fato de o novo empregador pagar um salário inferior ao da demissão ou registrar uma profissão menos qualificada que a anterior. Do mesmo modo, ninguém considerava a possibilidade de ganhar a vida como camelô por se tratar de uma ocupação que não era "digna de gente".4
Na década seguinte, os avanços vertiginosos da desocupação e a precarização imposta pela reestruturação produtiva serviam de base para alardear um futuro sem empregos no qual o empreendedorismo se apresentava como a única saída para aumentar as chances de sucesso. Para quem ocupava momentaneamente uma vaga com carteira assinada, o esforço para garantir a própria empregabilidade era vendido como o remédio mais eficaz contra a possibilidade de perdê-la.
A coerção imposta pela sobrevivência e as miragens de ascensão social que temperavam as mudanças no mercado de trabalho transferiam para as pessoas tanto os custos do seu aprimoramento profissional, quanto os risco de apostar o que tinham num nicho de mercado em que o empreendedorismo ganhava quase sempre as feições da necessidade e não da vocação para os negócios. Incorporar estas perspectivas e dedicar a elas as melhores energias eram sinônimo de vencer a corrida para o sucesso. Seguir fazendo o que vinha sendo feito era se condenar à marginalização. As escolhas de cada um é que determinariam os vencedores e os perdedores da competição sem fronteiras e sem exclusão de golpes que permeava as atividades econômicas.
A preocupação de ser melhor em tudo para chegar à frente de todos foi substituindo a luta coletiva para garantir e ampliar os direitos existentes. O desempenho de cada um provaria os esforços despendidos e os méritos a serem reconhecidos, traria ganhos financeiros maiores do que as causas coletivas podiam assegurar e um padrão de vida mais confortável em relação ao proporcionado pelas normas legais que, em muitos casos, sequer eram respeitadas.
O fato de a concorrência ser alardeada como parteira da eficiência e berço de uma vida melhor demandava que o Estado a promovesse nas suas repartições e nos serviços prestados à população. As várias formas de privatização e terceirização dos serviços, a flexibilização da estabilidade dos servidores, a contratação de estagiários e celetistas para preencher as vagas dos concursados que deixavam o serviço público, a imposição de metas vinculadas à remuneração variável e a introdução de formas ostensivas de assédio moral, entre outros elementos, se encarregavam de naturalizar os fundamentos da gestão empresarial na administração do Estado.
No vaivém de debates e pressões entre a iniciativa privada e os governantes de plantão, as pessoas se deparavam com uma série de fatos consumados que impossibilitavam o retorno ao estágio anterior e remetiam o cumprimento das promessas nas quais haviam acreditado à necessidade de aprofundar as mudanças que haviam tirado dela o mínimo de proteção social com o qual podiam contar.
Neste processo, cada vez mais pessoas se viam na obrigação de ganhar a vida apostando apenas no que sabiam fazer, com uma dose generosa de sacrifícios e uma pitada de sorte. Aqueles aos quais a informalidade havia privado de qualquer direito não tinham nem tempo nem razões para se solidarizar com quem estava preste a perder parte da proteção legal com a qual contava. De fato, se eles estavam encarando a dificuldade de sobreviver à concorrência contando apenas com a cara e a coragem, não havia por que os demais ocupados, que partiam de situações mais confortáveis, não fazerem o mesmo.
Entre as dinâmicas que a lógica do mercado colocava em movimento encontramos bem mais do que a falta de solidariedade recíproca entre trabalhadores de diferentes ocupações. Pouco a pouco, as vivências que acompanhavam o esforço de ganhar a vida levavam o indivíduo a naturalizar o comportamento típico de uma empresa. À medida que tudo dependia de si próprio, o ocupado, independentemente de trabalhar por conta própria, na informalidade, como celetista ou estatutário, se assumia como "empresário-de-si-mesmo" e pensava cada um de seus atos com base numa lógica de perdas e ganhos. Do cuidar da sua imagem aos esforços para se adaptar às novas demandas do mercado; do desempenho efetivo a tudo o que ampliava e melhorava o seu currículo; da gestão do seu lar ao desenvolvimento de uma rede de contatos; da escolha das amizades, ao casamento, à educação dos filhos, às opções de consumo e lazer; enfim, todas as escolhas e as relações do dia-a-dia passavam a integrar uma espécie de "carteira de investimentos" com a qual o sujeito buscava fortalecer a sua posição de competidor.
Quanto mais difíceis as condições materiais a partir das quais começava a disputar o seu espaço, mais cada pequeno avanço era saudado como prova material de que estava no caminho certo e o seu valor passava a ser associado aos símbolos de status e de gozo nos quais se materializavam as suas conquistas.
Aos poucos, o indivíduo-empresário-de-si-mesmo se torna a nova cara do cidadão. Um cidadão que vê o esforço pessoal como o único capaz de mudar a sua realidade e a do mundo em que se movimenta. Um cidadão tão seguro de si que não precisa de garantias legais. Um cidadão que divide o mundo em vencedores e fracassados e para o qual a riqueza é o prêmio que a vida entrega a quem não mede esforços para ser um vencedor.
Alimentada por Organizações Não Governamentais vinculadas ao empresariado, esta postura apagava qualquer vestígio de injustiça social e se associava às ações com as quais os governantes administravam a pobreza a fim de eliminar os riscos de uma convulsão social capaz de evidenciar de desmascarar a falácia destas posições. Percentualmente insignificantes no universo dos ocupados, os "casos de sucesso" enchiam os olhos dos que enveredavam nos caminhos do empreendedorismo e da empregabilidade, com suas apostas num futuro luminoso.
À medida que estas dinâmicas iam marcando o cotidiano das pessoas, não é de estranhar que a sociedade passasse a ser vista como uma espécie de "empresa constituída de empresas de todos os tipos". Das empresas "tradicionais" aos "empresários-de-si-mesmos", todos sabem que vencer demanda energia, criatividade, disposição a assumir riscos, flexibilidade, iniciativa, cálculo, abnegação, ambição, responsabilidade pessoal, compromisso com o trabalho, resiliência e capacidade de se reinventar nos momentos de crise. Ao serem praticadas pelas pessoas que não ocupam o topo da pirâmide social, estas atitudes levaram a naturalizar o sofrimento, a aceitar situações ainda mais difíceis, a internalizar um controle rigoroso da própria conduta e, sobretudo, a buscar exclusivamente nas falhas individuais a razão de ser dos próprios fracassos.
Trata-se de um processo perverso no qual os trabalhadores erguiam a prisão na qual se trancariam, acreditando que sofrer hoje seria sinônimo de alcançar o sucesso amanhã. A frase "no pain, no gain" (sem dor nada se ganha), própria dos atletas que levam o seu corpo ao limite durante os treinamentos e as competições passava das estampas nas camisetas da moda a mote do indivíduo-empresário-de-si-mesmo.
A servidão voluntária que se desenvolve a partir desta postura é uma das expressões mais claras do triunfo do neoliberalismo e confirma que a meta anunciada por Margareth Thatcher, em 1988, foi realmente alcançada: usar a economia como método para mudar a alma das pessoas. 5
À medida que os preceitos do neoliberalismo se instalam na essência do ser humano, não basta que alguém abra a porta da prisão para que o sujeito queira sair dela. Para que isso ocorra, é necessário que um novo vivido a ser construído com o seu envolvimento direto questione o que o impede de caminhar em direção à porta. É justamente aqui que, como veremos no próximo capítulo, os nossos problemas se agigantam.
3. O senso comum nas quebradas da periferia. 6
Nas grandes cidades, nos deparamos com uma fé que raramente vê as contradições sociais como causa dos problemas cotidianos e entrega aos seres humanos a tarefa de resolvê-las. É uma fé que se alimenta de uma série de práticas religiosas que oferecem alívio para as angústias, pedem curas para os males do corpo, alimentam sonhos de prosperidade e asseguram a proteção divina a quem se entrega nas mãos de Deus. Muitos de nós não precisariam pensar muito para concluir que este quadro prova o efeito alienante da pregação das igrejas.
Fácil, não é?
Difícil, e indispensável para entender como a vida molda o senso comum, é penetrar no emaranhado de relações que constituem o terreno no qual germinam a fé e as crenças que marcam as pessoas simples. Trata-se de avaliar até que ponto elas têm meios e conhecimentos para pensar e fazer diferente a partir do contato com a realidade e com os atores que atuam nela. Sendo assim, seguimos na nossa reflexão indo, justamente, para a vida do povo.
Os dados do censo de 2010 ajudam a termos uma ideia de quantas famílias de trabalhadores/as que moram nas áreas urbanas estão abaixo da linha da pobreza, ou seja, têm uma renda per capita de até um salário mínimo. Sabendo que a família brasileira é composta em média por 3 pessoas, temos que 53,38% dos 49.226.769 núcleos familiares que moram nas cidades contam com uma renda de até 3 salários mínimos aos quais se somam outros 3,79% que não dispõem de nenhuma fonte de recursos além da que é proporcionada pelos programas sociais.7
Sem levar em consideração o fato de que as crises de 2015 e 2016, somadas aos efeitos devastadores da pandemia, devem ter agravado esta situação, podemos concluir que pouco mais da metade dos trabalhadores urbanos vive em regiões social e economicamente degradadas e distantes. À luz deste registro numérico, vamos tecer algumas reflexões.
Morar em Guaianazes, Capão Redondo, Cidade Tiradentes, Grajau ou no Jardim Ângela, apenas para citar alguns dos bairros dormitórios de São Paulo, e depender do transporte público para estar no trabalho entre as 6.00 e às 7.00 da manhã, obriga as pessoas a acordarem e deitarem muito cedo. Por si só, a distância entre o trabalho e o local de moradia determina a impossibilidade de incorporar atividades que reduzam o tempo de descanso. Desta forma, se esfolar para sobreviver é sinônimo de entrar numa camisa de força que impede o acesso a uma quantidade enorme de elementos que poderiam ampliar a criatividade, o desenvolvimento dos talentos individuais e a própria bagagem cultural.
O problema aqui não está apenas nas restrições ao saber e ao fazer que isso impõe, mas, sobretudo, no fato de que os elementos que o sujeito desconhece é como se não existissem. Concretamente, é altamente provável que muitos moradores das periferias desconheçam totalmente grande parte do que leva a militância a dizer: "não é possível que não saibam disso...".
Quanto maiores as dificuldades para ter uma renda que atenda às necessidades básicas, mais as pessoas precisam encontrar formas de sobreviver na adversidade. Neste sentido, o ambiente urbano oferece infinitas oportunidades de ganhar algum dinheiro com ações que se destinam a driblar as proibições legais.
Do flanelinha que cuida dos carros estacionados em local proibido e tem um acordo com os guardas a quem "faz gato" de água, energia e tv a cabo; da indústria dos despachantes e contadores que se aproveitam das dificuldades criadas pela burocracia à contratação de serviços para encobrir atividades ilegais de empresas; do suborno de fiscais de obras para evitar multas durante a contrução de uma casa sem alvará às relações esdrúxulas entre policiais e desmanches de veículos, a cidade assiste à construção de redes de negócios que naturalizam a porosidade da fronteira entre o legal e o ilegal. Empresários, políticos, policiais, contraventores, contrabandistas, pessoas simples, traficantes e os mais diferentes agentes do Estado participam do enorme bazar de possibilidades criado pelas normas legais.
Neste cenário, não há quem não se depare com a dúvida de participar ou não das práticas ilegais que se apresentam como parte da normalidade urbana e com a reflexão sobre as consequências do não tomar parte delas. Enfim, mais cedo ou mais tarde, todos os moradores se interrogam quanto à aceitabilidade moral do vaivém entre o lícito e o ilícito a fim de proporcionar recursos para suas necessidades ou para satisfazer desejos que seriam inacessíveis contando apenas com a renda do trabalho.
O convite a violar a lei tem vários aliados de peso. Dos empresários que contratam sem registro em carteira aos agentes do Estado que pedem arrego, do vizinho que comprou uma televisão nova com o dinheiro do tráfico ao passar necessidade por optar pela honestidade, sobram estímulos a abrir mão dos próprios valores morais ou a flexibilizá-los quanto basta para arredondar os ganhos do trabalho.
Compreender este processo não é difícil. Pense comigo: que barreiras morais ajuda a derrubar, por exemplo, o fato de saber que as bocas de fumo do bairro contam com a cumplicidade dos policiais? Num cenário onde os agentes do Estado não têm escrúpulos em pedir propina e em praticar outros crimes, que constrangimentos podem oferecer o fato de vender produtos contrabandeados, participar de uma rede que falsifica receitas de remédios controlados, entregar um papelote de cocaína ou manter uma birosca onde se negociam produtos de "proveniência duvidosa"? Ainda mais quando os riscos destas atividades são bem menores em relação aos de uma longa jornada de trabalho e é fácil ganhar dinheiro com elas.
Mas a periferia é também o lugar do risco. É o espaço onde as coisas mudam repentinamente pelas ações do tráfico, da polícia ou da milícia; é o cenário no qual é difícil confiar em alguém, pois uma simples fofoca de vizinhos inescrupulosos pode colocar pessoas honestas frente a frente com a "justiça" do tráfico ou da milícia; é o lugar onde o crime define e faz cumprir regras de convivência, cria um mercado de trabalho para todas as idades e fornece os meios para sair do anonimato.
Algumas perguntas ajudam a vislumbrar as marcas deste cotidiano na vida das pessoas e na sua visão de mundo: que preocupações se fazem presentes na cabeça dos pais ao verem os filhos crescerem numa realidade onde trabalhar honestamente é viver no esquecimento, é não ter o que a propaganda alardeia como símbolo de status e dignidade, é não ser respeitado, é não ter direito a ter direitos? Como impedir que um filho entre no tráfico quando ser bandido é ter respeito, dinheiro e poder, ou seja, tudo o que um trabalhador não consegue com uma vida sacrificada e honesta? Como argumentar que é melhor se esfolar por longos anos do que ter uma vida curta, mas vivida na adrenalina, na crista da onda e com o gostinho de ter poder sobre as pessoas?
E, ainda: Como é viver com medo até mesmo quando se trata apenas de sair para trabalhar ou chegar do serviço? O que se experimenta ao ter o ganho de um dia de trabalho roubado por um "pivete" ou um "nóia" que o usará para responder aos impulsos da dependência química? Como reagir ao furto das próprias roupas no varal, à notícia de que um vizinho foi preso, que um conhecido amanheceu com três tiros na cabeça ou resolveu comprar uma arma para se vingar de quem o assaltou? Sabendo das possíveis consequências, é melhor sufocar a revolta ou dar vazão a ela? O que é viver um pesadelo a cada tiroteio e a quem se dirigir para fazer justiça? À polícia? À milícia? Ao tráfico?
Não há respostas fáceis para nenhuma destas perguntas. De fato, como julgar a realidade de forma coerente quando situações contrastantes impedem até mesmo de definir de que lado está o bem e onde está o mal? Que posição é possível assumir, por exemplo, diante de um assaltante que precisa "trabalhar mais" para pagar ao policial, ou ao juiz, a propina que garante a soltura de um parceiro? Podemos apelidar estes assaltos de "legítimos"? O que passa pela cabeça dos moradores das periferias quando os fatos confirmam que policiais vendem proteção a traficantes, milicianos e bicheiros? O que pensam as pessoas ao verem quem deveria zelar pelo cumprimento da lei integrar uma milícia que domina o comércio e o transporte local, cobra proteção para não ter a casa e ou a loja assaltadas, atua ilegal e descaradamente no mercado imobiliário, age para que uma facção do tráfico ganhe o espaço ocupado por outra? O que sentem as pessoas quando os policiais invadem uma boca de fumo para cobrar uma propina maior dos gerentes cujos negócios proliferaram além do que era inicialmente esperado? A quem recorrer quando o tráfico, a polícia, a milícia e a falta de serviços do Estado compõem, em níveis diferentes, os riscos aos quais as pessoas são diariamente expostas? Como acreditar nas instituições de um Estado que contribui decisivamente na gênese e na trajetória da marginalidade?
E, também, onde procurar um pouco de paz neste turbilhão de insegurança e medo? O que ajuda a não alimentar a paranoia de ser a próxima vítima da violência? Como dormir à noite quando tudo em volta é tensão e ameaça de morte? À medida que a realidade fecha a possibilidade de solução a partir das instituições humanas, em quem colocar a esperança para não desesperar? Como manter viva alguma perspectiva de futuro quando a marginalização social, a discriminação e o racismo, se mesclam a sentimentos de ódio, rancor e frustração que brotam dos sonhos abortados, das perdas prematuras, da sensação de que nada vai mudar? A quem apelar para manter a própria integridade num inferno onde a morte é vendida em papelotes de entorpecentes com a naturalidade com a qual se vende gelinho e cocada? Quando viver é enfrentar a imprevisibilidade de uma guerra contra tudo e contra todos, onde encontrar um pouco de paz?
Depois de delinearmos as perplexidades e as preocupações das pessoas diante do que veem e ouvem diariamente, é mais fácil entender o sentido das expressões: "só por Deus mesmo" e "só Jesus na causa" que correm de boca em boca. Os desafios impostos pela vida ultrapassam a capacidade de resposta das pessoas. Desta forma, a única opção que resta é a de "entregar tudo para Deus".
E aqui a realidade nos surpreende com um aspecto que desconsideramos. Ao contrário do que muitos imaginam, apelar a Deus não é deixar de agir. Invocar a ação de alguém que está acima da história põe as pessoas em movimento com tarefas, rituais e ações de solidariedade através das quais assumem o desafio de construir um mundo onde o bem prevalece sobre o mal.
As igrejas evangélicas pentecostais, por exemplo, acreditam que o demônio é a causa dos problemas que afligem a humanidade. Por isso, diante da fome, do desemprego, do alcoolismo, das drogas, das doenças e de tudo aquilo que causa a infelicidade do ser humano, a saída passa, necessariamente, pelas ações dos fiéis da igreja que conquistam para Deus o espaço que era do maligno. É deste engajamento em atividades factíveis, diárias, cujos resultados se tornam visíveis na experiência pessoal e nos testemunhos dos irmãos de fé, que o crente afirma que Deus é fiel e confirma que o seu compromisso ao lado do bem não será em vão.
Além disso, há um aspecto que não pode ser menosprezado: as palavras do pastor e dos irmãos de fé ganham as cores da confiança e da veracidade à medida que se trata de alguém que, por partilhar o mesmo espaço e viver as mesmas angústias, encontra as mediações para dialogar com os medos das pessoas e criar oásis de paz. Ou seja, não estamos diante de fiéis ou Pastores que, durante as celebrações, convidam a se entregar à proteção divina, mas passam o resto do seu tempo longe de onde cantam as balas e os problemas ganham dimensões explosivas e sim de homens e mulheres cuja sintonia com o povo vem do partilhar o mesmo espaço do vivido. E isso faz toda diferença...
Além das normas da família, da religião, do tráfico e das milícias, os estudos etnográficos realizados em bairros periféricos da Grande São Paulo mostram que os moradores situam a sua conduta entre dois polos definidos pelo "ser verme" e pelo "ser guerreiro".
Ser verme descreve a postura de alguém que é covarde, mesquinho, mentiroso e dissimulado; de quem busca se sair bem em qualquer situação, ainda que isso implique em prejudicar os demais; de quem só age por interesse e não se compromete com a palavra dada. Em geral, o "verme" tem uma trajetória de vida marcada pela fome, pela violência policial e doméstica, por passagens pela prisão, pelo uso abusivo de álcool e drogas, por problemas psíquicos, enfim, por uma série de fatores degradantes que o fizeram sucumbir ao sofrimento. O propósito de todos é se distanciar ao máximo do "ser verme" que não assusta apenas pelos danos que pode provocar, mas pelo fato de muitos partilharem situações análogas àquelas que o transformaram numa pessoa desprezível.
No extremo oposto das representações, encontramos a figura do guerreiro. Ao contrário do verme, o guerreiro luta para não se deixar dominar pelas adversidades. A sua busca é sempre no sentido de transformar provações, decepções e fracassos em desafios através dos quais afirma a sua capacidade de enfrentar os sofrimentos. A frase "o que não me mata me fortalece" é a marca do guerreiro. É com esse espírito que ele empenha a sua palavra e desafia as circunstâncias imprevisíveis da periferia. Quando um morador diz que alguém é "um guerreiro", exalta o fato de ele não se conformar com a situação que leva a maioria a baixar a cabeça e a se adaptar.
Agora pare e pense: que respostas à situação caótica da periferia podem ser construídas a partir destas representações? Ninguém nega a ação das igrejas e dos demais intérpretes do cotidiano que marcam uma leitura dos acontecimentos que chamamos de "alienada". Mas qual é o peso da nossa ausência na visão de mundo do senso comum cujos alicerces têm as características do vivido que descrevemos acima?
Sim, eu sei que "visitamos" a periferia, sobretudo para pedir votos...que alguns integrantes dos movimentos moram nelas...que muitos de nós têm parentes e amigos que vivem nos bairros mais afastados do centro, mas para abrir uma brecha nas expressões do senso comum não basta uma visita, uma conversa ou uma narrativa convincente. E um desafio que demanda, ao mesmo tempo, uma inserção real, sensibilidade e capacidade de captar as possibilidades abertas pelo "sentir" das pessoas, planejar atividades e tarefas nas quais elas tenham um papel ativo na reflexão e na execução. Ou seja, não basta mergulhar na realidade é necessário saber o que fazer com ela, entender o que as pessoas se dispõem a fazer e transformar indignação em ações que traduzem a sua vontade de mudança.
Os desafios a serem superados para podermos caminhar nesta direção não são poucos nem pequenos. A linguagem que traduz o sentir das pessoas simples é pobre em palavras, mas extremamente rica em vida cotidiana. Os militantes e dirigentes, ao contrário, racionalizam tudo, usam as palavras com a postura de quem sabe e os elementos de seus raciocínios costumam não dialogar com o vivido. E o problema aqui não é a "falta de humildade" e nem o "falar difícil" e sim que, para nos ouvir, o povo quer a certeza de que sentimos o que ele sente e transmite como pode.
Um encontro que tive num mercado do bairro ajuda a exemplificar o que procuro dizer. Na curta fila do açougue assisti ao diálogo entre uma senhora e o balconista que era seguidamente convidado a tirar um pouco da carne moída que havia colocado na balança onde, ao lado do peso, aparecia o preço que seria cobrado. A razão do pedido era clara: a senhora não tinha dinheiro para mais do que trezentos gramas do produto.
Ao se afastar do balcão, ela olhou para mim, mostrou-me o saquinho com a carne e disse: "olha pra isso...carne virou tempero". Naquele instante pensei em duas coisas: nos sentimentos que ela queria transmitir e nas formas pelas quais sindicatos e movimentos mostram às suas bases que o preço da carne foi às estrelas.
Já vi boletins com as porcentagens dos aumentos dos cortes bovinos entre um ano e outro, charges e gráficos que visualizam o fato de um quilo de carne de segunda valer mais do que uma jornada de trabalho de muitas categorias profissionais e uma profusão de adjetivos que descrevem a situação dramática vivida pelo povo simples, mas sem a profundidade de sentido contida na expressão: "carne virou tempero".
Nela, não encontramos cálculos e nem exemplos que buscam despertar uma indignação calcada em elementos abstratos, e sim a vida nua e crua numa expressão que mescla desconcerto, indignação e resignação. As três palavras, de fato, revelam bem mais do que dizem, à medida que a comida não é só o meio de matar a fome, mas de traduzir a própria condição social. Falar do que comem é uma das formas pelas quais as pessoas expressam o nível de pobreza. Comer carne todos os dias é o divisor de água que separa os pobres dos não pobres, a carência da fartura. A carne que virou tempero é a prova irrefutável da pobreza, o marco de uma condição social em função da qual as pessoas sofrem humilhações constantes, a passagem indesejada para a vergonha de pedir ajuda por não ter como sustentar a família com a renda do trabalho.
Encontrar uma conexão de sentido que dialogue com a visão de mundo daquela senhora demanda conhecer o que mais pesa. O desconcerto? A resignação? Ou a indignação? Trata-se de algo que não é tão simples como parece, que demanda tato e sensibilidade na hora de ouvir e falar, mas que, ao ser identificado, eleva a possibilidade de transformar os elementos de resignação e resistência passiva numa inconformidade que pode contagiar as pessoas com as quais se relaciona.
Além do que o povo diz, não são poucas as vezes em que responde às nossas palavras com o silêncio. Para muitos, o silêncio é sinônimo de ausência de uma posição, de vazio diante dos acontecimentos, e esta interpretação costuma autorizar quem fala a preenchê-lo da forma que lhe parece mais conveniente. Contudo, sempre que tentamos fazer isso, a mensagem que veiculamos é silenciada pelos elementos da visão de mundo que o silêncio impede de ver.
Se as palavras podem ser comparadas às ondas do mar, o silêncio retrata a vivacidade da vida marinha que não é visível aos que olham para o mar a partir da praia. É embaixo das ondas que indivíduos e grupos buscam significar o seu cotidiano em meio a uma dificuldade gigantesca de encontrar palavras capazes de traduzir o que sentem.
A nossa urgência de dizer e fazer acontecer ganha quase sempre as feições de uma demonstração de poder que produz o silenciamento do que o povo pensa e não expressa ora pela necessidade de entender melhor, ora por não encontrar as palavras, ora por não precisar delas à medida que os ouvintes partilham uma compreensão consolidada em relação ao que está sendo dito e a quem faz uso da palavra. Esta compreensão se faz presente em gestos, caretas, olhares, posturas, que deixam transparecer o sentido do silêncio, mas que só podem ser entendidos somente por quem convive com o ambiente. Por isso, muitas vezes, quem acredita estar enchendo de palavras o vazio de interpretação da realidade que acredita se manifestar no silêncio dos simples não percebe que pode não estar dizendo nada aos seus interlocutores, apesar de falar o tempo todo.8
Incômodos, indesejáveis, toscos, capazes de contradizer o que consideramos correto falar e fazer, estes elementos que levantamos provam que só é possível confiar na palavra quando se confia na pessoa que a pronuncia. E a confiança não nasce da autoridade que o dirigente procura impor ou da fala impactante do militante e sim da convivência que vem do partilhar o espaço, os problemas, as angústias e a construção de um sentido para o vivido.
Sem uma inserção capaz de dar vida a novos passos da luta, não há curso, boletim, discurso, vídeo, rede social ou charge que possa dar conta do que só o fazer juntos pode realizar, ou seja, desse construir fazendo com que o povo assuma aos poucos as rédeas da ação. Do contrário, como superar o sentido fornecido pelas aparências se o vivido não oferece condições para isso?
4. As vozes da periferia...que os de fora não ouvem
Organizador de um campeonato de futebol para a garotada e de uma oficina de funk, conhecido e apreciado pelos moradores da favela de Acari, no Rio de Janeiro, Wanderley da Cunha, mais conhecido como Deley, é uma liderança que deseja mostrar a "outra favela" a quem é de fora. Os contatos com diferentes gerações de pesquisadores alimentaram a indignação com a qual avalia que eles vão à favela interessados em analisar o tráfico de drogas e as relações que os traficantes estabelecem com a população local e não para conhecer as iniciativas positivas que aí se desenvolvem. 9
Para a academia e a militância político-partidária, a periferia é vista como problema, como o lugar onde algumas promessas ajudam a angariar votos e, raramente, como berçário de identidades e resistências através das quais os marginalizados fazem ouvir a sua voz. A música, a dança, a festa e as expressões religiosas através das quais as pessoas simples constroem espaços de vida e liberdade simplesmente desaparecem diante das atenções que os pesquisadores e os militantes dedicam ao que o povo chama de "coisas ruins" da periferia. Contudo, é nestes refúgios que os moradores mostram sua forma peculiar de falar da dor e da alegria, tecem relações que permitem enfrentar os preconceitos, superar a sensação de estar num beco sem saída e expressar o "basta!" que as condições do lugar permitem pronunciar.
É fato, por exemplo, que os grupos de RAP e HIP HOP são uma referência importante nos bairros periféricos das grandes cidades. As letras das músicas traduzem o sentir da vida cotidiana; falam do desconcerto diante da realidade; apresentam os sonhos enterrados pela violência, pelo preconceito, pelo racismo, pela intolerância; mostram as consequências de uma sociedade que segue espoliando e abandonando os pobres à própria sorte; e traduzem as esperanças de uma vida melhor. 10
Sim, eu sei que, como muitos da esquerda mais à esquerda não cansam de dizer, "as letras destas músicas não têm uma visão classista da realidade" e nem alimentam o espírito revolucionário que o senso comum de muitos militantes supõe brotar automaticamente da precariedade das condições de vida. Cegos às expressões que trincam o senso comum, surdos aos batuques que sacodem o corpo e plantam sementes de rebeldia na alma, nos detemos em mensurar como e quanto as expressões culturais das periferias revelam a falta de consciência das pessoas e não os sinais de inconformidade que embasam o "isso não está certo" do qual nasce a sua resistência.
Algo parecido ocorre diante de muitos sambas-enredo, cuja crítica social consegue "dar o recado". Impossível não lembrar o Carnaval de 2020, quando a Estação Primeira de Mangueira, no Rio de Janeiro, levou à avenida o "Jesus da gente" ou do "Basta!" preparado pela Escola de Samba Gaviões da Fiel e que deveria ser apresentado no desfile de 2021, em São Paulo, cancelado em função da pandemia, e de muitos outros que, ano após ano, marcaram o carnaval com uma crítica social clara e forte.11 Ninguém precisa me lembrar de todos os problemas e contradições que acompanham estas produções, mas é inegável que seu impacto e capacidade de diálogo com quem está na base da pirâmide social são infinitamente maiores do que conseguimos produzir.
E isso não ocorre por acaso.
Através do samba das escolas, dos blocos e de uma miríade de grupos musicais, os moradores das periferias se encontram, pensam os seus dramas diários, aprendem a expressar o que sentem, criticam o mundo da política, homenageiam personagens ilustres, numa mescla de festa, conflitos e muito trabalho coletivo.
Estes espaços permitem que o povo saia da atmosfera opressiva da sua condição social. É neles que as pessoas afirmam suas capacidades, mostram seu saber promovem a autoestima, limpam o estigma que condena à marginalização, transmitem valores culturais, memórias e vivências individuais e coletivas. Através do samba, os humilhados nas engrenagens da opressão reencontram a dignidade pessoal, retiram prazer e satisfação do que fazem, encontram a oportunidade de se reconhecerem como pessoas merecedoras de aplauso, usam a imaginação e a criatividade para mostrar que o sentimento de inferioridade social plantado pelos grupos de poder não os condenará ao esquecimento.
Agora, você que está lendo estas linhas se coloque por um instante no lugar destas pessoas e pense como se sentiria ao ver que esta mescla de esforços, relações, dedicação, suor, lágrimas, alegrias, desejo de mostrar o próprio valor é julgada como alienante por uma turma de gaiatos que, frequentemente, só conhece a realidade delas através das telas da comunicação eletrônica. Você confiaria em quem, do alto da sua consciência de classe, não mostra consideração pelos seus esforços? Você prestaria atenção à verborreia revolucionária que pede para trocar as expressões do seu sentir pelos postulados de teorias que, para você, não passam de palavras sem vida? Tenho certeza de que não precisa da minha resposta.
É óbvio que não devemos absolutizar as manifestações populares como portadoras de verdades absolutas, de posturas transformadoras por excelência e nem mesmo como alheias à visão de mundo dos grupos de poder ou livres de aspectos que representam uma fuga da realidade. O problema é que menosprezar ou desconsiderar os esforços com os quais o povo simples sai do anonimato e da resignação para se tornar protagonista através das manifestações culturais é sinônimo de negar a sua capacidade de pensar, de produzir conhecimento, de se indignar, de dizer o que sente e vive sem a mediação de ninguém.
Nunca é demais lembrar que o esforço de criticar e desconstruir a visão de mundo do senso comum demanda o conhecimento dos saberes, das experiências e das reflexões da gente simples. Esta é a base a partir da qual o povo organiza o cotidiano da vida, o laboratório onde aprendemos a dialogar com o seu "sentir" e no qual incorporamos suas expressões de resistência para transformá-las em algo que vai além dos seus propósitos iniciais. Mas se não prestamos atenção às vivências de quem busca afirmar o seu valor numa realidade que o condena a sofrer calado, em que elementos vamos alicerçar a nossa sintonia com essas pessoas? Nas teorias que declamamos como verdades absolutas? Nas bandeiras de luta que apontam objetivos que a compreensão do vivido proporcionada pelo senso comum e pelo bom senso pintam como irrealizáveis? Por que o povo deveria aderir a quem propõe uma mudança que desconsidera os elementos nos quais se reconhece?
Sim, eu sei que suas preocupações vão no sentido de criar uma consciência de classe que envolva corações e mentes dos trabalhadores e trabalhadoras das mais diversas atividades econômicas e que suas críticas se destinam a fazer com que deem sua adesão a uma luta que destrua a exploração de um ser humano por outro ser humano. Mas, justamente por partilhar desta mesma preocupação, não posso deixar de mostrar que não há nenhuma incompatibilidade entre este anseio e as considerações que esboçamos até este momento. Ao contrário, a luta popular não dará um passo se quem clama para si o papel de vanguarda for incapaz de caminhar com o povo, de entendê-lo, respeitá-lo, de fazer com que os passos da mudança incorporem a sua resistência.
Longe do que percebi ao ouvir as falas de inúmeros militantes e dirigentes, o fato de ser peão, servidor público, operário, empregado de qualquer nível salarial, marreteiro, catador, etc. não é sinônimo de se sentir parte da classe trabalhadora e, menos ainda, de construir com os trabalhadores das demais profissões uma identidade coletiva rumo a uma causa comum.
O trabalhador empresário-de-si-mesmo, descrito nas páginas anteriores, não consegue ver além de si próprio, das oportunidades através das quais busca afirmar o seu valor e teme a solidariedade por ver nela a possibilidade de fortalecer colegas que, ao se beneficiarem do apoio recebido, podem ocupar os espaços que almeja.
Cada vez mais comum em todas as ocupações, este sujeito é muito mais do que alguém cujos valores foram influenciados pelos grupos de poder. O DNA do capital entrou no seu corpo. A busca do sucesso corre nas veias. E, ainda que uma crise econômica detone as perspectivas de futuro que havia traçado para si, a sua alma professa o credo do mercado.
Avesso às ilusões que esperam milagres de mobilização da miséria mais embrutecedora, quero lembrar que a classe se faz classe através de suas lutas e não por obra e graça de uma determinação material vinculada à venda da força de trabalho ou da precariedade que cerca quem se vira por conta própria. É através de suas lutas que a classe cria sentimentos de coletividade, fortalece a indignação e a rebeldia, percebe os limites do corporativismo, constrói a sua identidade, forja projetos que ampliam os horizontes da sua ação. Mas é justamente no terreno das lutas que encontramos os maiores problemas.
Tendo como base os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Continua (PNAD-Contínua) referente aos meses de maio, junho e julho, constatamos que a greve não se apresenta como uma forma de luta viável para a maioria dos 40,8% da força de trabalho que, segundo o IBGE, estão na informalidade, e, menos ainda, para os 13,7% que se encontram desocupados.12 Que sentido tem para um "vendedor de qualquer coisa" que ganha a vida no transporte público, nos faróis, nas calçadas ou nos terminais de ônibus parar de trabalhar em protesto contra a política do governo? Por outro lado, que tipo de lutas abriria a alguém como ele a possibilidade de se sentir "classe trabalhadora"?
Também não podemos esquecer que a desocupação, a precarização das relações de trabalho, o forte aumento dos trabalhadores por conta própria e as dificuldades de os jovens encontrarem empregos formais fazem com que milhões de pessoas nunca tenham participado de uma greve. Neste sentido, que ideias de luta de classe podem ter?
Os resultados também não são animadores quando focamos as atenções nos 45% dos trabalhadores e trabalhadoras que, ao ter um contrato de trabalho formal, contam com uma representação sindical legalmente reconhecida. De acordo com o levantamento do DIEESE, o número de greves caiu de 2.093, em 2016, para apenas 649, em 2020. Neste período, foram contabilizadas 6.299 paralizações, 89% das quais eram de caráter defensivo, ou seja, buscavam apenas manter os direitos existentes ou fazer cumprir alguma cláusula do acordo coletivo.
No primeiro semestre de 2021, não foram registrados sinais de uma melhora consistente na mobilização dos trabalhadores. Entre janeiro e junho, foram computadas 366 greves, sendo que as de caráter defensivo representaram 91,8% do total. Ou seja, nos últimos cinco anos e seis meses, o aprendizado próprio do construir os passos da luta para conquistar um direito - peça-chave do fazer-se classe da classe trabalhadora - foi uma experiência quase inexistente. 13
Basta isso para constatar que, por muito que determinadas facções se definam "revolucionárias" e tenham análises e planos escritos pelas melhores cabeças da esquerda, as dinâmicas do real estão negando as condições mínimas para que tenhamos, ao menos, um patamar de luta bem mais modesto. Formular estratégias e bandeiras de luta longe do povo deu vida a teses, a estratégias voltadas a intervenções radicais e propostas arrojadas...que só funcionam na cabeça dos generais sem exército que buscam soldados para batalhas que os candidatos a recrutas não entendem e não querem.
Sim, eu sei que o sistema capitalista merece todos os adjetivos cáusticos com os quais denunciamos o enriquecimento de poucos à custa de muitos e as demais contradições, mas é fato que as nossas intervenções mais assustam do que levam as pessoas a agirem. Isso sem contar que, na visão do senso comum, o fato de repetirmos as mesmas denúncias sem uma ação que resolva os problemas por elas apresentados, apenas confirma que não há o que fazer e que a melhor resposta é aquela que dá conta de acomodar os próprios interesses às magras oportunidades que, não poucas vezes, nascem em volta do que estamos denunciando.
Isso apenas reafirma que a construção do projeto da classe tem que se dar no caminhar com o povo. É nele que as nossas teorias precisam se tornar ferramentas com as quais atuamos para ter razão no debate aberto de ideias e projetos que se dá no seu meio e não para sobrepor a nossa compreensão da realidade à visão do senso comum. Quem procura criar e dirigir os movimentos precisa ter com o povo uma relação de "unha e carne". Só assim o trabalho de construir, incorporando e superando o senso comum através de novas expressões do vivido, ganhará formas de luta pensadas numa reflexão prático-teórica que é fruto de um envolvimento coletivo.
Parece simples, mas é tão complexo e delicado quanto o esforço de transformar um barraco de madeira em casa de alvenaria enquanto os moradores continuam em seu interior. Qualquer erro de cálculo, qualquer aposta errada nas condições meteorológica, qualquer sacrifício que parecer desnecessário criará situações desgantes que podem pôr para perder o trabalho já realizado.
Criticar e fazer gozação do senso comum é fácil. Ironizar os rituais religiosos e as crenças pode ser divertido. Usar nossas teorias para apontar o dedo na alienação alheia eleva o nosso ego, mas transforma em devaneios os nossos sonhos de mobilização e de mudança.
Mas...quem sabe...que os três dedos que se voltam para nós sejam eloquentes quanto basta para lembrar que a visão de mundo do senso comum não será superada enquanto os elementos do vivido que a sustentam permanecerem ativos na produção e reprodução da visão de mundo das pessoas simples. E que nenhuma prova científica, nenhum raciocínio lógico, nenhuma demonstração teórica, por si só, é capaz de destruir o que nasce do vivido; e que ajudem a colocar a pergunta mais importante para os dias atuais: além das palavras, o que temos para colocar no lugar daquilo que criticamos?
Brasil, 18 de outubro de 2021.
______________________________________________________________
Notas:
(1) Ativista político, jornalista e intelectual italiano, Antônio Gramsci dedicou parte considerável dos seus esforços à análise do senso comum e das formas de dialogar com a visão de mundo das pessoas simples. Os aspectos centrais da sua obra encontram-se resumidos no texto de Emilio Gennari, Senso comum e bom senso: o que fazer para lidar com eles, disponível em: https://drive.google.com/file/d/0B-LG-oiNBV_MdHFmaHIyS0x0aUN5Rl9YckFpMDlIVUZZYlBn/view?usp=drivesdk&resourcekey=0-nWKhpNJhCDkDMY8_yARSbw
(2) Traduzimos assim a ideia pela qual Gramsci afirma que cada ser humano "é um bloco histórico de elementos puramente individuais e subjetivos e de elementos de massa, objetivos, ou materiais, com os quais mantém uma relação ativa". Em: Antonio Gramsci, Quaderni del Carcere - Edição Critica do Instituto Gramsci, Ed. Einaudi, Torino, 1977, Vo. II pg. 1388.
(3) Resumimos aqui as principais conclusões do livro de Michael Shermer, Cérebro & Crença: De fantasmas e deuses à política e às conspirações - como o nosso cérebro constrói nossas crenças e as transforma em verdades, Ed. JSN, São Paulo, 2012.
(4) Inúmeras as vezes em que este autor se deparou com estas colocações ao dialogar com moradores das favelas da Zona Leste de São Paulo e ao apoiar o nascente movimento dos desempregados cujas lutas forçariam o governo a criar a primeira forma de salário desemprego.
(5) A frase original de Margareth Thatcher “A economia é o método. O objetivo é mudar a alma das pessoas” foi publicada na edição impressa do jornal Sunday Times, no dia 7 de maio de 1988, e reproduzida na página 325 do estudo de Pierre Dardot e Christian Laval. A nova razão do mundo-ensaio sobre a sociedade neoliberal. Ed. Boitempo, São Paulo, 2016.
(6) Para formular o conteúdo deste capítulo, lançamos mão dos textos que seguem:
· Alba Zaluar, A máquina e a revolta - As organizações populares e o significado da pobreza, Ed Brasiliense, São Paulo, 1994, 2ª edição;
· Alba Zaluar, Integração perversa: pobreza e trafico de drogas. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2004;
· Alba Zaluar, Violência, dinheiro fácil e justiça no Brasil 1980-1995. Em: ACSELRAD, G. org. Avessos do prazer: drogas, Aids e direitos humanos [online]. 2nd ed. rev. and enl. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2005, pp. 65-88
· Alba Zaluar e Isabel Siqueira Conceição. Favelas sob o controle das milícias no Rio de Janeiro: que paz? Em: São Paulo em Perspectiva, v. 21, n.2, pg.89-101, jul/dez 2007;
· Amílcar Cardoso Vilaça de Freitas, Para aquém do bem e do mal: Pentecostalismo e criminalidade Em: Ciências Sociais e Religião, Porto Alegre, ano 19, n. 27, p. 32-46, dezembro de 2017.
· Bruno Paes Manso. A República das Milícias - Dos esquadrões da morte à era Bolsonaro. Ed. Todavia, São Paulo, 2020;
· Christina Vital da Cunha, Evangélicos em ação nas favelas cariocas: um estudo sócio-antropológico sobre redes de proteção, tráfico de drogas e religião no Complexo de Acari. Tese de doutorado do programa de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Rio de janeiro, 2009;
· Christovam Barcellos e Alba Zaluar. Homicídios e disputas territoriais nas favelas do Rio de Janeiro. Em: Revista de Saúde Pública, v.48, pg 94-102, 2014. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rsp/a/J3RVPDrhX8QLnGMSHMfP6cD/?lang=pt&format=pdf Acesso em 23/06/2021;
· Daniel Veloso Hirata, Sobreviver na adversidade: entre o mercado e a vida. Tese apresentada ao Programa de Pós-graduação em Sociologia do Departamento de Sociologia, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010.
· Gabriel de Santis Feltran. Crime e castigo na cidade: os repertórios da justiça e a questão do homicídio nas periferias de São Paulo. Em: Cadernos CRH. v.23, n.58, jan/abr. 2010.
· Gabriel de Santis Feltran. Fronteiras de tensão - política e violência nas periferias de São Paulo. Ed. UNESP/Centro de Estudos da Metrópole, São Paulo, 2011;
· Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (GENI/UFF) e Observatório das Metrópoles (IPPUR/UFRJ). A expansão das milícias no Rio de Janeiro - uso da força estatal, mercado imobiliário e grupos armados (relatório final), janeiro de 2021. Disponível em: https://br.boell.org/sites/default/files/2021-04/boll_expansao_milicias_RJ_FINAL.pdf Acesso em 06/09/2021;
· Luiz Eduardo Soares, MV Bill, Celso Atayde. Cabeça de porco. Ed. Objetiva, Rio de Janeiro, 2005;
· Michel Misse, CRIME E VIOLÊNCIA NO BRASIL CONTEMPORÂNEO - Estudos de Sociologia do Crime e da Violência Urbana. Ed. Lumen Juris, 2006;
· Vera da Silva Telles, Nas dobras do legal e do ilegal: Ilegalismos e jogos de poder nas tramas da cidade. Em: DILEMAS: Revista de Estudos de Confl ito e Controle Social, Vol. 2 - no 5-6 - JUL/AGO/SET-OUT/NOV/DEZ 2010 - pp. 97-126;
· Vera da Silva Telles e Daniel Hirata, Cidade e práticas urbanas: nas fronteiras incertas entre o ilegal, o informal e o ilícito, 31o Encontro Anual da ANPOCS 22 a 26 de outubro de 2007 – Caxambu, MG;
· Vera da Silva Telles e Robert Cabanes (Org.) Nas tramas da cidade: trajetórias urbanas e seus territórios. Ed. Associação Editorial Humanitas e IRD, São Paulo 2006.
(7) De acordo com as tabelas do censo de 2010 referentes a este tema, temos que, de um total de 49.226.769 famílias que moram em áreas urbanas, 7.516.083 tem uma renda de até um salário mínimo; 18.760.256 contam recebem entre um e três salários mínimos; na faixa de três a cinco salários mínimos encontramos 9.287.553 famílias; e as famílias sem nenhum tipo de renda somam 1.868.585. Em: https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/populacao/9662-censo-demografico-2010.html?edicao=9672&t=resultados Acesso em 03/08/2021.
(8) Uma apresentação mais detalhada sobre os possíveis sentidos do silêncio encontra-se no livro de Eni Puccinelli Orlandi, As formas do silêncio no movimento dos sentidos, Ed UNICAMP, Campinas, 2011, 6ª edição.
(9) Em: Christina Vital da Cunha, Evangélicos em ação nas favelas cariocas: um estudo sócio-antropológico sobre redes de proteção, tráfico de drogas e religião no Complexo de Acari. Tese de doutorado do programa de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Rio de janeiro, 2009, pg. 104.
(10) Entre as expressões mais conhecidas, lembramos do album "Sobrevivendo no Inferno" dos Racionais MCs que também ganhou a forma de livro. Nele, ganha destaque a letra da música "Periferia é periferia" na qual o grupo descreve os dramas do cotidiano vivido pelas pessoas comuns. As músicas do album estão disponíveis em: https://www.youtube.com/watch?v=WZcFdjPZw18 Acesso em 20/09/2021.
(11) A versão oficial do enredo "Basta!" da Gaviões da Fiel encontra-se disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=EmixQ1JfTZU Quanto ao enredo da Mangueira e à apresentação da escola na avenida, basta acessar, respectivamente, os links: https://www.youtube.com/watch?v=8p0qxZre1cE e https://www.youtube.com/watch?v=0qODUwoSU-Q Acessos realizados em 29/09/2021.
(12) As porcentagens foram constam do relatório da PNAD-Contínua do IBGE referente à ocupação e desocupação nos meses de maio, junho e julho de 2021. Os dados completos estão disponíveis em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/media/com_mediaibge/arquivos/c41349fd2ccffd143f4c82b9b0d1a294.pdf Acesso em 30/09/2021
(13) Infelizmente, o DIEESE não produziu o balanço das greves de 2014 e 2015. Nos dois anos imediatamente anteriores, os estudos apontavam a realização de 877 paralizações, em 2012, e de 2050 no ano seguinte com uma porcentagem de greves defensivas que não se distancia significativamente da que calculamos. Em 2010 e 2011, os dados foram ainda piores à medida que, foram realizadas, respectivamente, 446 e 554 greves. Os dados foram computados a partir dos relatórios do DIEESE disponíveis em: https://www.dieese.org.br/sitio/buscaDirigida?comboBuscaDirigida=TEMA%7Chttp%3A%2F%2Fwww.dieese.org.br%2F2012%2F12%2Fdieese%23T356954348 Acesso em 30/09/2021.
Nenhum comentário:
Postar um comentário