sexta-feira, 16 de junho de 2023

FuteBolchevique: reflexões

     Ao final do primeiro capítulo do livro I d'O Capital, compreendemos o caráter fetichista da mercadoria. O velho Karl nos mostra como todo o processo das relações mercantis, que vai da produção de determinado valor de uso até a realização do valor (a troca desse determinado valor de uso, pela mercadoria mediadora das relações sociais, o dinheiro) obscurece a exploração da força de trabalho de uma classe (o proletariado) por outra (a burguesia) na produção social da riqueza no capitalismo. Nessa forma especifica de organização da vida, a real funcionalidade do mundo é escamoteada e, todos nós, proletários e burgueses, temos, de imediato, acesso apenas à aparência dos fenômenos.

    A escola, instituição pertencente à superestrutura do modo de produção capitalista, torna-se exemplo emblemático, quando da constatação do fetichismo nas atuais relações de produção. O senso comum, a vê como transformadora da vida humana, subjetiva e objetivamente. Mas poderia a escola ou qualquer outra instituição da sociedade burguesa, ir para além da reprodutibilidade do mundo tal qual está?

    O pessoal da Futebolchevique, nos ajuda a refletir acerca dessa indagação.


FutebolChevique

    O papel da escola é formar força de trabalho, seja no capitalismo ou no socialismo. O que muda é o conteúdo das relações de trabalho. A escola capitalista forma uma força de trabalho a ser explorada, gasta, dócil, e forma essa força de trabalho de uma maneira cínica, como se ali não estivessem contidos seus interesses de classe. 

    Hoje na rede pública em que trabalho, no interior de SP, as escolas praticaram o "dia do desafio". Um momento em que crianças e trabalhadores da escola deveriam refletir sobre a importância da atividade física e praticar 15 minutos de exercícios. Muitas escolas aderiram por ser um pedido da Secretaria de Educação. Mas esse momento nada mais é do que um momento para as escolas produzirem fotos e vídeos para as propagandas institucionais da prefeitura. A mesma prefeitura que promoveu o "dia do desafio" não fornece um salário digno para que seus trabalhadores não precisem dobrar jornada. Precisando dobrar jornada por causa do salário, quem tem energia para no final do dia praticar exercícios? Como ter saúde com um trabalho precarizado, com escolas superlotadas, com salário atrasado e sofrendo assédio?

    O "dia do desafio" poderia se chamar "o dia da hipocrisia". A hipocrisia cotidiana da escola capitalista.


Fonte: FuteBolchevique

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