Objetivo desta Carta
O objetivo desta
carta é duplo: 1º. Esclarecer os motivos da criação do
movimento #Fica Noturno no Paula Santos. 2º Denunciar
o modo vergonhoso como a Gestão desta Escola
em Parceria com a Gestão da EEP Tancredo do Amaral e a DE-ITU, promoveu
o fechamento do Noturno no Paula Santos, Escola que existe há mais de 50 anos
na cidade de Salto-SP, e como estão trabalhando duro para fazer o mesmo no
Tancredo do Amaral.
Paula Santos sai da (ETI) para a Escola Integral
(EI)
Em 2019 a Gestão
do Paula Santos que era uma ETI (Escola de Tempo
Integral) inscreveu a
escola no programa da Secretaria da Educação (SEESP) do Governo do Estado
(Escola Integral -EI), o que mudaria a forma de gestão e mudaria todo o
funcionamento da escola.
Na EI (Escola
Integral) os professores são contratados por meio de processo seletivo, recebem
um bônus de aproximadamente dois mil reais pela dedicação exclusiva ao projeto,
o que significa mais ou menos um salário de sete mil reais mensais bruto.
Entretanto, os
descontos reduzem esse preço, “comem” o bônus salarial. Quem recebe 5 mil reais
líquido fica bastante satisfeito. O que equivale ao salário pago nas grandes
indústrias do país. Para um profissional que tem formação universitária,
mestrado, e até doutorado, sem contar anos e anos de carreira, você há de
convir que não é uma fortuna como os gestores e marqueteiros do governo fazem
parecer aos olhos da comunidade escolar.
Depoimentos de
professores dessa modalidade (PEI) aos quais tivemos acesso, nos indicam que
esse salário, é a única compensação para os professores que aderiram ao
projeto.
A Propaganda
oficial da Secretaria da Educação e dos gestores que aderiram ao projeto diz
que a escola funciona com projetos que procuram orientar os alunos para o
mercado de trabalho por meio dos itinerários de formação, orientação para os
estudos, etc., e que isso é maravilhoso.
Os gestores dizem que
as turmas são menores e a convivência por 8 horas diárias com os alunos os
tornam mais acessíveis. Os alunos passam a ser cuidados mais de perto. Além
disso, dizem que os professores permanecem o dia inteiro na Escola, o que evita
aulas vagas e ausências no trabalho.
Dizem ainda que o
projeto é muito bom, que os alunos ficam mais tranquilos, são protagonistas dos
seus projetos de estudos, participam da avaliação 360° que inclui ainda os Pares
(professores), a Gestão e a Secretaria da Educação por meio de sua Diretoria de
Ensino.
Você deve estar perguntando: qual é o problema então? Para que vocês
fizeram esse movimento? O Projeto não é bom? Esta é uma excelente questão! Vejamos:
O projeto tem dois
horários para os professores: Ensino Fundamental: Das 07:00h às
16:00h. Ensino Médio: 12:15h às 21:15h. O máximo que o trabalhador
da educação pode fazer é sair uma hora para o almoço.
Todas as atividades
planejadas (Aulas, projetos, exercícios...) são preenchidas em formulários na
Secretaria Escolar Digital (SED). Todas as Atividades de Trabalho Pedagógico
Livre (ATPL) agora tem que ser feitas na Escola (Não são mais livres). De
acordo, com depoimentos de Educadores da Escola Integral, o projeto é avaliado
como bom, mas é unanimidade entre os docentes, que o que mais atrapalha são os
“milhares” de formulários para preencher sempre pra ontem, o que na prática
acaba com o tempo de preparar as aulas e termina por obrigar vários docentes a
perder fins de semana trabalhando.
A Avaliação 360º cria
uma dupla chantagem: De um lado o medo de perder o salário e do outro o receio
de ir para uma escola “lá no fim do mundo”, ou seja, muito distante do local de
moradia do professor. O que deixa os educadores sempre tensos e com medo das
avaliações. Além disso, quase não sobra tempo livre para fazer compra,
acompanhar a vida escolar dos filhos, visitar amigos.
Os diretores
(gestores) fazem chantagem o tempo todo com os professores categoria O, com
efetivos, ameaçando interromper o contrato, caso não tenham “perfil, ou seja,
caso não façam aquilo que a gestão acha correto.
É um “prato cheio”
para diretores autoritários que passam a cometer assédio moral com os
professores, como, já é de domínio público as denúncias feitas aqui na região
da Diretoria de Ensino de ITU e muitas outras regiões contra esse perfil de
gestão.
Sabotagem Ao Ensino
Público Noturno: Gestão Escolar e Estado sempre juntos.
Na verdade, criamos
esse movimento (#FicaNoturno), em primeiro lugar porquê a mudança
para a Escola Integral na escola Paula Santos foi muito mais uma forma de
“salvar a pele” da Direção do que para o bem dos alunos. Vejamos:
O Paula Santos era
uma Escola de Tempo Integral (ETI) portanto, funcionava como uma Escola regular
pela manhã e a tarde com projetos. Os professores da tarde eram selecionados
pela direção da Escola e podiam ser “demitidos” caso a direção entendesse que o
professor não tinha o “perfil da Escola”. Os professores da Tarde, cerca de 20
viviam sempre tensos, muitas vezes não participavam das lutas da educação
porque podiam ser demitidos, já que tinham contratos “temporários” para esse
projeto (ETI).
A Gestão do Paula
Santos sempre agiu para dividir os professores, pois fazia questão de ressaltar
permanentemente que os professores de projetos eram mais dedicados e que
cumpriam melhor as determinações da gestão. Dizia que os
“adorava”. Muito bem, assim que inscreveu a Escola no novo projeto (PEI)
e ele foi aprovado pelo estado, todos as professoras que a gestão “tanto amava”
(cerca de 20) foram demitidas “sem nenhuma ruga na testa da Diretora”.
Mas, deixa isso pra
lá. Nosso movimento (#FicaNoturno) não foi criado para
salvar a nossa pele (Dos Educadores). Nós sempre trabalhamos, a gente
sempre “se virou nos 30”, não seria diferente desta vez. Acontece
que a Escola Recebeu dinheiro para a reforma, a escola ficou melhor do ponto de
vista da estrutura. E a gestão simplesmente disse que os alunos do noturno
seriam transferidos para a Escola Tancredo. Nossa pergunta foi: Por que Justo
agora que a Escola Paula Santos ficaria ainda melhor, os mais de 200 alunos do
noturno seriam transferidos?
Salvando a Própria Pele e ajudando o patrão a
sabotar o Noturno
Além de salvar
a própria pele, já que a atual direção do Paula Santos estava no cargo por
nomeação (Designação) e não era concursada, portanto, perderia o posto, ela
optou por apoiar e atuar decididamente, junto com a Gestão da Escola Tancredo
do Amaral, na implantação das medidas da SEESP (Estado de São Paulo) adequando
a Escola, aos objetivos das novas bases nacionais curriculares (BNCC). A saber:
Eles estão atuando para criar um tipo de aluno que os produtores de lucro
adoram: um aluno submisso e criativo.
Fazem isso,
chantageando os professores e aumentando a opressão sobre eles. Por que,
afinal, quem vai querer perder cerca de dois mil reais a mais no salário?
Porque se perder vai para qualquer “canto” da diretoria de ensino trabalhar nas
escolas com mais problemas de toda a natureza. Então, se cria uma situação de
dupla dominação: dominação dos professores e dos alunos que vão sendo
preparados para aceitar a dominação e a opressão quando forem para o mercado de
trabalho, além de salvar a pele da gestão atual.
Com isso, as duas
equipes de gestão conseguiram acabar com qualquer possibilidade de noturno nas
duas escolas. No Paula Santos a gestão simplesmente fechou as portas da escola
para os alunos que amavam estudar no Paula Santos .
No Tancredo, a gestão
impôs um horário das 14:15h as 21:15h para o “noturno”. Sendo assim, os alunos
não podem trabalhar nem fazer outros cursos, já que o Tancredo não funciona
mais nem no turno da tarde nem no da noite. A gestão conseguiu inviabilizar os
dois períodos para os alunos trabalhadores. Resultado: aqui nessas duas
escolas, como em outras tantas do Estado de São Paulo, o ensino médio noturno
está sendo esvaziado, sabotado.
Se isso não bastasse, com os itinerários de formação, “escolhidos” pelos
alunos, os filhos dos trabalhadores estão aprendendo a fazer “brigadeiro,
salada de frutas, miçangas”, desenhos livres... ou optando por estudar só
exatas, ou só humanas, nos seus itinerários de formação.
Não somos contra a
livre escolha, mas acontece que nas escolas da classe média e dos ricos, os
alunos estudam todas as matérias. Depois vão passar em medicina, odontologia,
física, química, Tecnologia da Informação, etc, entrarão nas melhores
universidades públicas federais e estaduais. E os nossos filhos (filhos de
trabalhadores): Estarão sendo treinados para vender brigadeiro na rua? Serão
preparados para serem operadores do sistema?
Isso está errado.
Nossos filhos tem o direito de estudar em qualquer universidade pública. Em
depoimento ao nosso movimento, um pai de aluno nos disse que sua filha escolheu
as disciplinas exatas, no itinerário de formação dela, sendo assim, quando ela
for prestar vestibular será prejudicada na concorrência com quem estudou todas
as disciplinas.
E o que é pior,
depoimentos de professores, alunos e pais das escolas que ainda não se tornaram
escola integral (PEI) revelam que o BNCC (Novo currículo) impõe os itinerários
de formação (“O fazer de brigadeiros”) para todos as escolas, o que significa
que os filhos dos trabalhadores estão sendo prejudicados na luta por uma vaga
nas universidades públicas, o que prejudica sua luta por um futuro melhor.
Um pouco da história do Movimento #Fica Noturno
Assim que se soube
que a gestão atual da Paula Santos tinha aderido ao projeto, um professor as
portas da aposentadoria e os alunos dos 9°s anos da manhã e do noturno
começaram um movimento junto com a comunidade escolar chamado #Ficanoturno. Por
meio de abaixo-assinado de cerca de 150 a 200 assinaturas, conseguiram mostrar
ao então dirigente regional (Claudemir), que os alunos queriam permanecer no
noturno daquela escola, então foi assinado um termo no qual os alunos
permaneceriam no Paula Santos.
Quando chegou o ano
de 2020, durante a pandemia, a escola transferiu, unilateralmente os alunos do
noturno do Paula Santos para a escola Tancredo, e foi simplesmente avisando os
alunos sem fazer qualquer procedimento legal de consulta a comunidade, nem
online, nem por telefone ou plataformas.
Imediatamente o
movimento #Ficanoturno reagiu, colou cartazes e fez mais um
abaixo-assinado e conseguiu garantir permanência dos alunos no Paula Santos. O
Movimento recebeu apoio da subsede da Apeoesp (sindicato dos professores),
acionou o Ministério público da cidade que notificou a Diretoria de Ensino de
Itu. Por isso, a DE-ITU, assinou uma declaração por meio da qual afirmou que o
ensino noturno não seria fechado no Paulo Santos; isso está(va) escrito.
E qual não foi a
surpresa do movimento ao chegar o ano de 2021 e descobrir que por meio de
telefonemas a gestão do Paulo Santos estava enviando os alunos para o Tancredo,
novamente, sem nenhuma consulta previa aos interessados!!??
O movimento #Ficanoturno reagiu
novamente enviando a carta que tinha recebido do Ministério público da cidade
mostrando que a diretoria de ensino tinha garantido que o noturno continuaria
no Paula Santos. A escola Paulo Santos não pôde transferir os alunos para o
Tancredo assim automaticamente.
Mas o que aconteceu é
que as duas equipes de gestão unidas (do Paulo Santos e do Tancredo) mais a
diretoria ensino resolveram matar o noturno de inanição, ou seja, a gestão
atual, da Paula Santos, trancou literalmente, todos os recursos no Paula
Santos, assim que voltaram as aulas presenciais. Nem a sala dos professores nem
a sala de informática, ou seja, nenhum recurso estava aberto aos professores do
noturno no Paula Santos.
Os professores do
Tancredo tiveram que subir até o Paulo Santos para trabalhar lá, apesar do
Tancredo ter uma excelente estrutura para as aulas. Desse modo, as duas gestões
foram chantageando os alunos e agindo administrativamente, transferindo os
alunos para a Escola Tancredo. Esclarecemos que não se trata de colocar
os professores do Tancredo e do Paulo Santos e as comunidades em conflito,
trata se de denunciar essa atuação conjunta das duas gestões para fechar o
noturno.
O que queremos?
Nós do
movimento #Ficanoturno sempre defendemos que o noturno do
Paula Santos devia continuar como opção para os alunos da cidade e o noturno do
Tancredo deveria ser reaberto com todos os recursos a disposição de todos os
alunos. Afinal, por que criar uma rede especial para alguns alunos e não para
todos?
Assim que a Escola
Paula Santos ingressou no programa Escola Integral, a escola foi reformada,
pintada, recebeu recursos. Nós denunciamos essa discriminação. Alguns alunos,
os alunos da manhã e os professores que ali trabalham tem direito de usufruir
dessa melhoria na infraestrutura da escola, desses “privilégios”, nós
concordamos. Mas por que privar os demais alunos desses mesmos benefícios? Só
por serem do noturno ficaram excluídos? Como assim? Onde está a isonomia, a
famosa igualdade, a liberdade de escolha? Por isso, nos mobilizamos.
Finalmente, a EEP
Tancredo do Amaral também aderiu ao projeto Escola Integral (2023). Parabéns,
“parabéns 3 vezes”. Porque até então poderiam defender-se, dizendo que fecharam
o noturno no Paula Santos, mas o reabriram nessa conceituada Escola. Agora não
mais. Os alunos do ensino médio na Escola Tancredo do Amaral entram as 14.15h e
saem as 21:15h. Ou seja, não estudam nem de dia nem de noite. O ensino noturno
acabou nas duas UEs. A gestão do Tancredo e do Paula Santos foram muito
eficientes: Ajudaram a pôr fim ao ensino noturno de duas das mais antigas
escolas da cidade. Nunca é demais lembrar que defendemos a reabertura do
noturno nas duas escolas: no Paula Santos e no Tancredo.
A comunidade saltense
merecia esse esclarecimento, na verdade o movimento #Ficanoturno fez
o que devia fazer, nós entendemos que a história nos absolverá e a história vai
condenar quem assim sem mais nem menos, apenas para preservar a própria pele,
como foi o caso da gestão do Paula Santos e Tancredo e da diretoria de ensino,
a mando do governo do Estado de São Paulo, resolveu fechar o noturno numa
escola que existe há mais de 50 anos, ao invés de manter o ensino noturno
aberto para que se tenha mais opções na cidade.
A comunidade merecia
este esclarecimento, nós continuaremos lutando para que os alunos um dia possam
escolher realmente onde e quando estudar e qual curso querem fazer. Que sejam
preparados para autonomia e não para submissão, que sejam preparados para fazer
exatamente aquilo que querem, gostam e precisam e não para atender as
necessidades do sistema.
Sabemos que a gestão
do Paulo Santos, Tancredo, a diretoria de ensino e o Estado continuarão sempre
disfarçando a opressão e a dominação, por meio de benefícios e “projetos
bonitos”, que vão criando cada vez mais a divisão entre nós, mas continuaremos
trabalhando para a unidade de todos aqueles que mais precisam da escola
pública. Ou seja, os assalariados, os proletários, os que realmente
produzem tudo nesse mundo.
Para aprender a apertar botão a gente não precisa de escola. Por isso seguimos lutando para
que todos os alunos tenham uma formação holística, e possam estudar na escola
que mais precisarem e escolherem. E que sejam preparados para passar nas
universidades que quiserem no curso que quiserem.
Abraço Fraterno
Movimento #FicaNotunrno
Nenhum comentário:
Postar um comentário