Eu tive um sonho. Não; acalme-se.
Não estou plagiando, nem parodiando o consagrado discurso de Martin Luther
King, proferido a 28 de agosto de 1963, em Washington, D.C., que completou
recentemente, 60 anos – dois dias após o completar de 109 anos da Sociedade
Esportiva Palmeiras e um dia após a comemoração de mais um dia do psicólogo.
O meu sonho – não seria
incorreto dizer – para além de mera atividade cerebral em estado de sono foi
onírico. Classifico-o como onírico pelo demasiado gosto que tive com o sonho. O
gosto em ser remetido e me sentir verdadeiramente presente à uma época pulsante
da vida: o bacharelado em psicologia.
***
Alguns dos que me acompanharam
no sonho, factualmente, formaram-se comigo; outras figuras, minha memória – já
acordado – me permite identificá-los como figurantes; invasores; irreais...
Mas... Só comigo acordado... No sonho, possivelmente, foram os substitutos de
colegas que, por motivos variados, não puderam comparecer ao meu lirismo.
***
O sonho se constituiu em uma
série de flashes de distintos momentos vivenciados – ou não? – com a turma e
com os professores; todos regados a coleguismo e descontração; fossem estes, de
estudo; de descanso; de confraternização – a descontração na descontração.
Como já alcançara a fase REM de
meu sono, o sonho, como costuma acontecer com todos nós, encerrou-se na melhor
parte; eu acordando no ápice, durante uma vivência, meio fictícia, meio real,
na qual alunos e professores, celebrando crescimento e amizades,
encaminhavam-se para uma das salas do centro universitário, na qual já nos
aguardavam, devidamente preparados e organizados, quitutes e presentes, que
seriam trocados – situação de amigo secreto, talvez. Dançávamos enquanto
dirigíamo-nos para a sala.
Acordei agitado; e triste.
Talvez – só talvez – tenha choramingado. Veio-me à cabeça as relações, o
aprendizado, mas, sobretudo, a juventude. Eu estudava; trabalhava; jogava bola;
bagunçava. Tudo, ao mesmo tempo e em todo lugar.
***
Entretanto... Não me demorei em
recompor-me...
Não nego que levo uma vida bem
razoável, mesmo com o avanço da idade. Ainda que, com menor freqüência – mas
com maior intensidade; sem dúvidas – estudo; aprendo; cresço; com livros; com
música; com jogos; com trabalho... com pessoas...
E o melhor? Há práxis em minha
aprendizagem... Como nunca houvera...
***
Em tempos de “setembro amarelo”
– e julgue essa fala da maneira que mais lhe aprouver –, com um olhar um pouco
mais atento, percebemos que, mesmo com todo o sofrimento oriundo da forma de
organização social que depende da valorização do valor por meio da exploração
do trabalho do homem, pelo homem, a maioria esmagadora, escolhe viver; ficar
por aqui; lutar. A esperança vence o medo.
Eu estava afim de escrever
sobre a ideologia operando no futebol e iludindo o trabalhador torcedor; sobre
a cooptação do futebol de várzea pela burguesia; ou sobre a predatória
indústria dos games, que, ano sim, ano também, lançam o mesmo jogo, como algo
diferente, arrancando dinheiro a partir do vício dos consumidores – EA Sports,
it’s in the game... E ainda farei isso...
Mas...
Esse sonho...
Esse sonho... Veio a calhar...
Fez-me repulsar poeticamente; pude notar que, ainda que com o envelhecimento cronológico e biológico, possivelmente, nunca vivi de forma tão intensa – ainda que se comparado ao período revivido no sonho –, pois, como mera formiguinha, vivo para modifica um mundo; para deixar esse mundo tão foda que, “setembro amarelo”, sequer será lembrança.
Vivo como um comunista...
O comunismo, rejuvenesce...
Eu tenho um sonho...
Nós temos um sonho...
E venceremos!
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