quarta-feira, 20 de março de 2024

A Burguesia, a Classe Trabalhadora & as Guerras: Moralidade ou Materialismo?

 por Max Diógenes

  “Se os ricos que fazem as guerras tivessem de lutar nelas, ao invés de mandar os pobres, talvez não tivéssemos tanta violência”, diz o meme das redes sociais.


 O senso comum dá a entender que os poderosos – normalmente, relacionados apenas aos políticos –, por ambição, ganância ou talvez por pura birra, criem conflitos bélicos, mandem jovens pobres para neles morrerem e não participam diretamente dos confrontos simplesmente por covardia, safadeza ou mera escolha. Utilizemo-nos de alguns dados para verificar o que pode haver de verdadeiro e/ou profundo em tal máxima.

Em matéria publicada a 15 de fevereiro de 2024, o site resumolatinoamericano.org, reproduz informações de um relatório produzido pelo Instituto Internacional Britânico de Estudos Estratégicos, que prevê um recorde de gastos nos confrontos bélicos globais do atual período, ao fim do ano corrente, superando os 2,2 bilhões de dólares, gastos ao longo de todo o ano de 2023, podendo chegar à casa dos trilhões. O processo que incorre à precisão da previsão do referido relatório, pode ser observado em outro artigo jornalístico, dessa vez publicado pelo terra.com.br, em 8 de fevereiro – uma semana antes da matéria supracitada – que traz informações disponibilizadas pelo próprio Banco de Israel, de que o Estado Sionista estaria despendendo, no genocídio perpetrado contra os palestinos da Faixa de Gaza, diariamente, a quantia diária de 269 milhões de dólares, gastos esses, que incluiriam investimento em armamentos, salários, indenizações à empresas afetadas pelo “conflito”, reestruturação de áreas afetadas, etc. No mesmo artigo relata-se que a Faixa de Gaza não é a única área atingida pelos ataques deferidos pelo Estado israelense. Egito, Jordânia e Líbano, também estariam contabilizando estragos em suas estruturas urbanas.

A revista Exame – proporcionemos espaço para a análise liberal; como se as anteriores não fossem –, em matéria publicada no dia 29 de janeiro, trouxe uma informação, digamos, curiosa: a mão de obra, tanto dos judeus, quanto dos palestinos – ora, ora, vejam só – está tornando-se escassa no território israelense. Destes, em função do fechamento das fronteiras; e para aqueles, em função das convocações militares. De acordo com o artigo, os burgueses sionistas da construção civil, da agricultura e do turismo, são os que mais têm sentido falta da extração de mais-valor do pauperizado proletário palestino – óbvio, que não disseram isso com estas palavras. Há constatação de aumento de desemprego no país – 20% – e de recuo do PIB – o que significa “riqueza”, pro liberal médio – em 2%, no último trimestre de 2023.

Por mais que alguns burgueses estejam choramingando os prejuízos causados pelo genocídio dos palestinos, por parte dos sionistas – e que isso fique bem claro; as lágrimas são pelos prejuízos – há uma faixa da burguesia, a da indústria bélica, que não consegue esconder os dentes, em função do inevitável sorriso, que vai de orelha à orelha, quase que como sendo comportamento reflexo. E, para a surpresa de um total de zero pessoas, os principais fabricantes fornecedores de armas para Israel, são os States. De acordo com matéria da revista fórum – ainda de outubro de 2023 – o Tio Sam realiza empréstimos para Israel, via acordos comerciais, para a aquisição de seu arsenal, sob a condição de que as compras serão feitas nas gigantes estadunidenses do ramo, ou seja, o Estado sionista se endivida com empréstimos e gasta o dinheiro emprestado nos “postos de venda” de quem lhe emprestou a grana.

Como podemos observar, os ricos não apenas não vão às guerras que “promovem” e das quais precisam, como são impelidos a passar o trator por cima de tudo e de todos para que os confrontos aconteçam e suas indústrias continuem a extrair mais-valor de seus trabalhadores, ainda que isso signifique tratorar membros de sua própria classe. A burguesia das áreas que são impedidas de extrair mais-valor do proletário palestino ou do israelense, tem de resistir ao genocídio empreendido; o trabalhador judeu, idem; e quanto a todos os palestinos da Faixa de Gaza e de territórios próximos, nem se fala. A pergunta que fica é: é possível resistir?

O “promovem”, do parágrafo acima, não foi escrito entre aspas por capricho. A análise materialista da realidade, não lança mão de questões morais ou éticas, como sendo o ponto de partida da explicação do mundo como ele é – ambas se manifestam como sintomas de um mundo doente. O burguês da indústria bélica necessita do banho de sangue para se banhar em ouro em trajes menores, como fizera o velho Patinhas em suas antigas animações. Para manter sua condição dominante enquanto indivíduo e enquanto membro de uma classe, o capital o impele a promover a carnificina, custe o que custar; se um deles não o fizer, outros o farão.

Um cessar fogo agora – que ocorra por qual motivo for – “apenas” – e desculpo-me por não conseguir pensar em termo menos infeliz – cessa a matança e o sofrimento imediato de todos os humanos diretamente envolvidos no massacre; mas, a não alteração do atual modo de produção e reprodução da vida humana – o capitalismo –, sempre fará com que tal recurso – o massacre do homem pelo homem – seja novamente posto em prática para a réplica do sistema em momentos de crises. Para além da luta pela sobrevivência, só resta aos palestinos, aos trabalhadores judeus – com o apoio dos trabalhadores do mundo todo – e mesmo à pequena e à baixa burguesia – se é que se faz possível almejar cooptações e traições de classe, advindas dos de lá – a organização da humanidade para a imediata derrubada do capital e a implantação do Estado Proletário: o Socialismo.

Eliminar as relações mercantis, o lucro, a concentração de riqueza nas mãos de poucos por meio da exploração do trabalho de muitos e as classe sociais, é a única forma de não haver mais “ricos que fazem as guerras”, de dirimir a violência do homem pelo homem e de a humanidade ter tempo e criatividade para produzir memes mais criativos e divertidos.

  

Dito isso: PALESTINA LIVRE!

Imagem: https://aduern.org.br/palestina-livre/



REFERÊNCIAS:

REVISTA EXAME. Guerra em Israel custa R$ 1,3 bi por dia ao país enquanto economia sofre sem mão de obra palestina. Publicado em 29 de janeiro de 2024, as 09h37. Disponível em: https://exame.com/mundo/guerra-em-israel-custa-r-13-bi-por-dia-ao-pais-enquanto-economia-sofre-sem-mao-de-obra-palestina/. Acesso em 07/03/2024.

 

PLINIO TEODORO. Senhores da guerra: as empresas que lucram com o conflito entre Israel e Palestina. Publicado em 19 de outubro de 2023, as 12h02. Disponível em: https://revistaforum.com.br/economia/2023/10/19/senhores-da-guerra-as-empresas-que-lucram-com-conflito-entre-israel-palestina-146151.html. Acesso em 07/03/2024.

 

RESUMO LATINO AMERICANO. Gastos militares globais atingem recordes de US$ 2,2 bilhões. Publicado em 15 de fevereiro de 2024. Disponível em: https://www.resumenlatinoamericano.org/2024/02/15/internacional-gasto-militarmundial-alcanza-un-record-de-2-2-billones-de-dolares/. Acesso em 07/03/2024.


REDAÇÃO TERRA. A conta da guerra: conflito no Oriente Médio custa R$ 1,3 bi por dia a Israel. Publicado em 08/02/2024, as 05h00. Disponível em: https://www.terra.com.br/economia/a-conta-da-guerra-conflito-no-oriente-medio-custa-r-13-bi-por-dia-a-israel,0e570a910761fc4ca3c5efafc38cef184j7wjh2j.html#:~:text=A%20guerra%20entre%20Israel%20e,estimativas%20do%20Banco%20de%20Israel. Acesso em 07/03/2024.

 


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