quarta-feira, 25 de setembro de 2024

Eu não consigo respirar: O Capital está me sufocando

 

- Esse é um breve desabafo do cotidiano em meio a crise ambiental em curso.

 

O Brasil está pegando fogo!

Sol alaranjado às 7 horas da manhã.

Secas.

Queimadas.

Destruição em massa dos Biomas brasileiros.

Corredor de fumaça que impede o avanço da umidade sobre o território nacional.

Finalmente a chuva chega, mas é a tal Chuva preta!

  

 O fim do mundo ao qual assistimos em muitos filmes consagrados envolve cataclismas intensos que destroem toda a humanidade de uma só vez. São sempre retratadas as cenas assustadoras de destruição em massa, pessoas desesperadas correndo e um grupo ali dizendo “eu avisei”.  E é nesse clima e sensação de fim de mundo que escrevo esse desabafo, talvez “o fim da aventura humana na Terra” (referência a música “Eva”, Banda Eva) mais próximo a nossa realidade, envolva um cenário bastante parecido com o qual os noticiários nos mostram atualmente (se você não assiste noticiários, certamente viu algo nas redes sociais – elas não nos deixam esquecer). Mas sem ladainha porque já estou sufocando, toda essa destruição envolve articulações a favor dos interesses das classes dominantes.

Passei pouco mais de uma semana enfrentando intensos problemas respiratórios, então SIM o Capital está me sufocando porque não é a queimada do meu (ou do seu vizinho) que está piorando o ar (contribui, mas não é a causa), mas sim a expansão da fronteira agrícola nos territórios brasileiros, pois busca-se aumentar esses territórios para plantar produtos para vender resultando na intensa destruição de vários Biomas brasileiros. Eles queimam para poder limpar o território para a agricultura de grande extensão, agropecuária e/ou valorizar aquele território no processo de especulação imobiliária no futuro. Eles queimam para lucrar, eles queimam para matar, eles queimam para nos sufocar e nos desmobilizar.

Em meio ao caos dos problemas respiratórios e, eu acredito que muita gente tenha passado por isso, houve um aumento na busca pelos umidificadores para amenizar ao menos o ar dentro de nossas casas, porém (com base em minha experiência) haviam se esgotado em vários lugares. Note que até na desgraça o Capital se beneficia, enquanto houve aumento nas internações e procuras de atendimento médico por problemas respiratórios, havia alguém sendo beneficiado (e NÃO, não estamos falando do farmacêutico ou vendedor da farmácia do seu bairro). Já com meus nervos à flor da pele, pensei que até do mínimo dos mínimos estamos sendo privados – o AR. Na Constituição Federal não há menção ao ar saudável, mas há clara menção ao direito que todos têm a um meio ambiente ecologicamente equilibrado, que é um bem de uso comum e fundamental para a qualidade de vida (artigo 225 da Constituição Federal de 1988). No meu entendimento (e até dos leigos) um “meio ambiente ecologicamente equilibrado” envolve também um ar saudável, já que na natureza o equilíbrio total depende do equilíbrio entre as partes, em outras palavras, para o meio ambiente ser equilibrado e saudável, um ar respirável é o mínimo que precisamos (nós e as outras espécies com as quais dividimos esse planeta – não somos os únicos a sofre com tudo isso), já no quesito qualidade de vida há muitas outras necessidades das quais a nossa classe é massivamente privada.

Mesmo diante desse cenário somos forçados a trabalhar (SIM forçados, porque a gente precisa comer e as contas não são quitadas sozinhas ou por osmose – cá entre nós, até água nos falta), somos impulsionados a naturalizar a chuva preta e o sol laranja (lamento em desanimar alguns, mas não era obra do divino ou da natureza). De um lado o Brasil em chamas, Biomas sendo destruídos e os diversos problemas que isso causa à nossa saúde, enquanto isso do outro, uma “Diretora é afastada após suspender aulas por causa da fumaça em Cotia” (fonte: Metrópoles) reforçando a lógica do Capital do “trabalhe enquanto eles dormem” que vou traduzir para “trabalhe, estude, dê seu sangue, sua saúde física e mental, enquanto eles lucram com seu suor”.

-Duvida?

Então também convido a voltar na publicação “Velozes, Furiosos e Possuídos: Mantenham a Esquerda Livre” para reconhecer que a sua sensação de cansaço e exaustão extremos não é exclusiva, você não está sozinho (a).

Como disse lá no início desse texto, isso é um desabafo que retrata minha indignação, revolta e tristeza com o que estamos vivenciando nesse momento. Meio ambiente ecologicamente equilibrado e Capital não combinam, não coexistem e tampouco o primeiro pode resistir ao avanço massivo do segundo.  Encerro aqui com um trecho da música do Fabio Brazza – Brasil em Chamas:

 

“Queime a esperança de um povo

Nós renascemos das cinzas

Flores que nascem do lodo”

 

 

 

 

quarta-feira, 11 de setembro de 2024

Velozes, Furiosos e Possuídos: Mantenham a Esquerda Livre!

 







"Eu nunca pensei que 15 segundos no micro-ondas demorasse tanto tempo pra passar". 

(Operário de uma montadora).





1.            A Morte Antecipada e na Hora Errada

 

·                Juan Izquierdo morre de ataque Cardíaco durante partida entre o Nacional-UR e São Paulo no Estádio do Morumbi.

·                Florence Griffith velocista, campeã mundial dos 100 e 200 metros na olimpíada de 1988 em Seul morre aos 38 anos de parada cardíaca.[1]

·                Número de motociclistas mortos em acidente de trabalho chega a 2.538, dentre um total de 612.900 acidentes de trabalho em 2022.

 

2.            Coração Aflito, Corpo machucado e chão vomitado

 

 

·                Atletas Olímpicos do Triatlo vomitam depois de cruzar a linha de chegada em Paris[2].

·                Flamengo Enfrenta Surto de Lesões (12 lesões entre julho e agosto)[3].

·                Número de Jogadores lesionados no Brasileirão chegou a 95 numa média de 4,75 jogadores por clube até o dia 28 de agosto de 2024.[4]

 

3.            Chaplin Horrorizado: Nossos Tempos Modernos.

“Deixe a Esquerda Livre: Mantenha-se a Direita” (Inscrição no Metrô da cidade de São Paulo)

 

·               Operário de montadora faz até 15 operações em 3 minutos: Nunca Imaginei que 15 segundos no micro ondas durasse tanto tempo, Afirmou.

·               Trabalhador da Educação Pública no Estado de São Paulo tem 4 aulas para ensinar a Revolução Francesa de 1789. As aulas são enviadas por aplicativo. Alunos e professores têm de preencher os exercícios e atividades em plataformas

·               Aplicativos disponibilizam a velocidade 2 e 3 para áudios e vídeos na internet

·               Usuários do metro em São Paulo correm na escada rolante: Para chegar mais rápido ao trabalho

 

 

4.            Velozes, Impacientes, Ansiosos e Furiosos

 

 

·               Motociclistas (entregadores) passam a toda velocidade entre os carros no trânsito lento das grandes cidades, muitos arrebentam retrovisores e atravessam o sinal amarelo irritando os motoristas de automóveis

·               Motoristas andam a 70 por hora nas ruas da cidade e surtam com quem dirige devagar.

·               Os motoristas nas rodovias dão luz alta para quem está a 120 km/hora, detalhe, esta é a velocidade máxima permitida.

 

 

5.            Tá todo Mundo com TDH?

 

·                A média de retenção nas músicas e vídeos é de 30 segundos para mais de 60% dos usuários das redes sociais

·                Alunos não permanecem mais do que 5 minutos prestando atenção na aula: 1 hora de aula parece uma eternidade.

·                Usuários ficam nos feeds rolando as mensagens e raramente param pra ver a mensagem inteira.

·                - Puxa passei o fim de semana inteiro sem fazer nada, disse o trabalhador em férias.

·                - Aposentei, mas não vou conseguir ficar parado em casa. Vou continuar trabalhando. Vou arrumar uma ocupação, disse o recém-aposentado.

 

6.            O que as notícias dos itens de 1 a 6 tem em comum? Circule a alternativa correta: (resposta certa ao final do artigo). Prêmio pelo acerto:  Um ano de férias a beira de um lago tranquilo com a Inteligência artificial fazendo tudo pra você, sem compra ou venda ou lucro e principalmente sem relógio de tempo, só o biológico.

 

Alternativas:

 

I.             Velocidade

II.            Aceleração

III.          Intensidade

IV.          Cansaço

V.           Ansiedade

VI.          Impaciência

VII.        Morte

VIII.       Mercadoria

IX.          Valor

X.           Dinheiro

XI.          Lucro

XII.        Capital

XIII.       TAE

XIV.      TAC

 

7.            Porque Toda pergunta tem sua resposta

 

Se a sua resposta foi Velocidade, você está esquentando, como naquela brincadeira infantil Quente ou frio. Intensidade, Aceleração, Ansiedade, idem. O que faz uma pessoa correr na escada rolante em movimento e colocar o áudio na velocidade 2, desesperar-se durante os 15 segundos de espera diante do micro-ondas? O que leva uma criatura a dar luz alta para quem está a 120 km/h ou passar a toda velocidade em corredores estreitos cheios de carros correndo risco de morte para entregar batata frita?  Por que todo mundo anda tão apressado e sem paciência? Por que este cansaço geral? Por que este sofrimento, esta angústia e esta epidemia de depressão que assola a humanidade?

 

Se pudéssemos ouvir os pensamentos dos transeuntes apressados, como no filme Do que as Mulheres gostam estrelado por Mel Gibson, cujo personagem desenvolveu a estranha habilidade de ouvir o pensamento das mulheres, talvez, ouviríamos algo como:

- Tenho que levar o arroz com feijão pra minha família ...

-... preciso chegar em casa pra descansar e assistir ao Jogo!

- Meu Deus de novo não! Estou perdendo hora novamente, meu patrão vai me matar...

-Deus quis assim, pobre tem mesmo que sofrer...

-Eu vou ficar rico...

-Estou amando loucamente, yahuull preciso chegar logo ao local do encontro.

 

Um filosofo talvez dissesse que o que move toda esta gente é a pulsão básica: comida e sexo, ou melhor, o estômago e a fantasia, - o Id e o Superego, diria Freud.  Tá esquentando, tá esquentando, dizemos nós. Mas ainda assim estaríamos nos limites do concreto aparente, não teríamos encontrado a causa primeira ou o que realmente move, impulsiona o mundo, a essência deste fenômeno ou destes fenômenos.

 

Volte as alternativas de 1º até a 12º e observe que existe uma sequência, um encadeamento que vai da velocidade ao Capital.  Se você circulou o Capital, bingo, ganhou o prêmio. Pode tomá-lo. Pode juntar-se a nós para realizarmos este sonho. Porém, dizer Capital, para a maioria das pessoas, também vai dar na mesma. Ficaremos no reino da aparência, a sede administrativa de um governo é chamada de Capital, dinheiro é chamado de capital, prédio, máquina, conhecimento e tem até pecado Capital.

 

Então vamos olhar a coisa mais de perto. Digamos que todos estamos “possuídos pelo espírito do Capital”, ou Espírito-Capital. Sendo assim vamos te contar em primeira mão como identificar esta “possessão”. E diga-se de passagem, um espirito tem que encarnar para se revelar. A até mesmo, Yahweh, o Deus todo poderoso dos hebreus e agora de toda a cristandade, teve que encarnar-se num corpo para se revelar a humanidade que o conheceu por meio de Jesus, seu filho. Antes de Jesus, Yahweh se revelou na Sarça ardente, como línguas de fogo ou pomba (Espirito Santo), se o Deus todo poderoso precisou de um corpo pra se revelar, imagine o Capital, que é produto exclusivo de uma relação bem humana.

 

Então, passemos ao primeiro sinal da “possessão”:  O Capital aparece no mundo sob a forma dinheiro. Esta é sua cara mais visível. Para crescer o Capital impulsiona a sua personificação, a ir ao mercado no qual o Capital no corpo do dinheiro encarna na mercadoria por meio da troca. Eis o 2º sinal da possessão. Em seguida, estranhamente para os antigos, natural para nós modernos, o comerciante, agora dono da mercadoria, o novo corpo do Capital, volta ao mercado e a troca novamente por dinheiro, para recuperar seu dinheiro de volta acrescido de mais dinheiro, assim, temos o 3° sinal da possessão. Se tudo correu bem o Capital volta para o corpo que tinha abandonado (dinheiro) maior do que quando saiu e aparece na forma de lucro. Sua personificação, o comerciante, se converte num capitalista.  Se ele pegasse a mesma quantidade de volta, trocaria seis por meia dúzia e seria motivo de chacota ou chamado de estúpido pelos seus colegas comerciantes ou mercadores. 

 

Vamos reproduzir a operação em câmera lenta: O Capital que estava encarnado no dinheiro desencarnou e transmigrou para a mercadoria, em seguida, deixou a mercadoria e reencarnou-se no dinheiro novamente. Mas embora seja o mesmo espírito ele cresceu em estatura, em sabedoria não podemos dizer. O comerciante chama esta operação de comércio e o resultado de lucro. E diz que foi seu dinheiro que fez mais dinheiro, ou seja, seu capital lhe deu mais capital por uma operação comercial no mercado.

 

Qualquer criança tem na cabeça que o ardiloso comerciante compra mais barato e vende mais caro ou se estudou nas universidades, vai dizer que o comerciante colocou uma margem de lucro em cima do preço de custo da mercadoria comprada por ele. Porém, estamos na aparência do movimento. Na verdade, tem algo de podre no reino da Dinamarca. A pergunta que não quer calar é a seguinte:  Por que só os compradores aumentariam o preço das mercadorias a serem vendidas? Todo comerciante é comprador e vendedor? Só mesmo um comerciante idiota venderia uma mercadoria mais barata e compraria a mesma mercadoria mais cara.

 

Como escreveu o Sr. Marx, o lucro, mais precisamente a Mais Valia, tem que se originar na troca (mercado) mas também não pode originar-se da troca. A contrário do que nossos olhos veem, a mercadoria mais importante descoberta pela personificação do Capital não são os alimentos, roupas, calçados, prédios, carros, meios de subsistência, apesar de estar em todas elas. A mercadoria fundamental que o capitalista compra pelo Valor e vende pelo mesmo Valor que comprou é a Força de Trabalho. É a força de Trabalho que transforma o dinheiro em Capital, ou que faz o Valor-Capital que está encarnado no dinheiro, transmigrar-se para a mercadoria e ao mesmo tempo acrescenta mais Valor ao Valor-capital que transferiu para a Mercadoria nova que ela, a Força de Trabalho criou. A Força de trabalho tem a propriedade de criar a si mesma, ou seja, produzir seu próprio Valor, e produzir Mais Valor, ou seja, produzir mais valia e Capital. 

 

O Trabalho da Classe Proletária, proprietária da força de trabalho, modifica a natureza e as matérias primas na forma mercadoria, criando novas mercadorias por meio do trabalho concreto e ao mesmo tempo criando o Valor por meio de dispêndio de energia, o trabalho abstrato. Este valor que é imperceptível aos olhos e aos sentidos, só pode ser captado pelo pensamento, é o “Espírito do Capital”. Portanto, quem valoriza o valor, cria Mais Valia, lucro, e por isso, que Capital é produto da força de trabalho na relação com o Capitalista, um personifica o Capital Variável (Salários – Força de Trabalho) o outro o Capital Constante (Meios de produção e matéria Prima).  Por isso, ele, o Capitalista, tem que ir ao mercado, levar o Capital na forma dinheiro, metamorfoseá-lo em mercadoria força de trabalho e matéria prima, mas em seguida tem que deixar o mercado, e como todo comprador, consumir o valor de uso da mercadoria. A Força de trabalho conserva o Valor que está na mercadoria, e durante sua jornada cria mais valor e transfere o Valor-Capital para as novas mercadorias produzidas.

 

Todos os dias a classe Proletária do mundo inteiro (a título de ilustração), durante uma jornada de 8 horas, trabalha criando valor para si durante 2 horas por exemplo, e 6 para o capitalista. E Assim, valoriza o Valor, cria mais Valor, acrescenta mais Capital ao Capital já existente. Pra permanecer no exemplo, cria o espírito que que se apoderou tanto do criador quanto de toda a humanidade.

 

Agora podemos voltar a velocidade, intensidade e aceleração. Quanto mais rápido o capitalista pegar seu dinheiro de volta com lucro, seu Valor com Mais Valor, mais rápido ele terá sua Mais Valia, seu lucro nas mãos, mais rápido poderá começar tudo de novo. Quanto mais veloz for o Proletariado na produção de seu próprio Valor(salário), por exemplo, quanto menos tempo o Proletário gastar para produzir seu Valor, mais Lucro, mais Valor, mais Capital para o Capitalista, mais Capital vai sobrar para o Capital, sem medo da redundância.  Por exemplo, se a classe Proletária reduzir para 1 hora a produção do seu Valor ao invés de 2 horas como no nosso exemplo, mais Valor vai sobrar para o Capital e os capitalistas, 7 horas de valor ao invés de 6. Por isso, produzir, vender, entregar, pagar tem que estar na velocidade máxima. Para isso, investir em tecnologia que acelere o processo de produção e circulação das mercadorias e do Capital é um moto perpétuo, uma pulsão insaciável do Capital. Voltaremos a este ponto num próximo artigo. Porque temos que indicar a resposta correta para você.

 

7. O Capital, Valor em Processo de Valorização, Pulsão que acelera o Mundo na Velocidade Máxima.

 

A velocidade acelerada nos processos de produção de mercadorias nas empresas de produção de Capital (Valor e Mais Valor) se universaliza para todas as esferas da circulação do Capital.  O mundo digital é também locus de produção e circulação do Capital. É pura nitroglicerina na velocidade de circulação e produção de Capital, diríamos que é local por excelência da aceleração. A WEB e a Internet, e atualmente a IA são a expressão mais visível da aceleração imposta pelo Capital (Valorização do Valor) a todas as criações e relações humanas. Quando olhamos a aceleração da velocidade e a impaciência no trânsito, estamos diante da pulsão do Capital no processo de autovalorização, visto que, o trânsito é circulação de mercadoria e Capital, tanto da mercadoria Força de Trabalho quanto das demais mercadorias criadas pela própria Força de Trabalho. Os entregadores que morrem ou desrespeitam as leis de transição estão fazendo circular as mercadorias e o Capital, suas mortes e suas grosserias vão para conta do “espírito do Capital”. A ansiedade e a impaciência dos que não estão produzindo nem circulando o Capital diretamente é efeito colateral desta possessão. Quando vemos os trabalhadores da rede pública estadual de todas as esferas, tendo um aumento impressionante da carga de trabalho e tendo que ministrar em 4 horas conteúdos que eram para 20 ou 30 horas, enfermeiras tendo que cuidar de 6 a 8 pacientes quando o correto seria 3 ou 4 pacientes por pessoa, estamos também diante da “possessão do Espírito do Capital”.

 

Todos os meios de comunicação estimulam a livre concorrência, a competição, desde os programas infantis até os adultos, o que exige, aceleração, velocidade, intensidade, concentração total, 100% de entrega ao ofício, é o famoso vestir a camisa. Ser vitorioso, ser bem-sucedido, é sinônimo de vitória sobre o meu concorrente, o que está ao meu lado. Os esportes de alto-rendimento são mestres neste quesito. A intensidade dos treinamentos e a velocidade com que se joga o futebol e se pratica estes esportes atualmente acompanha a necessidade de acelerar o corpo físico até a velocidade máxima possível. Jogadores cada vez mais jovens estão sendo contratados pelas empresas de futebol. Aos 30 anos, na sua maioria, já são considerados velhos por não acompanhar o ritmo e intensidade dos treinamentos. Não é de se estranhar o aumento do número de lesões, inclusive por stress, e até as mortes de atletas, mesmo com todos os recursos disponíveis para cuidar destes proletários de luxo.

 

Os proprietários da força de trabalho correndo na escada rolante são a própria personificação da aceleração que a Valorização do Valor impõe à própria força de trabalho e a todas as pessoas do mundo. A ansiedade e a permanente sensação de estar sendo um fracassado, um derrotado, inútil ou preguiçoso, entram nas nossas mentes e corações e nos impõe toda sorte de doenças psíquicas, não é à toa que vivemos uma epidemia de depressão em todo o mundo. A depressão e os transtornos são na maioria das vezes expressão desta aceleração imposta pelo Capital, pelo processo de Valorização do Valor. Não é surpresa que toda classe Proletária está tomada pela exaustão pelo Cansaço. Sem contar da indiferença a dor do outro, das quais as guerras atuais são a melhor expressão.

 

O recado nos metrôs “mantenha-se a Direita: Deixe a Esquerda livre” é para a circulação do Capital Variável, desde que este (classe Proletária), permaneça a direita, e ao mesmo tempo um aviso para aqueles que não carregam em si o valor, saírem do caminho da valorização, pois, já não podem por alguma razão produzir. Na condição de extenuados sofrem na carne as consequências deste processo: depressão, ansiedade, incapacidade de manter o ritmo por lesões; por isso, são descartados na sociedade da liberdade, devem ser livres para sair do caminho e terminar seus dias em um canto qualquer.

Há ainda um outro recado na mensagem, a saber, os espaços de resistência, as possibilidades de uma outra sociedade, claramente são um empecilho, portanto, se ousarem entrar no caminho do Valor em processo de Valorização, serão atropelados, “a esquerda é livre” (na verdade o proletariado), desde que só tenha tempo para agir nos limites da sociedade vigente, e sempre esteja cansada demais para criar sua autonomia e se limite se submeter a pulsão do Capital pelo Mais_ Valor, a Mais Valia, que está na ordem do dia. Seu lema é: ”Cada um por si, Seja um Vencedor”. Quanto a classe Proletária, só interessa o inverso: Um por todos e todos por um. Também vale a singela canção da fantástica fábula dos Irmãos Grim: “ao meu lado há um amigo que é preciso proteger, todos juntos somos fortes não há nada pra temer”.

 

Saile, O Divergente (Setembro de 2024)

 


REFERÊNCIAS: 

 

[1] https://www1.folha.uol.com.br/fsp/esporte/fk22099813.htm Velocista norte-americana, dona dos recordes mundiais dos 100m e 200 m rasos, obteve três ouros em Seul-88. Florence Griffith Joyner morre aos 38

[2] https://g1.globo.com/mundo/olimpiadas/paris-2024/noticia/2024/08/01/vomito-apos-nadar-no-sena-atleta-e-especialistas-explicam-por-que-nao-e-sinal-de-intoxicacao.ghtml  acesso 1 de setembro 2024 10:29 Vômitos e desmaios em atividades físicas são reações comuns que podem ocorrer quando o atleta ultrapassa os limites do seu corpo ou usa substâncias estimulantes.

[4]https://www.supervasco.com/noticias/tabela-de-jogadores-lesionados-no-brasileirao-2024-399822.html  acesso 1 de setembro as 10:44 Número de lesionados chegou a 95 numa média de 4,75 jogadores por clube até o dia 28 de agosto de 2024

quarta-feira, 4 de setembro de 2024

O Dilema de Narciso: o Ser e o Não-ser do Capital. Entre a Superação e a Contemplação.

 O Capital Industrial e o lugar do Proletariado na luta pela Emancipação Humana

 De acordo com o mito grego, em um certo dia Narciso se deparou com seu reflexo no rio onde acabou ficando encantado por sua própria beleza, acorrentando-se a si mesmo e definhando sem poder sair de sua ilusão. Por mais que procurasse tocar seu eu -ilusório- na superfície do rio esse desaparecia no movimento das águas para em seguida reaparecer...

Assim como Narciso, podemos viver em um simples contemplar, emaranhados na estratégia que nos trouxe até aqui, ou fazer o inverso, como insinua a personagem retratada na capa do Livro.

Observando a capa do livro o que talvez nos escape num primeiro olhar é o fato da mulher trans proletária se reconhecer como parte da nossa classe. Ela se olha no espelho e se enxerga em nossa classe, mas não está presa em seu reflexo: é continuadora junto a nós da resistência, transparece e ecoa o proletariado.

Sua resposta é voltar seus olhos para nós, irmãos de classe e luta.

Enquanto no mito da Grécia Antiga resta o esvanecimento curvado de Narciso sobre si mesmo, nossa proletária mantém-se de pé olhando para frente - vendo que o seu ser está em sua classe - e para o lado - indicando que seu futuro está "no nós"-, um singelo convite a fazer-se parte, ao pertencimento; seu passado não aprisiona, na realidade desprende, seu Norte é a Emancipação!

O livro de Elias Moreira, que nós divergentes indicamos, tem esta perspectiva, além de expor o que temos de mais avançado na compreensão do ser do capital e da classe proletária, uma inferência sobre o potencial emancipador da classe Proletária.

O texto que se segue após essa nossa introdução traz algumas ponderações sobre possíveis questionamentos que venham a surgir.

 

Boa leitura!

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A obra que é referência - O Capital - para o livro “O capital Industrial e o lugar do proletariado na luta pela emancipação” traz como aviso que o “[..] começo é difícil; isso vale para qualquer ciência.” Para todos nós trata-se de um recomeço, de reavaliar tanto nossas práticas quanto a teoria que a informou, e que persiste com a Estratégia Democrático Popular (EDP) que dirige a nossa classe.

Os apontamentos que o livro faz, podem nos causar estranhamento, pois é uma superação dos elementos que informam EDP no plano teórico, então, parte de tal dissonância tem como uma de suas causas a luta do nosso ser permeado pela classe contra a essência da velha estratégia, todo reinício tem seus percalços, entretanto se faz necessário para superar e criarmos enquanto classe a emancipação humana.

Felizmente sabemos que essência e aparência não são sinônimos, portanto, a ciência é necessária. Infelizmente nossa teoria e ação enquanto classe, se encontram em um momento de serialidade, o Democrático Popular como um parasita ainda se agarra com força ao corpo da nossa classe deteriorando seu ser.

Por mais doloroso que nos seja, impõe-se a nós a superação prática e teórica dessa situação, é imprescindível o acerto de contas e não podemos nos negar tal tarefa.

Na análise do Capital Industrial e do papel do proletariado na luta contra o capitalismo, a dialética se faz presente não por escolha nossa, mas por ser uma exigência da análise do próprio objeto, esse ser que se valoriza e se movimenta sem amarras por todo o planeta, encarna ora em um determinado objeto ou ser vivo, ora em outro, assim é o seu movimento. Sabemos que o capitalismo se caracteriza não só pela produção de mercadorias, mas também da mais-valia, ou seja, pela produção de Capital.

Ao analisarmos o ser do Capital (essência), pode ser que o seu movimento dialético com sua consequente configuração cause a impressão de que não há constituição física onde o verbo se faria carne, ou melhor, no qual o valor se faz vida.

A compreensão predominante do ser do Capital em nossa época, que é característica da velha estratégia e alguns percalços na leitura da obra O Capital, nada mais são do que esse velho parasita - que lutamos para expulsar do seio da nossa classe - insistindo em permanecer, se debatendo com todas as forças e buscando se enraizar ainda mais em nós.

Façamos um exercício com um exemplo de como seria o movimento do Capital, agora que ele se tornou transnacional:

Antes de mais nada, evidenciamos que a atual compreensão do capital permeada pela EDP se prende tanto ao corpo aparente, que por exemplo, inviabiliza o entendimento de que um professor de escola privada - onde se estabelece a relação social entre este, os alunos, e o burguês da educação - produz valor, mais-valor e a mercadoria consumida por seus alunos no processo de ensino-aprendizagem.

Mas como assim?!

Pela seguinte razão: o fato de a mercadoria (A Aprendizagem), que se dá no processo de trabalho e que é adquirida pelo estudante durante a aula, se materializar em seu cérebro (físico) e não nas suas mãos, nos faz crer que ela (a mercadoria) não tenha materialidade...

E, no entanto, ao final do dia de trabalho produziu-se Capital...

E essa leitura que se prende tanto ao corpo, é aquela em que esquecemos que o Valor encarna em qualquer corpo que expresse tal relação, assim como o demonstra a capa do nosso livro: "aquele ser físico" mulher trans - que ri, chora, festeja e canta - é também negra e proletária, que talvez produza mercadoria aplicativo, software ou jogo eletrônico para a Google, Apple, Uber, Sony ou Microsoft e que encarne talvez no seu celular; e que ainda mais, possivelmente trabalhe um tempo, na China, Alemanha, Japão etc., e que por isso carrega em suas mãos uma maleta e não um capacete - uma determinada proletária como a do exemplo em questão circula pelos quatro cantos do planeta, na verdade ela não é quem de fato circula, mas o valor, ela só pode nesse caso específico estar em outros pontos do planeta pelo simples fato de carregar consigo a relação de produção de mais-valia, onde se relaciona com o capital como a mercadoria que o produz!

E se a proletária ao invés de uma maleta carregasse consigo um capacete e quem sabe produzisse prédios?

Esse prédio estaria “preso” a um país, e seu dono seria um “burguês nacional”?

Ora, o valor desse prédio, percorrerá na verdade os quatro cantos do globo e o fará embora nos pareça estático.

E quem sabe esse “burguês nacional” não caminhe e tenha a liberdade para caminhar e desfrutar em qualquer parte do mundo, possuindo propriedades imobiliárias em outras nações.

E se esse prédio for na realidade agora uma escola, propriedade de outra personificação do Capital? O proprietário dela estabelecerá com seus proletários cativos do vínculo com e para o Capital a mesma relação que a força de trabalho que produz aplicativo ou que viaja pelos recantos do planeta a mando de uma determinada empresa – e que nos aparece como que desvinculada – estabelece com os proprietários destas outras empresas.

O fundamental é entender o ser, a partir dele apreendemos o movimento do real com mais clareza, até porque os corpos físicos se movem de acordo com um determinado espírito social, como acabamos de verificar.

Talvez esse fato seja um dos motivos que tenha levado Marx a escrever ao final da primeira parte de seu livro sobre o fetichismo da mercadoria. Vejamos bem, aquilo que o proletariado produz, a mercadoria, pelo seu duplo caráter (Valor e Valor de uso), cria (na aparência) como que uma inversão na materialidade, aquilo que é criação da classe fundamental para nós termina por domina-la, a mercadoria movimenta-se como um ser vivo, e esse movimento vem não de sua materialidade mercantil (como se praticasse o comércio por si), o que termina por surgir como característica  de um outro ser, manifestando-se como se de fato fosse a quinta-essência da imaterialidade, eis aí o Espírito: o mercado!

Assim essa divindade termina por estar tensa, nervosa, preocupada etc., como os deuses dos antigos gregos que carregavam em si as paixões humanas.

Temos aqui uma belíssima trindade que de santíssima nada possui; onde Pai, Filho e Espírito corresponderiam respectivamente a: Capital, Mercadoria e Mercado.

Todos nós sabemos que quem está nervoso ou tenso no fim das contas não é essa fantasmagoria que elevam ao status divino: “O Deus Mercado”!

As classes em luta, os sismos diários que o proletariado estabelece com seu algoz, o burguês, é onde realmente está a tensão e a agitação que se atribui ao mercado. Ao estabelecer-se a relação de compra e venda da mercadoria força de trabalho, o proprietário desta aos olhos do burguês torna-se nesta relação, mero objeto, uma coisa, valor de uso. Por outro lado, sua criação única - como que milagrosa - é imbuída de valor e mais-valor, é aqui que se estabelece o vínculo, o nó que ata o criador ao “ser coisa”, e o objeto ao status de “ser vivo”, no processo material da produção capitalista, tudo se põe de cabeça para baixo; somente a ciência e o método de abstrair o real na cabeça, afastando o que perturba o fenômeno analisado, permite compreender que é o Valor, que vem do ser dotado de vida (a nossa classe) que o transfere ao produto, e que ao fazer essa transferência como que retira e perde a sua energia vital, é aí que nasce o fetichismo da mercadoria!

E o Valor não é mais o que era – mero Valor -, assim como não o é também mais o produtor de Mais-Valia: Um se torna Capital (valor em processo de valorização perpétua) e o outro mera mercadoria que produz o seu algoz - o Capital - fruto de uma relação socialmente objetiva. Nesse ínterim ambos se metamorfosearam em algo muito mais complexo; e dessa explanação também concluímos que por mais material que algo seja, ou por mais que se apresente descarnado, um não existe sem o outro, e assim o verbo se faz carne, não porque o quis, mas por imposição da própria objetividade do real.

O fato de a preocupação do livro ser desvelar essa compreensão, e estarmos ainda tendo de lidar com a EDP é o que talvez leve a crer que ignoramos o físico, a materialidade, porém reiteramos que não; buscamos na verdade demonstrar um outro patamar de compreensão que permita dar passos rumo a Emancipação Humana.

No prefácio ao livro falamos que a classe pode voar novamente, e dessa vez para a Emancipação de uma vez por todas, o voo não é uma tarefa fácil, no entanto é possível.

Nosso livro pretende ser nada mais, nada menos que uma espécie de “aula de voo” para a luta do Proletariado contra o Capital, para o fim da relação de compra e venda de sua força de trabalho, ou seja, da sua exploração.

Alertamos que para voar, como primeiro passo é preciso erguer a cabeça, deixar de lado o reflexo invertido de nós mesmos e de nossa realidade – fruto da estratégia que aqui nos fez aterrissar - e usar uma nova roupagem capaz de dar conta da situação em que nos encontramos.

Concluímos nossa exposição com as palavras de Mauro Iasi:

 

"O conhecimento

caminha lento feito lagarta.

Primeiro não sabe que sabe

e voraz contenta-se com o cotidiano [...]

Depois pensa que sabe

e se fecha em si mesmo:

faz muralhas[...]

Defendendo o que pensa saber

levanta certezas na forma de muro,

orgulhando-se de seu casulo.

 

Até que maduro

explode em vôos [...]

 

É meta da forma

metamorfose

movimento

fluir do tempo

que tanto cria como arrasa

 

a nos mostrar que para o vôo

é preciso tanto o casulo

como a asa."