quinta-feira, 20 de novembro de 2025

Como enlouquecer seu Chefe


1. Como estás?

 

Se sua resposta foi: - tudo bem!

Eu sei que não é verdade. Muito embora, saibamos que você não é uma pessoa mentirosa. Agora se você ficou com vontade de botar a boca no trombone e devolver a pergunta com um ríspido:

 - Tudo bem porquê? Em que mundo vocês vivem?  Eu estou morta de cansada, na correria, sem tempo pra nada, sem ânimo pra nada. Querendo que o mundo acabe em sofá para morrer descansando. Eu quero férias. Estou sem tempo pra nada. Desanimada. Querendo sumir. Não tô aguentando tanto formulário pra preencher. Não aguento mais ver a cara dos meus colegas de trabalho. Falta muito pra sexta feira?...Bingo. Acreditamos. E pode estar certo, este artigo é para você.

 

2. Matar ou Enlouquecer?

 

Recentemente fizemos uma enquete que apresentava três nomes de filmes de Hollywood, para que nossos leitores sugerissem o título da próxima série de publicações em nosso blog[1]: 1. Como enlouquecer seu chefe. 2. Como eliminar seu Chefe. 3. Como matar seu Chefe. Como enlouquecer seu chefe foi o preferido de 100% dos que responderam a enquete.   

Nossa motivação para tratar deste tema se deve ao fato de recebermos, todos os dias, um grande número de notícias sobre o sofrimento de nossos colegas que estão no “front”, ou seja, no local de trabalho. Eles nos contam que o aumento das pressões dos chefes para que alcancem toda sorte de metas está insuportável. Os trabalhadores estão exaustos, tensos e praticamente sem tempo livre para viver. Os números de trabalhadores afastados devido ao sofrimento psíquico são assustadores. Nossa Classe Proletária está sofrendo de uma forma “nunca antes vista”. Emilio Gennari, em seu artigo publicado em 25 de agosto deste ano escreveu que em 2024, a Previdência Social concedeu “472.328 afastamentos do trabalho por ansiedade e depressão, um crescimento de 68,0% em relação ao registrado em 2023 no Brasil.[2]

 

3. Sofrer Sem Reclamar & Deprimir: Par Perfeito.

 

A dominação da Classe Capitalista está enraizada de tal forma no comportamento dos indivíduos da Classe Proletária, que chega ao ponto de minar a maioria das rebeldias e protestos que sempre deram um respiro ao proletariado durante suas sempre difíceis e duras jornadas de trabalho, visto que, aliviavam seu sofrimento. Este comportamento é idêntico, quer o proletário trabalhe com carteira assinada e tenha um mínimo de direitos garantidos por lei, quer seja trabalhador terceirizado ou informal sem nenhuma proteção.

Os membros da Classe Proletária perderam a capacidade de resistir às opressões cotidianas nos locais de trabalho. Resultado: ansiedade, dor, sofrimento e mergulho na depressão. Parece que a única alternativa que resta ao proletário é suportar o sofrimento e a angústia de não ter por onde correr. Emilio Gennari, tem uma tese interessante sobre o atual estágio de conformismo que tomou conta do Proletariado. Para ele, esta “arte” de suportar o sofrimento e a opressão sem reclamar é uma espécie de servidão coletiva. Esta que tomou conta da Classe Proletária que atua em todos as áreas da economia e do Estado do Capital. E suportar o sofrimento sem reclamar é uma das principais causas da depressão.

 

 4.           O Espírito de Hardly

 

Nós, os Divergentes-Inconformados, nascemos exatamente nesta conjuntura de serialidade, fragmentação e conformismo de nossa Classe Proletária, e, portanto, da maioria dos indivíduos que a compõe. Nosso nome é expressão de nossa atitude prática: Inconformados e Divergentes. Estamos na contramão deste comportamento do nosso tempo. Por isso, num destes inícios de ano letivo escrevemos um artigo que estimulava os membros de nossa Classe Proletária (principalmente o setor educacional) a adotar o “espirito de Hardly”, o personagem reclamão do Hanna Barbera.

Reclame a vontade, escrevemos. A ideia foi fornecer um antídoto para aquela cultura criada nas últimas décadas, segundo a qual, teríamos que dar somente opinião positiva. Fazer críticas e reclamar virou um tabu. Os recursos humanos das empresas, Trainées, coachs e toda sorte de vendedores de positividade, passaram a chamar os que se rebelam de “bola murcha”. Por meio de seus malabarismos digitais e presenciais, induzem o proletário inconformado a afastar-se dos colegas de trabalho com este perfil:

 - Fique longe deles para não dar “azar”, para não perder a promoção, para ser um “colaborador” de sucesso.

 Alguns mais cínicos dizem abertamente que lugar de reclamar é no Sindicato etc. Mas nós, Inconformados e Divergentes, vamos na contramão. Para nós é justamente este comportamento que devemos evitar, porque nos leva ao sofrimento, a paralisia e portanto, à depressão. Então recomendamos que nossos colegas de local de trabalho incorporem o “Espírito de Hardly” diante de todos aqueles que os oprimem com esta cantilena “positivista de almanaque”:

 - Ó céus, ó vida, isso não vai dar certo.

Estas devem ser as palavras e a atitude do oprimido diante do opressor. Entretanto, alguns amigos leitores acharam o personagem meio estimulador daquilo que queremos combater (a depressão). Foi por isso, que resolvemos fazer a pesquisa para aperfeiçoar o nosso antidepressivo. Para nós, o melhor antidepressivo que existe continua sendo a rebeldia. Recorrer a este personagem teve este objetivo. Até porque, reclamar é um excelente antidepressivo, embora comprovadamente, o melhor e mais eficaz ainda seja a rebeldia.

 

5.    Por que se importar com chefe ou gestor?

 

Nosso objetivo é oferecer ferramentas de ação, para quem quer mergulhar no cotidiano da nossa Classe Proletária, para quem quer ajudá-la (e ajudar a si mesmo) a enfrentar a causa maior dos principais sofrimentos da humanidade: a exploração do homem pelo homem. Porém, enquanto não acumulamos a força necessária para enfrentar a Classe Capitalista e seu Estado e toda sua máquina opressora, enquanto não conquistamos a emancipação humana e com ela, o fim de toda a sorte de opressão e exploração, o que a gente faz?

Muito bem, nós entendemos, que o segredo do sucesso na conquista desta meta está nas ações que são tecidas cotidianamente nos locais de trabalho, moradia e estudo. É no cotidiano da classe, que tecemos pacientemente, os laços de amizade e cooperação, solidariedade e empatia, o alicerce que dará a força que a Classe Proletária precisa, para conquistar a emancipação humana. É no lugar onde a gente vive, trabalha e passa a maior parte do tempo, que se constrói os laços que podem unir nossa Classe Proletária nesta luta fundamental. Por meio das pequenas lutas diárias é que se alimenta a rebeldia que nos ajuda a suportar a difícil jornada de construção do futuro. Estamos convictos de que esta construção paciente e cuidadosa, nos permitirá criar a grande força que transformará o planeta inteiro numa comunidade humana sem fronteiras, sem guerras e sem a exploração. Você deve estar se perguntando o que seu chefe tem a ver com tudo isso. Nossa resposta começa com outra pergunta:

 - Você já viu seu patrão?

Se você trabalha numa grande empresa é provável que você nem saiba o nome dele. Se estiver empregado numa transnacional, a resposta será nunca vi. Talvez nem exista, porque deve ser um grupo de acionistas. Neste caso o patrão é quase um fantasma. Ele(s) deve estar em algum canto do mundo curtindo a vida, interrompendo seu eterno lazer vez ou outra, para dar uma espiadinha no celular e assim acessar os resultados da empresa. Caso você trabalhe para o Estado do Capital, você saberá o nome do prefeito, Governador, Ministro, Secretário ou do Presidente da República, mas dificilmente o verá no seu local de trabalho. Mesmo que estivessem pessoalmente na sede das empresas ou do governo, seria impossível a um indivíduo, administrar e fazer empresas, departamentos e repartições públicas funcionarem a contento. Como um indivíduo iria dominar sozinho milhares de pessoas?

Sendo assim, a pergunta é: como os Capitalistas e os Governantes do Estado do Capital, conseguem estar todos os dias em todos os locais onde você e outros milhares de proletários trabalham? Quem te lembra todos os dias, que as metas de produção de Mais Valia e lucro têm que ser cumpridas para o bem-estar destes exploradores? Quem te convence a obedecer, obedecer e obedecer bem quietinho, nas empresas, repartições públicas, escolas, hospitais, etc? Quem está sempre ali vigiando e cuidando para que você siga oprimido, explorado e dominado, engolindo seu sofrimento? Na verdade, quem personifica o Capitalista e o governante no local de trabalho? Elementar meu caro proletário: Seu chefe. Também conhecido como gerente, Gestor, Chairman, CEO. É por isso, que tivemos que falar de chefe. Esta é a primeira coisa que a gente quer que você tenha em mente para poder combater o sofrimento e a depressão adquiridos no local de trabalho.

 

6.    Seu Chefe é o Policial Bonzinho ou o Policial Malvado?

 

Muito bem, agora vamos te dar algumas pistas importantes para você identificar os dois tipos mais comuns de chefes. Imagine-se em treinamento ou numa reunião de planejamento. A equipe de gestão ou RH está a todo vapor prescrevendo as metas a serem atingidas diariamente. De repente alguém balança a cabeça e pensa em voz alta:

- Cê é loko, é ruim de conseguir.

Ou a famosa expressão:

- Lá vem! to cansado (de saco cheio) de sempre ouvir esta mesma ladainha.

Se seu chefe imediatamente disser:

- Gente, eu até concordo com vocês, mas fazer o que? Entendam, eu também cumpro ordens! Preciso sustentar minha família, preciso da grana.  Se vocês não atingirem as metas eu perco meu cargo. E como vou cuidar da minha família. Vamos lá, somos uma equipe! Se cada um fizer a sua parte todos saímos ganhando. Caso contrário, todo mundo sabe, a “corda sempre arrebenta do lado mais fraco”. Colaborem comigo que eu colaboro com vocês, etc, etc, Ele é do tipo policial bonzinho. Mas se por acaso seu chefe for curto e grosso deve dizer algo assim:

- Quando aceitou o emprego você não leu o contrato? Não prestou atenção nas cláusulas? Não está contente procura outro emprego. Não quero fazer ameaças, mas o RH tá cheio de currículos. É só eu pedir pra te trocar que forma fila. Manda quem pode obedece quem tem juízo. Quem não atingir as metas será demitido. Então seu chefe é do tipo policial malvado.  

Muitas vezes a equipe de gestão ou a chefia trabalha em dupla, um faz o papel do “bonzinho, o outro, do malvado”. Muitas vezes um chefe hábil faz o duplo papel de acordo com a conveniência ou o perfil dos “colaboradores”. Pois bem, perceber e tomar consciência do perfil de seu chefe, da gerência, das equipes de gestão, é um passo importantíssimo para quem quer encontrar um bom antidepressivo.

Se perguntarmos aos proletários qual o tipo preferido de chefe, com certeza a resposta será o “amigão, aquele que joga truco ou videogame com os colaboradores e ainda vai no churrasco de sua família. Porém, há um segundo aspecto fundamental a ser observado. Se você trabalha para uma empresa capitalista, seu patrão, o empresário, só tem uma exigência: que no final do mês ele tenha mais Valor do que aquele que tinha no início do mês, se o Valor Valorizou, se o dinheiro virou mais dinheiro, portanto, se os lucros continuam crescendo, está perfeito - para o capitalista.

O mesmo vale para os governos do Estado do Capital. Se os departamentos estão funcionando, se tudo caminha conforme as metas estabelecidas pelo governo de plantão, ou seja, se a Classe Proletária continua produzindo a Mais Valia e o lucro para os capitalistas e o Estado do Capital continua garantindo a obediência de todos e o treinamento para que possam continuar mantendo tudo como está! Perfeito. No final ambos cumprem sua função, a saber, fazer com que você seja obediente e cumpra as metas estabelecidas pelo sistema. Não importa se o chefe é do tipo bonzinho ou do tipo malvado, independentemente do perfil de seu chefe, ele é a personificação do poder dos patrões, dos capitalistas ou do seu Estado no local de trabalho. Mesmo que ele pense que se não fosse pelo cargo que ocupa ninguém trabalharia. Como diria um conhecido autor: “Não se pode julgar “uma pessoa pelo que ela pensa de si mesma”.

 

7.   A Arte de dizer não quando todo mundo diz sim: Um Santo remédio.

 

O proletário se extenua durante sua dura jornada de trabalho e as longas horas que permanece em meios de transportes superlotados cada vez mais caros. Na ânsia de provar que é forte e vencedor, como lhe inculca a propaganda dos opressores que lhe convenceram que, é preciso ter para ser, trabalha até o limite de suas forças. Os subterfúgios no consumo, no mercado da fé, nas redes sociais, na bebida, nas longas séries e filmes vistos nos celulares e tvs o estimulam ainda mais a ser competitivo. No seu local de trabalho, os chefes e gerentes completam o trabalho, infernizando-o para que cumpra metas cada vez mais absurdas. O resultado nós já conhecemos: sofrimento, a antessala da depressão.

Voltamos ao chefe não por acaso. Você que parece estar num beco sem saída pense um pouquinho conosco. Olhe para o lado, à direita e à esquerda. Conte quantas pessoas trabalham no mesmo espaço que você. Faça uma conta simples: quantos mandam e quantos obedecem? Quantos fazem sofrer, quantos estão sofrendo? Te pedimos encarecidamente. Perceba e tome consciência de mais este fato social: muitos são os que sofrem poucos são os que trabalham para te fazer suportar o sofrimento. Então perguntamos: Por que você e seus numerosos colegas de local de trabalho tem que sofrer calados? Não há justiça nenhuma nesse fato. Sofrer calado faz um bem danado para o dominador, enfim, para o Capital.

Por isso, é preciso recomeçar a resistência. Os Divergentes estão aqui para te dizer: O Melhor antidepressivo que existe é a rebeldia. Dizer Não é a primeira dose ou o primeiro passo para a cura. E isto pode ser feito com “palavras, atos e omissões”.:

- Eu não aguento mais, eu não suporto mais.

- Eu não estou mais a fim de suportar calado, eu não quero, eu não vou me sujeitar, etc.

São palavras que você pode dizer sozinho ou em grupo.  É libertador. Nós garantimos. É tudo que diremos neste primeiro momento. Nós entendemos que é decisivo para o trabalhador, retomar o seu protagonismo no local de trabalho. É a partir daí que se deve dar os primeiros passos. É nos locais de trabalho que se gestam os grandes movimentos. No último período histórico, os recursos humanos das empresas, as equipes de gestão, gerência, têm tomado um cuidado extremo em suas atitudes e palavras, para assim evitar toda sorte de conflitos, para antecipar e não só isso, mas fazem de tudo para individualizar qualquer tipo de problema que surja nos ocais de trabalho. Os capitalistas e toda sorte de exploradores contratam e mantém um exército de psicólogos, assistentes sociais, influencers, youtubers, sociólogos, etc, cujo trabalho dioturno é inculcar na cabeça de cada proletário todo seu sofrimento é sempre culpa dele mesmo, do indivíduo. Que todo sofrimento é resultado, é fruto de “suas escolhas”. A vítima mais uma vez é culpada e os agressores absolvidos.

Por isso, precisamos garantir nossa sanidade mental no local de trabalho, e isto passa pela retomada da resistência cotidiana. Que fique bem claro: Identificamos o chefe como uma representação do patrão e do governo no local de trabalho, mas em nenhum momento o confundimos com o verdadeiro opressor e explorador que é o Capitalista. O que estamos dizendo é que eles cumprem o mesmo papel que os capitães do mato cumpriam na relação escravista, ou seja, em troca de um pouco mais de grana eles fazem o trabalho sujo para os opressores e exploradores, muitos nem tem consciência deste papel que exercem. Acontece que entre perder o emprego e manter você dominado, produzindo o bem-estar dos capitalistas e seus governantes, a chefia sempre vai escolher manter seus cargos, com raríssimas exceções.

Por isso, nosso artigo tem como objetivo principal, passar esse recado fundamental: Entre livrar-se do próprio sofrimento e do sofrimento dos seus colegas de trabalho e manter o bem-estar, a tranquilidade e os cargos dos seus chefes, você já sabe o que deve escolher. Para isso, hoje lhe daremos uma dica simples e eficaz para você começar a enlouquecer seu chefe. Uma atitude simples, indolor, que não custa nada, fácil de fazer e sem nenhum custo para você ou para seus colegas de trabalho: Toda vez que seu chefe te mandar dizer sim, Diga Não.

É claro que tem momentos, diante dos quais, o seu não de peito aberto, poderá lhe custar o emprego. Mas neste caso, você pode balançar a cabeça para a direita e para a esquerda. E assim ninguém vai te acusar de esquerdista. Porque ela vai, volta, vai e volta nas duas direções (sic), sem que você precise dizer uma só palavra. E se seu chefe ficar irritado, você faz cara de interrogação (de tomate) e lhe pergunta:

 - O que foi? É que eu tenho um tique nervoso!

Continue a mover a cabeça para a direita e para a esquerda. Se você conseguir que todos os seus colegas façam o mesmo, enquanto seu chefe dá as ordens, então tudo ficará perfeito. Sensacional. Não! Não! Reaprendamos a dizer Não. É isso aí. E seu chefe vai enlouquecer. Até a próxima.       

 

Coletivo IDE, Novembro de 2025.

 

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