Proponho
neste texto uma reflexão acerca de uma imagem que temos visto circulando pela
internet, expondo uma intersecção de alguns diagramas com livros classificados
como distopias, e dizendo que estamos vivendo justamente nela!! Você concorda??
Em
oposto à utopia, que prevê uma sociedade perfeita, permeada por um sistema, uma
organização ideal, onde todos são felizes e concordam com os meios e modos de
vida, nessas distopias os cidadãos estão à mercê de um poder tirânico e
totalitário exercido sobre os grupos que nela vivem, não prezando por um
bem-estar coletivo, mas sim a favor de uma ideologia do grupo que detém o
poder. Nesse modo de “governar” existe corrupção e diversos privilégios para
quem “manda”, sendo que o poder é mantido às custas de, por exemplo, não
existência de privacidade e liberdade, com controle constante da vida pessoal e
pública dos cidadãos e perseguição de quem não concorda com o a situação
imposta.
Ao
ler esses livros mostrados no diagrama acima, vejo muitas semelhanças com o que
vivemos na atualidade, em situações que nos colocam no caminhar para esses
extremos tirânicos, com uma vida miserável e sem liberdade.
Poderia
falar de qualquer um deles, todos muito marcantes, mas vou falar um pouquinho
do “O Conto da Aia” de Margaret Atwood, publicado em 1985, mas escrito em 1956,
talvez por ter sido, dentre os citados acima, o que li mais recentemente. O
livro também virou a aclamada série “The Handmaid’s Tale”! Recomendo ambos!
Nesse
livro, que se passa na república de Gilead, instaurada após uma revolução
teocrática, que tem lugar onde antes eram os Estados Unidos da América,
anulando totalmente a sociedade anterior. Nessa república, existem as Aias,
servas que possuem apenas a função de procriar, servindo de barriga de aluguel,
pois após desastres ambientais, a maioria das mulheres não são férteis. Nessa
sociedade nunca a infertilidade do homem é cogitada, sempre a mulher que pode
ou não ser infértil. As Aias são alocadas na casa daqueles que comandam esse
novo poder, são afastadas de seus familiares anteriores, perdem totalmente sua
liberdade e são proibidas de diversas coisas, dentre elas de ler e escrever.
Inclusive é um mistério como e quando a aia Offred escreve o livro, que é
descoberto em uma sociedade, muitos anos após os eventos narrados.
Para
além do funcionamento da sociedade, o que mais me chocou foi como as coisas
foram acontecendo. No começo, tiraram os empregos das mulheres e o direito de
lidar com seu próprio dinheiro, apenas os maridos ou algum homem poderia fazer
isso. O Congresso foi aniquilado e a Constituição derrubada, mas não se
importaram, pois foi dito que era provisório e logo seria restabelecida a
normalidade... Essa maneira de como as coisas vão acontecendo e como nós, vamos
aceitando, é muito preocupante e tem diversas semelhanças com a realidade atual!
O
modo como passamos por um golpe parlamentar em 2016 e como nosso país está
sendo governado, servindo às vontades da mão nem tão invisível assim do
“mercado” (ou podemos ler “rentistas”); o modo como estamos aceitando as frases
e justificativas toscas do tipo “pergunta para tua mãe, o comprovante que ela
deu para teu pai”[1]
vinda do cargo mais alto do executivo; a maneira como emendas constitucionais e
medidas provisórias que estão alterando modos de vidas historicamente e
democraticamente construídos; a forma como estamos perdendo direitos na calada
da noite, com atitudes déspotas e com a passividade das pessoas...
O
mais assustador acontece agora, neste exato momento, na tentativa de convencer
o cidadão brasileiro em “compartilhar o prejuízo” causado pelo Corona Vírus,
reduzindo salários e recursos financeiros da população para ajudar as empresas
a economizarem sua folha salarial, o fechamento de cidades, aeroportos,
controle de quantidade de itens comprados em supermercados, sob a ameaça de um
vírus, me leva a pensar que infelizmente estamos caminhando (ou correndo?) para
uma distopia... Ah, Thomas More, como eu queria que estivéssemos a caminho de
sua Utopia!!
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