Por Bruna,
Neste
texto gostaria de compartilhar com vocês uma observação sobre
publicações que vimos nos últimos tempos se referindo aos
eleitores e apoiadores do atual presidente do Brasil, Bolsonaro,
comparando essas pessoas ao “gado”. Essa comparação se baseia
na premissa de que essas pessoas seriam manipuladas por opiniões e
factoides que ele apresenta e as defenderiam, sem perceber que
culminariam em ações contra si próprios, em analogia ao gado que
segue o fazendeiro para o abatedouro. Essa comparação com gado não
é novidade, como podemos ver em uma charge que parece mostrar que os
bois estariam apoiando o nazismo, caminhando para a “salvação”
que na verdade seria o “matadouro”.
Como
exemplo de atitudes do governo que são apoiadas pelo dito “gado”
podemos citar as decisões de manter nos ministérios da mulher, da
família e dos direitos humanos uma pessoa que não luta pelos
direitos da mulher; no ministério do meio ambiente um ministro que
deseja flexibilizar leis ambientais em meio a uma pandemia e avançar
com medidas contra a conservação ambiental; no ministério da
educação uma pessoa que humilha os professores e que não tem
competência para executar o orçamento da pasta.
Colocada
a explicação de quem está sendo comparado com o gado, eu vou
discorrer abaixo neste texto porque não entendo essa comparação
como adequada. Jamais chamaria tais pessoas de gado. O gado que é
criado no país não defende ou apoia o fazendeiro que o enviará
para o abate para lucrar com seu sofrimento. A “classe” dos
bovinos é subjugada, passa por processos de opressão, é explorada
até as últimas consequências imagináveis pelo ser humano, como se
não tivesse direitos e como se aqueles que pertencessem a essa
classe não possuíssem “alma” (qualquer semelhança com
argumentos escravocratas não é mera coincidência).
As
vacas são estupradas e mantidas grávidas enquanto conseguem
procriar para que seu leite seja explorado pela indústria de
lacticínios e seus bebês bezerros são tirados dela a força,
impedidos de mamar, muitas vezes até jogados no lixo! Outras vezes
são criados para carne de vitela, ou seja, mantidos presos para não
se movimentarem para que a carne fique “macia” e são abatidos
ainda nenéns para que os humanos “apreciem” essa iguaria.
O
gado de corte é criado em locais sem nenhuma sombra ou lugar que
possam se proteger do vento, do sol ou do frio; é morto com pouco
tempo de vida; mochado sem anestesia quando bebê (tiram seus
chifres) e muitas outras questões que poderíamos levantar aqui, já
que são tratados como “coisas” e não como seres de direito.
Quando
não é abatido no pasto, como chamam por aí no “frigopasto”, é
levado para matadouros a longas distâncias, amontoados em caminhões
ou até mesmo por dias em navios, e chegando lá passam por um terror
que você não imagina nem em seus piores pesadelos: é colocado em
um corredor estreito do qual tenta fugir mas não consegue, vê seus
colegas sendo dependurados por uma pata (às vezes a pata está
quebrada devido ao transporte ou mesmo quebrada por crueldade pelos
funcionários do frigorífico, acredite!), levarem um choque no qual
regurgitam numa poça de vômitos e são sangrados até a morte.
Tratados como mero produtos, o processo continua com a retirada de
seu couro e seu esquartejamento para ser vendido em lindos pacotes no
supermercado!
Na
minha visão, é muito estranho não fazer parte da consciência
política dos progressistas a questão do direito dos animais. Ora,
só defendemos direitos humanos? Os outros seres que estão
conectados conosco neste mundo e sendo cruelmente oprimidos são
simplesmente esquecidos e ainda sempre usados com conotações ruins?
Temos que estender a nossa consciência de classe para todos os seres
vivos que compõem esse organismo que chamamos de sociedade.
Como
foi dito na página Sociólogo
de Butequim no
Facebook, em 01/06/2020 “É louco perceber o quanto relutamos em
admitir a existência de lógicas opressivas quando não estamos
dispostos a não usufruir delas. Relutamos porque ao reconhecer a
lógica opressiva e não se movimentar para interrompê-la é
escancarada uma falha moral. E temos muitas dificuldades em admitir
falhas morais. Aquele que nega a raiz opressora e repugnante do
consumo de carne não faz muito diferente do branco que nega o
racismo, do homem que nega o machismo ou do heterossexual que nega a
homofobia”
Precisamos
aprender, enquanto sociedade, a respeitar o gado e todos os animais!
Ainda mais rápido esse respeito deve vir de nós, pessoas
consideradas progressistas. Os apoiadores de Bolsonaro não devem ser
chamados de gado. Se quisermos comparar alguma população com essa
classe de animais, hoje em dia em nossa sociedade, que seja a classe
oprimida, que não tem seus direitos preservados e nem reconhecidos,
que não tem
opção de trabalho digno, que serve a exploradores e muitas vezes
tem que se encaminhar para os matadouros,
ou melhor, para as fábricas
em condições insalubres, por exemplo!
Espero,
sinceramente, que em um futuro próximo, tenhamos o reconhecimento
dos animais como seres de direito e que esse tipo de conotação ruim
dada a eles seja coisa do passado!
Lindo texto!!!!!
ResponderExcluirGrato
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