sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

O mundo no apagar das luzes de 2022

 

            


 

                

            Notas de Conjuntura1

                      19 de dezembro de 2022


 

            É difícil encontrar alguém que, ao chegar em dezembro, não faça um balanço das perdas e ganhos que marcaram a sua vida. Quanto mais próxima a virada do ano, mais ampla fica a lista de sonhos e esperanças. Trata-se de um momento mágico no qual, da vida pessoal às lutas coletivas, o presente de amarguras e frustrações é encoberto por desejos de mudança que a vontade costuma entregar a um futuro desconectado da realidade.

Diante do medo de novos fracassos, menosprezamos acontecimentos e apagamos verdades incômodas com um pensamento positivo supostamente capaz de transformar esterco em ouro por um simples ato da nossa vontade. Mas, quanto mais a construção dos passos destinados a concretizar as nossas esperanças perde o contato com as contradições que produzem os acontecimentos, mais um tsunami de verdades assustadoras e indigestas prepara o instante em que a vida irá apagar as trêmulas chamas dos nossos sonhos.

            A poucos dias de receber 2023 com o coração de quem luta por um mundo onde haja tudo para todos, usaremos as páginas que seguem para sentir o pulsar da realidade mundial, para trazer à tona parte das tramas com as quais os grupos de poder traçam as sendas da humanidade e para apontar os limites do que os discursos oficiais desenham com afirmações tão vazias quanto altissonantes.

            Começaremos pela invasão russa da Ucrânia que continua ditando o ritmo da geopolítica mundial. Trafegaremos pela União Europeia, onde os cortes no abastecimento de gás ampliaram as rachaduras do bloco. Iremos nos deter nos principais problemas da China e encerraremos nossas reflexões focando alguns aspectos da política estadunidense que despertaram apreensões e esperanças. Sim, temos plena consciência de que as nossas reflexões passam longe de trazer os bons fluídos que prometem milagres no ano que está por começar. Mas conhecer o terreno onde se gesta o futuro da humanidade é um dos passos para que a classe trabalhadora venha a dizer com suas lutas que teremos um feliz ano novo.

            1. Rússia: a busca da realidade no desenrolar dos acontecimentos.

            A ocupação militar da Ucrânia levou Moscou a silenciar todas as informações que podem mostrar o tamanho das fragilidades alimentadas pelo conflito e o impacto das sanções impostas ao país.  Quanto à situação econômica, o Fundo Monetário Internacional, estima que o PIB de 2022 recue 3,4%, ao passo que, para Putin, este encolhimento não deve passar 2,5%, número que confirmaria a reduzida eficácia das sanções draconianas impostas ao país em março deste ano.

Nada sabemos do rumo da guerra desenhado pela correlação de forças entre os grupos que sustentam o governo e, muito menos, em relação à capacidade de a Rússia repor os estoques de armas convencionais usadas em dez meses de hostilidades. Os números que se referem aos soldados mortos e feridos nos confrontos são desencontrados, assim como é difícil traçar um quadro minimamente claro do grau de descontentamento popular.

Tudo o que pode comprometer as estratégias militares de Moscou ou abrir espaços a ações mais eficazes de Kiev e dos seus aliados quando não é silenciado é muito confuso. Resta, então, ficarmos com aquilo que os acontecimentos podem revelar, com os fragmentos do real que, apesar de contraditórios e cobertos de interpretações que dão razão a quem os apresenta, ajudam a vislumbrar os contornos do que, de fato, está acontecendo. Sendo assim, vamos entrar neste campo minado para desenterrar os elementos que permitem entender alguns episódios desta guerra que está longe de terminar.

            Vamos começar pelos dois mísseis de fabricação russa que caíram numa fazenda da Polônia. Diante das duas mortes e dos estragos materiais, o presidente Volodymyr Zelenski não perdeu tempo em acusar a Rússia de estar atacando um país da Organização do Atlântico Norte, razão pela qual, segundo ele, os membros da OTAN deveriam responder a esta agressão com forças capazes de dissuadir Moscou de qualquer novo plano contra o território europeu. A apuração da intencionalidade e da autoria do ataque durou bem menos do esperado, mas a resposta veiculada no dia seguinte mostrou claramente que, neste momento, os EUA não querem um confronto direto com a Rússia.

            Esta postura reafirmou que a dar as cartas são os países que armam o exército de Kiev, não os generais ucranianos que comandam as tropas no campo de batalha. Para a OTAN, é necessário que Zelenski seja um símbolo de resistência, que os comandantes militares transformem estratégias de guerra em vitórias, mas quem define os rumos gerais do conflito são os EUA com os países europeus no papel de atores coadjuvantes. Não por acaso, no dia 4 de dezembro, a OTAN fez ouvidos moucos diante da intenção de o governo ucraniano reconstruir imediatamente a indústria bélica do país, destruída pelos bombardeios na primeira semana de guerra. Para Kiev, produzir parte do armamento garantiria certa independência do seu exército nas ações militares e abriria a possibilidade de desferir ataques em território russo. A OTAN ouviu, registrou a demanda e a fez escorregar rapidamente no plano inclinado da sua indiferença.

Uma situação bem mais complexa é a que cerca a central nuclear de Zaporizhia em volta da qual ocorreram vários ataques com mísseis de cuja origem um exército culpa o outro. É difícil acreditar que sejam os russos a promoverem os bombardeios, à medida que seus soldados estão ocupando as instalações e um acidente nuclear poderia ter efeitos devastadores na Crimeia e no sudeste ucraniano ocupado por suas tropas.

Para Kiev, acusar a Rússia pelos ataques significa cobrir Moscou com o véu da irresponsabilidade e manter vivas as preocupações da Europa inteira com a guerra fazendo alavanca na ameaça de um acidente nuclear ainda mais devastador em relação ao que seus países conheceram, em 1986, com a explosão do reator de Chernobyl.

As reações de Rússia e Ucrânia mostram que o controle da maior central nuclear em operação no território europeu é parte dos planos de guerra dos dois exércitos. Para entender as possibilidades e as irresponsabilidades de ambos os lados, precisamos focar alguns elementos que não costumam ser citados nas discussões sobre o futuro destas instalações.

Em primeiro lugar, é necessário dizer que um acidente nuclear em Zaporizhia não depende somente de os reatores serem atingidos por mísseis ou por disparos de artilharia. A central foi ocupada pelas tropas de Moscou no início da invasão e, desde então, os soldados vêm obrigando os funcionários ucranianos a manterem as operações na ponta do fuzil e sob a supervisão de engenheiros russos que não estão familiarizados com a tecnologia usada em Zaporizhia.

Se isso não bastasse, Kiev não fornece as peças para os serviços de manutenção e, por sua vez, Moscou não pode produzir em tempo hábil o que precisa ser reposto, à medida que os reatores ucranianos utilizam sistemas mais avançados em relação aos que são adotados nas centrais nucleares russas. A falta de manutenção e as pressões sobre os funcionários, que são proibidos de deixar as instalações, estão colocando Zaporizhia à beira do desastre.

Em segundo lugar, precisamos lembrar que, no início das hostilidades, Kiev mandou derrubar as torres de transmissão que ligavam a central nuclear à Crimeia o que forçou o desligamento de alguns reatores. Os sistemas que se mantinham operantes passaram a fornecer energia apenas para a Ucrânia, incluindo, obviamente, os territórios que, em seguida seriam ocupados pelos russos.

Em junho, quando o sudeste ucraniano já estava sendo controlado por Moscou, os técnicos russos tentaram desconectar Zaporizhia da rede ucraniana para dirigir a energia produzida aos territórios ocupados pela Rússia e à Crimeia. Fazer isso não é impossível, mas é uma manobra muito arriscada nas condições atuais. De fato, quando se interrompe o abastecimento para fazer a conexão, é necessário desligar e esfriar o reator. Na retomada da geração de eletricidade, é fundamental que a rede de abastecimento esteja pronta para transmitir a carga produzida, do contrário, é necessário efetuar uma parada rápida do sistema. Esta operação que, por si só, é bastante complexa torna-se desaconselhável devido à falta de uma manutenção adequada e à sobrecarga dos trabalhadores que operam a usina. Qualquer erro ou fadiga de material dos componentes-chave da usina poderiam provocar um acidente com fugas de material radioativo.

Do lado russo, impedir que a central envie energia aos territórios ucranianos é parte da estratégia que visa deixar a população do país no frio e no escuro durante o inverno a fim de criar uma situação que force o governo a uma negociação favorável a Moscou. Para os ucranianos, trata-se de fazer o mesmo com os moradores que residem nas áreas ocupadas pelas tropas russas e, ao recuperar o controle da central, abrir a possibilidade de aliviar os sofrimentos da população do país cuja estrutura de abastecimento de água e energia está sendo destruída pelos bombardeios.

Diante da gravidade dos riscos, e para o bem de todos, é necessário e urgente que os dois lados cheguem a um acordo capaz de garantir que Zaporizhia funcione com um patamar de segurança aceitável. Contudo, isso implica em fazer concessões e assumir compromissos que, nos dois lados do conflito, podem ser interpretados como uma rendição aos interesses do inimigo. Vejamos por que.

Do lado ucraniano, um acordo favorável aos russos provaria que não vale a pena a população continuar resistindo nas condições extremas de um inverno sem calefação. Na Rússia, ceder espaço a Kiev no controle da central nuclear agravaria as tensões entre as forças que apoiam o governo de Vladimir Putin e veem a guerra como o meio para destruir um projeto de país que se opõe a tudo o que é russo.

Entre essas forças, a ultradireita russa (integrada pelos fundamentalistas ortodoxos, por vários setores do nacionalismo radical, pelas chamadas "milícias patrióticas”, pelos blogueiros militares e veteranos que atuaram com os separatistas do sudeste da Ucrânia) não aceita concessões que prejudiquem o andamento do conflito e pressiona o Kremlin a uma guerra total com o uso de armas nucleares. Na avaliação deles, se a Ucrânia ganhar a guerra, a Rússia se fragmentará numa miríade de microestados e o povo russo será aniquilado, daí a necessidade de criar um cenário de terra arrasada, custe o que custar.

Neste contexto, qualquer recuo de Putin seria interpretado como uma traição e o próprio Putin sabe que a sua posição se fragilizou depois que, graças aos equipamentos de melhor qualidade fornecidos pelos EUA e pelo Reino Unido, ao treinamento das tropas ucranianas nas bases europeias da OTAN e aos erros dos contingentes russos no campo de batalha, o exército de kiev recuperou parte dos territórios ocupados.

De um lado, o Presidente da Rússia não quer que o radicalismo desses grupos prejudique sua posição de poder e sirva de justificativa a OTAN para oferecer à Ucrânia armamentos ainda mais avançados e com alcance suficiente para atingir a retaguarda das tropas que atuam no campo de batalha. De outro, busca secundar alguns de seus desejos para mostrar que está decidido a afirmar a grandeza da Rússia e que a guerra é uma resposta necessária às ameaças que a Ucrânia representa para o país.

É neste contexto que começamos a entender a razão de ser de algumas medidas aparentemente alheias à gravidade de um momento conjuntural marcado por um cenário de guerra e de outras que confirmam a disposição de ir às últimas consequências. Entre as primeiras, encontramos a aprovação de uma lei que proíbe qualquer divulgação ou declaração de apoio ao coletivo LGBTQIA+ e cujo objetivo declarado é de “defender a Rússia do avanço do satanismo do Ocidente”. Aprovar esta lei a toque de caixa foi uma forma de agradar a ultradireita vinculada à igreja ortodoxa que tem uma participação considerável no bloco de forças que apoia o Kremlin.

Os demais setores constataram que Putin leva a sério as recomendações de ir às últimas consequências quando, no dia 26 de outubro, realizou o ensaio de um ataque nuclear em massa seguido da suspensão unilateral da reunião com os EUA rumo a um Tratado de Redução de Armas Estratégicas que incorpore os novos artefatos nucleares produzidos pelas duas superpotências e do plebiscito que aprovou a anexação dos territórios ucranianos ocupados pelo exército russo.

Ainda que a anexação das áreas do sul e do leste da Ucrânia não conte com o reconhecimento internacional, para Moscou, estas regiões já integram o território do país e, pela legislação vigente, Putin pode usar o arsenal nuclear em resposta a qualquer agressão lançada com o uso de armas convencionais que coloque em perigo a existência da Rússia.2 Isso explica porque a OTAN está priorizando o fornecimento de sistemas de interceptação aérea no lugar de mísseis capazes de alcançar o território russo.

Agindo assim, os EUA mostram que qualquer novo passo da guerra deve ser cuidadosamente calculado com base na avaliação de até onde a Rússia está realmente disposta a chegar na utilização de seus arsenais bélicos. A nosso ver, é nesse contexto que devem ser lidos os ataques com drones que atingiram duas bases militares situadas em território russo. Uma delas, a base Engels, fica em Saratov, a 730 km da capital e abriga bombardeiros capazes de levar cargas nucleares. A segunda é na cidade de Ryazan, a apenas 185 km de Moscou. Pelas características dos alvos, é difícil acreditar que estes ataques ucranianos tenham sido realizados sem o conhecimento da OTAN.

A resposta verbal de Putin veio no dia 7 de dezembro em um discurso no qual afirma que “a ameaça de guerra nuclear está aumentando e que seria um erro ocultá-la”. Na mesma ocasião, o presidente russo disse também que, sob nenhuma circunstância, o seu país seria o primeiro a lançar mão do arsenal nuclear para atacar outro país e que só o usaria em caráter defensivo. Estas posições refletem a mesma dubiedade das intervenções anteriores e reavivam as preocupações relativas às circunstâncias em que Moscou poderia lançar mão de armas nucleares “táticas” nos campos de batalha da Ucrânia.3

Nas relações com a população, sabemos que os protestos contra a guerra aumentaram e que a repressão policial prendeu centenas de pessoas. A crescente dificuldade de mostrar aos russos a necessidade da guerra se revela na fuga dos reservistas para os países vizinhos e no endurecimento das penas, aprovado pelo Parlamento em 20 de setembro, para os soldados que se rendem, abandonam as suas posições ou descumprem ordens superiores e também para os empresários que se recusam a assinar contratos com as forças armadas ou não cumprem o acordado.

Os governos de Ucrânia e Rússia estão diante de uma situação bastante complexa. Ambos não querem dar sinais de fraqueza, ainda que a situação interna esteja se deteriorando. A chegada do inverno é um trunfo importante na possibilidade de Putin evitar os desgastes que os EUA desejam impor como condição para começar a negociar um acordo de paz. O Presidente da Rússia quer abrir um canal de negociação, mas, sentar à mesa após a retirada dos seus soldados de uma parte dos territórios ocupados, implica em fazer concessões que não deseja.

Por outro lado, Kiev aposta na continuidade da ajuda militar e humanitária dos países da OTAN para expulsar os russos do seu território. Isso significa que, no momento, não existem condições mínimas para pôr fim a uma guerra que deve invadir grande parte de 2023 e, como veremos no próximo capítulo, agravar as tensões entre os países da Europa.4

 

            2. Uma União Européia na base do farinha pouca, meu pirão primeiro.

            Quando um barco enfrenta uma tempestade, seus tripulantes podem optar entre somar esforços de acordo com as capacidades e as funções de cada um ou, simplesmente, se trancar na própria cabine até a bonança chegar. Se na primeira hipótese o sacrifício coletivo pode implicar em alguma perda individual, na segunda, cuidar dos interesses de cada um faz o barco naufragar.

            A contradição entre ser, ao mesmo tempo, parceiros e competidores faz com que os 27 países da União Europeia tratem de usar os fóruns comuns para diminuir os atritos imediatos enquanto arrumam a própria casa para aumentar as vantagens competitivas no campo da economia e o peso de suas propostas nos fóruns políticos do bloco.

              No momento em que escrevemos, a Rússia continua entregando apenas 20% do volume de gás que enviava à Europa antes do início das hostilidades. Sem o abastecimento de Moscou, Bruxelas se viu obrigada a buscar saídas capazes de conter o impacto da falta deste recurso na economia do bloco. Propor que os países membros se comprometam a poupar 15% do volume de gás em relação ao que era consumido antes da guerra; estabelecer um teto para o preço da energia; e construir um sistema que permita às nações com dificuldades de abastecimento receber o gás que sobra nos reservatórios de outras são medidas que a gravidade do momento, apresenta como lógicas e factíveis.

            Contudo, quando Bruxelas lançou estas ideias, bastaram algumas horas para que os governos do bloco levantassem inúmeras objeções. De um lado, alguns pleiteavam exceções com base no grau de dependência do gás siberiano (por exemplo, enquanto a Alemanha precisava da Rússia para satisfazer 55% de suas necessidades, na Espanha este gás representava apenas 24% do total consumido); de outro, os países que contavam com terminais marítimos para o recebimento de GLP e GNL apresentavam inúmeros motivos para fazer com que a ideia da integração entre países com sobras e nações onde o produto estava em falta acabasse na gaveta do esquecimento.

A orientar a festa de críticas e objeções, estava a ideia pela qual entregar o excedente não utilizado do produto a outros países poderia deixar sem reservas confortáveis quem realizava o envio, privando-o também da possibilidade de oferecer energia a preços menores à sua população, de conter a alta da inflação e de melhorar a competitividade das mercadorias que produz. A vantagem de ter esse tipo de “sobra” era, e continua sendo, ainda mais importante em função de dois fatores igualmente preocupantes: a seca que fez cair o nível dos lagos das hidrelétricas em várias regiões da UE e a desativação progressiva de parte das centrais nucleares em operação no interior do bloco, fatores que agravaram a escassez e elevaram a necessidade de utilizar as usinas térmicas, movidas a gás.

            A concretização do “farinha pouca, meu pirão primeiro” ocorreu de várias formas. Aqui, vamos resgatar o caso da Hungria e da Alemanha que representam, respectivamente, a economia de um país pobre para os padrões europeus e o maior PIB do bloco.

No dia 21 de julho, o Ministro das Relações Exteriores da Hungria visitou inesperadamente Moscou para pedir um aumento de 700 milhões de metros cúbicos de gás no fornecimento destinado ao país. Contrário às sanções impostas à Rússia e um dos principais pontos de apoio que Moscou tem na UE, o governo de Viktor Orban quer garantir todo o gás de que o país precisa para enfrentar os rigores do inverno e a desaceleração da economia húngara que sofreu o baque da alta dos preços internacionais do produto.

Ao fazer isso, o líder da ultradireita deseja ter melhores condições para sustentar a sua popularidade e, ao contrariar as diretrizes de Bruxelas, mostra aos governos do bloco que se orientam por ideologias semelhantes a necessidade de ir além das queixas verbais junto às Comissões Europeias. Ou seja, no lugar de ficar resmungando diante dos sacrifícios impostos pelas retaliações da Rússia aos países que aplicaram as sanções econômicas, a ultradireita húngara mostra que está na hora de apelar à preservação dos interesses nacionais para romper as amarras com as quais Bruxelas freia as políticas governamentais dos partidos europeus alinhados na mesma orientação ideológica.

            O caso da Alemanha é um pouco mais complexo, à medida que Olaf Sholz antecipou para o país o que nega veementemente nas instituições comunitárias e tece relações com a China que deixam a UE bastante receosa. No dia 2 de novembro, o governo alemão aprovou um pacote de 200 bilhões de euros para subsidiar a conta de energia e gás de residências, empresas e instituições públicas. Este benefício só foi possível à medida que o país tem uma das menores relações dívida/PIB do bloco (67,2%, em junho de 2022) e um déficit público de apenas 1,9% do PIB (1,1 pontos percentuais abaixo do limite de 3%, estabelecido pelo acordo que criou o euro).

Com esta medida, Sholz trata de minorar o impacto dos custos da energia no ritmo de crescimento da economia (que deve crescer apenas 1,5% este ano e amargar um recuo de 0,3% em 2023) e de elevar a competitividade da produção nacional, sem criar uma crise financeira. Trata-se de uma equação que os demais países ou não podem viabilizar em função da situação de suas contas públicas e do nível de endividamento, ou, ainda que consigam fazer algo semelhante, dificilmente oferecerão benefícios da mesma amplitude aos empresários e à população em geral.

Quanto mais forte a economia alemã conseguir sair do momento crítico causado pela guerra na Ucrânia, mais ampliará a sua fatia de mercado nas trocas comerciais entre os países da UE e mais terá condições de viabilizar seus interesses nas decisões institucionais do bloco. Que a intenção de Berlim passa longe de favorecer o “bem comum” dos europeus fica ainda mais evidente quando pensamos que o próprio Sholz rechaça a ideia de Bruxelas colocar um limite máximo ao preço da energia (petróleo, gás, carvão, energia elétrica) para todos os 27 países da União Europeia à medida que esse teto reduziria fortemente a vantagem competitiva que a Alemanha quer só para si. E isso também não é por acaso.

De fato, na segunda metade de novembro, o país inaugurou o primeiro dos seis terminais onde será processado o Gás Natural Liquefeito procedente do Oriente Médio. Instalada no porto de Wilhelmshaven, no Mar do Norte, esta estrutura garantirá a independência do gás russo e colocará a Alemanha numa situação privilegiada em relação aos demais “parceiros” europeus.

A relação de Berlim com a China é mais um âmbito em que Sholz faz o país andar na contramão dos entendimentos acordados. No dia 29 de outubro, o chanceler alemão levantou um vespeiro de críticas e acusações por parte dos membros da UE ao vender para a China a participação de 24,9% no controle do porto de Hamburgo, o terceiro maior terminal europeu em movimentação de volumes de carga. Ninguém estranharia esta medida em 2019, quando o gigante asiático era considerado um "sócio estratégico" da UE, mas não agora em que a OTAN, com a concordância da UE, definiu a China como “adversário sistêmico” da Aliança Atlântica e colocou na mesa a urgência de os países do bloco mudarem sua postura em relação ao gigante asiático e de reduzirem a dependência dos manufaturados chineses em suas redes de suprimentos.

Mas uma coisa é o discurso, outra, bem diferente, são as ações que transformam as palavras em fatos. Sholz sabe que colocar em prática a moção da OTAN faria a Alemanha correr o risco de perder mais de um milhão de postos de trabalho e encolheria os lucros das empresas que dependem de uma boa relação com a China. A Daimler, por exemplo, vende mais de um terço dos seus veículos para o gigante asiático e a BASF espera investir em seus territórios mais 9,9 bilhões de euros até 2030. Sair da parceria para o enfrentamento faria a Alemanha levar a pior.

Do mesmo modo, aumentar os atritos com Pequim geraria dificuldades consideráveis na atual cadeia de suprimentos que abastece as empresas alemãs. Foi isso que a posição da Associação da Indústria Alemã de Veículos Automotores deixou a entender quando, no mesmo período, sustentou a postura de Sholz ao reconhecer a importância fundamental dos componentes produzidos na China para a competitividade das montadoras que representa.

A atitude de Berlim apenas escancara a distância que existe entre a realidade e as posições politicamente corretas com as quais a UE se apresenta ao mundo. O boicote às importações de produtos agrícolas oriundos de territórios desmatados é mais uma amostra de como o bloco usa esse jogo de luzes e sombras a seu favor. Vejamos como isso ocorre.

No dia 6 de dezembro deste ano, o Parlamento Europeu aprovou uma norma pela qual todos os itens provenientes de florestas desmatadas legal ou ilegalmente a partir de 1 de janeiro de 2021, bem como os produtos nos quais foram utilizados como insumos, terão sua importação vetada nos países do bloco. Saudada pelos ambientalistas como um avanço na luta pela preservação das florestas, a medida deixa perplexos todos os que não se deixam ofuscar pelas luzes das aparências. Vejamos por que.

Em primeiro lugar, salta aos olhos que a inexistência de fontes alternativas de produtos agropecuários faz a União Europeia limitar seu boicote apenas às commodities produzidas em áreas desmatadas a partir do início de 2021. Quando pensamos que, aqui no Brasil, o desmatamento deu um salto nos dois primeiros anos do governo Bolsonaro, é como se Bruxelas perdoasse implicitamente as queimadas que os próprios países europeus se esmeraram em denunciar em 2019 e 2020. A lógica do “antes tarde do que nunca” ajuda bem pouco quando as mudanças climáticas oriundas do aquecimento global mostram-se bem mais graves do que era esperado e inúmeras áreas desmatadas ilegalmente foram seguida e legalmente incorporadas aos latifúndios existentes.

Se isso não bastasse, pelo texto aprovado, somente 24,0% do cerrado brasileiro constituído por zonas de floresta seriam “protegidos” da ação dos fazendeiros localizados na região do MATOPIBA (uma área formada por partes dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) onde as plantações de soja ocuparam 45,0% da área desmatada.

A devastação deste bioma já atingiu níveis alarmantes e a irrigação das culturas existentes responde pela maior parte da redução de 15,4% da vasão de água dos principais rios da região entre 1985 e 2022. Esta redução pode chegar a 36,0% até 2050, caso as mudanças climáticas não agravem a diminuição das precipitações e o ritmo de irrigação das culturas de soja não sofra alterações que aumentam o atual nível de utilização da água (1,8 bilhões de litros de água por dia, quantidade suficiente para abastecer 11,8 milhões de pessoas).5 Perder um terço da vazão de água dos rios coloca a população da região numa situação de escassez permanente, mas os europeus não veem isso como um problema suficientemente grave.

Além da facilidade de driblar o boicote ao utilizar os produtos oriundos das áreas desmatadas nos dois últimos anos para o consumo interno e encaminhar para a exportação os que não se enquadram nestas limitações, causa estranheza o fato de as medidas aprovadas pela União Europeia não se aplicarem, por exemplo, aos países africanos, onde o agronegócio avançou violentamente sobre as áreas de savana e de floresta. Mas, aqui, a explicação é ainda mais simples.

De fato, as culturas agrícolas em terras africanas que se destinam aos mercados europeus se sustentam em capitais e redes comerciais que envolvem empresas do velho continente. A destruição do meio-ambiente e a expropriação das terras antes utilizadas na agricultura familiar são justificadas com base na necessidade de os países africanos produzirem o que interessa à Europa para terem recursos com os quais importam da própria Europa os alimentos que a população do velho continente não consome e pagam os juros das dívidas contraídas para construir a infraestrutura necessária à exportação. Desta forma, proibir a compra de produtos africanos oriundos de áreas desmatadas levaria, automática e imediatamente, a encolher os lucros que beneficiam países e empreendimentos europeus, no que se configura como um verdadeiro crime para a acumulação de capitais.

Último, mas não menos importante, é necessário reparar que a proibição não se estende à importação de commodities agrícolas cuja produção continua se baseando na violação sistemática dos direitos humanos. De acordo com um recente informe da Global Witness, algumas empresas europeias voltadas à produção de carne bovina e de aves compram grãos de fazendas sistematicamente denunciadas por ampliarem suas áreas de cultivo com a expulsão dos povos originários, por intoxicar as populações das cidades próximas com os venenos utilizados nas lavouras, por criminalizar e reprimir movimentos e pessoas que denunciam estas práticas.

É o caso, por exemplo, de muitas fazendas de soja no Paraguai, país onde o desmatamento em grande escala ocorreu entre 1973 e 2000 e que, portanto, está fora das restrições aprovadas pelo Parlamento Europeu. Ao rastrear a cadeia produtiva desta commodity, a Global Witness descobriu que, além de fazerem vista grossa em relação às sistemáticas violações dos direitos humanos que ocorrem no país, as empresas do velho continente compram cerca de 40% da soja através da Cargil e da ADM, que, por sua vez, adquirem o produto da Copranar, cujos celeiros recebem a soja oriunda dos plantios situados em territórios de onde foram expulsas várias comunidades indígenas e naqueles em que se repetem as pulverizações criminosas e as ameaças aos movimentos sociais. A soja alimentada pelas violações dos direitos humanos é mesclada ao produto que tem origem em fazendas certificadas e exportado para o Brasil onde a intermediação de duas grandes empresas do setor impossibilita a identificação de sua origem e, de consequência, a aplicação de um eventual boicote às importações.

Por muito que comemoremos cada grama de preservação do meio-ambiente, é impossível não ver as toneladas de devastação de povos, terras e biomas que contam com o silêncio das instituições europeias que, como no caso da África, usam questões humanitárias para garantir os lucros empresariais.

No horizonte do seu futuro imediato, os países da UE se deparam com mais um desafio trazido pela guerra. A chegada do inverno no hemisfério norte aumenta as preocupações do bloco com a estratégia de Putin de deixar os ucranianos no frio e no escuro. E isso não é para menos. Quanto maior a destruição da infraestrutura, maiores as possibilidades de uma nova onda de refugiados se dirigir às fronteiras da Ucrânia com os países da União Europeia. O problema é que estas nações estão bem próximas de um quadro de "saturação" dos programas de alojamento, transporte e demais cuidados a eles destinados e temem que um novo movimento migratório de sérias proporções acirre as críticas internas à política de acolhimento dos que fogem do conflito.

Para termos uma ideia dos custos destes programas, basta pensar que, até o final de 2022, o governo da Polônia terá gastado cerca de 8 bilhões e 300 milhões de euros para acolher e socorrer os refugiados ucranianos. Cobrar parte dos custos de alojamento dos que permanecem no país por mais de 120 dias é um sinal de que as possibilidades de Varsóvia manter as condições atuais dos programas se aproximam do fim. Por outro lado, como fazer para arcar com estes custos sem ter um trabalho e com os parcos recursos reunidos antes de deixar a Ucrânia?

Numa realidade em que a própria população autóctone se depara com a corrosão do poder de compra dos salários, as ajudas aos refugiados de guerra começam a alimentar discursos de ódio contra a imigração, ora pelo mau uso dos serviços públicos locais, ora pelas dificuldades de acesso que a sobrecarga de atendimentos traz aos cidadãos comuns que se queixam de pagarem impostos e não terem o que merecem.

Se o bombardeio da infraestrutura energética busca matar de frio a população ucraniana, a ampliação do fluxo migratório rumo à União Européia que esta realidade pode originar é a bomba relógio que Moscou coloca no colo dos países do bloco para elevar os atritos internos e minar o consenso em relação à aplicação das sanções contra a Rússia. Por isso, a Europa corre contra o tempo para fornecer roupas térmicas e geradores de energia aos ucranianos. Trata-se de fazer o impossível para evitar que eles saiam do país.

O fato de os interesses de cada membro se sobreporem às escolhas que elevariam a uma maior coesão do bloco faz com que ganhe força a percepção pela qual, sem a coordenação da OTAN, a resposta da UE à ocupação russa da Ucrânia seria desastrosa. Esta é apenas mais uma constatação que faz o “farinha pouca, meu pirão primeiro” levar a perguntas angustiantes: até que ponto, uma vez encerrada a guerra na Ucrânia, será possível falar de parceria entre os países membros? Em que medida os governos de extrema direita se aproveitarão disso para infringir as regras atuais a fim de emplacar suas pautas? Os passos que estão sendo dados não projetam um futuro animador.

Da Europa, passamos para a China onde sobram problemas e faltam perspectivas de crescimento à altura das necessidades.

 

3. China: um gigante na loja de cristais.

Se as relações entre Pequim e Washington se deterioraram durante o mandato de Donald Trump, a aliança militar e econômica da China com a Rússia elevou ainda mais os atritos do país com os EUA. No início de agosto deste ano, a visita da Presidente da Câmara dos Deputados estadunidense, Nancy Pelosi, a Taiwan enfureceu a China que considerou o evento uma provocação.

Pequim suspendeu imediatamente as reuniões militares de alto nível com os EUA e congelou a cooperação bilateral em questões como proteção do meio-ambiente, tráfico de drogas, crimes internacionais e repatriação de imigrantes ilegais. Em relação a Taiwan, o gigante asiático boicotou as compras de vários produtos e realizou exercitações militares com munições de verdade no estreito que separa a China continental da ilha que Pequim reivindica como parte inalienável do seu território e cuja independência Biden prometeu defender militarmente em caso de agressão.

Em ambos os lados, nem tudo saiu como esperado. O clima belicoso criado pela visita da Pelosi, garantida pela presença do porta-aviões nuclear Ronald Reagan nas águas internacionais próximas de Taiwan, acabou prejudicando o desempenho eleitoral do Partido Democrata Progressista que apoia a independência da ilha em relação à China e ao qual pertence a presidente Tsai Ing-Wen. Nas eleições para os governos municipais realizadas no final de novembro, os representantes do Partido Kuomingtang (defensores da posição de Pequim) impuseram uma derrota acachapante que forçou Tsai Ing-Wen a renunciar à presidência do partido. Se a visita de Nancy Pelosi buscava criar problemas ao gigante asiático, podemos dizer claramente que o tiro saiu pela culatra, à medida que Pequim tem agora melhores condições de levar adiante uma política destinada a esvaziar a independência de Taiwan.

Do lado chinês, as exercitações militares elevaram as tensões com o Japão que viu cair em suas águas territoriais cinco mísseis lançados por Pequim. Tóquio apelou a este fato e à insegurança gerada pela Coreia do Norte para anunciar que dobrará seus gastos militares nos próximos 5 anos. Até o final de 2027, serão 314 bilhões de dólares a mais para equipar suas forças armadas com mísseis estadunidenses de longo alcance para atacar as bases de lançamento inimigas e com recursos tecnológicos que elevam a capacidade de enfrentar a uma guerra cibernética.

No documento divulgado em 17 de dezembro deste ano, Tóquio afirma que a China é o maior desafio estratégico para assegurar a paz e a estabilidade do Japão, na que se configura como uma posição diametralmente oposta à que constava do documento de segurança nacional aprovado em 2013, quando China e Rússia eram considerados parceiros estratégicos do país. Com estas medidas, os militares japoneses não se limitam a ampliar progressivamente a distância entre um exército equipado com poder ofensivo e o pacifismo da sua Constituição, como assumem ativamente a tarefa de serem uma espécie de ponta de lança na estratégia estadunidense de conter a evolução e o crescimento do poder bélico da China para manter a posição dominante dos EUA na região do Pacífico.

Em termos econômicos, a intenção de Pequim de retaliar Taiwan com o bloqueio dos suprimentos de matéria-prima para a produção de semicondutores ficou só na intenção. De fato, Taiwan produz 90% dos processadores de última geração e 64% dos chips utilizados pela indústria eletrônica do mundo inteiro, sendo que grande parte deles é utilizada pelas próprias indústrias da China. Ou seja, boicotar o fornecimento das terras raras para a produção destes semicondutores seria sinônimo de inviabilizar a parte da produção industrial chinesa que depende deles, direta ou indiretamente.

Contudo, no dia 8 de outubro, Washington adotou medidas que tendem a causar um prejuízo ainda maior em relação ao que viria com o boicote chinês a Taiwan. Neste dia, Biden assinou um pacote de medidas que bloqueiam a exportação de processadores de alto desempenho utilizados nos supercomputadores chineses e sancionam empresas e países que vendam estes insumos para a China. Ao restringir o acesso à tecnologia sensível, os EUA tratam de assentar um duro golpe ao fluxo de semicondutores para a indústria armamentista da Rússia, buscam retardar os avanços tecnológicos de Pequim, mantêm o primeiro lugar como fornecedor mundial destes recursos e, de consequência, elevam as possibilidades de controle que o uso de sua tecnologia oferece.

Vale lembrar que o plano de investimentos na produção estadunidense de semicondutores é da ordem de 200 bi de dólares nos próximos 5 anos e visa fortalecer a competitividade dos fabricantes sediados em território estadunidense. Trata-se de produzir localmente uma parte do que hoje é importado da China e de recuperar fatias do mercado internacional que foram abocanhadas pelo gigante asiático. Haja vista que, segundo a Associação Nacional da Indústria de Semicondutores dos EUA, nas três últimas décadas, a participação do país na fabricação mundial de chips caiu de 37% para 12%, num cenário de forte elevação da demanda mundial.

Um segundo golpe baixo contra a produção chinesa veio no dia 25 de novembro, quando a Comissão Federal do setor de Comunicação dos EUA vetou a venda de produtos fabricados por Huawei, ZTE, Hytera, Hikvision e Dahva no território nacional por colocarem em risco a segurança do país. A proibição atinge um amplo leque de produtos que vão de equipamentos para as estações de transmissão de celular às câmaras de vigilância e roteadores de wifi de uso doméstico.

Até a publicação desta norma, Washington havia imposto restrições ao acesso da Huawei a microprocessadores de fabricação estadunidense e havia limitado a compra de seus equipamentos por parte do setor público. Agora o veto atinge amplamente a utilização de qualquer produto destes fabricantes em instalações públicas e privadas.

O encolhimento da demanda dos manufaturados chineses não guarda apenas uma relação direta com as exportações do país que, além das sanções estadunidenses, sofreram o impacto da queda do poder de compra dos assalariados no mundo inteiro, mas também do mercado interno, fortemente submetido aos efeitos negativos de cinco fatores:

1.    A redução do consumo das famílias em função dos surtos de Covid que levou à desativação parcial ou total de algumas empresas, com reflexos negativos nas respectivas cadeias produtivas.

2.    A intensa onda de calor e a seca no sudoeste e na região central do país que diminuíram o volume de água nos lagos das centrais hidrelétricas e forçaram grandes empresas a fecharem as portas durante longos períodos em função dos problemas na geração de energia.

3.    A fraca atividade imobiliária, que representa um terço do PIB do país, e as incertezas relativas à entrega dos imóveis já contratados levou um número significativo de famílias a suspenderem o pagamento das prestações devidas, agravando ainda mais a situação financeira das construtoras. De acordo com as estimativas de alguns analistas de mercado, o governo chinês deveria injetar 444 bilhões de dólares a fundo perdido só para terminar as obras em andamento, mas este volume de recursos elevaria ainda mais o endividamento total do país que, em 2021, ultrapassava 280% do PIB.

4.    O peso da dívida pública e privada é justamente o quarto elemento que reduz o volume de recursos com os quais o Estado pode manter o crescimento econômico num patamar condizente com a geração de empregos necessária para cobrir a expansão anual da população economicamente ativa. De um lado, não adianta Pequim oferecer crédito barato às empresas se estas não têm compradores para as suas mercadorias. De outro, agravar ainda mais o endividamento para investir em obras públicas elevaria a desconfiança do capital externo em relação à capacidade futura do país de honrar seus compromissos.

5.    Ao contrário do que ocorre com a maioria das 20 maiores economias do mundo, a China não enfrenta problemas de inflação alta e a sua taxa de juros é de 2,75% ao ano. Contudo, o gigante asiático está a caminho de fechar 2022 com a maior desvalorização anual da sua moeda das três últimas décadas. Entre 1 de janeiro e 30 de novembro de 2022, o renminbi perdeu 11,3% do seu valor diante do dólar estadunidense. Some a esse fator o elevado endividamento do país, a redução da demanda e os temores dos investidores estrangeiros de perder dinheiro na troca de renminbi por dólares quando de suas remessas ao exterior e entenderá por que muitas empresas adiaram seus investimentos na China, decidiram levá-los a outros países ou, simplesmente, retiraram os montantes colocados no país.

O Safetbank do Japão, por exemplo, vendeu sua participação na Alibaba, a maior empresa de comércio eletrônico da China, e repatriou o dinheiro assim obtido; o Berkshire Hathaway, do megainvestidor estadunidense Warren Buffet, está vendendo a sua participação na fabricante de veículos elétricos BYD; e a Tecent teve mais de 7 bi de dólares em investimentos retirados só no segundo semestre deste ano. No momento em que escrevemos, os dados divulgados pelo Ministério do Comércio da China afirmam que, nos dez primeiros meses de 2022 entraram 168 bilhões e 340 milhões de dólares, 17,4% a mais em relação ao mesmo período de 2022. Porém, estranhamente, não há nenhuma alusão ao volume de capital estrangeiro que saiu do país no mesmo período, o que impede de conhecer se o saldo é negativo ou positivo.6

Os problemas que apresentamos explicam a redução das perspectivas de crescimento do PIB da China, de 5% para 2,8% em 2022 e apontam para a elevação do desemprego como um dos motores do descontentamento que levou milhares de jovens a ocuparem as ruas em protestos que pediam a destituição de Xi-Jinping. Longe de excluir a rejeição da política de contenção da pandemia como fonte de descontentamento, a queda do ritmo de crescimento do PIB aponta claramente para uma realidade em que a economia não consegue produzir quase metade dos cerca de 20 milhões de novos empregos que correspondem ao crescimento anual médio da população economicamente ativa, sendo que os mais atingidos seriam os jovens entre os 16 e os 24 anos de idade. É justamente nesta faixa em que a desocupação chega a mais de 20,0% que encontramos o maior número de pessoas que participaram dos protestos em vários pontos do país.

As primeiras respostas de Pequim caminharam no sentido de elevar a taxa de vacinação dos idosos (vale lembrar que a China privilegiou a imunização das pessoas em idade de trabalho), acabar com as restrições à circulação previstas nas regras dos lockdown, prender os líderes das manifestações, sufocar com ingentes efetivos policiais a possibilidade de elas ocorrerem nos locais combinados, rastrear celulares para intimidar diretamente as pessoas que se relacionavam nas redes sociais para organizar os atos.

O povo gostou de poder circular livremente por bairros e cidades antes fechados em função dos casos de Covid, lotou ruas e praças, esvaziou as prateleiras dos mercados e das farmácias a fim de repor os estoques domésticos, fez a vida voltar a uma normalidade que se aproximava da que reinava antes da pandemia. Com isso, a Covid voltou com tudo.

Em pouco mais de duas semanas, os hospitais da China se apressaram em aumentar o número das enfermarias de triagem para dar conta do grande fluxo de paciente com suspeita da doença; os laboratórios de análise ficaram sobrecarregados; os estoques de testes caseiros se esgotaram em instantes; as ruas de muitas cidades voltaram a ficar desertas; os serviços de entrega de alimentos em domicílio assistiram a uma nova alta da demanda; e, em alguns hospitais, além das filas intermináveis de pacientes, muitos infectados começaram o tratamento nos assentos dos seus carros de passeio por falta de leitos. A possibilidade de o país amargar entre um milhão e um milhão e meio de mortes por Covid está saindo das projeções estatísticas que serviam de base ao fechamento dos centros urbanos para se tornar realidade.

Ao que tudo indica, o efeito benéfico da abertura das cidades na redução do descontentamento social não só pode durar menos do que se esperava, como tem amplas condições de provocar estragos bem maiores do que o fechamento havia gerado. Some o que dissemos à redução da atividade econômica mundial em 2023 e verá que as perspectivas de crescimento do PIB para o próximo ano tendem a ser mais pessimistas em relação às de 2022.

Nesta conjuntura, qualquer passo em falso dos dirigentes de plantão fará o mundo inteiro ouvir o barulho dos cristais se fragmentando na loja chamada China.

 

4. EUA: as preocupações de Biden e a situação dos trabalhadores.

A leitura do que escrevemos até esse momento deve ter mostrado que as preocupações dos EUA vão além da guerra na Ucrânia. Manter a hegemonia na geopolítica mundial demanda uma grande capacidade de influenciar os acontecimentos externos, de controlar os adversários mais perigosos, de chegar aos lugares mais recônditos, mas também de esvaziar as tensões internas cujo avolumar-se pode dificultar a vida dos governantes de plantão.

É nesta direção que interpretamos, por exemplo, a Estratégia para o Pacífico que o governo Biden apresentou no dia 30 de setembro com a intenção de frear a crescente influência da China nas ilhas da região que, apesar de minúsculas, têm um elevado potencial estratégico. O convencimento dos seus governantes a aderirem aos planos estadunidenses não está alicerçado em discursos carregados de retórica, mas tão somente num convite claro, simples e direto: “aqui está o dinheiro. Fiquem do nosso lado e terão mais do que vocês precisam para investir e melhorar a sua aprovação popular”.

Concretamente, Washington prometeu centenas de milhões de dólares aos governos das ilhas do Pacífico na forma de equipamentos de segurança, investimentos em turismo, pesca, energias renováveis, novas tecnologias, transporte, recuperação econômica depois da pandemia de Covid, desenvolvimento, sustentabilidade e treinamento de segurança. Trata-se de uma grande variedade de intervenções a serem realizadas por empresas estadunidenses cuja ação promete, de um lado, gerar lucros que serão repatriados e, de outro, criar uma dependência capaz de transformar esses pequenos pedaços de terra firme em quintal exclusivo dos EUA.

Mas, por que, de uma hora para outra, a política externa estadunidense viu a necessidade de inundar de dinheiro estas ilhas cujos nomes e localização sequer conseguimos lembrar? A resposta é simples, mas a sua compreensão demanda um pouco de paciência. Vejamos.

Até 2016, as ilhas do Pacífico eram aliadas diplomáticas de Taiwan e não tinham ligações formais com Pequim. A partir daquele ano, o presidente chinês Xi Jinping começou a cortejar os seus governos para que rompessem com Taipei e estreitassem relações com a China continental. Longe de pensar no que suas economias podiam oferecer ao gigante asiático, Pequim buscava cativar os governos destas ilhas cuja posição geográfica permite controlar o fluxo de navios que percorrem as principais rotas do Pacífico.

A partir do ano passado, este namoro ganhou um motivo adicional: as ilhas em questão também se encontram na área de influência da aliança militar entre Austrália, Reino Unido e EUA, conhecida como plano AUKUS. Para termos uma ideia do que está em jogo, basta pensar que, em abril deste ano, Pequim assinou um acordo de colaboração com o governo das Ilhas Salomon no valor de 687.000 dólares, uma mixaria para a China, mas um verdadeiro rio de dinheiro quando levamos em consideração o orçamento e a capacidade de investimento local.

No acordo, constam cláusulas que definem as relações tanto em temas como o comércio bilateral, a pesca e os investimentos em infraestrutura, quanto ao envio de forças de segurança chinesas, caso o governo local solicite a intervenção de Pequim para manter a ordem interna, proteger a vida da população e a propriedade privada.

Em troca, a marinha de guerra chinesa pode entrar nas águas territoriais das Ilhas Salomon para efetuar reposicionamentos logísticos de suas embarcações de guerra, o que permite a Pequim manter uma base militar permanente que funciona como um espinho na carne do plano AUKUS. Esta realidade levou os EUA a aumentarem os investimentos nas ilhas da região a fim de recuperar o terreno perdido pela política chinesa. O que parece insignificante em termos de tamanho e valores guarda em si um potencial estratégico que EUA, Austrália e Reino Unido não podem desprezar.

            Na política interna, o muro de contenção ao avanço do Partido Republicano nas eleições de novembro não foi construído apenas com discursos em defesa dos direitos que estavam sendo ameaçados (como é o caso do aborto, conforme foi veiculado pela mídia), mas, sobretudo, com vigas de concreto cuidadosamente assentadas ao longo do segundo semestre deste ano. Em meados de agosto, por exemplo, Biden conseguiu aprovar um pacote de investimentos ambientais de 370 bilhões de dólares em gastos e incentivos fiscais ao longo dos próximos dez anos a fim de reduzir em 40,0% as emissões de gases de efeito estufa até 2030. O dinheiro vai estimular vários setores da indústria estadunidense, ajudando a sustentar a geração interna de emprego e renda.

            Além disso, não podemos esquecer que, a partir de 2026, as mudanças no Medicare, o programa de saúde que beneficia cerca de 50 milhões de idosos acima dos 65 anos, vão limitar a 2.000 dólares anuais os desembolsos com medicamentos das pessoas desta faixa etária, sendo que o restante da conta será pago pelo Estado.

            Outros 45 milhões de estadunidenses que tem uma renda anual de até 125.000 dólares e tomaram dinheiro emprestado para custear os próprios estudos, terão suas dívidas reduzidas entre 10.000 e 20.000 dólares a depender de quanto ganham e dos valores devidos. E, para agradar as famílias que recebem até 400.000 dólares anuais, a Secretária do Tesouro, Janet Yellen, se comprometeu a não aumentar a fiscalização dos rendimentos. Ou seja, de um jeito ou de outro, Biden ofereceu vários agrados que foram saboreados, direta ou indiretamente, por quase metade da população do país.

            Em relação à defesa do direito à sindicalização presente em vários discursos do presidente dos EUA, é necessário levar em consideração alguns elementos que permitem entender até onde chega a possibilidade de traduzir as palavras em fatos. Em primeiro lugar, é necessário lembrar que o número de filiados aos sindicatos estadunidenses é baixo diante do tamanho do mercado de trabalho cuja complexidade e precarização passa longe de permitir que as representações dos trabalhadores tenham uma atuação comparável com a dos anos 50 e 60.

Ao defender o direito de os trabalhadores se associarem, Biden aponta a sindicalização e a negociação coletiva, disciplinada pelos sindicatos, como o caminho que o descontentamento social deve seguir, sobretudo em empresas líderes de setor, como a Amazon e a Starbucks, onde sobram problemas trabalhistas e faltam canais oficiais que orientam a relação entre capital e trabalho. Neste caso, a ação sindical acabaria disciplinando o descontentamento a fim de evitar tanto ações intempestivas dos próprios trabalhadores, como formas de luta que as empresas teriam dificuldade em controlar.

            A defesa da sindicalização é também uma forma de manter o apoio do setor mais “radical” do Partido Democrático cujo líder é Bernie Sanders, conhecido pela capacidade de suas ideias igualitárias dialogarem com as preocupações dos jovens e dos trabalhadores. Manter o partido unido e garantir o apoio deste setor da população à candidatura de Biden nas eleições de 2024 é um passo essencial para que a disputa eleitoral seja capaz de enfrentar vitoriosamente os republicanos.

            Motivos eleitorais também estão na base das relações entre o sindicalismo e a conquista da maioria dos votos em Michigan, Pensilvânia, e Wiscosin, onde muitas indústrias encerraram suas atividades, deixando milhões de famílias operárias sem perspectivas de futuro. Em 2016, o ex-presidente Donald Trump ganhou as eleições nestes Estados prometendo trazer de volta os empregos perdidos, mas nada aconteceu. Quatro anos depois, Biden desmascarou Trump e os democratas voltaram a ter a maioria dos votos. Abraçar a defesa dos sindicatos com as medidas que buscam fortalecer a geração do emprego industrial nos EUA mostra que os democratas estão realmente do lado dos trabalhadores e continuam fazendo o possível para merecer o apoio destas populações.

            Contudo, uma coisa é líquida e certa: um projeto de lei que facilite a sindicalização e ajude a criar um número maior de sindicatos simplesmente não seria aprovado pelo Parlamento. Por isso, apesar da ênfase dada a esse tema em discursos de ocasião, o apoio de Biden não vai além do incentivo que suas palavras podem dar.

            No campo das lutas das classes, algumas posturas adotadas pelos assalariados em 2021 foram apontadas como importantes formas de resistência por alguns grupos da nossa esquerda. A maior delas levou 39 milhões de pessoas a pedirem para sair dos seus empregos, na que a mídia estadunidense apelidou de “A Grande Renúncia”, para indicar que os trabalhadores estavam renunciando à renda que conseguiam com suas ocupações apesar de, frequentemente, não terem nenhuma alternativa imediata à vista. Por que isso aconteceu?

            Em primeiro lugar, precisamos lembrar que, nos primeiros doze meses da pandemia, 68% dos mortos de Covid nos EUA eram trabalhadores do setor de serviços que estavam diária e diretamente em contato com colegas e clientes. Acrescente a isso os custos exorbitantes de uma internação hospitalar para quem não conta com um plano de saúde, as dificuldades de locomoção, o fechamento de creches e de escolas e, em muitos casos, a proibição de usar máscaras nos atendimentos diários e verá que começa a ser mais fácil entender por que grande parte dos que pediam demissão um ano depois do início da pandemia preferia passar por algum aperto, no lugar de perder a vida pela Covid ou pelas dívidas com o sistema de saúde.

            As razões para fazer isso aumentavam à medida que situações de desrespeito por parte de empresários, chefes e clientes se somavam às angústias trazidas pela pandemia e levavam a um aumento do adoecimento psíquico. Os diagnósticos de burnout, por exemplo, aumentaram 40% em 2021 mostrando o tamanho do esgotamento físico, mental e emocional a que as pessoas haviam chegado. O quadro se completa quando analisamos a situação dos trabalhadores empregados nas tarefas mais simples e mal remuneradas do setor de serviços. É o caso, por exemplo, dos lavadores de pratos, dos garçons, dos motoristas de caminhão, dos enfermeiros domiciliares, dos fritadores de hambúrguer, etc.

Em 2020, por exemplo, os funcionários de lanchonetes contratados em tempo integral ganhavam, em média, 2.000 dólares por mês (um salário abaixo da linha da pobreza para uma família de 4 pessoas) para trabalhar em um ambiente com elevado grau de exposição ao vírus. Bastaria isso para entendermos que qualquer vaga que oferecesse uma condição levemente melhor faria qualquer trabalhador pedir a conta sem pensar duas vezes.

As coisas são um pouco piores para as pessoas que exercem estas funções em tempo parcial. Nenhuma delas sabe ao certo quantas horas irá trabalhar durante a semana e, de consequência, se o que ela vai ganhar no fim do mês será suficiente para dar conta da sobrevivência pessoal e familiar. Agora, imagine como devia ser a situação deste segmento da classe trabalhadora em plena pandemia em termos salariais e de proteção à saúde.

A realidade que descrevemos em grandes linhas se torna ainda mais compreensível quando levantamos a rotatividade média de alguns segmentos do setor de serviços mais afetados pelos pedidos de demissão voluntária. Durante o ano de 2021, a troca de funcionários no comércio varejista chegou a 64,6%, quase onze pontos percentuais acima dos 53,8% apurados em 2017, quando o PIB cresceu 2,9% em relação ao ano anterior. No grupo hospedagem e alimentação, a rotatividade chegou a 86,3% dos empregados, em 2021, cerca de catorze pontos percentuais acima dos 72,4% registrados em 2017.

Como é possível constatar por esses números, a porcentagem do trabalhador coletivo que, de um ano para outro, muda de emprego no setor de serviços é sempre muito alta, quer o país esteja enfrentando uma pandemia quer não. E isso não é por acaso. Além da segurança e do sofrimento pessoal, as pessoas almejam estabilidade, o que é difícil de conseguir em um emprego de baixo salário, típico destas atividades econômicas. Do mesmo modo, a falta de progressão funcional é mais um fator que estimula constantemente a buscar uma nova ocupação (fritador de hambúrguer não tem plano de carreira...e nem todo mundo será gerente da lanchonete). Some a isso a possibilidade de encontrar uma nova ocupação em um mercado de trabalho que, em 2021, estava em franca recuperação em função do crescimento de 5,7% do PIB, e verá que o comportamento dos quase 40 milhões de trabalhadores que pediram demissão tem toda razão de ser.

Os reflexos da situação que acabamos de descrever foram novamente constatados em janeiro deste ano pelo Departamento do Trabalho dos EUA. Naquele momento, havia 10 milhões e 600 mil ofertas de emprego para seis milhões e 900 mil desempregados, uma vaga e meia para cada pessoa e, como mostramos em análises anteriores, apesar do pagamento de alguns bônus ou do aumento do valor da hora trabalhada, bares, restaurantes, hotéis e lojas ou não conseguiam encontrar pessoas que aceitassem as condições oferecidas ou, simplesmente, viam seus funcionários pedirem demissão depois de períodos extremamente curtos de permanência no emprego.

            Entre as ocupações nas quais é possível trabalhar em condições mais favoráveis, não podemos esquecer o fato de que muitas pessoas que reuniam os requisitos necessários para solicitar a aposentadoria encontraram na pandemia razões de sobra para pedir a conta. Foi assim que, por exemplo, muitos funcionários de aeroporto se demitiram e nunca mais voltaram aos seus postos. Este enorme vazio no quadro de empregados se refletiu nas dificuldades que marcaram as atividades do transporte aéreo quando as empresas aumentaram a oferta de voos.

            Trocado em miúdos, podemos dizer que, mais do que uma forma de resistência na luta contra o capital, “A Grande Renúncia” era uma forma de proteger a própria saúde física e mental que apenas elevou ainda mais uma rotatividade que, no setor de serviços, sempre atingiu patamares extremamente elevados. Em função disso, as afirmações pelas quais “A Grande Renúncia” seria a maior greve geral não declarada da história dos EUA soam decididamente exageradas.

            Até o momento, as características dos assalariados estadunidenses estão jogando um balde de água fria também em todos aqueles que esperavam reações contundentes diante da redução do poder de compra dos salários e do aumento dos juros que incidem sobre o pagamento das prestações da casa própria. Realidades e divulgações que poderiam dar vida a sentimentos de rebeldia não faltam. Entre elas, registramos aqui os dados sobre a desigualdade entre os trabalhadores e a alta gestão das empresas (CEOs).

Um levantamento realizado pela AFL-CIO, a maior federação de sindicatos de trabalhadores dos EUA, mostra que, em 2019, os CEOs ganhavam, em média, 264 vezes mais do que os funcionários que se esfolavam em suas empresas. No ano seguinte, e em plena crise econômica, a diferença passou para 299 vezes e, em 2021, subiu para 324 vezes. Ainda em 2021, a inflação de 7,1% castigou os salários dos empregados que tiveram um reajuste médio de apenas 4,7% enquanto os vencimentos dos CEOs foram aumentados em 18,2%.7

Contudo, entre 2019 e o primeiro semestre de 2022, o peso das greves nos EUA ficou bem abaixo do que a degradação das condições de vida deixava supor. O número de grevistas e a soma dos dias em que paralisaram as atividades falam por si só.

Em um mercado de trabalho com mais de 155 milhões de ocupados, em 2019, o contingente de trabalhadores que aderiram às paralisações somou 425.500 pessoas, enquanto o de dias parados foi de 3.244.300. Em 2020, sob o impacto da elevação do desemprego causado pela pandemia, o total de grevistas despenca para 27.000 e o de dias parados para 965.700. No ano seguinte, a situação melhora um pouco com 80.700 trabalhadores aderindo às paralisações, com um total de 1.551.900 dias parados. As únicas notícias disponíveis em relação ao primeiro semestre de 2022 revelam a ocorrência de 180 greves com 78.000 grevistas, mas, infelizmente, sem o número de dias parados.

Para termos uma ideia da importância desses números na definição do grau de conflitualidade presente nos locais de trabalho, basta compará-los com aqueles que foram registrados em anos anteriores. Entre 1947 e 2021, o ano de 1959 registrou o maior número de dias parados com 60.850.000 e 1.381.000 empregados envolvidos, e isso em um mercado de trabalho que apresentava um número de ocupados extremamente inferior ao atual. Quando consideramos apenas os últimos 40 anos, percebemos que o pico se localiza em 1983, quando 909.400 trabalhadores somaram 17.460.700 dias parados, o que revela um grau de participação e intensidade das lutas decididamente superior ao dos últimos 42 meses.9 Ou seja, quando o nosso olhar se dirige à objetividade dos números, as comparações entre um período e outro começam a ganhar dimensões diante das quais a fase mais recente da história das greves nos EUA mostra um nível de enfrentamentos bem inferior ao que as contradições sociais deixavam esperar.

Com a inflação fechando 2022 em cerca de 7% e as taxas de juros em 4,5% (com expectativas de novas altas), o PIB estadunidense deste ano deve crescer 1,6%. As projeções apontam que, em 2023, a alta não deve ultrapassar a marca de 1%, sendo que a construção civil é um dos setores que mais tendem a encolher a sua produção em função do impacto negativo da elevação dos juros nos financiamentos do setor imobiliário.

            Passando dos países para o mundo, o relatório do Fundo Monetário Internacional aponta que o PIB global deve crescer 3,2% em 2022 e 2,7% no próximo ano. Esta projeção do PIB mundial guarda uma relação direta com a tendência de queda dos preços do petróleo e com a expectativa de que, no segundo semestre de 2023, as pressões inflacionárias (hoje com uma taxa média mundial de 8,8%) fiquem em 6,5% ao ano, o que daria aos Bancos Centrais a possibilidade de reduzir o ritmo de elevação dos juros.8

            O perigo de uma recessão mundial ainda não saiu do radar, à medida que permanecem vivas as ameaças vindas do desenrolar da guerra na Ucrânia, de uma nova elevação dos preços dos alimentos em função das mudanças climáticas e das dificuldades de adequar a taxa de juros aos elementos que interferem na formação dos preços de mercado. Infelizmente, os únicos sinais que permanecem ausentes neste cenário em que o capital busca um novo equilíbrio para assegurar a sua valorização são os que vêm das lutas dos trabalhadores cujos passos não prometem sair da timidez manifestada nos últimos anos.

 

Emilio Gennari, 19 de dezembro de 2022.

 

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(1) Para elaborar esse texto, nos valemos das matérias divulgadas em:

-         https://elpais.com/economia/2022-07-19/el-fmi-alerta-de-que-europa-perderia-casi-tres-puntos-de-crecimiento-si-rusia-corta-completamente-el-gas.html

-         https://g1.globo.com/economia/noticia/2022/07/20/ceos-de-empresas-dos-eua-ganham-324-vezes-mais-que-funcionarios-veja-maiores-remuneracoes.ghtml?utm_source=share-universal&utm_medium=share-bar-app&utm_campaign=materias

-         https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-62010477

-         https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-62281239

-         https://elpais.com/internacional/2022-07-24/los-ultimos-bastiones-ucranios-en-donbas-esperan-al-invasor.html

-         https://elpais.com/economia/2022-07-25/la-ue-suavizara-la-exigencia-de-recortar-el-consumo-de-gas-tras-la-presion-de-las-capitales.html

-         https://g1.globo.com/mundo/ucrania-russia/noticia/2022/07/24/vitoria-para-os-ucranianos-e-voltar-a-vida-normal-diz-zelensky-em-primeira-entrevista-a-um-veiculo-latino-americano.ghtml?utm_source=share-universal&utm_medium=share-bar-app&utm_campaign=materias

-         https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-62301345

-         https://elpais.com/economia/2022-07-26/bruselas-pacta-un-plan-de-ahorro-energetico-para-hacer-frente-al-chantaje-de-putin.html

-         https://www.bbc.com/portuguese/internacional-62316657

-         https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-62310980

-         https://elpais.com/internacional/2022-07-26/rusia-utiliza-como-arma-y-botin-de-guerra-la-mayor-central-nuclear-de-europa.html

-         https://www.bbc.com/portuguese/internacional-62330983

-         https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-62319304

-         https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-62279288

-         https://elpais.com/internacional/2022-07-28/los-democratas-acuerdan-con-su-senador-rebelde-manchin-desbloquear-el-plan-economico-de-biden.html

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-         https://elpais.com/internacional/2022-10-27/ultima-hora-de-la-guerra-en-ucrania-hoy-en-directo.html

-         https://elpais.com/economia/2022-10-27/la-economia-de-estados-unidos-vuelve-a-crecer-pese-a-las-subidas-de-tipos-de-interes.html

-         https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-63421414

-         https://elpais.com/internacional/2022-10-31/rusia-ataca-kiev-y-una-docena-de-regiones-de-ucrania-con-una-oleada-de-misiles.html

-         https://elpais.com/opinion/2022-11-02/putin-aprieta-con-el-hambre.html

-         https://elpais.com/economia/2022-11-02/la-reserva-federal-de-ee-uu-sube-los-tipos-de-interes-075-puntos-por-cuarta-vez-en-cinco-meses.html

-         https://elpais.com/internacional/2022-11-02/biden-y-trump-se-vuelcan-en-la-ultima-semana-de-campana-de-las-legislativas.html

-         https://www.bbc.com/portuguese/internacional-63484868

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-         https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-63501199

-         https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-63509540

-         https://g1.globo.com/economia/noticia/2022/11/04/eua-criam-261-mil-vagas-de-trabalho-em-outubro-mas-desemprego-sobe-a-37percent.ghtml?utm_source=share-universal&utm_medium=share-bar-app&utm_campaign=materias

-         https://g1.globo.com/mundo/noticia/2022/11/04/sob-criticas-chanceler-alemao-visita-xi-jinping-para-aprofundar-relacoes-economicas.ghtml?utm_source=share-universal&utm_medium=share-bar-app&utm_campaign=materias

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-         https://www.bbc.com/portuguese/internacional-63542365

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-         https://elpais.com/internacional/2022-11-08/rusia-reconoce-que-mantiene-contactos-puntuales-con-estados-unidos.html

-         https://www.bbc.com/portuguese/internacional-63576844

-         https://elpais.com/internacional/2022-11-09/zelenski-pide-extremar-la-cautela-ante-el-anuncio-de-la-retirada-rusa-de-jerson-el-enemigo-no-nos-hace-regalos.html

-         https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-63556383

-         https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-63590585

-         https://elpais.com/internacional/2022-11-10/biden-se-reunira-con-xi-el-lunes-en-medio-de-una-tensa-relacion-bilateral.html

-         https://g1.globo.com/mundo/noticia/2022/11/13/eua-democratas-vibram-com-maioria-do-senado-e-biden-sai-fortalecido-das-eleicoes.ghtml?utm_source=share-universal&utm_medium=share-bar-app&utm_campaign=materias

-         https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-63542701

-         https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-63613977

-         https://g1.globo.com/mundo/noticia/2022/11/14/biden-chega-a-indonesia-para-a-cupula-do-g20.ghtml?utm_source=share-universal&utm_medium=share-bar-app&utm_campaign=materias

-         https://g1.globo.com/mundo/noticia/2022/11/15/lavrov-diz-que-condicoes-da-ucrania-retomar-negociacoes-com-moscou-sao-irrealistas.ghtml?utm_source=share-universal&utm_medium=share-bar-app&utm_campaign=materias

-         https://elpais.com/internacional/2022-11-15/scholz-tropieza-con-su-ambiciosa-reforma-de-la-prestacion-de-desempleo-basada-en-la-confianza-en-los-receptores.html

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-         https://g1.globo.com/mundo/ucrania-russia/noticia/2022/11/15/zelensky-diz-que-misseis-russos-que-atingiram-a-polonia-sao-escalada-significativa-do-conflito.ghtml?utm_source=share-universal&utm_medium=share-bar-app&utm_campaign=materias

-         https://g1.globo.com/mundo/noticia/2022/11/15/otan-entenda-qual-e-o-significado-da-sigla-paises-membros-e-objetivos.ghtml?utm_source=share-universal&utm_medium=share-bar-app&utm_campaign=materias

-         https://g1.globo.com/mundo/noticia/2022/11/16/biden-diz-que-russia-pode-nao-ter-disparado-missil-contra-a-polonia.ghtml?utm_source=share-universal&utm_medium=share-bar-app&utm_campaign=materias

-         https://elpais.com/internacional/2022-11-16/polonia-considera-probable-que-el-misil-que-impacto-en-su-territorio-fuera-disparado-desde-ucrania.html#

-         https://elpais.com/opinion/2022-11-16/atraer-a-china-para-la-paz.html

-         https://elpais.com/internacional/elecciones-usa/2022-11-17/que-significa-para-biden-el-triunfo-republicano-en-la-camara-de-representantes.html

-         https://g1.globo.com/mundo/ucrania-russia/noticia/2022/11/20/maior-central-nuclear-da-europa-e-bombardeada.ghtml?utm_source=share-universal&utm_medium=share-bar-app&utm_campaign=materias

-         https://www.infomoney.com.br/economia/na-china-yuan-atinge-minima-historica-ante-o-dolar-no-mercado-offshore/

-         https://blocktrends.com.br/a-crescente-e-insustentavel-divida-chinesa/

-         https://elpais.com/internacional/2022-11-23/ucrania-inicia-la-evacuacion-de-jerson-ante-el-riesgo-de-bombardeos-y-la-falta-de-recursos-para-pasar-el-invierno.html

-         https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-63735257

-         https://elpais.com/economia/2022-11-25/washington-veta-la-venta-de-productos-de-los-fabricantes-chinos-huawei-y-zte-en-estados-unidos.html

-         https://elpais.com/internacional/2022-11-26/alemania-da-un-golpe-de-timon-a-sus-politicas-sociales-con-la-ambiciosa-reforma-de-scholz.html

-         https://elpais.com/internacional/2022-11-26/la-oposicion-nacionalista-arrasa-en-los-comicios-locales-de-taiwan.html

-         https://elpais.com/internacional/2016/12/12/actualidad/1481565328_189743.html#?rel=mas

-         https://elpais.com/internacional/2022-10-10/la-presidenta-de-taiwan-asegura-que-la-guerra-con-china-no-es-una-opcion-pero-alerta-sobre-las-intimidaciones-de-pekin.html#?rel=mas

-         https://elpais.com/internacional/2022-11-27/la-ue-teme-que-los-ataques-rusos-contra-la-red-electrica-de-ucrania-fuercen-otra-oleada-de-refugiados.html

-         https://www.bbc.com/portuguese/internacional-63773355

-         https://revistapesquisa.fapesp.br/estados-unidos-preparam-investimento-bilionario-em-sua-industria-de-semicondutores/

-         https://www.bbc.com/portuguese/internacional-63779061

-         https://www.bbc.com/portuguese/internacional-63782951

-         https://www.bbc.com/portuguese/internacional-63782008

-         https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-63772155

-         https://elpais.com/internacional/2022-11-28/china-responde-a-las-protestas-con-un-fuerte-despliegue-de-seguridad-en-pekin-y-shanghai.html

-         https://www.bbc.com/portuguese/internacional-63786773

-         https://g1.globo.com/mundo/ucrania-russia/noticia/2022/11/28/eua-avaliam-fornecer-a-ucrania-nova-bomba-de-longo-alcance-capaz-de-atingir-retaguarda-russa.ghtml?utm_source=share-universal&utm_medium=share-bar-app&utm_campaign=materias

-         https://elpais.com/internacional/2022-11-29/la-granja-de-los-horrores-de-ucrania-2000-vacas-muertas-y-un-reguero-de-minas-que-explica-la-devastacion-de-la-agricultura-en-el-pais.html

-         https://www.bbc.com/portuguese/internacional-63793782

-         https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-63781186

-         https://elpais.com/internacional/2022-11-29/guerra-ucrania-rusia-ultimas-noticias-en-directo.html

-         https://www.ceicdata.com/pt/indicator/germany/government-debt--of-nominal-gdp

-         https://elpais.com/internacional/2022-12-04/radiografia-del-descontento-chino.html

-         https://elpais.com/internacional/2022-12-05/guerra-ucrania-ultimas-noticias-en-directo.html

-         https://m.br.investing.com/news/commodities-news/colapso-no-preco-do-petroleo-sauditas-e-russos-correm-para-resgatar-o-mercado-2-semanas-antes-de-reuniao-da-opep-1060172

-         https://www.bbc.com/portuguese/internacional-63867257

-         https://g1.globo.com/mundo/ucrania-russia/noticia/2022/12/05/base-aerea-onde-ha-avioes-para-carregar-bombas-nucleares-e-atingida-por-explosao-na-russia.ghtml?utm_source=share-universal&utm_medium=share-bar-app&utm_campaign=materias

-         https://elpais.com/internacional/2022-12-06/las-sanciones-al-petroleo-ruso-endurecen-el-pulso-de-europa-contra-el-kremlin.html

-         https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-63767835

-         https://elpais.com/internacional/2022-12-05/las-autoridades-rusas-investigan-dos-explosiones-en-bases-aereas-a-cientos-de-kilometros-de-ucrania.html

-         https://elpais.com/america-futura/2022-12-06/paraguay-ue-y-las-empresas-que-ignoran-la-violacion-de-derechos-humanos-del-cultivo-de-soja.html

-         https://g1.globo.com/meio-ambiente/noticia/2022/12/06/ambientalistas-celebram-acordo-da-ue-que-proibe-importacao-de-produtos-do-desmatamento-mas-alertam-para-pressao-no-cerrado.ghtml?utm_source=share-universal&utm_medium=share-bar-app&utm_campaign=materias

-         https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-63897093

-         https://elpais.com/internacional/2022-12-07/guerra-entre-ucrania-y-rusia-ultimas-noticias-en-directo.html

-         https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-63893656

-         https://www.startse.com/artigos/great-resignation-demissoes-eua/

-         https://rhpravoce.com.br/redacao/onda-demissao-eua-brasil/

-         https://www.insper.edu.br/noticias/recorde-de-pedido-de-demissoes-ha-mesmo-uma-grande-debandada/

-         https://elpais.com/economia/2022-12-14/la-reserva-federal-frena-el-ritmo-de-subida-de-tipos-con-un-alza-de-05-puntos-hasta-el-45.html

-         https://www.bbc.com/portuguese/internacional-63983758

-         https://www.bbc.com/mundo/noticias-63981889

-         https://g1.globo.com/economia/noticia/2022/12/16/inflacao-anual-na-zona-do-euro-foi-de-101percent-em-novembro-diz-a-eurostat.ghtml?utm_source=share-universal&utm_medium=share-bar-app&utm_campaign=materias

-         https://elpais.com/internacional/2022-12-10/madres-y-mujeres-de-los-soldados-rusos-desaparecidos-cargan-contra-el-kremlin-vamos-a-las-morgues-y-nadie-nos-ayuda.html

-         https://elpais.com/sociedad/2022-12-17/pekin-sufre-el-golpe-de-la-ola-de-salida-de-la-pandemia.html

-         https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-64009316

-         https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-62145321

 

Listados em ordem cronológica, os acessos foram realizados entre 17 de julho e 16 de dezembro de 2022.

 

(2) Segundo o artigo 19 dos Princípios Básicos da Política de Estado da Federação Russa sobre dissuasão nuclear, aprovado em junho de 2020, são 4 as condições que permitem recorrer ao uso destas armas de destruição em massa:

1. A chegada de dados confiáveis sobre o lançamento de mísseis balísticos contra o território da Federação Russa e/ou de seus aliados; 2. O uso de armas nucleares ou de outro tipo de armas de destruição em massa por parte de um adversário contra a Federação Russa e/ou os seus aliados; 3. Ataque de um adversário contra instalações críticas militares ou governamentais da Federação Russa e/ou de seus aliados cuja realização ameaça a capacidade de resposta nuclear; 4. Agressão contra a Federação Russa com uso de armas convencionais quando a própria existência do estado estaria sendo ameaçada.

 

(3) As armas nucleares táticas têm ogivas que variam entre um quiloton (que corresponde ao poder de destruição de 1.000 kg do explosivo TNT) e 100 quilotons enquanto as armas nucleares estratégicas chegam a mais de 1.000 quilotons. Para termos uma ideia do poder de destruição basta lembrar que a bomba atômica que os EUA lançaram sobre Hiroshima em 1945 tinha 15 quilotons. Pelo seu tamanho reduzido, as ogivas das armas táticas podem ser instaladas em mísseis que costumam ser usados com cargas convencionais ou em projéteis de artilharia. Os EUA afirmam que a Rússia tem cerca de 2.000 armas nucleares táticas e que, recentemente, investiu pesado para melhorar o seu alcance e precisão. Em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-63002873 acesso em 30/11/2022.

(4) Ao que tudo indica, Putin aceitaria um acordo de paz caso a Ucrânia reconhecesse como território da Rússia as áreas da Crimeia e das regiões industrializadas do sudeste do país (onde o povo fala russo e onde, desde 2014, atuam fortes movimentos separatistas), além da não adesão da Ucrânia à OTAN. Mas isso é tudo o que Kiev não quer.

(5) Os dados citados são parte dos resultados da pesquisa realizada por Yuri Salmona, da UNB, entre 1985 e 2022, que estudou os rios do cerrado responsáveis por boa parte do abastecimento hídrico e da geração de energia elétrica do Brasil. Em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-63562381 Acesso realizado em 30/11/2022

(6) Em: https://minitormercantil.com.br/dados-revelam-atratividade-continua-da-china-para-investimento-estrangeiro/ Acesso realizado em 13/12/2022.

(7) A maior desigualdade entre os salários dos principais executivos e a média dos trabalhadores da mesma empresa foi registrada na Amazon. Em 2021, o CEO Andy Jassy ganhou nada menos do que 212 milhões, 701 mil e 169 dólares, o que corresponde a mais de seis mil vezes a média anual dos ganhos de um trabalhador da empresa que é de U$ 32.855.

Estes e outros dados sobre o mesmo tema foram divulgados em: https://g1.globo.com/economia/noticia/2022/07/20/ceos-de-empresas-dos-eua-ganham-324-vezes-mais-que-funcionarios-veja-maiores-remuneracoes.ghtml Acesso em 14/12/2022.

 

(8) O relatório completo do FMI encontra-se disponível em: https://www.imf.org/en/Publications/WEO/Issues/2022/10/11/world-economic-outlook-october-2022 Acesso em 14/12/2022.

 

(9) Os dados sobre o número de grevistas, de dias parados e de ocupados foram extraído de:

-         Bureau of Labor Statistics, U.S. Department of Labor, *The Economics Daily*, 16 major work stoppages in 2021 at https://www.bls.gov/opub/ted/2022/16-major-work-stoppages-in-2021.htm

-         https://www.bls.gov/opub/ted/2020/25-major-work-stoppages-in-2019-involving-425500-workers.htm

-         https://www.bls.gov/news.release/empsit.t01.htm

Todos os acessos foram realizados em 18/12/2022.

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