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Notas de Conjuntura
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É
difícil encontrar alguém que, ao chegar em dezembro, não faça um balanço das
perdas e ganhos que marcaram a sua vida. Quanto mais próxima a virada do ano,
mais ampla fica a lista de sonhos e esperanças. Trata-se de um momento mágico
no qual, da vida pessoal às lutas coletivas, o presente de amarguras e
frustrações é encoberto por desejos de mudança que a vontade costuma entregar a
um futuro desconectado da realidade.
Diante do medo de novos
fracassos, menosprezamos acontecimentos e apagamos verdades incômodas com um
pensamento positivo supostamente capaz de transformar esterco em ouro por um
simples ato da nossa vontade. Mas, quanto mais a construção dos passos
destinados a concretizar as nossas esperanças perde o contato com as
contradições que produzem os acontecimentos, mais um tsunami de verdades
assustadoras e indigestas prepara o instante em que a vida irá apagar as
trêmulas chamas dos nossos sonhos.
A
poucos dias de receber 2023 com o coração de quem luta por um mundo onde haja
tudo para todos, usaremos as páginas que seguem para sentir o pulsar da
realidade mundial, para trazer à tona parte das tramas com as quais os grupos
de poder traçam as sendas da humanidade e para apontar os limites do que os
discursos oficiais desenham com afirmações tão vazias quanto altissonantes.
Começaremos
pela invasão russa da Ucrânia que continua ditando o ritmo da geopolítica
mundial. Trafegaremos pela União Europeia, onde os cortes no abastecimento de
gás ampliaram as rachaduras do bloco. Iremos nos deter nos principais problemas
da China e encerraremos nossas reflexões focando alguns aspectos da política
estadunidense que despertaram apreensões e esperanças. Sim, temos plena
consciência de que as nossas reflexões passam longe de trazer os bons fluídos que
prometem milagres no ano que está por começar. Mas conhecer o terreno onde se gesta
o futuro da humanidade é um dos passos para que a classe trabalhadora venha a
dizer com suas lutas que teremos um feliz ano novo.
1. Rússia: a busca da realidade no
desenrolar dos acontecimentos.
A
ocupação militar da Ucrânia levou Moscou a silenciar todas as informações que
podem mostrar o tamanho das fragilidades alimentadas pelo conflito e o impacto
das sanções impostas ao país. Quanto à
situação econômica, o Fundo Monetário Internacional, estima que o PIB de 2022
recue 3,4%, ao passo que, para Putin, este encolhimento não deve passar 2,5%, número
que confirmaria a reduzida eficácia das sanções draconianas impostas ao país em
março deste ano.
Nada sabemos do rumo da
guerra desenhado pela correlação de forças entre os grupos que sustentam o
governo e, muito menos, em relação à capacidade de a Rússia repor os estoques
de armas convencionais usadas em dez meses de hostilidades. Os números que se
referem aos soldados mortos e feridos nos confrontos são desencontrados, assim
como é difícil traçar um quadro minimamente claro do grau de descontentamento
popular.
Tudo o que pode
comprometer as estratégias militares de Moscou ou abrir espaços a ações mais
eficazes de Kiev e dos seus aliados quando não é silenciado é muito confuso.
Resta, então, ficarmos com aquilo que os acontecimentos podem revelar, com os
fragmentos do real que, apesar de contraditórios e cobertos de interpretações que
dão razão a quem os apresenta, ajudam a vislumbrar os contornos do que, de
fato, está acontecendo. Sendo assim, vamos entrar neste campo minado para
desenterrar os elementos que permitem entender alguns episódios desta guerra
que está longe de terminar.
Vamos
começar pelos dois mísseis de fabricação russa que caíram numa fazenda da
Polônia. Diante das duas mortes e dos estragos materiais, o presidente
Volodymyr Zelenski não perdeu tempo em acusar a Rússia de estar atacando um
país da Organização do Atlântico Norte, razão pela qual, segundo ele, os
membros da OTAN deveriam responder a esta agressão com forças capazes de dissuadir
Moscou de qualquer novo plano contra o território europeu. A apuração da
intencionalidade e da autoria do ataque durou bem menos do esperado, mas a
resposta veiculada no dia seguinte mostrou claramente que, neste momento, os
EUA não querem um confronto direto com a Rússia.
Esta
postura reafirmou que a dar as cartas são os países que armam o exército de
Kiev, não os generais ucranianos que comandam as tropas no campo de batalha.
Para a OTAN, é necessário que Zelenski seja um símbolo de resistência, que os
comandantes militares transformem estratégias de guerra em vitórias, mas quem
define os rumos gerais do conflito são os EUA com os países europeus no papel
de atores coadjuvantes. Não por acaso, no dia 4 de dezembro, a OTAN fez ouvidos
moucos diante da intenção de o governo ucraniano reconstruir imediatamente a
indústria bélica do país, destruída pelos bombardeios na primeira semana de
guerra. Para Kiev, produzir parte do armamento garantiria certa independência do
seu exército nas ações militares e abriria a possibilidade de desferir ataques em
território russo. A OTAN ouviu, registrou a demanda e a fez escorregar
rapidamente no plano inclinado da sua indiferença.
Uma situação bem mais
complexa é a que cerca a central nuclear de Zaporizhia em volta da qual
ocorreram vários ataques com mísseis de cuja origem um exército culpa o outro. É
difícil acreditar que sejam os russos a promoverem os bombardeios, à medida que
seus soldados estão ocupando as instalações e um acidente nuclear poderia ter
efeitos devastadores na Crimeia e no sudeste ucraniano ocupado por suas tropas.
Para Kiev, acusar a
Rússia pelos ataques significa cobrir Moscou com o véu da irresponsabilidade e
manter vivas as preocupações da Europa inteira com a guerra fazendo alavanca na
ameaça de um acidente nuclear ainda mais devastador em relação ao que seus
países conheceram, em 1986, com a explosão do reator de Chernobyl.
As reações de Rússia e
Ucrânia mostram que o controle da maior central nuclear em operação no
território europeu é parte dos planos de guerra dos dois exércitos. Para
entender as possibilidades e as irresponsabilidades de ambos os lados, precisamos
focar alguns elementos que não costumam ser citados nas discussões sobre o
futuro destas instalações.
Em primeiro lugar, é
necessário dizer que um acidente nuclear em Zaporizhia não depende somente de os
reatores serem atingidos por mísseis ou por disparos de artilharia. A central
foi ocupada pelas tropas de Moscou no início da invasão e, desde então, os
soldados vêm obrigando os funcionários ucranianos a manterem as operações na
ponta do fuzil e sob a supervisão de engenheiros russos que não estão
familiarizados com a tecnologia usada em Zaporizhia.
Se isso não bastasse,
Kiev não fornece as peças para os serviços de manutenção e, por sua vez, Moscou
não pode produzir em tempo hábil o que precisa ser reposto, à medida que os
reatores ucranianos utilizam sistemas mais avançados em relação aos que são
adotados nas centrais nucleares russas. A falta de manutenção e as pressões
sobre os funcionários, que são proibidos de deixar as instalações, estão
colocando Zaporizhia à beira do desastre.
Em segundo lugar, precisamos
lembrar que, no início das hostilidades, Kiev mandou derrubar as torres de
transmissão que ligavam a central nuclear à Crimeia o que forçou o desligamento
de alguns reatores. Os sistemas que se mantinham operantes passaram a fornecer
energia apenas para a Ucrânia, incluindo, obviamente, os territórios que, em
seguida seriam ocupados pelos russos.
Em junho, quando o
sudeste ucraniano já estava sendo controlado por Moscou, os técnicos russos
tentaram desconectar Zaporizhia da rede ucraniana para dirigir a energia
produzida aos territórios ocupados pela Rússia e à Crimeia. Fazer isso não é
impossível, mas é uma manobra muito arriscada nas condições atuais. De fato, quando
se interrompe o abastecimento para fazer a conexão, é necessário desligar e
esfriar o reator. Na retomada da geração de eletricidade, é fundamental que a
rede de abastecimento esteja pronta para transmitir a carga produzida, do
contrário, é necessário efetuar uma parada rápida do sistema. Esta operação que,
por si só, é bastante complexa torna-se desaconselhável devido à falta de uma
manutenção adequada e à sobrecarga dos trabalhadores que operam a usina.
Qualquer erro ou fadiga de material dos componentes-chave da usina poderiam
provocar um acidente com fugas de material radioativo.
Do lado russo, impedir
que a central envie energia aos territórios ucranianos é parte da estratégia
que visa deixar a população do país no frio e no escuro durante o inverno a fim
de criar uma situação que force o governo a uma negociação favorável a Moscou.
Para os ucranianos, trata-se de fazer o mesmo com os moradores que residem nas
áreas ocupadas pelas tropas russas e, ao recuperar o controle da central, abrir
a possibilidade de aliviar os sofrimentos da população do país cuja estrutura
de abastecimento de água e energia está sendo destruída pelos bombardeios.
Diante da gravidade dos
riscos, e para o bem de todos, é necessário e urgente que os dois lados cheguem
a um acordo capaz de garantir que Zaporizhia funcione com um patamar de
segurança aceitável. Contudo, isso implica em fazer concessões e assumir
compromissos que, nos dois lados do conflito, podem ser interpretados como uma rendição
aos interesses do inimigo. Vejamos por que.
Do lado ucraniano, um
acordo favorável aos russos provaria que não vale a pena a população continuar
resistindo nas condições extremas de um inverno sem calefação. Na Rússia, ceder
espaço a Kiev no controle da central nuclear agravaria as tensões entre as
forças que apoiam o governo de Vladimir Putin e veem a guerra como o meio para
destruir um projeto de país que se opõe a tudo o que é russo.
Entre essas forças, a
ultradireita russa (integrada pelos fundamentalistas ortodoxos, por vários
setores do nacionalismo radical, pelas chamadas "milícias patrióticas”, pelos
blogueiros militares e veteranos que atuaram com os separatistas do sudeste da
Ucrânia) não aceita concessões que prejudiquem o andamento do conflito e
pressiona o Kremlin a uma guerra total com o uso de armas nucleares. Na
avaliação deles, se a Ucrânia ganhar a guerra, a Rússia se fragmentará numa
miríade de microestados e o povo russo será aniquilado, daí a necessidade de criar
um cenário de terra arrasada, custe o que custar.
Neste contexto, qualquer
recuo de Putin seria interpretado como uma traição e o próprio Putin sabe que a
sua posição se fragilizou depois que, graças aos equipamentos de melhor
qualidade fornecidos pelos EUA e pelo Reino Unido, ao treinamento das tropas ucranianas
nas bases europeias da OTAN e aos erros dos contingentes russos no campo de
batalha, o exército de kiev recuperou parte dos territórios ocupados.
De um lado, o
Presidente da Rússia não quer que o radicalismo desses grupos prejudique sua
posição de poder e sirva de justificativa a OTAN para oferecer à Ucrânia armamentos
ainda mais avançados e com alcance suficiente para atingir a retaguarda das
tropas que atuam no campo de batalha. De outro, busca secundar alguns de seus
desejos para mostrar que está decidido a afirmar a grandeza da Rússia e que a
guerra é uma resposta necessária às ameaças que a Ucrânia representa para o
país.
É neste contexto que
começamos a entender a razão de ser de algumas medidas aparentemente alheias à
gravidade de um momento conjuntural marcado por um cenário de guerra e de outras
que confirmam a disposição de ir às últimas consequências. Entre as primeiras, encontramos
a aprovação de uma lei que proíbe qualquer divulgação ou declaração de apoio ao
coletivo LGBTQIA+ e cujo objetivo declarado é de “defender a Rússia do avanço
do satanismo do Ocidente”. Aprovar esta lei a toque de caixa foi uma forma de
agradar a ultradireita vinculada à igreja ortodoxa que tem uma participação
considerável no bloco de forças que apoia o Kremlin.
Os demais setores
constataram que Putin leva a sério as recomendações de ir às últimas
consequências quando, no dia 26 de outubro, realizou o ensaio de um ataque
nuclear em massa seguido da suspensão unilateral da reunião com os EUA rumo a
um Tratado de Redução de Armas Estratégicas que incorpore os novos artefatos nucleares
produzidos pelas duas superpotências e do plebiscito que aprovou a anexação dos
territórios ucranianos ocupados pelo exército russo.
Ainda que a anexação
das áreas do sul e do leste da Ucrânia não conte com o reconhecimento
internacional, para Moscou, estas regiões já integram o território do país e, pela
legislação vigente, Putin pode usar o arsenal nuclear em resposta a qualquer
agressão lançada com o uso de armas convencionais que coloque em perigo a
existência da Rússia.2 Isso explica porque a OTAN está priorizando o
fornecimento de sistemas de interceptação aérea no lugar de mísseis capazes de
alcançar o território russo.
Agindo assim, os EUA
mostram que qualquer novo passo da guerra deve ser cuidadosamente calculado com
base na avaliação de até onde a Rússia está realmente disposta a chegar na
utilização de seus arsenais bélicos. A nosso ver, é nesse contexto que devem
ser lidos os ataques com drones que atingiram duas bases militares situadas em
território russo. Uma delas, a base Engels, fica em Saratov, a 730 km da
capital e abriga bombardeiros capazes de levar cargas nucleares. A segunda é na
cidade de Ryazan, a apenas 185 km de Moscou. Pelas características dos alvos, é
difícil acreditar que estes ataques ucranianos tenham sido realizados sem o
conhecimento da OTAN.
A resposta verbal de
Putin veio no dia 7 de dezembro em um discurso no qual afirma que “a ameaça de
guerra nuclear está aumentando e que seria um erro ocultá-la”. Na mesma ocasião,
o presidente russo disse também que, sob nenhuma circunstância, o seu país seria
o primeiro a lançar mão do arsenal nuclear para atacar outro país e que só o
usaria em caráter defensivo. Estas posições refletem a mesma dubiedade das
intervenções anteriores e reavivam as preocupações relativas às circunstâncias
em que Moscou poderia lançar mão de armas nucleares “táticas” nos campos de
batalha da Ucrânia.3
Nas relações com a
população, sabemos que os protestos contra a guerra aumentaram e que a
repressão policial prendeu centenas de pessoas. A crescente dificuldade de
mostrar aos russos a necessidade da guerra se revela na fuga dos reservistas
para os países vizinhos e no endurecimento das penas, aprovado pelo Parlamento
em 20 de setembro, para os soldados que se rendem, abandonam as suas posições
ou descumprem ordens superiores e também para os empresários que se recusam a
assinar contratos com as forças armadas ou não cumprem o acordado.
Os governos de Ucrânia
e Rússia estão diante de uma situação bastante complexa. Ambos não querem dar
sinais de fraqueza, ainda que a situação interna esteja se deteriorando. A
chegada do inverno é um trunfo importante na possibilidade de Putin evitar os
desgastes que os EUA desejam impor como condição para começar a negociar um
acordo de paz. O Presidente da Rússia quer abrir um canal de negociação, mas, sentar
à mesa após a retirada dos seus soldados de uma parte dos territórios ocupados,
implica em fazer concessões que não deseja.
Por outro lado, Kiev
aposta na continuidade da ajuda militar e humanitária dos países da OTAN para
expulsar os russos do seu território. Isso significa que, no momento, não
existem condições mínimas para pôr fim a uma guerra que deve invadir grande
parte de 2023 e, como veremos no próximo capítulo, agravar as tensões entre os
países da Europa.4
2. Uma União Européia na base do farinha pouca, meu pirão primeiro.
Quando um barco enfrenta uma tempestade, seus tripulantes
podem optar entre somar esforços de acordo com as capacidades e as funções de
cada um ou, simplesmente, se trancar na própria cabine até a bonança chegar. Se
na primeira hipótese o sacrifício coletivo pode implicar em alguma perda
individual, na segunda, cuidar dos interesses de cada um faz o barco naufragar.
A contradição entre ser, ao mesmo tempo, parceiros e
competidores faz com que os 27 países da União Europeia tratem de usar os
fóruns comuns para diminuir os atritos imediatos enquanto arrumam a própria
casa para aumentar as vantagens competitivas no campo da economia e o peso de suas
propostas nos fóruns políticos do bloco.
No momento em que escrevemos, a Rússia continua
entregando apenas 20% do volume de gás que enviava à Europa antes do início das
hostilidades. Sem o abastecimento de Moscou, Bruxelas se viu obrigada a buscar
saídas capazes de conter o impacto da falta deste recurso na economia do bloco.
Propor que os países membros se comprometam a poupar 15% do volume de gás em
relação ao que era consumido antes da guerra; estabelecer um teto para o preço
da energia; e construir um sistema que permita às nações com dificuldades de
abastecimento receber o gás que sobra nos reservatórios de outras são medidas que
a gravidade do momento, apresenta como lógicas e factíveis.
Contudo, quando Bruxelas lançou estas ideias, bastaram
algumas horas para que os governos do bloco levantassem inúmeras objeções. De
um lado, alguns pleiteavam exceções com base no grau de dependência do gás
siberiano (por exemplo, enquanto a
Alemanha precisava da Rússia para satisfazer 55% de suas necessidades, na
Espanha este gás representava apenas 24% do total consumido); de outro, os
países que contavam com terminais marítimos para o recebimento de GLP e GNL
apresentavam inúmeros motivos para fazer com que a ideia da integração entre
países com sobras e nações onde o produto estava em falta acabasse na gaveta do
esquecimento.
A orientar a festa de
críticas e objeções, estava a ideia pela qual entregar o excedente não
utilizado do produto a outros países poderia deixar sem reservas confortáveis quem
realizava o envio, privando-o também da possibilidade de oferecer energia a
preços menores à sua população, de conter a alta da inflação e de melhorar a
competitividade das mercadorias que produz. A vantagem de ter esse tipo de “sobra”
era, e continua sendo, ainda mais importante em função de dois fatores igualmente
preocupantes: a seca que fez cair o nível dos lagos das hidrelétricas em várias
regiões da UE e a desativação progressiva de parte das centrais nucleares em
operação no interior do bloco, fatores que agravaram a escassez e elevaram a
necessidade de utilizar as usinas térmicas, movidas a gás.
A
concretização do “farinha pouca, meu pirão primeiro” ocorreu de várias formas.
Aqui, vamos resgatar o caso da Hungria e da Alemanha que representam,
respectivamente, a economia de um país pobre para os padrões europeus e o maior
PIB do bloco.
No dia 21 de julho, o Ministro
das Relações Exteriores da Hungria visitou inesperadamente Moscou para pedir um
aumento de 700 milhões de metros cúbicos de gás no fornecimento destinado ao
país. Contrário às sanções impostas à Rússia e um dos principais pontos de
apoio que Moscou tem na UE, o governo de Viktor Orban quer garantir todo o gás
de que o país precisa para enfrentar os rigores do inverno e a desaceleração da
economia húngara que sofreu o baque da alta dos preços internacionais do
produto.
Ao fazer isso, o líder
da ultradireita deseja ter melhores condições para sustentar a sua popularidade
e, ao contrariar as diretrizes de Bruxelas, mostra aos governos do bloco que se
orientam por ideologias semelhantes a necessidade de ir além das queixas verbais
junto às Comissões Europeias. Ou seja, no lugar de ficar resmungando diante dos
sacrifícios impostos pelas retaliações da Rússia aos países que aplicaram as
sanções econômicas, a ultradireita húngara mostra que está na hora de apelar à
preservação dos interesses nacionais para romper as amarras com as quais
Bruxelas freia as políticas governamentais dos partidos europeus alinhados na
mesma orientação ideológica.
O
caso da Alemanha é um pouco mais complexo, à medida que Olaf Sholz antecipou
para o país o que nega veementemente nas instituições comunitárias e tece
relações com a China que deixam a UE bastante receosa. No dia 2 de novembro, o
governo alemão aprovou um pacote de 200 bilhões de euros para subsidiar a conta
de energia e gás de residências, empresas e instituições públicas. Este
benefício só foi possível à medida que o país tem uma das menores relações dívida/PIB
do bloco (67,2%, em junho de 2022) e um déficit público de apenas 1,9% do PIB (1,1
pontos percentuais abaixo do limite de 3%, estabelecido pelo acordo que criou o
euro).
Com esta medida, Sholz trata
de minorar o impacto dos custos da energia no ritmo de crescimento da economia
(que deve crescer apenas 1,5% este ano e amargar um recuo de 0,3% em 2023) e de
elevar a competitividade da produção nacional, sem criar uma crise financeira.
Trata-se de uma equação que os demais países ou não podem viabilizar em função
da situação de suas contas públicas e do nível de endividamento, ou, ainda que
consigam fazer algo semelhante, dificilmente oferecerão benefícios da mesma
amplitude aos empresários e à população em geral.
Quanto mais forte a
economia alemã conseguir sair do momento crítico causado pela guerra na Ucrânia,
mais ampliará a sua fatia de mercado nas trocas comerciais entre os países da
UE e mais terá condições de viabilizar seus interesses nas decisões institucionais
do bloco. Que a intenção de Berlim passa longe de favorecer o “bem comum” dos
europeus fica ainda mais evidente quando pensamos que o próprio Sholz rechaça a
ideia de Bruxelas colocar um limite máximo ao preço da energia (petróleo, gás,
carvão, energia elétrica) para todos os 27 países da União Europeia à medida
que esse teto reduziria fortemente a vantagem competitiva que a Alemanha quer
só para si. E isso também não é por acaso.
De fato, na segunda
metade de novembro, o país inaugurou o primeiro dos seis terminais onde será
processado o Gás Natural Liquefeito procedente do Oriente Médio. Instalada no
porto de Wilhelmshaven, no Mar do Norte, esta estrutura garantirá a
independência do gás russo e colocará a Alemanha numa situação privilegiada em
relação aos demais “parceiros” europeus.
A relação de Berlim com
a China é mais um âmbito em que Sholz faz o país andar na contramão dos
entendimentos acordados. No dia 29 de outubro, o chanceler alemão levantou um
vespeiro de críticas e acusações por parte dos membros da UE ao vender para a
China a participação de 24,9% no controle do porto de Hamburgo, o terceiro
maior terminal europeu em movimentação de volumes de carga. Ninguém estranharia
esta medida em 2019, quando o gigante asiático era considerado um "sócio
estratégico" da UE, mas não agora em que a OTAN, com a concordância da UE,
definiu a China como “adversário sistêmico” da Aliança Atlântica e colocou na mesa
a urgência de os países do bloco mudarem sua postura em relação ao gigante
asiático e de reduzirem a dependência dos manufaturados chineses em suas redes
de suprimentos.
Mas uma coisa é o
discurso, outra, bem diferente, são as ações que transformam as palavras em
fatos. Sholz sabe que colocar em prática a moção da OTAN faria a Alemanha
correr o risco de perder mais de um milhão de postos de trabalho e encolheria os
lucros das empresas que dependem de uma boa relação com a China. A Daimler, por
exemplo, vende mais de um terço dos seus veículos para o gigante asiático e a
BASF espera investir em seus territórios mais 9,9 bilhões de euros até 2030. Sair
da parceria para o enfrentamento faria a Alemanha levar a pior.
Do mesmo modo, aumentar
os atritos com Pequim geraria dificuldades consideráveis na atual cadeia de
suprimentos que abastece as empresas alemãs. Foi isso que a posição da
Associação da Indústria Alemã de Veículos Automotores deixou a entender quando,
no mesmo período, sustentou a postura de Sholz ao reconhecer a importância
fundamental dos componentes produzidos na China para a competitividade das montadoras
que representa.
A atitude de Berlim
apenas escancara a distância que existe entre a realidade e as posições politicamente
corretas com as quais a UE se apresenta ao mundo. O boicote às importações de
produtos agrícolas oriundos de territórios desmatados é mais uma amostra de como
o bloco usa esse jogo de luzes e sombras a seu favor. Vejamos como isso ocorre.
No dia 6 de dezembro deste
ano, o Parlamento Europeu aprovou uma norma pela qual todos os itens provenientes
de florestas desmatadas legal ou ilegalmente a partir de 1 de janeiro de 2021,
bem como os produtos nos quais foram utilizados como insumos, terão sua
importação vetada nos países do bloco. Saudada pelos ambientalistas como um
avanço na luta pela preservação das florestas, a medida deixa perplexos todos
os que não se deixam ofuscar pelas luzes das aparências. Vejamos por que.
Em primeiro lugar,
salta aos olhos que a inexistência de fontes alternativas de produtos
agropecuários faz a União Europeia limitar seu boicote apenas às commodities
produzidas em áreas desmatadas a partir do início de 2021. Quando pensamos que,
aqui no Brasil, o desmatamento deu um salto nos dois primeiros anos do governo
Bolsonaro, é como se Bruxelas perdoasse implicitamente as queimadas que os próprios
países europeus se esmeraram em denunciar em 2019 e 2020. A lógica do “antes
tarde do que nunca” ajuda bem pouco quando as mudanças climáticas oriundas do
aquecimento global mostram-se bem mais graves do que era esperado e inúmeras
áreas desmatadas ilegalmente foram seguida e legalmente incorporadas aos
latifúndios existentes.
Se isso não bastasse,
pelo texto aprovado, somente 24,0% do cerrado brasileiro constituído por zonas
de floresta seriam “protegidos” da ação dos fazendeiros localizados na região
do MATOPIBA (uma área formada por partes dos estados do Maranhão, Tocantins,
Piauí e Bahia) onde as plantações de soja ocuparam 45,0% da área desmatada.
A devastação deste
bioma já atingiu níveis alarmantes e a irrigação das culturas existentes
responde pela maior parte da redução de 15,4% da vasão de água dos principais
rios da região entre 1985 e 2022. Esta redução pode chegar a 36,0% até 2050,
caso as mudanças climáticas não agravem a diminuição das precipitações e o
ritmo de irrigação das culturas de soja não sofra alterações que aumentam o
atual nível de utilização da água (1,8
bilhões de litros de água por dia, quantidade suficiente para abastecer 11,8
milhões de pessoas).5 Perder um terço da vazão de água dos rios coloca a
população da região numa situação de escassez permanente, mas os europeus não veem
isso como um problema suficientemente grave.
Além da facilidade de
driblar o boicote ao utilizar os produtos oriundos das áreas desmatadas nos
dois últimos anos para o consumo interno e encaminhar para a exportação os que
não se enquadram nestas limitações, causa estranheza o fato de as medidas
aprovadas pela União Europeia não se aplicarem, por exemplo, aos países
africanos, onde o agronegócio avançou violentamente sobre as áreas de savana e de
floresta. Mas, aqui, a explicação é ainda mais simples.
De fato, as culturas
agrícolas em terras africanas que se destinam aos mercados europeus se sustentam
em capitais e redes comerciais que envolvem empresas do velho continente. A
destruição do meio-ambiente e a expropriação das terras antes utilizadas na
agricultura familiar são justificadas com base na necessidade de os países
africanos produzirem o que interessa à Europa para terem recursos com os quais
importam da própria Europa os alimentos que a população do velho continente não
consome e pagam os juros das dívidas contraídas para construir a infraestrutura
necessária à exportação. Desta forma, proibir a compra de produtos africanos
oriundos de áreas desmatadas levaria, automática e imediatamente, a encolher os
lucros que beneficiam países e empreendimentos europeus, no que se configura
como um verdadeiro crime para a acumulação de capitais.
Último, mas não menos
importante, é necessário reparar que a proibição não se estende à importação de
commodities agrícolas cuja produção continua se baseando na violação
sistemática dos direitos humanos. De acordo com um recente informe da Global
Witness, algumas empresas europeias voltadas à produção de carne bovina e de aves
compram grãos de fazendas sistematicamente denunciadas por ampliarem suas áreas
de cultivo com a expulsão dos povos originários, por intoxicar as populações
das cidades próximas com os venenos utilizados nas lavouras, por criminalizar e
reprimir movimentos e pessoas que denunciam estas práticas.
É o caso, por exemplo, de
muitas fazendas de soja no Paraguai, país onde o desmatamento em grande escala
ocorreu entre 1973 e 2000 e que, portanto, está fora das restrições aprovadas
pelo Parlamento Europeu. Ao rastrear a cadeia produtiva desta commodity, a
Global Witness descobriu que, além de fazerem vista grossa em relação às
sistemáticas violações dos direitos humanos que ocorrem no país, as empresas do
velho continente compram cerca de 40% da soja através da Cargil e da ADM, que,
por sua vez, adquirem o produto da Copranar, cujos celeiros recebem a soja
oriunda dos plantios situados em territórios de onde foram expulsas várias
comunidades indígenas e naqueles em que se repetem as pulverizações criminosas
e as ameaças aos movimentos sociais. A soja alimentada pelas violações dos
direitos humanos é mesclada ao produto que tem origem em fazendas certificadas
e exportado para o Brasil onde a intermediação de duas grandes empresas do
setor impossibilita a identificação de sua origem e, de consequência, a
aplicação de um eventual boicote às importações.
Por muito que
comemoremos cada grama de preservação do meio-ambiente, é impossível não ver as
toneladas de devastação de povos, terras e biomas que contam com o silêncio das
instituições europeias que, como no caso da África, usam questões humanitárias
para garantir os lucros empresariais.
No horizonte do seu
futuro imediato, os países da UE se
deparam com mais um desafio trazido pela guerra. A chegada do inverno no
hemisfério norte aumenta as preocupações do bloco com a estratégia de Putin de
deixar os ucranianos no frio e no escuro. E isso não é para menos. Quanto maior
a destruição da infraestrutura, maiores as possibilidades de uma nova onda de
refugiados se dirigir às fronteiras da Ucrânia com os países da União Europeia.
O problema é que estas nações estão bem próximas de um quadro de
"saturação" dos programas de alojamento, transporte e demais cuidados
a eles destinados e temem que um novo movimento migratório de sérias proporções
acirre as críticas internas à política de acolhimento dos que fogem do
conflito.
Para termos uma ideia
dos custos destes programas, basta pensar que, até o final de 2022, o governo
da Polônia terá gastado cerca de 8 bilhões e 300 milhões de euros para acolher
e socorrer os refugiados ucranianos. Cobrar parte dos custos de alojamento dos
que permanecem no país por mais de 120 dias é um sinal de que as possibilidades
de Varsóvia manter as condições atuais dos programas se aproximam do fim. Por
outro lado, como fazer para arcar com estes custos sem ter um trabalho e com os
parcos recursos reunidos antes de deixar a Ucrânia?
Numa realidade em que a
própria população autóctone se depara com a corrosão do poder de compra dos
salários, as ajudas aos refugiados de guerra começam a alimentar discursos de
ódio contra a imigração, ora pelo mau uso dos serviços públicos locais, ora
pelas dificuldades de acesso que a sobrecarga de atendimentos traz aos cidadãos
comuns que se queixam de pagarem impostos e não terem o que merecem.
Se o bombardeio da
infraestrutura energética busca matar de frio a população ucraniana, a
ampliação do fluxo migratório rumo à União Européia que esta realidade pode
originar é a bomba relógio que Moscou coloca no colo dos países do bloco para
elevar os atritos internos e minar o consenso em relação à aplicação das
sanções contra a Rússia. Por isso, a Europa corre contra o tempo para fornecer
roupas térmicas e geradores de energia aos ucranianos. Trata-se de fazer o
impossível para evitar que eles saiam do país.
O fato de os interesses
de cada membro se sobreporem às escolhas que elevariam a uma maior coesão do
bloco faz com que ganhe força a percepção pela qual, sem a coordenação da OTAN, a resposta da UE à ocupação russa da Ucrânia
seria desastrosa. Esta é apenas mais uma constatação que faz o “farinha pouca, meu
pirão primeiro” levar a perguntas angustiantes: até que ponto, uma vez
encerrada a guerra na Ucrânia, será possível falar de parceria entre os países
membros? Em que medida os governos de extrema direita se aproveitarão disso
para infringir as regras atuais a fim de emplacar suas pautas? Os passos que estão
sendo dados não projetam um futuro animador.
Da Europa, passamos para a China onde sobram problemas e faltam
perspectivas de crescimento à altura das necessidades.
3. China: um gigante na
loja de cristais.
Se as relações entre Pequim e Washington se deterioraram durante o
mandato de Donald Trump, a aliança militar e econômica da China com a Rússia elevou
ainda mais os atritos do país com os EUA. No início de agosto deste ano, a visita da Presidente
da Câmara dos Deputados estadunidense, Nancy Pelosi, a Taiwan enfureceu a China
que considerou o evento uma provocação.
Pequim suspendeu
imediatamente as reuniões militares de alto nível com os EUA e congelou a
cooperação bilateral em questões como proteção do meio-ambiente, tráfico de
drogas, crimes internacionais e repatriação de imigrantes ilegais. Em relação a
Taiwan, o gigante asiático boicotou as compras de vários produtos e realizou
exercitações militares com munições de verdade no estreito que separa a China
continental da ilha que Pequim reivindica como parte inalienável do seu território
e cuja independência Biden prometeu defender militarmente em caso de agressão.
Em ambos os lados, nem tudo saiu como esperado. O clima belicoso criado pela visita da Pelosi,
garantida pela presença do porta-aviões nuclear Ronald Reagan nas águas
internacionais próximas de Taiwan, acabou prejudicando o desempenho eleitoral
do Partido Democrata Progressista que apoia a independência da ilha em relação
à China e ao qual pertence a presidente Tsai Ing-Wen. Nas eleições para os governos
municipais realizadas no final de novembro, os representantes do Partido
Kuomingtang (defensores da posição de Pequim) impuseram uma derrota acachapante
que forçou Tsai Ing-Wen a renunciar à presidência do partido. Se a visita de
Nancy Pelosi buscava criar problemas ao gigante asiático, podemos dizer
claramente que o tiro saiu pela culatra, à medida que Pequim tem agora melhores
condições de levar adiante uma política destinada a esvaziar a independência de
Taiwan.
Do lado chinês, as
exercitações militares elevaram as tensões com o Japão que viu cair em suas
águas territoriais cinco mísseis lançados por Pequim. Tóquio apelou a este fato
e à insegurança gerada pela Coreia do Norte para anunciar que dobrará seus
gastos militares nos próximos 5 anos. Até o final de 2027, serão 314 bilhões de
dólares a mais para equipar suas forças armadas com mísseis estadunidenses de
longo alcance para atacar as bases de lançamento inimigas e com recursos
tecnológicos que elevam a capacidade de enfrentar a uma guerra cibernética.
No documento divulgado
em 17 de dezembro deste ano, Tóquio afirma que a China é o maior desafio
estratégico para assegurar a paz e a estabilidade do Japão, na que se configura
como uma posição diametralmente oposta à que constava do documento de segurança
nacional aprovado em 2013, quando China e Rússia eram considerados parceiros
estratégicos do país. Com estas medidas, os militares japoneses não se limitam
a ampliar progressivamente a distância entre um exército equipado com poder
ofensivo e o pacifismo da sua Constituição, como assumem ativamente a tarefa de
serem uma espécie de ponta de lança na estratégia estadunidense de conter a
evolução e o crescimento do poder bélico da China para manter a posição
dominante dos EUA na região do Pacífico.
Em termos econômicos, a
intenção de Pequim de retaliar Taiwan com o bloqueio dos suprimentos de
matéria-prima para a produção de semicondutores ficou só na intenção. De fato, Taiwan
produz 90% dos processadores de última geração e 64% dos chips utilizados pela
indústria eletrônica do mundo inteiro, sendo que grande parte deles é utilizada
pelas próprias indústrias da China. Ou seja, boicotar o fornecimento das terras
raras para a produção destes semicondutores seria sinônimo de inviabilizar a
parte da produção industrial chinesa que depende deles, direta ou indiretamente.
Contudo, no dia 8 de outubro,
Washington adotou medidas que tendem a causar um prejuízo ainda maior em
relação ao que viria com o boicote chinês a Taiwan. Neste dia, Biden assinou um
pacote de medidas que bloqueiam a exportação de processadores de alto
desempenho utilizados nos supercomputadores chineses e sancionam empresas e
países que vendam estes insumos para a China. Ao restringir o acesso à
tecnologia sensível, os EUA tratam de assentar um duro golpe ao fluxo de
semicondutores para a indústria armamentista da Rússia, buscam retardar os
avanços tecnológicos de Pequim, mantêm o primeiro lugar como fornecedor mundial
destes recursos e, de consequência, elevam as possibilidades de controle que o
uso de sua tecnologia oferece.
Vale lembrar que o
plano de investimentos na produção estadunidense de semicondutores é da ordem
de 200 bi de dólares nos próximos 5 anos e visa fortalecer a competitividade
dos fabricantes sediados em território estadunidense. Trata-se de produzir
localmente uma parte do que hoje é importado da China e de recuperar fatias do
mercado internacional que foram abocanhadas pelo gigante asiático. Haja vista
que, segundo a Associação Nacional da Indústria de Semicondutores dos EUA, nas
três últimas décadas, a participação do país na fabricação mundial de chips caiu
de 37% para 12%, num cenário de forte elevação da demanda mundial.
Um segundo golpe baixo contra
a produção chinesa veio no dia 25 de novembro, quando a Comissão Federal do
setor de Comunicação dos EUA vetou a venda de produtos fabricados por Huawei,
ZTE, Hytera, Hikvision e Dahva no território nacional por colocarem em risco a
segurança do país. A proibição atinge um amplo leque de produtos que vão de
equipamentos para as estações de transmissão de celular às câmaras de
vigilância e roteadores de wifi de uso doméstico.
Até a publicação desta
norma, Washington havia imposto restrições ao acesso da Huawei a
microprocessadores de fabricação estadunidense e havia limitado a compra de
seus equipamentos por parte do setor público. Agora o veto atinge amplamente a
utilização de qualquer produto destes fabricantes em instalações públicas e
privadas.
O encolhimento da
demanda dos manufaturados chineses não guarda apenas uma relação direta com as
exportações do país que, além das sanções estadunidenses, sofreram o impacto da
queda do poder de compra dos assalariados no mundo inteiro, mas também do
mercado interno, fortemente submetido aos efeitos negativos de cinco fatores:
1.
A
redução do consumo das famílias em função dos surtos de Covid que levou à
desativação parcial ou total de algumas empresas, com reflexos negativos nas
respectivas cadeias produtivas.
2.
A
intensa onda de calor e a seca no sudoeste e na região central do país que diminuíram
o volume de água nos lagos das centrais hidrelétricas e forçaram grandes
empresas a fecharem as portas durante longos períodos em função dos problemas
na geração de energia.
3.
A fraca atividade imobiliária, que representa um
terço do PIB do país, e as incertezas relativas à entrega dos imóveis já
contratados levou um número significativo de famílias a suspenderem o pagamento
das prestações devidas, agravando ainda mais a situação financeira das
construtoras. De acordo com as estimativas de alguns analistas de mercado, o
governo chinês deveria injetar 444 bilhões de dólares a fundo perdido só para terminar
as obras em andamento, mas este volume de recursos elevaria ainda mais o endividamento
total do país que, em 2021, ultrapassava 280% do PIB.
4.
O peso da dívida pública e privada é justamente o
quarto elemento que reduz o volume de recursos com os quais o Estado pode manter
o crescimento econômico num patamar condizente com a geração de empregos necessária
para cobrir a expansão anual da população economicamente ativa. De um lado, não
adianta Pequim oferecer crédito barato às empresas se estas não têm compradores
para as suas mercadorias. De outro, agravar ainda mais o endividamento para investir
em obras públicas elevaria a desconfiança do capital externo em relação à
capacidade futura do país de honrar seus compromissos.
5.
Ao contrário do que ocorre com a maioria das 20
maiores economias do mundo, a China não enfrenta problemas de inflação alta e a
sua taxa de juros é de 2,75% ao ano. Contudo, o gigante asiático está a caminho
de fechar 2022 com a maior desvalorização anual da sua moeda das três últimas
décadas. Entre 1 de janeiro e 30 de novembro de 2022, o renminbi perdeu 11,3%
do seu valor diante do dólar estadunidense. Some a esse fator o elevado
endividamento do país, a redução da demanda e os temores dos investidores
estrangeiros de perder dinheiro na troca de renminbi por dólares quando de suas
remessas ao exterior e entenderá por que muitas empresas adiaram seus
investimentos na China, decidiram levá-los a outros países ou, simplesmente,
retiraram os montantes colocados no país.
O
Safetbank do Japão, por exemplo, vendeu sua participação na Alibaba, a maior
empresa de comércio eletrônico da China, e repatriou o dinheiro assim obtido; o
Berkshire Hathaway, do megainvestidor estadunidense Warren Buffet, está
vendendo a sua participação na fabricante de veículos elétricos BYD; e a Tecent
teve mais de 7 bi de dólares em investimentos retirados só no segundo semestre
deste ano. No momento em que escrevemos, os dados divulgados pelo Ministério do
Comércio da China afirmam que, nos dez primeiros meses de 2022 entraram 168
bilhões e 340 milhões de dólares, 17,4% a mais em relação ao mesmo período de
2022. Porém, estranhamente, não há nenhuma alusão ao volume de capital
estrangeiro que saiu do país no mesmo período, o que impede de conhecer se o saldo
é negativo ou positivo.6
Os problemas que apresentamos explicam a redução das perspectivas de
crescimento do PIB da China, de 5% para 2,8% em 2022 e apontam para a elevação
do desemprego como um dos motores do descontentamento que levou milhares de
jovens a ocuparem as ruas em protestos que pediam a destituição de Xi-Jinping. Longe
de excluir a rejeição da política de contenção da pandemia como fonte de
descontentamento, a queda do ritmo de crescimento do PIB aponta claramente para
uma realidade em que a economia não consegue produzir quase metade dos cerca de
20 milhões de novos empregos que correspondem ao crescimento anual médio da
população economicamente ativa, sendo que os mais atingidos seriam os jovens entre
os 16 e os 24 anos de idade. É justamente nesta faixa em que a desocupação
chega a mais de 20,0% que encontramos o maior número de pessoas que
participaram dos protestos em vários pontos do país.
As primeiras respostas
de Pequim caminharam no sentido de elevar a taxa de vacinação dos idosos (vale
lembrar que a China privilegiou a imunização das pessoas em idade de trabalho),
acabar com as restrições à circulação previstas nas regras dos lockdown,
prender os líderes das manifestações, sufocar com ingentes efetivos policiais a
possibilidade de elas ocorrerem nos locais combinados, rastrear celulares para
intimidar diretamente as pessoas que se relacionavam nas redes sociais para
organizar os atos.
O povo gostou de poder
circular livremente por bairros e cidades antes fechados em função dos casos de
Covid, lotou ruas e praças, esvaziou as prateleiras dos mercados e das
farmácias a fim de repor os estoques domésticos, fez a vida voltar a uma
normalidade que se aproximava da que reinava antes da pandemia. Com isso, a
Covid voltou com tudo.
Em pouco mais de duas
semanas, os hospitais da China se apressaram em aumentar o número das
enfermarias de triagem para dar conta do grande fluxo de paciente com suspeita
da doença; os laboratórios de análise ficaram sobrecarregados; os estoques de
testes caseiros se esgotaram em instantes; as ruas de muitas cidades voltaram a
ficar desertas; os serviços de entrega de alimentos em domicílio assistiram a
uma nova alta da demanda; e, em alguns hospitais, além das filas intermináveis
de pacientes, muitos infectados começaram o tratamento nos assentos dos seus
carros de passeio por falta de leitos. A possibilidade de o país amargar entre
um milhão e um milhão e meio de mortes por Covid está saindo das projeções
estatísticas que serviam de base ao fechamento dos centros urbanos para se
tornar realidade.
Ao que tudo indica, o
efeito benéfico da abertura das cidades na redução do descontentamento social
não só pode durar menos do que se esperava, como tem amplas condições de
provocar estragos bem maiores do que o fechamento havia gerado. Some o que
dissemos à redução da atividade
econômica mundial em 2023 e verá que as perspectivas de crescimento do PIB para
o próximo ano tendem a ser mais pessimistas em relação às de 2022.
Nesta conjuntura, qualquer passo em falso dos dirigentes de plantão fará
o mundo inteiro ouvir o barulho dos cristais se fragmentando na loja chamada China.
4. EUA: as preocupações
de Biden e a situação dos trabalhadores.
A leitura do que escrevemos até esse momento deve ter mostrado que as
preocupações dos EUA vão além da guerra na Ucrânia. Manter a hegemonia na
geopolítica mundial demanda uma grande capacidade de influenciar os
acontecimentos externos, de controlar os adversários mais perigosos, de chegar aos
lugares mais recônditos, mas também de esvaziar as tensões internas cujo
avolumar-se pode dificultar a vida dos governantes de plantão.
É nesta direção que interpretamos, por exemplo, a Estratégia para o
Pacífico que o governo Biden apresentou no dia 30 de setembro com a intenção de
frear a crescente influência da China nas
ilhas da região que, apesar de minúsculas, têm um elevado potencial estratégico.
O convencimento dos seus governantes a aderirem aos planos estadunidenses não
está alicerçado em discursos carregados de retórica, mas tão somente num
convite claro, simples e direto: “aqui está o dinheiro. Fiquem do nosso lado e
terão mais do que vocês precisam para investir e melhorar a sua aprovação
popular”.
Concretamente, Washington
prometeu centenas de milhões de dólares aos governos das ilhas do Pacífico na
forma de equipamentos de segurança, investimentos em turismo, pesca, energias
renováveis, novas tecnologias, transporte, recuperação econômica depois da
pandemia de Covid, desenvolvimento, sustentabilidade e treinamento de
segurança. Trata-se de uma grande variedade de intervenções a serem realizadas
por empresas estadunidenses cuja ação promete, de um lado, gerar lucros que
serão repatriados e, de outro, criar uma dependência capaz de transformar esses
pequenos pedaços de terra firme em quintal exclusivo dos EUA.
Mas, por que, de uma
hora para outra, a política externa estadunidense viu a necessidade de inundar
de dinheiro estas ilhas cujos nomes e localização sequer conseguimos lembrar? A resposta é simples, mas a sua compreensão demanda
um pouco de paciência. Vejamos.
Até 2016, as ilhas do
Pacífico eram aliadas diplomáticas de Taiwan e não tinham ligações formais com
Pequim. A partir daquele ano, o presidente chinês Xi Jinping começou a cortejar
os seus governos para que rompessem com Taipei e estreitassem relações com a
China continental. Longe de pensar no que suas economias podiam oferecer ao
gigante asiático, Pequim buscava cativar os governos destas ilhas cuja posição
geográfica permite controlar o fluxo de navios que percorrem as principais
rotas do Pacífico.
A partir do ano
passado, este namoro ganhou um motivo adicional: as ilhas em questão também se
encontram na área de influência da aliança militar entre Austrália, Reino Unido
e EUA, conhecida como plano AUKUS. Para termos uma ideia do que está em jogo, basta
pensar que, em abril deste ano, Pequim assinou um acordo de colaboração com o
governo das Ilhas Salomon no valor de 687.000 dólares, uma mixaria para a
China, mas um verdadeiro rio de dinheiro quando levamos em consideração o
orçamento e a capacidade de investimento local.
No acordo, constam
cláusulas que definem as relações tanto em temas como o comércio bilateral, a
pesca e os investimentos em infraestrutura, quanto ao envio de forças de
segurança chinesas, caso o governo local solicite a intervenção de Pequim para
manter a ordem interna, proteger a vida da população e a propriedade privada.
Em troca, a marinha de
guerra chinesa pode entrar nas águas territoriais das Ilhas Salomon para efetuar
reposicionamentos logísticos de suas embarcações de guerra, o que permite a
Pequim manter uma base militar permanente que funciona como um espinho na carne
do plano AUKUS. Esta realidade levou os EUA a aumentarem os investimentos nas ilhas
da região a fim de recuperar o terreno perdido pela política chinesa. O que
parece insignificante em termos de tamanho e valores guarda em si um potencial
estratégico que EUA, Austrália e Reino Unido não podem desprezar.
Na
política interna, o muro de contenção ao avanço do Partido Republicano nas
eleições de novembro não foi construído apenas com discursos em defesa dos
direitos que estavam sendo ameaçados (como é o caso do aborto, conforme foi
veiculado pela mídia), mas, sobretudo, com vigas de concreto cuidadosamente
assentadas ao longo do segundo semestre deste ano. Em meados de agosto, por
exemplo, Biden conseguiu aprovar um pacote de investimentos ambientais de 370
bilhões de dólares em gastos e incentivos fiscais ao longo dos próximos dez
anos a fim de reduzir em 40,0% as emissões de gases de efeito estufa até 2030. O dinheiro vai estimular
vários setores da indústria estadunidense, ajudando a sustentar a geração interna
de emprego e renda.
Além
disso, não podemos esquecer que, a partir de 2026, as mudanças no Medicare, o
programa de saúde que beneficia cerca de 50 milhões de idosos acima dos 65
anos, vão limitar a 2.000 dólares anuais os desembolsos com medicamentos das
pessoas desta faixa etária, sendo que o restante da conta será pago pelo Estado.
Outros
45 milhões de estadunidenses que tem uma renda anual de até 125.000 dólares e
tomaram dinheiro emprestado para custear os próprios estudos, terão suas
dívidas reduzidas entre 10.000 e 20.000 dólares a depender de quanto ganham e
dos valores devidos. E, para agradar as famílias que recebem até 400.000
dólares anuais, a Secretária do Tesouro, Janet Yellen, se comprometeu a não
aumentar a fiscalização dos rendimentos. Ou seja, de um jeito ou de outro,
Biden ofereceu vários agrados que foram saboreados, direta ou indiretamente,
por quase metade da população do país.
Em
relação à defesa do direito à sindicalização presente em vários discursos do
presidente dos EUA, é necessário levar em consideração alguns elementos que
permitem entender até onde chega a possibilidade de traduzir as palavras em
fatos. Em primeiro lugar, é necessário lembrar que o número de filiados aos
sindicatos estadunidenses é baixo diante do tamanho do mercado de trabalho cuja
complexidade e precarização passa longe de permitir que as representações dos trabalhadores
tenham uma atuação comparável com a dos anos 50 e 60.
Ao defender o direito
de os trabalhadores se associarem, Biden aponta a sindicalização e a negociação
coletiva, disciplinada pelos sindicatos, como o caminho que o descontentamento
social deve seguir, sobretudo em empresas líderes de setor, como a Amazon e a
Starbucks, onde sobram problemas trabalhistas e faltam canais oficiais que
orientam a relação entre capital e trabalho. Neste caso, a ação sindical acabaria
disciplinando o descontentamento a fim de evitar tanto ações intempestivas dos
próprios trabalhadores, como formas de luta que as empresas teriam dificuldade
em controlar.
A
defesa da sindicalização é também uma forma de manter o apoio do setor mais “radical”
do Partido Democrático cujo líder é Bernie Sanders, conhecido pela capacidade
de suas ideias igualitárias dialogarem com as preocupações dos jovens e dos
trabalhadores. Manter o partido unido e garantir o apoio deste setor da
população à candidatura de Biden nas eleições de 2024 é um passo essencial para
que a disputa eleitoral seja capaz de enfrentar vitoriosamente os republicanos.
Motivos
eleitorais também estão na base das relações entre o sindicalismo e a conquista
da maioria dos votos em Michigan, Pensilvânia, e Wiscosin, onde muitas
indústrias encerraram suas atividades, deixando milhões de famílias operárias
sem perspectivas de futuro. Em 2016, o ex-presidente Donald Trump ganhou as
eleições nestes Estados prometendo trazer de volta os empregos perdidos, mas
nada aconteceu. Quatro anos depois, Biden desmascarou Trump e os democratas
voltaram a ter a maioria dos votos. Abraçar a defesa dos sindicatos com as
medidas que buscam fortalecer a geração do emprego industrial nos EUA mostra
que os democratas estão realmente do lado dos trabalhadores e continuam fazendo
o possível para merecer o apoio destas populações.
Contudo,
uma coisa é líquida e certa: um projeto de lei que facilite a sindicalização e ajude
a criar um número maior de sindicatos simplesmente não seria aprovado pelo
Parlamento. Por isso, apesar da ênfase dada a esse tema em discursos de
ocasião, o apoio de Biden não vai além do incentivo que suas palavras podem dar.
No
campo das lutas das classes, algumas posturas adotadas pelos assalariados em
2021 foram apontadas como importantes formas de resistência por alguns grupos
da nossa esquerda. A maior delas levou 39 milhões de pessoas a pedirem para
sair dos seus empregos, na que a mídia estadunidense apelidou de “A Grande Renúncia”,
para indicar que os trabalhadores estavam renunciando à renda que conseguiam
com suas ocupações apesar de, frequentemente, não terem nenhuma alternativa
imediata à vista. Por que isso aconteceu?
Em
primeiro lugar, precisamos lembrar que, nos primeiros doze meses da pandemia, 68%
dos mortos de Covid nos EUA eram trabalhadores do setor de serviços que estavam
diária e diretamente em contato com colegas e clientes. Acrescente a isso os
custos exorbitantes de uma internação hospitalar para quem não conta com um
plano de saúde, as dificuldades de locomoção, o fechamento de creches e de
escolas e, em muitos casos, a proibição de usar máscaras nos atendimentos
diários e verá que começa a ser mais fácil entender por que grande parte dos
que pediam demissão um ano depois do início da pandemia preferia passar por
algum aperto, no lugar de perder a vida pela Covid ou pelas dívidas com o
sistema de saúde.
As
razões para fazer isso aumentavam à medida que situações de desrespeito por
parte de empresários, chefes e clientes se somavam às angústias trazidas pela
pandemia e levavam a um aumento do adoecimento psíquico. Os diagnósticos de
burnout, por exemplo, aumentaram 40% em 2021 mostrando o tamanho do esgotamento
físico, mental e emocional a que as pessoas haviam chegado. O quadro se
completa quando analisamos a situação dos trabalhadores empregados nas tarefas
mais simples e mal remuneradas do setor de serviços. É o caso, por exemplo, dos
lavadores de pratos, dos garçons, dos motoristas de caminhão, dos enfermeiros
domiciliares, dos fritadores de hambúrguer, etc.
Em 2020, por exemplo,
os funcionários de lanchonetes contratados em tempo integral ganhavam, em
média, 2.000 dólares por mês (um salário abaixo da linha da pobreza para uma
família de 4 pessoas) para trabalhar em um ambiente com elevado grau de
exposição ao vírus. Bastaria isso para entendermos que qualquer vaga que
oferecesse uma condição levemente melhor faria qualquer trabalhador pedir a
conta sem pensar duas vezes.
As coisas são um pouco
piores para as pessoas que exercem estas funções em tempo parcial. Nenhuma delas
sabe ao certo quantas horas irá trabalhar durante a semana e, de consequência, se
o que ela vai ganhar no fim do mês será suficiente para dar conta da
sobrevivência pessoal e familiar. Agora, imagine como devia ser a situação deste
segmento da classe trabalhadora em plena pandemia em termos salariais e de
proteção à saúde.
A realidade que
descrevemos em grandes linhas se torna ainda mais compreensível quando
levantamos a rotatividade média de alguns segmentos do setor de serviços mais
afetados pelos pedidos de demissão voluntária. Durante o ano de 2021, a troca
de funcionários no comércio varejista chegou a 64,6%, quase onze pontos
percentuais acima dos 53,8% apurados em 2017, quando o PIB cresceu 2,9% em
relação ao ano anterior. No grupo hospedagem e alimentação, a rotatividade
chegou a 86,3% dos empregados, em 2021, cerca de catorze pontos percentuais
acima dos 72,4% registrados em 2017.
Como é possível
constatar por esses números, a porcentagem do trabalhador coletivo que, de um
ano para outro, muda de emprego no setor de serviços é sempre muito alta, quer
o país esteja enfrentando uma pandemia quer não. E isso não é por acaso. Além
da segurança e do sofrimento pessoal, as pessoas almejam estabilidade, o que é
difícil de conseguir em um emprego de baixo salário, típico destas atividades
econômicas. Do mesmo modo, a falta de progressão funcional é mais um fator que
estimula constantemente a buscar uma nova ocupação (fritador de hambúrguer não
tem plano de carreira...e nem todo mundo será gerente da lanchonete). Some a
isso a possibilidade de encontrar uma nova ocupação em um mercado de trabalho
que, em 2021, estava em franca recuperação em função do crescimento de 5,7% do
PIB, e verá que o comportamento dos quase 40 milhões de trabalhadores que
pediram demissão tem toda razão de ser.
Os reflexos da situação
que acabamos de descrever foram novamente constatados em janeiro deste ano pelo
Departamento do Trabalho dos EUA. Naquele momento, havia 10 milhões e 600 mil
ofertas de emprego para seis milhões e 900 mil desempregados, uma vaga e meia
para cada pessoa e, como mostramos em análises anteriores, apesar do pagamento
de alguns bônus ou do aumento do valor da hora trabalhada, bares, restaurantes,
hotéis e lojas ou não conseguiam encontrar pessoas que aceitassem as condições
oferecidas ou, simplesmente, viam seus funcionários pedirem demissão depois de
períodos extremamente curtos de permanência no emprego.
Entre
as ocupações nas quais é possível trabalhar em condições mais favoráveis, não
podemos esquecer o fato de que muitas pessoas que reuniam os requisitos
necessários para solicitar a aposentadoria encontraram na pandemia razões de sobra
para pedir a conta. Foi assim que, por exemplo, muitos funcionários de
aeroporto se demitiram e nunca mais voltaram aos seus postos. Este enorme vazio
no quadro de empregados se refletiu nas dificuldades que marcaram as atividades
do transporte aéreo quando as empresas aumentaram a oferta de voos.
Trocado
em miúdos, podemos dizer que, mais do que uma forma de resistência na luta
contra o capital, “A Grande Renúncia” era uma forma de proteger a própria saúde
física e mental que apenas elevou ainda mais uma rotatividade que, no setor de
serviços, sempre atingiu patamares extremamente elevados. Em função disso, as
afirmações pelas quais “A Grande Renúncia” seria a maior greve geral não
declarada da história dos EUA soam decididamente exageradas.
Até o
momento, as características dos assalariados estadunidenses estão jogando um
balde de água fria também em todos aqueles que esperavam reações contundentes
diante da redução do poder de compra dos salários e do aumento dos juros que
incidem sobre o pagamento das prestações da casa própria. Realidades e
divulgações que poderiam dar vida a sentimentos de rebeldia não faltam. Entre
elas, registramos aqui os dados sobre a desigualdade entre os trabalhadores e a
alta gestão das empresas (CEOs).
Um levantamento
realizado pela AFL-CIO, a maior federação de sindicatos de trabalhadores dos
EUA, mostra que, em 2019, os CEOs ganhavam, em média, 264 vezes mais do que os
funcionários que se esfolavam em suas empresas. No ano seguinte, e em plena
crise econômica, a diferença passou para 299 vezes e, em 2021, subiu para 324
vezes. Ainda em 2021, a inflação de 7,1% castigou os salários dos empregados
que tiveram um reajuste médio de apenas 4,7% enquanto os vencimentos dos CEOs
foram aumentados em 18,2%.7
Contudo, entre 2019 e o
primeiro semestre de 2022, o peso das greves nos EUA ficou bem abaixo do que a
degradação das condições de vida deixava supor. O número de grevistas e a soma
dos dias em que paralisaram as atividades falam por si só.
Em um mercado de
trabalho com mais de 155 milhões de ocupados, em 2019, o contingente de
trabalhadores que aderiram às paralisações somou 425.500 pessoas, enquanto o de
dias parados foi de 3.244.300. Em 2020, sob o impacto da elevação do desemprego
causado pela pandemia, o total de grevistas despenca para 27.000 e o de dias
parados para 965.700. No ano seguinte, a situação melhora um pouco com 80.700
trabalhadores aderindo às paralisações, com um total de 1.551.900 dias parados.
As únicas notícias disponíveis em relação ao primeiro semestre de 2022 revelam
a ocorrência de 180 greves com 78.000 grevistas, mas, infelizmente, sem o
número de dias parados.
Para termos uma ideia
da importância desses números na definição do grau de conflitualidade presente
nos locais de trabalho, basta compará-los com aqueles que foram registrados em
anos anteriores. Entre 1947 e 2021, o ano de 1959 registrou o maior número de
dias parados com 60.850.000 e 1.381.000 empregados envolvidos, e isso em um
mercado de trabalho que apresentava um número de ocupados extremamente inferior
ao atual. Quando consideramos apenas os últimos 40 anos, percebemos que o pico
se localiza em 1983, quando 909.400 trabalhadores somaram 17.460.700 dias
parados, o que revela um grau de participação e intensidade das lutas
decididamente superior ao dos últimos 42 meses.9 Ou seja, quando o
nosso olhar se dirige à objetividade dos números, as comparações entre um
período e outro começam a ganhar dimensões diante das quais a fase mais recente
da história das greves nos EUA mostra um nível de enfrentamentos bem inferior
ao que as contradições sociais deixavam esperar.
Com a inflação fechando
2022 em cerca de 7% e as taxas de juros em 4,5% (com expectativas de novas
altas), o PIB estadunidense deste ano deve crescer 1,6%. As projeções apontam
que, em 2023, a alta não deve ultrapassar a marca de 1%, sendo que a construção
civil é um dos setores que mais tendem a encolher a sua produção em função do
impacto negativo da elevação dos juros nos financiamentos do setor imobiliário.
Passando
dos países para o mundo, o relatório do Fundo Monetário Internacional aponta
que o PIB global deve crescer 3,2% em 2022 e 2,7% no próximo ano. Esta projeção
do PIB mundial guarda uma relação direta com a tendência de queda dos preços do
petróleo e com a expectativa de que, no segundo semestre de 2023, as pressões
inflacionárias (hoje com uma taxa média mundial de 8,8%) fiquem em 6,5% ao ano,
o que daria aos Bancos Centrais a possibilidade de reduzir o ritmo de elevação
dos juros.8
O
perigo de uma recessão mundial ainda não saiu do radar, à medida que permanecem
vivas as ameaças vindas do desenrolar da guerra na Ucrânia, de uma nova
elevação dos preços dos alimentos em função das mudanças climáticas e das
dificuldades de adequar a taxa de juros aos elementos que interferem na
formação dos preços de mercado. Infelizmente, os únicos sinais que permanecem
ausentes neste cenário em que o capital busca um novo equilíbrio para assegurar
a sua valorização são os que vêm das lutas dos trabalhadores cujos passos não
prometem sair da timidez manifestada nos últimos anos.
Emilio Gennari, 19 de dezembro de 2022.
_________________________________________________________________________________________________
(1) Para elaborar esse texto,
nos valemos das matérias divulgadas em:
-
https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-62010477
-
https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-62281239
-
https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-62301345
-
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-62316657
-
https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-62310980
-
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-62330983
-
https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-62319304
-
https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-62279288
-
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-62345144
-
https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-62387299
-
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-62420199
-
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-62422316
-
https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-62419039
-
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-62421629
-
https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-57779013
-
https://elpais.com/opinion/2022-08-07/la-intimidacion-de-china.html
-
https://elpais.com/opinion/2022-08-09/taiwan-llave-de-la-hegemonia-mundial.html
-
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-62478190
-
https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-62485625
-
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-62503317
-
https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-62493651
-
https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-62514604
-
https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-62372012
-
https://www.bbc.com/mundo/noticias-62550639
-
https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-62640488
-
https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-62646621
-
https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-62641272
-
https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-62668707
-
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-62692536
-
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-62752629
-
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-62779458
-
https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-62865561
-
https://elpais.com/internacional/2022-09-09/ultima-hora-de-la-guerra-en-ucrania-hoy-en-directo.html
-
https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-62889471
-
https://elpais.com/opinion/2022-09-14/joe-biden-senala-al-enemigo.html
-
https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-62936685
-
https://elpais.com/opinion/2022-09-18/putin-en-declive.html
-
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-62980096
-
https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-62984615
-
https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-60576483
-
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-62989196
-
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-62999342
-
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-63002873
-
https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-62996393
-
https://www.bbc.com/portuguese/vert-cap-62922736
-
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-63048850
-
https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-63057010
-
https://elpais.com/opinion/2022-09-28/derrotas-domesticas-de-putin.html
-
https://elpais.com/internacional/2022-09-28/china-una-potencia-en-alza-que-no-enamora.html
-
https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-63076417
-
https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-63094365
-
https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-63076417
-
https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-63096125
-
https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-63097597
-
https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-63103649
-
https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-63131159
-
https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-63121071
-
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-63162237
-
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-63184903
-
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-63182667
-
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-63162237
-
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-63143394
-
https://as.com/actualidad/nuevo-problema-para-putin-n/
-
https://as.com/actualidad/por-que-liman-es-estrategica-en-la-guerra-entre-ucrania-y-rusia-n/
-
https://as.com/actualidad/la-peticion-del-lider-checheno-a-putin-n/
-
https://as.com/actualidad/nuevo-problema-para-putin-n/
-
https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-63209360
-
https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-63209190
-
https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-63191643
-
https://elpais.com/internacional/2022-10-11/ultima-hora-de-la-guerra-en-ucrania-hoy-en-directo.html
-
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-63236947
-
https://elpais.com/opinion/2022-10-13/el-frente-de-guerra-de-la-opep.html
-
https://elpais.com/internacional/2022-10-14/ultima-hora-de-la-guerra-en-ucrania-hoy-en-directo.html
-
https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-63251504
-
https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-63242558
-
https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-63256515
-
https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-63242554
-
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-63161159
-
https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-63267592
-
https://elpais.com/internacional/2022-10-17/ultima-hora-de-la-guerra-en-ucrania-hoy-en-directo.html
-
https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-63308957
-
https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-63299880
-
https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-63314364
-
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-63362127
-
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-63309917
-
https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-63308910
-
https://elpais.com/internacional/2022-10-26/ultima-hora-de-la-guerra-en-ucrania-hoy-en-directo.html
-
https://elpais.com/internacional/2022-10-27/ultima-hora-de-la-guerra-en-ucrania-hoy-en-directo.html
-
https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-63421414
-
https://elpais.com/opinion/2022-11-02/putin-aprieta-con-el-hambre.html
-
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-63484868
-
https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-63501199
-
https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-63509540
-
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-63542365
-
https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-63395511
-
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-63576844
-
https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-63556383
-
https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-63590585
-
https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-63542701
-
https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-63613977
-
https://elpais.com/opinion/2022-11-16/atraer-a-china-para-la-paz.html
-
https://blocktrends.com.br/a-crescente-e-insustentavel-divida-chinesa/
-
https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-63735257
-
https://elpais.com/internacional/2016/12/12/actualidad/1481565328_189743.html#?rel=mas
-
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-63773355
-
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-63779061
-
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-63782951
-
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-63782008
-
https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-63772155
-
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-63786773
-
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-63793782
-
https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-63781186
-
https://elpais.com/internacional/2022-11-29/guerra-ucrania-rusia-ultimas-noticias-en-directo.html
-
https://www.ceicdata.com/pt/indicator/germany/government-debt--of-nominal-gdp
-
https://elpais.com/internacional/2022-12-04/radiografia-del-descontento-chino.html
-
https://elpais.com/internacional/2022-12-05/guerra-ucrania-ultimas-noticias-en-directo.html
-
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-63867257
-
https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-63767835
-
https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-63897093
-
https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-63893656
-
https://www.startse.com/artigos/great-resignation-demissoes-eua/
-
https://rhpravoce.com.br/redacao/onda-demissao-eua-brasil/
-
https://www.insper.edu.br/noticias/recorde-de-pedido-de-demissoes-ha-mesmo-uma-grande-debandada/
-
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-63983758
-
https://www.bbc.com/mundo/noticias-63981889
-
https://elpais.com/sociedad/2022-12-17/pekin-sufre-el-golpe-de-la-ola-de-salida-de-la-pandemia.html
-
https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-64009316
-
https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-62145321
Listados
em ordem cronológica, os acessos foram realizados entre 17 de julho e 16 de
dezembro de 2022.
(2) Segundo o artigo 19 dos Princípios Básicos da
Política de Estado da Federação Russa sobre dissuasão nuclear, aprovado em
junho de 2020, são 4 as condições que permitem recorrer ao uso destas armas de
destruição em massa:
1. A chegada de dados confiáveis sobre o
lançamento de mísseis balísticos contra o território da Federação Russa e/ou de
seus aliados; 2. O uso de armas nucleares ou de outro tipo de armas de
destruição em massa por parte de um adversário contra a Federação Russa e/ou os
seus aliados; 3. Ataque de um adversário contra instalações críticas militares
ou governamentais da Federação Russa e/ou de seus aliados cuja realização
ameaça a capacidade de resposta nuclear; 4. Agressão contra a Federação Russa
com uso de armas convencionais quando a própria existência do estado estaria
sendo ameaçada.
(3) As armas nucleares táticas têm ogivas
que variam entre um quiloton (que corresponde ao poder de destruição de 1.000
kg do explosivo TNT) e 100 quilotons enquanto as armas nucleares estratégicas
chegam a mais de 1.000 quilotons. Para termos uma ideia do poder de destruição
basta lembrar que a bomba atômica que os EUA lançaram sobre Hiroshima em 1945
tinha 15 quilotons. Pelo seu tamanho reduzido, as ogivas das armas táticas podem
ser instaladas em mísseis que costumam ser usados com cargas convencionais ou em
projéteis de artilharia. Os EUA afirmam que a Rússia tem cerca de 2.000 armas
nucleares táticas e que, recentemente, investiu pesado para melhorar o seu
alcance e precisão. Em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-63002873
acesso em 30/11/2022.
(4) Ao que tudo indica, Putin aceitaria
um acordo de paz caso a Ucrânia reconhecesse como território da Rússia as áreas
da Crimeia e das regiões industrializadas do sudeste do país (onde o povo fala
russo e onde, desde 2014, atuam fortes movimentos separatistas), além da não
adesão da Ucrânia à OTAN. Mas isso é tudo o que Kiev não quer.
(5) Os dados citados são parte dos
resultados da pesquisa realizada por Yuri Salmona, da
UNB, entre 1985 e 2022, que estudou os rios do cerrado responsáveis por boa
parte do abastecimento hídrico e da geração de energia elétrica do Brasil. Em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-63562381 Acesso realizado em 30/11/2022
(6) Em: https://minitormercantil.com.br/dados-revelam-atratividade-continua-da-china-para-investimento-estrangeiro/ Acesso realizado em 13/12/2022.
(7) A maior desigualdade entre os
salários dos principais executivos e a média dos trabalhadores da mesma empresa
foi registrada na Amazon. Em 2021, o CEO Andy Jassy ganhou nada menos do que
212 milhões, 701 mil e 169 dólares, o que corresponde a mais de seis mil vezes
a média anual dos ganhos de um trabalhador da empresa que é de U$ 32.855.
Estes e outros dados sobre o mesmo tema foram
divulgados em: https://g1.globo.com/economia/noticia/2022/07/20/ceos-de-empresas-dos-eua-ganham-324-vezes-mais-que-funcionarios-veja-maiores-remuneracoes.ghtml Acesso em 14/12/2022.
(8) O relatório
completo do FMI encontra-se disponível em: https://www.imf.org/en/Publications/WEO/Issues/2022/10/11/world-economic-outlook-october-2022
Acesso em 14/12/2022.
(9) Os dados
sobre o número de grevistas, de dias parados e de ocupados foram extraído de:
-
Bureau
of Labor Statistics, U.S. Department of Labor, *The Economics Daily*, 16 major
work stoppages in 2021 at https://www.bls.gov/opub/ted/2022/16-major-work-stoppages-in-2021.htm
-
https://www.bls.gov/opub/ted/2020/25-major-work-stoppages-in-2019-involving-425500-workers.htm
-
https://www.bls.gov/news.release/empsit.t01.htm
Todos os acessos foram
realizados em 18/12/2022.
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