quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

Reflexão: Falta empatia ao postar sobre seu 13° nas redes sociais. Será mesmo?


 

                                                                                      Por Beca


Faz tempo que eu não deixo minhas considerações aqui, porque ninguém usa mais o Facebook. Mas o fato é que já tem algumas semanas que o pessoal tem deixado umas reflexões que me fizeram pensar sobre. Falando que "é muita falta de empatia o trabalhador postar sobre o seu 13° chegando, sobre suas férias remuneradas"; "tem muita gente que é autônoma". Bom, eu sou autônoma e não me sinto mal com isso. Talvez porque hoje eu tenha uma estabilidade maior na vida financeira. Entendo o ponto, mas discordo que isso seja uma falta de empatia do trabalhador.

Se vc é um trabalhador contratado por uma empresa e não tem 13°, deve se organizar com seus parça pra ter exatamente isso, que é o mínimo. Foi um direito conquistado pela classe trabalhadora há décadas, mas que só foi concedido aos trabalhadores, porque os proprietários de produção perceberam que poderiam continuar lucrando, afinal, o trabalhador contratado por um empresário trabalha e produz e desse trabalho dele é retirada sua mais-valia, apenas uma parte do trabalho dele é paga, outra parte do trabalho dele não é paga, vai para o patrão. Esse 13° e férias remuneradas não se trata de um privilégio, na realidade ele é só uma ínfima e mínima concessão dada a esse trabalhador, um "regime semi-aberto".

Agora, se vc é autônomo mesmo, e não tá conseguindo ganhar uma grana, a falta de empatia não tá em quem posta sobre as férias remuneradas e o seu 13°, mas no próprio sistema que é desigual.

Tu vai comprar briga com o cara que trabalhou o ano todo e que agora tem dias de descanso com a família dele, sério mesmo?

A falta de empatia não tá no seu semelhante, mas no sistema capitalista mesmo, vai xingar quem vive do trabalho alheio: o dono da Tesla, o dono do banco do Itaú, da Volks... Mas parece que quando esses postam aqueles comerciais nas redes sociais, vc fica aí todo emocionado, dizendo "ai me emocionei com o comercial da Fernanda Montenegro, e depois com aquele outro comercial da Maria Rita"... E não é que vc não pode se emocionar - quem sou eu pra dizer o que vc pode ou não fazer? Um monte de gente se emocionou -, mas, assim, vc percebe o problema e a contradição? As pessoas por detrás disso e que contrataram esses trabalhadores para montar esses comerciais que emocionam boa parte da nossa classe, e que acabam propagando essa ideologia dominante, vivem do seu trabalho, do meu trabalho, do nosso trabalho e "nunca lucraram tanto na história desse país".

Na hora de falar sobre falta de empatia, fala da falta de empatia desses caras, eles têm nome e sobrenome e devem estar contratando gente pra fazer seus bunkers e suas viagens espaciais por aí.

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