Por André Paes
“Todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em comum”. Atos 2.44
Palavras desse versículo bíblico que chamam a minha
atenção: “Todos”; “juntos”; “comum”; “creram”. São tanto ações quanto condições
coletivas. Age-se, em conjunto, para se obter algo em conjunto. Houve aqueles
que “creram”. Essa crença levou os que “creram” a ficarem “juntos”. Por estarem
“juntos”, tinham tudo em “comum”.
Ora, na minha mente, não faz sentido que pessoas que
estejam juntas sejam opostas entre si. Podemos divergir em muitas coisas,
podemos, e devemos, ser distintos em nossas personalidades e nossos gostos
pessoais, podemos ter ideias diversificadas sobre variadas coisas. Porém, estar
“juntos” exige, sim, uma condição de ganho coletivo. No caso em questão,
parece-me que aqueles que estavam “juntos”, estavam juntos” por que “creram” em
algo. Essa crença conduziu-os a uma convivência interessante: puderam estar “juntos”
e “tinham tudo em ‘comum’”.
Então questiono: crença em que? Certamente, em algo que produziu, e produz, o sentimento de
pertença, a importância do acolhimento e o valor da solidariedade. No
sentimento de pertença, experimento a realidade de viver em meio a um grupo do
qual gosto e que gosta de mim, bem como onde o trabalho de cada um contribui
com a sobrevivência do outro, numa agradável e essencial reciprocidade. É o
espaço da aceitação, da tolerância, do diálogo. Na importância do acolhimento,
percebo que fui acolhido quando estava perdido, como também posso acolher a
outrem que precisa de acolhimento. É, portanto, um espaço de abrigo, de
refúgio, de proteção. No valor da solidariedade fica claro, em contraste, a
tristeza e a angústia que seria passar a vida em solidão. É o precioso espaço
da compaixão, do companheirismo e da empatia.
Em que cremos? No cada um por si? Na sôfrega competição diária que
cria pessoas rivais entre si? No trabalho individualista e
meritocrático, que age de ‘olho no próprio umbigo? Na base do “Deus dará”? Particularmente, creio na providência divina. E essa
providência reside na possibilidade palpável dessa crença que ajunta os
separados e cria uma fé operante que sustenta a experiência humana da vida em
comum.
Encerro com uma chamada à atenção ao
trecho bíblico do versículo em questão. Ele é uma descrição das primeiras
comunidades cristã, bem como uma conclamação para que pessoas empreendam um
vida igualitária, marcada por partilha, comunhão e fé naquilo que une indivíduos,
povos e ideias.
⁴² E perseveravam na doutrina dos
apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações.
⁴³ Em cada alma havia temor; e muitos
prodígios e sinais eram feitos por intermédio dos apóstolos.
⁴⁴ Todos os que creram estavam juntos
e tinham tudo em comum.
⁴⁵ Vendiam as suas propriedades e
bens, distribuindo o produto entre todos, à medida que alguém tinha
necessidade.
⁴⁶ Diariamente perseveravam unânimes
no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria
e singeleza de coração,
⁴⁷ louvando a Deus e contando com a
simpatia de todo o povo. Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia,
os que iam sendo salvos.
Atos 2:42-47
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