sexta-feira, 4 de outubro de 2024

"Flores no Concreto: A Primavera Radiante do Colapso Climático e Social"


"Ecologia sem luta de classes é jardinagem". 

(Chico Mendes)


A primavera chegou, finalmente. O momento do ano em que as flores desabrocham, os pássaros cantam e os alérgicos sofrem. Uma verdadeira epifania de cores e fragrâncias, que faz com que até as grandes corporações do agronegócio sintam-se parte da harmonia natural — claro, até o próximo desmatamento programado. Mas não se enganem: a primavera já não é mais como antigamente.

Hoje, ela chega com uma pitada de aquecimento global, um toque de desregulação climática e, para dar aquele sabor especial, a intensificação das desigualdades sociais. O desabrochar das flores, antes um espetáculo da natureza, agora serve como pano de fundo para a crise climática — que, aliás, não discrimina, atinge pobres e ricos de forma absolutamente desigual.

As massas populares, claro, aproveitam a primavera de um jeito todo particular: entre um incêndio florestal aqui e uma seca devastadora acolá, veem-se obrigadas a lutar por condições mínimas de sobrevivência. Enquanto isso, os donos do capital ajustam seus ares-condicionados e desenvolvem novos projetos de “sustentabilidade”, que de sustentável só têm o marketing.

Na luta de classes, a primavera se tornou mais uma arena. Os mais ricos colhem suas flores em jardins protegidos, enquanto os trabalhadores sem terra são expulsos das áreas verdes que restaram. Afinal, não podemos nos esquecer da velha máxima: o que é a luta pela terra senão a própria luta pela primavera?

Como bem disse Marx, "os homens fazem a sua própria história, mas não a fazem como querem; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha, e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado" (MARX, 1852). E, hoje, esse passado inclui uma natureza devastada e uma economia global onde os frutos da primavera — simbólicos ou literais — são sempre colhidos pelos mesmos. A estação das flores, nesse contexto, torna-se uma amarga lembrança de que a luta não floresce em todos os solos.

 

Referência: MARX, Karl. O 18 Brumário de Luís Bonaparte. 1852.

Um comentário: