"Ecologia sem luta de classes é jardinagem".
(Chico Mendes)
A primavera chegou,
finalmente. O momento do ano em que as flores desabrocham, os pássaros cantam e
os alérgicos sofrem. Uma verdadeira epifania de cores e fragrâncias, que faz
com que até as grandes corporações do agronegócio sintam-se parte da harmonia
natural — claro, até o próximo desmatamento programado. Mas não se enganem: a
primavera já não é mais como antigamente.
Hoje, ela chega com uma
pitada de aquecimento global, um toque de desregulação climática e, para dar aquele
sabor especial, a intensificação das desigualdades sociais. O desabrochar das flores,
antes um espetáculo da natureza, agora serve como pano de fundo para a crise climática
— que, aliás, não discrimina, atinge pobres e ricos de forma absolutamente desigual.
As massas populares, claro,
aproveitam a primavera de um jeito todo particular: entre um incêndio florestal
aqui e uma seca devastadora acolá, veem-se obrigadas a lutar por condições
mínimas de sobrevivência. Enquanto isso, os donos do capital ajustam seus ares-condicionados
e desenvolvem novos projetos de “sustentabilidade”, que de sustentável só têm o
marketing.
Na luta de classes, a
primavera se tornou mais uma arena. Os mais ricos colhem suas flores em jardins
protegidos, enquanto os trabalhadores sem terra são expulsos das áreas verdes
que restaram. Afinal, não podemos nos esquecer da velha máxima: o que é a luta pela
terra senão a própria luta pela primavera?
Como bem disse Marx,
"os homens fazem a sua própria história, mas não a fazem como querem; não
a fazem sob circunstâncias de sua escolha, e sim sob aquelas com que se defrontam
diretamente, legadas e transmitidas pelo passado" (MARX, 1852). E, hoje, esse
passado inclui uma natureza devastada e uma economia global onde os frutos da primavera
— simbólicos ou literais — são sempre colhidos pelos mesmos. A estação das
flores, nesse contexto, torna-se uma amarga lembrança de que a luta não
floresce em todos os solos.
Referência: MARX, Karl. O 18 Brumário de Luís
Bonaparte. 1852.
"A luta ainda florescerá em todos os solos".
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