quarta-feira, 17 de maio de 2017

Para o Primeiro de Maio: Marcinelle: vozes de uma tragédia.


 “Não há nada mais eficaz para a defesa dos oprimidos do que o simples e sincero relato de sua História. ” Foi o que escreveu Lisagaray, contemporâneo da Comuna de Paris de 1871, depois da derrota dos proletários naquela cidade.

O Artigo que publicamos abaixo contém um destes relatos sinceros sobre a situação dos trabalhadores italianos nas minas de carvão da Bélgica. Leitura obrigatória para nossos tempos nos quais, os senhores capitalistas e seu governo, atacam nossos direitos sem meias palavras, ignorando o quanto nós continuamos morrendo e adoecendo no trabalho cotidiano em minas, bancos, escolas, hospitais, fábricas, no campo e na cidade, enquanto produzimos riqueza a custa de nossas vidas.





segunda-feira, 1 de maio de 2017

Segunda é Dia de Branco: A Irritante Mania dos Donos e Defensores do Sistema de Chamar Rebeldes de Vagabundos.








“A todos os que como nós foram chamados de vagabundos neste pais e em todos os países e  que não se calam diante das injustiças, porque sabem que não há sequer um centavo da riqueza, uma gota de mel, um grão de arroz, um doente curado, uma palavra ensinada, um parafuso criado sem o nosso trabalho"



A insistente e irritante mania dos donos e defensores do sistema de nos chamarem os trabalhadores rebeldes de vagabundos, não é novidade. Os trabalhadores escravos negros e indígenas que se rebelavam fugiam das fazendas e minas ou trabalhavam devagar para suportar o sofrimento e o trabalho pesado e sabotar a produção, eram chamados de “negros preguiçosos e vagabundos”, os trabalhadores que protestavam contra a mudança da idade mínima para aposentadoria ouviram de Fernando Henrique Cardoso em 1998, quando presidente da República, a célebre frase:  quem se aposenta antes dos 50 anos é Vagabundo. Às vésperas da greve geral do dia 28 contra o Desmonte da previdência e o aumento da idade mínima para 65 anos e 49 anos de contribuição para aposentadoria, Dória, hoje prefeito de São Paulo, que já foi da administração de Mário Covas, empresário, herdeiro de senhores de escravos, chamou os grevistas do dia 28 de Vagabundos. Depois de fugir dos manifestantes em um helicóptero.

O NORTE publica aqui uma conversa tio para sobrinho que é expressão daquilo que pensamos. O Artigo discute o ditado popular:  “Segunda é dia de branco”. Boa leitura e nos avise se você concorda ou não.



Segunda Feira é dia de Branco



Meu sobrinho é negro e chegou em casa depois de um sábado na chácara com nossa família e amigos com uma pergunta no mínimo curiosa: Tio, por que os amigos do meu pai disseram que segunda feira é dia de branco? A pergunta o deixara confuso e intimidado olhando para si mesmo como se houvesse algo errado com sua cor. Ele não tem idade nem maturidade ainda para discutir questões étnicas ou raciais, mas sabe que sua cor é sempre “zuada” na escola, no futebol, no curso de inglês, nos jogos de vídeo game, etc. Ele ouve todos os dias expressões como, “ a coisa tá preta, cabelo de inxu, cabelo ruim, pixain, cabelo duro, macaco, a coisa tá preta, Zulu, negrooo, e ai preto! negão”

O professor de arte lhe diz que preto é na verdade, ausência de luz, ou que algumas vezes de forma imprecisa, que é ausência de cor. Esquecendo que preto é a mescla de vermelho, amarelo e Azul e que qualquer cor só pode ser vista por meio da luz.  O professor de história fala em “Black Tuesday”, Terça negra,  para marcar o Crash na bolsa de Nova York, que deu início a crise de 29 e usa a expressão “setembro negro”, da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) para contar sobre a morte dos atletas israelense na olimpíada de Munique em 1972. Para explicar os milhões de mortos pela peste bubônica no século XIV, os livros trazem a expressão “peste negra”. Nuvens negras rondam a economia, ele ouve nos jornais ou vê na internet.  Isto é um fato, mas dizer que segunda é dia de branco parece ter acionado algum mecanismo no seu cérebro que o fez romper o silêncio.

Respondi que não há nada de errado com nossa cor, existe o ouro negro, O Petróleo também chamado de ouro negro, a Pérola negra, a mais valiosa das pérolas, o diamante negro, uma a raridade, e disse mais, que é a noite escura que permite a gente ver as estrelas em toda a sua beleza e plenitude. Pego uma folha de sulfite, lhe mostro e pergunto: Você já viu alguém desta cor? Só morto tio, ele me responde. E olha lá, digo a ele, portanto, não existe ninguém “branco”, na verdade.


Vou ter que lhe falar de história para você entender a “zuação” com nossa cor e a expressão, segunda é dia de branco. Vivíamos livres na África, aliás, foi lá que a humanidade surgiu, portanto todos somos africanos ou descentes de africanos. Até os loirinho tio? Me interrompe. Sim, lhe disse, inclusive os alemães, meio “branquelos”, meio, porque branco branco na verdade não existe, como te expliquei. O chamados brancos da Europa reinventaram a escravidão e usaram a cor e a força como meio de decidir quem seria escravo, “escravidão negra”, escravidão dos africanos e dos indígenas no século XVI, para que nossa gente trabalhasse de graça pra eles. Os religiosos também “brancos” disseram que a gente não tinha alma e que estavam fazendo um bem ao nos escravizar e ao nos dar nomes cristãos; tais como, Samuel, Felipe, David, Elias, Benedita, Maria, José, Francisco, Isabel, Rita ... depois de um batismo forçado contra a nossa fé lá da África.

Os comerciantes “brancos” europeus ganharam dinheiro ao caçar, prender e vender homens, mulheres e crianças que eram livres na África. Depois, na América, fazendeiros também “brancos” e europeus se enriqueceram nos escravizando, nos obrigando a arrancar ouro e prata nas minas, plantar cana e produzir o açúcar, cuidar de suas casas, cozinhar, carregá-los em nossas costas.

Desse modo, comerciantes europeus, fazendeiros daqui se enriqueceram e se tornaram homens milionários, donos de dinheiro, empresas e terras, às custas de nosso trabalho de graça, de sol a sol e do roubo das terras dos índios, por mais de 300 anos. A saber, de 1550 até 1888 quando houve a abolição ... A nossa gente não fez nada tio, aceitou de boa o sofrimento e o trabalho em troca de comida e ainda ruim, que eu sei? Me perguntou contrariado. Não, respondi. Você tem paciência? Se tiver eu conto. Pode contar tio, jogo meu vídeo game depois. Beleza, respondi.

Então meu caro sobrinho, talvez agora você entenda porquê meus amigos, sem saber, acabaram usando uma frase racista, falsa e mentirosa sobre a segunda feira. Eu duvido que eles saibam porque falam isto da segunda Feira. Nossa gente trabalhando de sol a sol, 15 ou 16 horas por dia, sem ganhar um centavo, a não ser a comida, atacava os capatazes, que eram os guardas e chefes que ficavam olhando e obrigando a gente trabalhar de graça, com as enxadas e facões que eram nossas ferramentas de trabalho e fugia, formando Quilombos, territórios onde a nossa gente era livre e trabalhava  pra si mesma e mandava.

O mais famoso dos quilombos, foi o de Palmares, em Alagoas, no Nordeste Brasileiro. Ele durou mais ou menos 100 anos, de 1595 a 1695. Você já ouviu falar de Zumbi? Do Walking Dead tio? Não meu querido, Zumbi morto-vivo é filme de Hollywood, é televisão, o nosso Zumbi, o dos Palmares foi um guerreiro, um revolucionário libertador, lutou contra a escravidão e para que a gente trabalhasse pra gente mesmo e não para os outros. Era um grande líder negro, igual a Acotirene, Dandara, Ganga Zumba, Negro Cosme, Anastácia e outros tantos.

Bom, outra maneira de enfrentar os fazendeiros, além da guerra e da fuga, era trabalhar bem devagarinho, como se fosse uma tartaruga, e ir bem devagar pro serviço, igual quando você vai pra escola, entende? Devagarinho e desanimado, eles tinham razão porque eram escravos, você não, viu, seu.... Ri e ele também riu.... Continuando. Por isto, os negros que trabalhavam devagar, ou se recusavam a trabalhar e morriam de tristeza ou de cansaço, eram chamados de “ vagabundos e preguiçosos. Como prefeito de São Paulo tio? Sim, igualzinho o Dória, que aliás, suas tataravós se enriqueceram com o trabalho dos nossos tataravós, pois, a família dele era dona de escravos no passado, portanto, parte da riqueza dele que se diz trabalhador, é na verdade, fruto do trabalho de nossa gente, do trabalho dos escravos.

Ir para o trabalho no canavial e nas minas de ouro e prata na segunda feira, depois de uma folguinha no domingo a tarde, era uma verdadeira tortura, os escravos iam se arrastando pelos atalhos e caminhos, eles odiavam este dia, em compensação os fazendeiros e os chefes, capatazes que nada faziam a não ser enriquecer-se do trabalho de nossa gente ficavam felizes. Verdade tio? Claro! O que você faria no lugar de nossos irmãos do passado? Eu me mataria tio!  Alguns fizeram isto, mas a maioria preferiu lutar e resistir...

Vou terminar por aqui sobrinho. Você precisa brincar, este assunto está ficando muito sério. Mas guarde bem o que vou dizer, os fazendeiros brancos, os comerciantes também brancos que se enriqueciam com a venda e o trabalho de nossa gente, da gente da nossa cor, também exploravam os índios, que tiveram sua terra roubada e os brancos pobres, muitos soldados dos fazendeiros eram negros, ganhavam dinheiros para nos vigiar e perseguir, portanto, não é a cor que define quem é bom e quem é mal, quem é rico e quem é pobre, quem é preguiçoso ou trabalhador. Se você quiser usar bem e mal então use, mas o mau é aquele que nos escraviza, nos impede de ser livres e que fica se enriquecendo com o nosso trabalho, independentemente da cor.

Então tio, nesta história que você me contou, os brancos que se enriqueceram a custa dos negros e não precisavam trabalhar, disseram que segunda feira é dia de branco pra entrar na nossa mente e trolá a gente? Sim, caro sobrinho, segunda feira sempre foi dia de preto trabalhar e produzir riqueza para o branco comerciante e fazendeiro até o ano de 1888, como escravo, depois como assalariado. Chamar a segunda de dia de branco é falso, mentiroso e racista. Hoje as segundas feiras, trabalhadores brancos, negros, amarelos vermelhos, azuis verdes, cor de rosa, de todas as cores e portanto, independentemente da cor, produzem os lucros e a riqueza que fazendeiros e empresários de todas a cores usam pra pagar prefeitos e donos de  televisão e Jornais para nos chamarem de vagabundos, sempre que nos recusamos a trabalhar pra eles. Como nas greves tio? Sim, como na greve geral do dia 28 de abril por exemplo. Vagabundo é eles né tio? Não sobrinho, eles são piores, são exploradores.


José Benedito dos Santos


Brasil, 30 de abril de 2017, depois do churrasco de sábado com os

amigos vagabundos de todas as cores.