domingo, 27 de outubro de 2019

As aparências enganam ou porque o capitalismo não deu certo III





Em artigo publicado a partir de um relatório da OIT, o jornalista e historiador indiano Vijav Prashad, chega a conclusões opostas a maioria dos conceitos e categorias que tem sido produzida na maioria das academias e institutos ligados as pesquisas na área de ciências:
A saber, estas pesquisas apontam uma constante queda no emprego, um desemprego estrutural, ou seja, a redução da população trabalhadora empregada em virtude da introdução permanente de novas tecnologias no processo de produção e de trabalho. E consequentemente o fim do trabalho.

Vijav Prashad aponta o oposto, ou seja, há um aumento absoluto do capital variável e ao mesmo tempo uma queda relativa da população trabalhadora como consequência do aumento da composição orgânica do capital, devido a aplicação crescente de novas tecnologias no processo de trabalho, como a forma de organização da sociedade é a capitalista, o próprio trabalhador, o capital variável e a maioria da população está cada vez mais excluída do  acesso a bens básicos.

Temos divergências em relação  a algumas conclusões no artigo que ficarão pra depois. Mas vale a pena não somente ler o artigo, mas sim,  refletir por meio dele, as consequências para a luta de classes.     

Coletivo Divergente de Imprensa (CDI)

Boa Leitura

                  3 de out de 2019

Sobre iPhone 11, tecnologia e “fim do trabalho” Relatório da OIT joga novas luzes sobre a automação. Não é o trabalho que declina, mas extração de mais valia. (Vijav Prashad)

         8 de out de 2019 17:09 (há 11 dias)          

         Sobre iPhone11, tecnologia e “fim do trabalho”

Relatório da OIT joga novas luzes sobre a automação. Não é o trabalho que declina, mas extração de mais valia e desigualdade que disparam. Subcontratados da Apple são 25 vezes mais explorados que tecelões ingleses do século XIX.
"Há mais pessoas trabalhando, porém, a pobreza continua sendo um problema sério. As pessoas empregadas aumentaram sua produtividade média e produzem muito mais hoje do que antigamente. O que as mantém na pobreza, apesar de sua produtividade aumentada — que vem, em parte, das melhorias tecnológicas — é que não conseguem usufruir uma parcela maior dos ganhos de produtividade e da mais-valia total produzida", escreve Vijay Prashad, jornalista, historiador indiano, diretor do Tricontinental: Institute for Social Research, editor chefe da LeftWord Books e chefe de redação do Globetrotter, em artigo publicado por Tricontinental Institute e reproduzido por Outras Palavras, 26-09-2019. A tradução é de Simone Paz.



Eis o artigo.
Um relatório recente da Organização Internacional do Trabalho (OIT) mostra: há agora 3,5 bilhões de trabalhadores no mundo. Nunca o número foi tão vasto. A conversa sobre “o fim dos trabalhadores” é prematura, quando confrontada com o peso desses dados.

A OIT reporta que a maior parte desses 3,5 bilhões de trabalhadores “enfrentam ausência de bem-estar material, segurança econômica, igualdade de oportunidades ou possibilidade de desenvolvimento humano. Estar empregado nem sempre garante uma vida decente. Muitos trabalhadores precisam aceitar trabalhos pouco atraentes, normalmente informais (é o chamado trabalho flexível) e caracterizados por baixa remuneração, além da acesso escasso ou inexistente a proteção social e direitos trabalhistas”. Embora metade da força de trabalho mundial seja composta por empregados assalariados, dois milhões de trabalhadores (61% do total) estão no setor informal.

O relatório da OIT mostra que o número de trabalhadores pobres diminuiu, em grande parte graças ao abrangente impacto da China. Há controvérsias nos dados relacionados à pobreza, já que se desconfia da honestidade das estatísticas apresentadas por muitos governos. Ainda assim, os dados comprovam que mesmo com os rendimentos dos pobres aumentando, estes ainda não cresceram o suficiente para tirá-los de fato da pobreza. Jason Hickel e Huzaifa Zoomkawala expõem como houve poucos ganhos para a parte mais pobre da humanidade nas últimas décadas. “No interior do 60% mais pobre da humanidade, o cidadão comum viu sua renda anual crescer somente 1.200 dólares… ao longo de 36 anos”, escreve Hickel. Está longe de ser digno de celebração.
Mesmo com os dados evidenciando que os trabalhadores dentro da força de trabalho global não conseguem encontrar “trabalho decente”, as taxas de produtividade estão muito mais altas do que antes. Como o relatório da OIT indica, “espera-se que o crescimento da produtividade entre 2019 e 2021 alcance o seu pico mais elevado desde 2010, superando a média histórica de 2,1% para o período de 1992-2018”. A OIT refere-se à média mundial, visto que em muitos países — incluindo os EUA — o aumento da produtividade tem se mantido estagnado: ou seja, é o crescimento da produtividade em países como a China que puxa para cima a média global. Porém, os benefícios do aumento da produtividade não são satisfatoriamente distribuídos entre os trabalhadores, em termos de aumento salarial proporcional às suas contribuições. Os benefícios sobem diretamente para os donos do capital, o que aumenta a concentração de riqueza. O trabalho está produzindo um excedente maciço, que poderia muito bem ser usado para melhorar o bem-estar geral da humanidade. Em vez disso, vai parar nos bolsos dos capitalistas.
* * *
No último ano, o Instituto de Pesquisa Social Tricontinental tentou encontrar formas de explicar alguns conceitos-chave equivocados.

1. O de que a força de trabalho mundial diminuiu
As falas sobre automação e precariedade levaram à suposição de que haveria um declínio do trabalho, em plano mundial. Não é o caso. Hoje há mais pessoas trabalhando do que nunca, muitas delas em fábricas — apesar dos “desertos fabris” e do processo de desindustrialização no Ocidente.


2. O de que a pobreza diminuiu
Se houvesse menos gente trabalhando, haveria menos gente ganhando dinheiro — logo, haveria maiores taxas de pobreza. O fato é: há mais pessoas trabalhando, porém, a pobreza continua sendo um problema sério. As pessoas empregadas aumentaram sua produtividade média e produzem muito mais hoje do que antigamente. O que as mantém na pobreza, apesar de sua produtividade aumentada — que vem, em parte, das melhorias tecnológicas — é que não conseguem usufruir uma parcela maior dos ganhos de produtividade e da mais-valia total produzida. Mas o que também mantém a taxa de pobreza constante é a destruição do estado de bem-estar e de uma série de provisões, desde subsídios para habitação até cestas de alimentos, que tem sido tirados de bilhões de pessoas.
Há, de fato, mais pessoas empregadas, mas elas não são capazes de ganhar a quantia suficiente, do total da mais-valia que produzem, para superar a linha da pobreza.
O legado da análise marxista nos fornece um conceito simples: taxa de exploração. Marx, em O Capital (1867), trata da exploração em duas formas. No plano moral, ele brada contra a exploração dos trabalhadores, particularmente das crianças. As terríveis condições de vida e de trabalho desses trabalhadores, enfureceram Marx, assim como qualquer pessoa sensível. Além disso, no marco de sua ciência, Marx estudou a forma como os donos do capital contratam trabalhadores comprando sua força de trabalho. São estes trabalhadores que produzem a mais-valia, cujos ganhos são expropriados pelos donos do capital graças a seus direitos de propriedade. Exploração, portanto, é a extração dessa mais-valia pelos donos do capital aos trabalhadores que a produzem. Marx escreveu que a taxa de exploração pode ser calculada de forma clara, se usarmos seu aparato conceitual.
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A Apple acabou de lançar o iPhone 11. Poucas características o diferenciam do iPhone X, embora a versão mais cara do novo telefone celular tenha três câmeras. É importante destacar que a Apple não fabrica esses aparelhos. Eles são manufaturados em larga escala pela companhia taiwanesa Foxconn, que emprega mais de 1,3 milhão de trabalhadores apenas na China. O iPhone é obscenamente caro [R$ 8.999 no Brasil], e a maior parte dos recursos de sua venda vão parar na Apple, não vai para os trabalhadores nem para a Foxconn. Como a Apple possui a propriedade intelectual sobre o telefone, ela delega a produção a companhias como a Foxconn, que fabrica os telefones para o mercado. A Apple devora o grosso dos lucros graças a este processo.
Cinco anos atrás, E. Ahmet Tonak realizou um estudo do iPhone 6, analisando-o desde o ponto de vista da análise marxista da taxa de exploração. Como integrante doInstituto de Pesquisa Social Tricontinental, Ahmet atualizou suas análises para acompanhar o iPhone X. Aproveitamos a ocasião para produzir o Caderno nº 2, que explica alguns dos conceitos centrais da teoria marxista e em seguida utiliza a análise da taxa de exploração para olhar mais de perto para o iPhone. A taxa de exploração nos permite demonstrar o quanto o trabalhador agrega valor no processo de produção. Ela demonstra que, mesmo se o trabalhador recebesse mais, só pela mágica da mecanização e da administração eficiente do processo de produção a taxa de exploração aumentaria. Sob o sistema capitalista, é impossível haver liberdade para o trabalhador.
A descoberta mais assombrosa da análise é que os trabalhadores de nosso tempo, que fabricam iPhones, são 25 vezes mais explorados do que os trabalhadores de fábricas têxteis dos século 19, na Inglaterra. A taxa de exploração dos trabalhadores do iPhoneé de 2.458%. Esse número nos faz lembrar de que apenas uma parte infinitesimal da jornada de trabalho vai compor o valor do salário que o trabalhador recebe; na quase totalidade desta jornada, os operários produzindo para ampliar a riqueza do capitalista. Quanto maior a taxa de exploração, mais cresce a riqueza do dono do capital, graças ao trabalho assalariado.
O caderno nº 2 foi criado com enorme cuidado por nossa Tings Chak e Ingrid Neves. Nós o produzimos com a esperança de que seja amplamente utilizado em diferentes formas de educação — seja em escolas de política, com fins acadêmicos ou para o estudo independente. O texto foi escrito numa linguagem clara e precisa, o seu desenho foi formulado para melhorar o aprendizado.
* * *
Esta semana, a ONU organizou cinco reuniões de cúpula sobre a catástrofe climática. Antonio Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, diz que duas palavras resumem estes cinco encontros: ambição e ação. Os protestos mundiais para defender o planeta ocorreram na última sexta-feira (20), e há ainda mais atos marcados na sequência. Entretanto, as conversas nos encontros da ONU permanecem estagnadas pela recusa dos EUA e de outros países ocidentais em reconhecer sua grande responsabilidade na catástrofe, ao terem ultrapassado os limites de suas cotas de emissão de carbono. A esperança de que esses países contribuíssem para o Fundo Global para o Climadesmoronou. A quantia mínima necessária é da ordem de trilhões de dólares, e não os poucos bilhões que foram prometidos. Pouco se fala em mitigar, em transferir tecnologia, em desigualdade de emissões ou tantas outras soluções substanciais que atacariam a raiz da crise atual.
Há alguns anos, a Oxfam lançou um importante estudo que mostrava como a metade mais pobre do planeta era responsável por apenas 10% das emissões globais, enquanto os 10% mais rico respondiam por 50% das emissões de carbono. No entanto, como observa a Oxfam, são as pessoas dos países mais pobres as mais vulneráveis às mudanças climáticas, muitas vezes erroneamente culpadas por causá-las. A discussão sobre desenvolvimento não tem ocorrido em paralelo à discussão sobre mudanças climáticas. Qual o sentido de dizer, para as bilhões de pessoas que produzem mais-valia, mas vivem em pobreza, que devem reduzir seu consumo? Um estudo recente da ONU diz que pelo menos 820 milhões de pessoas vivem com fome, e pelo menos outras 2 bilhões de pessoas sofrem de insegurança alimentar.
* * *
Não podemos abordar as mudanças climáticas sem falar em abolir o sistema que vive da fome e da pobreza da maior parte das pessoas do mundo, e sem reconhecer as sementes para um futuro melhor que estão sendo plantadas hoje. A corrente de pensamento crítico latino-americano nos lembra da importância disso. Num relatório feito recentemente, pelos nossos escritórios em Buenos Aires e São Paulo, José Seoane escreve: “não se trata apenas de imaginar esses futuros de forma teórica, baseando-nos em nosso passado; a questão é também refletir e difundir os projetos populares que estão se desenvolvendo atualmente e antecipar o futuro que estamos buscando”. Qual o ponto de salvar o planeta enquanto bilhões de trabalhadores morrem de fome?
O sofrimento não é uma mercadoria. Não existe mercado primário ou secundário para ele. É terra e pedras no estômago de um ser humano faminto. Um ser humano trabalhador da cadeia de produção de um iPhone.

VIJAY PRASHAD
Vijay Prashad é o diretor do Tricontinental: Institute for Social Research e editor chefe da LeftWord Books. É chefe de redação do Globetrotter, um projeto do Independent Media Institute. Ele escreve regularmente para The Hindu, Frontline, Newsclick e BirGün.


segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Democracia Representativa ou Processo Democrático pra quem?




O BRASIL TEM UM PROCESSO DEMOCRÁTICO DE REPRESENTAÇÃO – 

PARA QUEM?


As últimas eleições nos deixaram boquiabertos, perplexos, nos tiraram do lugar nenhum ou do lugar cômodo. Para uns a realidade foi uma impulsão, fomos às ruas e ao facebook bradar nossa indignação, a bem dizer, nos deixaram com o “coração peludo” como se diz por aí, e todas as cartadas foram dadas, amizades perdidas, parentes distanciaram (alguns foram tarde).
Para outros, a conjuntura nos deixou deprimidos, angustiados, sem expectativa, sem esperança e por isso, paralisados.
Alguns diante da possibilidade do “ignóbil” (não carece mencionar o nome, a simples menção pode soar como propaganda) vencer as eleições nos lançamos numa cruzada desesperada, sem pensar, ou seja, em avaliar o presente, as perspectivas, as alternativas, as saídas.
Até hoje alguns ainda perguntam: O que deu errado? Sem nos perguntar: Onde erramos?
Enfim, o “ignóbil” abriu caminho através do vale das trevas e sentou-se na cadeira almejada, bom pra ele ... nem tanto.
Nosso sistema de escolha de nossos governantes e legisladores, e por consequência, do alto escalão do judiciário e dos militares, é tido como um sistema democrático de escolha de (nossos) representantes; afinal vivemos numa democracia.
Mas o que é democracia mesmo?
Sem buscar por estudos mais profundos, seja da sociologia ou da filosofia, até porque não é este o âmago desta reflexão, vou me utilizar do seguinte conceito:
Democracia é uma organização social em que o controle político é exercido pelo povo. É um sistema de governo que resulta da livre escolha de governantes, a qual é expressa pela união e a vontade da maioria dos governados, confirmada por meio de votos. Um sistema de governo democrático abrange todos os elementos da organização política de um país. Nesse sentido, democracia não é apenas uma forma de Estado ou de Constituição, mas a ordem constitucional, eleitoral e administrativa, o equilíbrio dos poderes e órgãos do Estado, a prioridade política do Parlamento, o sistema alternativo de grupos governamentais e de oposição. A democracia é uma forma de governo que tem como fundamentos uma conjugação de princípios de organização política, dentro de um sistema social, em que prevalece:
·  a liberdade do indivíduo diante de todos os representantes do poder político, especialmente face ao Estado
·  a liberdade de opinião e de expressão da vontade política
·  igualdade dos direitos políticos e oportunidades favoráveis para que o povo e os partidos se pronunciem sobre todas as decisões de interesse geral.[i] (Grifo meu)
Pois bem, este não é o melhor conceito, ou o mais correto e nem de todo incorreto, mas nos serve neste momento porque é o conceito que está presente no homem comum, é o senso comum que se tem em mente quando se discute democracia.
Os livros de Direito Constitucional discorrem sobre o princípio democrático que se encontra prescrito no parágrafo único do art. 1º da Constituição Federal:
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania;
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V - o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.(grifo meu)
Observaram os fundamentos da nossa Constituição? O parágrafo em destaque possibilita que todo “cidadão” exercite seu direito político de escolha de seus governantes, é a chamada soberania popular.
Os direitos políticos, segundo José Afonso da Silva, doutrinador de grande referência no Direito Constitucional:
(...) os direitos políticos positivos consistem no conjunto de normas que asseguram o direito subjetivo de participação no processo político e nos órgãos governamentais. Eles garantem a participação do povo no poder de dominação política por meio de diversas modalidades de direito de sufrágio direito de voto nas eleições, direito de elegibilidade (direito de ser votado), direito de voto nos plebiscitos e referendos, assim como por outros direitos de participação popular, como o direito de iniciativa popular, o direito de propor ação popular e o direito de organizar e participar de partidos políticos.[ii] (grifo meu)
Para Alexandre de Moraes, outra referência no Direito Constitucional, que ganhou mais destaque agora como Ministro do Supremo Tribunal Federal, citando Pimenta Bueno infere que direitos políticos:
“... prerrogativas, atributos, faculdades, ou poder de intervenção dos cidadãos ativos no governo de seu país, intervenção direta ou indireta, mais ou menos ampla, segundo a intensidade de gozo desses direitos. São o ‘Jus Civitatis’, os direitos cívicos, que se referem ao poder Público, que autorizam o cidadão ativo a participar na formação ou exercício da autoridade nacional, a exercer o direito de vontade ou eleitor, o direito de deputado ou senador, a ocupar cargos políticos e a manifestar suas opiniões sobre o governo do Estado.(grifo meu)
Assim o que se deduz das lições destes constitucionalistas é que podemos participar deste sistema democrático de governo, desta forma, a primeira vista temos a ideia de que é só chegar em Brasília, lá no Palácio do Planalto, de arquitetura maravilhosa, que por ironia do destino foi concebida por um comunista e, bater na porta do Gabinete da Presidência da República, ir entrando e já se vai exercendo a cidadania, o direito político de manifestar livre, tal como: “É aí seu ‘ignóbil’ sabe que só tá queimando seu filme com as “cagadas” que fala né” e precisa dar uma segurada nos seus “pimpolhos” que só tem sangue nos olhos, ataca todo mundo e depois vai pros twitters da vida dar aqueles sorrisos cínicos que só gente louca estampa cara” (importante deixar claro que tenho meu respeito e solidariedade aos que possuem efetivamente doença mental e mesmo assim não encontram serviço/atendimento adequado neste país), pois bem, seria bom fazer isso, sem qualquer reprimenda.
Mas então podemos ir lá no Senado ou na Câmara Federal e sentar lá na mesa de deliberações, levantar o dedinho “questão de ordem” e dizer “O meu povo, lá do meu bairro, ou da minha fábrica, da minha escola, do meu sindicato, do meu grupo de teatro não tá concordando muito com essas leis que vocês estão fazendo ou alterando não ... dá pra mudar? E essa redação fascista e então, dá pra ser um texto mais, que seja mais cidadão, pelo menos ... dá pra considerar mais os direitos humanos e os valores sociais do trabalho e menos os da livre iniciativa?
Depois desce correndo da mesa e foge, combina com uns colegas pra esbarrarem nos seguranças que vem correndo logo atrás de você.
Pois bem, a gente tem a ideia de que a participação popular é regra simples: votei, o vereador/deputado/senador se elegeu, posso ficar tranquilo, pois, ele vai defender meus interesses no processo legislativo.
Abaixo segue um fluxograma para demonstrar como ocorre a aprovação de projetos na câmara Federal, e através deste link: https://www.camara.leg.br/entenda-o-processo-legislativo/, você pode ter detalhes de cada etapa.


Mas é justamente neste processo que a representatividade popular se perde, pois, o que aparenta ser um simples mecanismo de discussão e propostas para “o bem público”, trata-se na verdade de um cabo de guerra dos interesses que se defende ... aí você dirá do povo claro!
Claro que não!
A coisa já começa na forma de elaboração da lei, as palavras corretas, que se deve pensar em seus significados, pois a partir deste momento você pode expressar uma ideia de direita/centro/esquerda, cuidado onde coloca os pontos e vírgulas para que posteriormente se faça a interpretação correta da lei, senão ela fica cheia de abertura para seus costumeiros desvios.
A lei escrita vai pra Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), onde se deve analisar a forma e a matéria da lei.
Na forma se analisa se foram obedecidos os procedimentos para proposta e depois faz-se as indicações de como deve ser a votação: é lei ordinária ou lei complementar, o tema é pertinente para aquele tipo de lei, necessita de 1 ou 2 turnos para votação, qual o quórum é necessário para aprovação.
Quanto à matéria, se analisa se quem propôs a lei tinha autoridade pra isso, há matérias que são prerrogativas somente do executivo, por exemplo, quando se trata de aumento do número de funcionários, afinal é ele quem possui o orçamento e saberá se pode ou não gastar mais com o funcionalismo público (de fato nunca se sabe como o orçamento efetivamente está sendo utilizado, exceto quem o controla, eu seu está lá no papel, mas ...).
Nesse ponto a soberania popular já se perdeu, pois devemos perguntar quem compõe a CCJ? O projeto precisa passar pela comissão de Orçamento, Tecnologia, Educação, Saúde? Quem compõe essas comissões?
Aí você pensa, votei naquele deputado/senador/vereador e ele defenderá meus interesses. Pois não é bem assim.
Nas campanhas os candidatos fazem de tudo pra se elegerem, não é a toa que possuem assessoria/marketing de campanha, os mesmos profissionais que trabalham com publicidade pra te vender comida, roupa, ideia de bem estar, ideia de sucesso ... também vendem um vereador/deputado/senador, só pra ficarmos na esfera legislativa.
Daí vai o recado, sabe aquele seu candidato que se elegeu?! comece a pensar: “como ele pensa, como ele vive”, com quem ele almoça e janta, com quem ele passa a férias, onde ele passa as férias, qual colégio o filho dele estuda, ele tem plano de saúde, qual? Qual a experiência de vida dele? Afinal as articulações para as eleições começam antes, no processo pré-campanha? Não! Anos antes, quando os sujeitos e sujeitas fazem faculdades juntos, os pais que são sócios da mesma empresa, os amigos que tem interesses comuns.
Os candidatos de direita, muitos deles encontrados também no centro e alguns até já se aventuraram à esquerda, organizam suas vidas em torno do capital, suas empresas, suas escolas, seus bancos, preparam seus filhos e no caminham encontram outros que pretendem ter sucesso na vida, independente do custo, independente que precise passar por cima de outras pessoas, pois o que um dia foi interesse pessoal, passou a ser interesse do coletivo a quem passam a servir.
Então aquele sujeito/sujeita de sucesso passa a servir aos interesses de seu grupo: financeira, banqueiros, bolsa de valores, agronegócio, sem contar aqueles que integram a “banca da bala”, “banca da religião” e por aí vai.
Essa ideia de defesa de uma proposta, de uma ideia, de um estilo de vida, de uma forma de pensar o país, permeia todo o tempo como um representante faz ou não proposições legislativas, muitas das vezes a pessoa está lá só pra garantir que aquele que bancou sua campanha não tenha prejuízos, percalços, só pra frear novas leis que limitem sua atuação, sua forma de lucrar. Influencia também em qual das comissões ele vai participar, como ele vai votar, se faz ou não emendas e a propaganda que ele faz de tudo isso, afinal um representante político nada mais é que um garoto propaganda, de propaganda política (ideia, proposta de governo, proposta econômica) a questão é de quem? Para quem? Porque?
No processo ainda, há muitas, muitas, mas muitas negociações. Depois de feita uma proposição legislativa, as negociações começam pra empurrar ou acabar com o projeto, e se não der pra acabar com ele, como se pode cozinhá-lo em banho-maria pra que não chegue pra votação, e se chegar a votação como faço pra obstruí-la.
Errado? Certo?
Esse é o jogo pra quem quer participar do nosso democrático sistema de representação, as regras já estão prontas, aquelas escritas e aquelas de décadas de costume.
E são nessas negociações que muitos dos “representantes do povo” deixam de lado suas convicções e interesses, seja porque cede aqui, pra que seu projeto seja votado ali, ou faz vista grossa de um aspecto da proposta porque aceitou verba para um projeto de sua cidade, quando não cede porque alguém do seu grupo foi escolhido para um cargo/função. Por tudo se negocia.
Pra não se ir muito longe, pense aí na sua cidade, quais são os interesses dos vereadores, porque tomam a atitude que tomam, porque defendem o prefeito mesmo que este tome medidas impopulares, que seja prejudicial à população ou pior quando atingem os humildes, os desvalidos. Por isso que digo, a medida, a lei interessa a quem?
Então talvez você diga: quer dizer que no processo se esquece que o sistema é de representação?
Eu diria, no sistema capitalista de produção algum dia houve interesse de representasse em prol da classe trabalhadora?
Vale a pena dar uma olhada neste link: https://static.poder360.com.br/2018/10/Novo-Congresso-Nacional-em-Numeros-2019-2023.pdf, que é elaborado pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar – DIAP dá pra se se der um Raio-X do atual Congresso, como se compõe de forma partidária, número de mulheres e homens, formação.
Isto porque neste processo se esquece o todo, qual seja: vivemos num sistema capitalista, o interesse do capital se sobrepõe ao interesse dos indivíduos, o interesse do capital é inconciliável com o interesse da classe trabalhadora, a classe trabalhadora é e sempre vai estar em maior em número, sem a submissão da classe trabalhadora o capital não vive.
O todo não permite uma representação efetiva da classe trabalhadora. Enfim este sistema serve ao capital: serve aos bancos, ao agronegócio, às empresas, às grandes escolas/faculdades, aos grupos/convênios de saúde, serve também aquele que pensa que faz parte desta classe, sem ser.
Assim pra não me estender nessa reflexão, onde cabem diversas outras alças de reflexão: o que é democracia? Esse sistema é democrático? O sistema representativo é representativo mesmo? Quais os outros modelos existentes? A democracia é inconciliável com a representação popular? Se somos maioria porque o sistema não é feito pra atender a maioria trabalhadora?
Desta forma, cabe apenas uma última reflexão. Porque as lideranças de esquerda insistem em participar deste sistema de representação? Elas acreditam que podem mudar a relação capital x trabalho pelo sistema legislativo ou mesmo executivo? Qual o plano ao ser eleito?
Uma coisa é certa o capital sabe qual é seu plano, por isso até o “ignóbil” enfrenta dificuldades em implantar seu projeto, por que até ele está tendo que negociar ... só temos que lembrar que ele tem o que oferecer: o lombo da classe trabalhadora ... é o que tem feito e, mesmo as parcas lideranças da esquerda não conseguem ter voz.
Porque? Falta reflexão, avaliação, organização, ação, planejamento, formação e capacitação, solidariedade, uma ideia de classe? Não sei, mas temos que fazer tudo isso, juntos!
Quem dera pudéssemos implantar a primeira parte do parágrafo único do art. 1º da Constituição Federal: “Todo poder emana do povo.” e tal qual nossos “hermanos” do Equador que corajosamente se insurgiram contra medidas que trarão mais precarização às condições de vida e trabalho à classe trabalhadora e juntos pudéssemos mudar tudo isso.
Esse “modelo de representação” que se quer que acreditemos seja para defesa de nossos interesses, as condições de vida (saúde, educação, moradia, transporte, cultura e lazer) e trabalho, primeiro aqui, depois nos juntando com nossos hermanos da América Latina e depois ... o mundo né!

 Fátima Marques 
Membro do IDE


[i] Disponível em: <In: https://www.todamateria.com.br/democracia/> Acesso em 13 out.2019.
[ii] José Afonso da Silva citado por Motta, S.; Barchet. G. Curso de Direito Constitucional. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.

sábado, 5 de outubro de 2019

Agro é Tech? Ou O capitalismo não deu certo 2





Como no nosso último post podemos afirmar que o capitalismo não deu certo. Nele vimos milhares 

de caixas de tomates sendo lançadas fora por não darem lucro. Agora são os fungos e a destruição 


das pesquisas mais saudáveis.



recomendamos a leitura atenta e a reflexão.


Inconformados de divergentes do Norte












No dia 21 a Folha de SP publicou uma reportagem “Fungo dizima plantações de bananas pelo mundo” [1]. O artigo comenta que as plantações de banana no mundo estão em perigo devido a espécies de fungos que podem chegar a dizimar 80% a 100% das plantações. É importante destacar que é a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) que dá o respaldo cientifico para os agricultores nesses casos, fazendo pesquisas e se colocando à disposição do agricultor brasileiro e que hoje vem sendo desmontada. O Artigo também cita: “A Embrapa mantém um programa de melhoramento genético de mudas e variedades, com bons resultados para a raça 1 do Fusarium, mas ainda não há variedades resistentes à raça 4 no mundo”. A Embrapa vem sendo destruída juntamente com a pesquisa e tecnologia brasileira. “A própria Embrapa, propulsora de boa parte dos avanços da agropecuária brasileira há quatro décadas e líder em tecnologia da agricultura tropical, começa a ter dificuldades até para manter projetos de baixo investimento, devido à escassez de recursos [2]”.
A reportagem sobre os fungos conclui que “A esperança pode vir da engenharia genética” desenvolvida pela Universidade de Tecnologia de Queensland, na Austrália, onde obtiveram resultados positivos para testes de resistência em solos infectados.
O sistema do agronegócio está sendo saudável para o ambiente? Devemos aceitar que os produtos transgênicos são a solução para os problemas causados pelo tipo de produção agrícola desenvolvido atualmente?
A pesquisa brasileira, a educação pública, os povos originários, os movimentos camponeses vem sendo hostilizados e destruídos... e acreditamos que a única alternativa é a transgenia?  
Precisamos refletir sobre quais opções temos para que os problemas que temos advindos da agricultura intensiva sejam resolvidos de maneira mais cooperativista. Se pensarmos em apenas uma solução de transgenia as empresas detentoras dessa tecnologia irão dominar mais uma vez o mercado e, além disso, continuarão a investir em monoculturas. Ou seja, socializando o prejuízo e monopolizando o lucro.