sexta-feira, 13 de julho de 2018

Mostrar para esconder - o papel da mídia na construção do conformismo.



Você acredita que a mídia "faz a cabeça" do povo?  Você pensa que ela manipula as pessoas do jeito que é mais conveniente para ela e para quem está no poder? Será que a mídia é uma espécie de poder contra o qual não há nada que se possa fazer? Sendo assim teríamos apenas que torcer para que alguma força exercesse o controle sobre ela? Ou ainda só nos restariam as denúncias nas redes sociais e os protestos nas ruas contra suas manipulações?

Nestes tempos nos quais a mídia é acusada de manipuladora e golpista e ao mesmo tempo de educadora e defensora das liberdades de expressão e pensamento vale apena conhecer e estudar este excelente estudo de Emílio Gennari publicado pela primeira vez em 2012: Mostrar para esconder - o papel da mídia na construção do conformismoEste estudo lança luz sobre a relação da mídia com o homem do povo, com as grandes massas e com os formadores de opinião e aponta os caminhos da construção do conformismo realizado pela mídia e ao mesmo tempo indica as possibilidades da rebeldia e da resistência dos que anseiam por um mundo sem fronteiras, sem guerras, sem trapaças...


Recomendamos calma e paciência e olhos bem abertos


Boa leitura

Emilio  Gennari









 

Mostrar para esconder - o papel da mídia na construção do conformismo.


Ao reproduzir, cite a fonte.


“A arma mais poderosa nas mãos do

opressor é a mente do oprimido”.

Steve Biko.


Índice:


Apresentação                                                                                                                                    04

Introdução                                                                                                                                         05

1. Mídia: imparcialidade e anestesia do pensamento                                                                       06

2. Do espetáculo à invisibilidade                                                                                                     14

3. O pensamento único e a lógica das emoções                                                                                21

4. A aparência que transforma o ter em ser                                                                                      29

5. A mágica das palavras                                                                                                                  38

6. A preciosa capacidade de recomeçar                                                                                            45

Bibliografia                                                                                                                                       55


Apresentação.

Por que o povo não reage? Por que não enxerga o que passa diariamente sob seus olhos? Por que a exploração não aumenta sua indignação e tudo parece tão rotineiro a ponto de ser considerado normal? Por que, numa época em que é facilitado o acesso à informação, as pessoas revelam-se incapazes de entender o que está ocorrendo? Que elementos conseguem levar os marginalizados a condenarem os que lutam em seu meio? Perguntas como estas nascem espontaneamente diante da crescente falta de envolvimento dos que, por sua situação, deveriam ser os primeiros a se engajarem nos movimentos que buscam derrotar a exploração.
Seria ótimo se o estudo que segue pudesse apresentar um diagnóstico completo e os antídotos às investidas da elite que cimentam o conformismo e o consenso em volta de suas idéias e valores, mas nossas reflexões são mais modestas. Elas se focam nos aspectos que anestesiam a indignação e desativam a capacidade de pensar, esta atividade subversiva que pode transformar pacatos cidadãos em pessoas que questionam a ordem e se recusam a servi-la.
Não são poucos os autores que se debruçaram sobre isso e ofereceram pistas de reflexão, respostas inquietantes e, obviamente, novas perguntas. A título de exemplo, queremos lembrar aqui de um artigo de George Orwell, publicado no jornal A Tribuna, em janeiro de 1946.
Numa época em que o capitalismo europeu ensaiava os primeiros passos para se reerguer das ruínas da segunda guerra mundial em luta aberta contra a influência do socialismo na Europa Ocidental, Orwell percebe que o rádio tem um novo papel na sociedade. Agora, escreve ele, em muitíssimos lares ingleses, o rádio está literalmente sempre ligado, ainda que seja manipulado de vez em quando para se ter certeza de que só vai transmitir música ligeira. Conheço pessoas que deixam o rádio a tocar durante as refeições e continuam ao mesmo tempo a conversar suficientemente alto para que as vozes e a música se anulem reciprocamente.
Isto obedece a um objetivo bem definido. A música impede que a conversa se torne séria ou sequer coerente, enquanto o barulho das vozes afasta qualquer possibilidade de ouvir atentamente a música e, assim, não dá ensejo a que surja aquela coisa aterradora, o pensamento. Ao subjugar as pessoas na audição das mesmas futilidades, o rádio proporciona as condições para moldá-las com facilidade, o que faz o escritor concluir que muito daquilo a que hoje chamam de prazer é simplesmente um esforço para destruir a consciência.[1]
Não sabemos o que Orwell diria diante dos atuais programas televisivos, da internet ou dos milhões de pessoas que, ao saírem de casa, colocam um fone de ouvidos a fim de que suas músicas favoritas as acompanhem, em aberta disputa com os ruídos da cidade. Com certeza, reafirmaria o quanto isso impede a conversa, o diálogo, o contato com os demais, a capacidade de ouvir a cidade e de prestar atenção à vida que encerra, com suas contradições e mudanças em andamento. Talvez, iria menear a cabeça diante das pesquisas que comprovam quanto esses autômatos humanos ligados a um fone de ouvidos percorrem ruas e avenidas, literalmente, sem ver o que está a seu lado e, portanto, com uma redução drástica de sua capacidade de perceber o ambiente em que se movimentam.
Mas, provavelmente, ele também ficaria intrigado com uma questão: como é possível que as imagens de um acontecimento sejam capazes de esconder a realidade que o produziu? Em outras palavras, quais são os mecanismos que permitem ao indivíduo se considerar uma pessoa informada ao mesmo tempo em que é desativada sua capacidade de reflexão?
Reconhecemos humildemente que não temos o talento de George Orwell para ajudar na empreitada que aqui se inicia. Por isso, não dispensamos a intervenção da coruja Nádia para fazer com que nossas reflexões se tornem acessíveis à classe trabalhadora e, sobretudo, aos homens e mulheres que, em seu meio, se mantêm firmes na luta para fazer com que haja tudo para todos.

segunda-feira, 2 de julho de 2018

Reflexões sobre o Mal do Século: “Da alienação à depressão - caminhos capitalistas da exploração do sofrimento”





Olá,


Publicamos a seguir um artigo de Emilio Gennari que procura refletir sobre o “mal do Século XXI”; a Depressão.  Gennari foge ao lugar comum que trata a depressão como um problema apenas do indivíduo. Suas reflexões nos levam a perguntar e a considerar seriamente a sua hipótese, segundo a qual, o sofrimento tem se transformado em fonte de lucro. Haja vista, o título de seu estudo:  “Da alienação à depressão: caminhos capitalistas da exploração do sofrimento”.



Anotações para uma reflexão sobre o conformismo do “novo” trabalhador.


Já é parte do senso comum a idéia de que o perfil dos trabalhadores tem mudado fortemente em relação ao de duas décadas atrás. A solidariedade, a indignação e o sentimento de coletividade andam em baixa e a atuação dos dirigentes sindicais tem se tornado cada vez mais difícil.

No texto que segue, apresentamos fragmentos de uma reflexão a ser aprimorada e aprofundada. Nele, reunimos alguns elementos que permitem avançar em relação às conclusões a que chegamos na segunda edição do estudo “Da alienação à depressão – caminhos capitalistas da exploração do sofrimento”, mas que ainda demandam uma análise cuidadosa. Apesar disso, submetemos este rascunho à sua apreciação para que possa ajudar a entender melhor o momento de dificuldade vivido pelos sindicatos e demais movimentos. Boa leitura!

*   -   *   -   *

Nos últimos 20 anos, as emoções ganham um lugar de destaque nas preocupações das forças que buscam moldar um consenso social capaz de levar as pessoas a melhor se adaptar às novas exigências da exploração. Para percebermos esta realidade, basta abrir as centenas de anexos que acompanham os e-mails que recebemos ou ler algum livro de auto-ajuda. Via de regra, seu conteúdo revela que a análise racional da realidade cede o lugar a impressões e idéias que dialogam com a sensibilidade das pessoas e oferecem um enfoque sentimental a aspectos do cotidiano que eram vistos como um obstáculo para a felicidade do indivíduo. Além da ausência de uma comprovação empírica consistente, chama atenção o convite a aceitar a realidade como algo natural e não como fruto de uma construção histórica que se dá a partir de determinados interesses de classe. A ordem social que serve de pano de fundo parece algo tão cotidiano, neutro, imparcial e inevitável quanto a lei da gravidade. Lutar contra ela, passa a ser visto como ilógico e sem sentido, ao passo que conviver com a ordem para aproveitar o que esta pode oferecer é apontado como um passo necessário para construir metas individuais que abram os caminhos da afirmação pessoal e da felicidade possível. O “EU” que se constrói numa mistura de aceitação do sofrimento e de esforço para superar os próprios limites sabe que tem que “ralar para subir na vida”, mas, ao mesmo tempo, começa a ler os entraves com os quais se depara como ameaça ao seu bem-estar emotivo e à auto-estima. Trata-se, portanto, de algo que passa a ser vivido cada vez mais na intimidade de um sujeito cujos critérios de análise o dobram sobre si mesmo na exata medida em que o colocam como início, meio e fim de qualquer ação a ser empreendida e o tornam incapaz de uma leitura da realidade na qual o “OUTRO” não seja somente mais um concorrente a derrotar.

A sustentar a percepção de que tudo depende da capacidade de o indivíduo buscar sua realização e acreditar em suas capacidades, a baixa auto-estima começa a ser sistematicamente apontada como a origem dos problemas sociais que antes eram atribuídos a uma situação de injustiça que a sociedade reproduz pelas relações nela estabelecidas. Desta forma, não são mais os mecanismos econômicos, políticos, sociais e culturais a gerarem e alimentarem uma realidade de pobreza, marginalização, discriminação, violência etc, mas sim a ausência no sujeito de uma atitude imprescindível ao seu desenvolvimento e à sua afirmação social: a auto-estima. Se, de um lado, a gente não escolhe o berço onde nasce, de outro, para a intelectualidade a serviço da elite, o que explica a pobreza em que você se encontra é a ausência de atitudes positivas em relação ao presente e ao futuro. Se você não acredita em você mesmo, não valoriza o seu potencial, não se dá ao trabalho de descobrir e pôr pra funcionar os talentos de que dispõe, então, não há como deixar esse berço incômodo em que o acaso o fez nascer. Trocado em miúdos, ninguém tem culpa de você ter nascido pobre, portanto, pare de se queixar, pense positivo, levante a cabeça, tente novas possibilidades, invista em você mesmo, assuma desafios, olhe para o novo, pois a responsabilidade por você continuar na condição social em que se encontra é somente sua!

A dinâmica que fortalece no sujeito esta percepção tem como base o fato inegável e natural de que qualquer situação é vivenciada de forma diferente por cada membro de um determinado grupo social. O foco, portanto, não é o grupo e, menos ainda as relações sociais a que está submetido, mas sempre e somente o indivíduo que vive de forma particular a realidade na qual está inserido. No caso da exclusão, por exemplo, vários autores colocam suas origens numa experiência de alienação, na baixa auto-estima, na passividade, na dependência, na desorientação, no medo, na raiva, na apatia, na ausência de aspirações, na falta de perspectivas ou atitudes do sujeito e na incapacidade deste se adaptar às demandas da realidade. Desta forma, a exclusão não nasceria de precisos mecanismos de exploração/acumulação no campo da economia e das relações de propriedade, mas sim nos núcleos da esfera privada que estão na base da formação de cada um de nós, entre os quais a família ganha, evidentemente, um papel de destaque. Na medida em que esta célula da vida em sociedade reproduz em cada membro uma devastação interior dos sentimentos e das emoções que torna os indivíduos incapazes de se afastarem de um comportamento anti-social, ela passa a ser responsabilizada pela incapacidade de o sujeito dar a volta por cima. A família ser pobre, portanto, não é problema nem empecilho para o desenvolvimento de atitudes positivas na vida dos seus membros desde que, como peça-chave da vida em sociedade, ela se torne capaz de levá-los a acreditar em si mesmos, no seu potencial e a lutar para vencer na vida nos moldes narrados, por exemplo, no filme “Os filhos de Francisco”. Num passe de mágica, os mecanismos da injustiça social desaparecem deixando aberto o caminho à supervalorização das atitudes individuais.

Para o desemprego, a explicação não se distancia da que acabamos de apresentar. Ninguém duvida que esta praga dos tempos atuais provoca efeitos psicológicos devastadores a ponto de levar o sujeito a um estado depressivo ou até mesmo a tirar a própria vida. Mas o problema está justamente no movimento que isola as emoções da realidade do mercado, da exploração, das pressões sociais e leva a ver os distúrbios psíquicos como resultado de emoções não trabalhadas que, por atingirem grupos sociais significativos, justificariam o fato de colocá-las na origem dos fenômenos antes desconhecidos. Na medida em que o indivíduo não sabe lidar com os sentimentos negativos que experimenta diante do desligamento da empresa, a demissão gera, involuntariamente, uma personalidade potencialmente destrutiva, responsável, em última análise, pelo mal-estar individual e social num processo que se alimentaria, portanto, não a partir de condições materiais, objetivas, do mercado e das necessidades da exploração, mas de atitudes individuais, oriundas de pessoas descontroladas e despreparadas que deixaram de acreditar em si mesmas e em seu potencial para poder recomeçar.

A passagem das motivações sociais e econômicas para os problemas da personalidade como explicação que tende a se generalizar, tranquiliza a elite, permite-lhe continuar sua obra de embrutecimento das maiorias em função das metas que se propõe e lhe possibilita matar dois coelhos com um único golpe: de um lado, o substrato econômico, político, social e cultural acaba escondido pelo biombo de uma vontade do sujeito que tudo explica, tudo pode, tudo tem condições de realizar. De outro, a luta política que apontava à necessidade de superar a desigualdade econômica, a discriminação, a marginalização através de uma nova ordem social é substituída pela decisão do indivíduo de dar a volta por cima. Vitima de uma situação pela qual se supõe que ninguém pode ser culpado (pois, como se diz, “as coisas são assim mesmo”, “é o mercado”, etc.), o “EU” só não conseguiria se reerguer e optaria por comportamentos/atitudes aberrantes apenas por um desvio de conduta alicerçado na incapacidade de administrar as emoções negativas oriundas da situação em que se encontra. Graças à mágica da presença/ausência de auto-estima, a elite, que fez, e continua produzindo, os estragos com sua exploração da classe trabalhadora, deixa o banco dos réus para assumir o papel de bem-feitora daqueles que, através de suas ações de “responsabilidade social” buscam um lugar onde se refugiar, ao passo que a vítima é relegada ao banco dos réus, pois, nesta lógica perversa, a ordem social não pode ser condenada por ser “natural” e comum a todos ao passo que só não sai do buraco quem não quer.

Para o novo conformismo, querer não é apenas poder, mas sim a atitude imprescindível para levantar, recomeçar, acreditar no sucesso, se afirmar e subir novos degraus da pirâmide social. Quando isso não ocorre, então, é porque o núcleo de onde o sujeito saiu está doente, desenvolve atitudes, relações, idéias, valores e formas de comportamento consideradas “tóxicas” para o futuro e o bem-estar individual e coletivo. Por outro lado, esta percepção da realidade faz com que o indivíduo alheio a este núcleo não se sinta responsável pelo que ocorre na sociedade. De fato, eu que nasci numa “boa” família como posso ter algo a ver com a família da favela da qual saiu “esse fulaninho aí”? Enquanto sujeito, o que posso fazer é agir para me resguardar de uma eventual ameaça, buscar me proteger e, obviamente, pedir que alguém faça valer meus direitos caso venha a ser atingido por uma situação desagradável. Se, como indivíduo, não tenho a menor responsabilidade na produção/reprodução das relações sociais do ambiente em que vivo, então o meu papel deve se limitar à cobrança dos meus direitos, de preferência através de um profissional competente, capaz ao menos de obter monetariamente a compensação pelos estragos produzidos na minha auto-estima e no estado de espírito forçado a passar por certo período de sofrimento.

Analisando agora o âmbito das relações de trabalho à luz desta perspectiva, é curioso perceber que as vítimas de assédio moral, por exemplo, não percebem que o próprio assédio só é possível na exata medida de sua submissão. Ou seja, além do inegável papel do assediador, encontramos a ausência de ação de um indivíduo ou grupo que deixou de ser AUTOR, de escrever seu roteiro de relações e de batalhar por ele e que, diante do aparecimento de distúrbios psíquicos, limita-se, no máximo, a cobrar na justiça a reparação dos danos morais sofridos. Longe de perceber que sua omissão é um dos elementos fundamentais para o assédio ganhar asas, sua postura continua se recusando a agir diretamente no âmbito do trabalho. O mais comum é que culpe o chefe/supervisor mau caráter e transfira para o advogado a cobrança uma compensação monetária. Esta opção não só confirma aos patrões que o crime compensa (na medida em que, no Brasil, não mais de 10% dos injustiçados buscam recuperar seus direitos na justiça, sendo que seis deles farão acordo antes do encerramento do processo), mas, sobretudo reafirma na prática que a realidade da qual é vítima é o resultado de forças externas poderosas e incontroláveis, nunca de sua omissão.

Neste processo, o fato de as desgraças poderem ser sempre atribuídas aos OUTROS, e nunca à falta de ação pessoal, permite aos patrões encolher cada vez mais o campo de autonomia do sujeito e dificultar sobremaneira a preparação de uma resposta coletiva na medida em que nem o indivíduo, nem o grupo percebem que as coisas só estão assim porque eles deixam de agir ou atuam somente numa determinada direção. Como funcionário, preciso sempre de alguém para atribuir a culpa da minha condição, pois encontrar um culpado me exime de assumir as responsabilidades que tenho nos acontecimentos e permite atribuir os meus problemas a uma causa externa, sobre a qual, aparentemente, não há o que possa fazer. O que, por sua vez, só reafirma que posso apenas cuidar de mim e nada mais.

Vale ressaltar que as queixas e a busca de um culpado não são criticáveis enquanto tais. Na nossa sociedade são muitíssimos os problemas dos quais se queixar e maior ainda é o número de entidades/pessoas contras as quais apontar o dedo ao formular acusações. A busca de um culpado, porém, torna-se um problema quando o indivíduo se livra de todo senso de responsabilidade pela própria condição e pela degradação das relações sociais ao seu redor. Todos vivemos em circunstâncias sobre as quais temos pouco controle, mas se renunciamos à possibilidade de exercer este mínimo de influência sobre a orientação da vida coletiva corremos o risco de depreciar o sentido da nossa humanidade e tornarmo-nos cada vez mais vítimas de nossa própria omissão.

Isso explica porque, como indivíduo, detesto um sindicato que aponte minhas responsabilidades e aumente minha insegurança ao me colocar frente a frente com a realidade dos fatos. Tudo o que preciso é que forneça um bom advogado, lute por uma justiça ágil, coloque processos de cobrança alheios a qualquer risco para que, reparado o dano sofrido,  “EU” possa recuperar minha auto-estima, ser reconhecido e retomar o meu caminho. Como qualquer ser humano, eu, trabalhador da categoria, gosto de acreditar em algo ou alguém porque isso me faz sentir confortável e amparado, e não de me ver como soldado na linha de frente, diante de um inimigo poderoso e com a estranha sensação de virar alvo ao menor deslize que venha cometer. O que quero mesmo é que seja possível ter tudo, ao mesmo tempo, agora e, obviamente, sem riscos! É como se, ao desejar um filho, a condição para iniciar a gravidez fosse a de não lidar com enjôos, não ficar com dores nas costas, não ganhar peso, nem ter aqueles efeitos desagradáveis que costumam aparecer neste período e, obviamente, dar à luz uma criança saudável que não dê trabalho e nem faça perder uma única noite de sono. A esta altura, o bom senso aconselharia comprar um boneco, mas, para não desagradar, não são poucas as vezes em que se opta por passar a mão na cabeça, por entender e por deixar de colocar as pessoas frente a frente com suas responsabilidades históricas.

Para agradar, para ser vistas como representativas e combativas ou, simplesmente para não correr riscos de perder associados, as direções sindicais deixam freqüentemente de tratar os trabalhadores como adultos e enveredam por formas de paternalismo tão nefastas quanto às que eram marcada pelo assistencialismo dos velhos pelegos. Por isso, até a que ponto a ação sindical consegue construir a dúvida na cabeça de seus representados ao explorar a via do sentimento para recolocar a razão diante da realidade das relações sociais que escapa da percepção do senso comum? Afinal, sabemos “incomodar” o trabalhador ao colocá-lo diante de suas responsabilidades históricas para consigo mesmo e os demais ou a postura do sindicato acaba favorecendo o processo que descrevemos com atitudes e serviços que compensam parcialmente a falta de atuação coletiva, acabam reafirmando as justificativas individuais para a omissão e ocultando o desenvolvimento dos mecanismos de exploração? E, neste processo, estamos conseguindo nos fazer entender ou nossos interlocutores apenas balançam a cabeça à espera de que, terminado nosso discurso, possam voltar a seus afazeres com a sensação de ter perdido o próprio tempo?

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Como já dissemos, o estado emotivo das pessoas torna-se o elemento-chave para definir sua identidade, seus anseios, seus sonhos, enfim, sua realidade. Neste processo, a gestão das emoções é a maneira mais fácil de guiar o comportamento individual e coletivo, por dispensar a realidade material na qual o sujeito se encontra, fazendo com que tudo dependa de um simples esforço de vontade. Não por acaso o termo auto-estima é usado para indicar o sentir-se bem consigo mesmo, o respeito para si próprio, a confiança em si mesmo e nas próprias capacidades, o que faz da auto-estima a expressão de um atitude serena, confiante e um estado de espírito desejável para quem deseja se tornar um vencedor, apesar dos limites de sua condição econômica e social.

Mas por que deveríamos pensar que problemas sociais tão complexos como os que o Brasil enfrenta podem ser causados por um único fator, ou seja, o sentir-se mais ou menos bem consigo mesmo?

Se o que caracteriza a identidade do indivíduo é a maneira pela qual ele se sente em relação a si mesmo (o que ocorre através de suas emoções), então todas as iniciativas que procuram promover ou melhorar esta situação de bem-estar não encontram dificuldades em serem aceitas, assimiladas e vistas como naturais.

Mas como isso é possível?

A tendência a reduzir uma realidade complexa a um problema de auto-estima não se baseia em dados científicos, mas sim em elementos que confirmam pontualmente as intuições e pressupostos do indivíduo. Esta postura tem sido fortalecida pela progressiva valorização do sentir em relação ao raciocínio lógico, movimento que dispensa uma investigação científica e racional. O “caso” individual é separado das condições materiais que permitiram o seu desenvolvimento/sucesso e passa a ser apresentado como modelo a ser seguido por quem partilha o mesmo estado de espírito. Um prato cheio para a lógica formal do senso comum pela qual o fato de uma pessoa em cada mil ter conseguido dar a volta por cima é mais que suficiente para cobrar dos 999 restantes a suposta falta de compromisso que gerou o seu fracasso. Trata-se de algo próximo ao que ocorre com quem joga na loteria. No verso do bilhete está o número de possibilidades reais de ganhar o prêmio almejado, mas para o jogador basta saber que alguém, ao fazer uma jogada mínima, pôs a mão numa bolada de dinheiro. Por isso, contrariando qualquer dado empírico, ele sente que pode ganhar.

O fato de a auto-estima ser apontada como chave de leitura para explicar situações sociais complexas não tem como base as evidências que emergem da realidade, mas sim uma idéia de auto-estima que, por ser vaga e ter um sentido flutuante, se adapta a qualquer circunstância, tornando-se um mito que pode ser facilmente incorporado na visão de mundo do povo simples e por ele repetido à exaustão como explicação racional de sua situação. Se querer é poder, então eu não quis o suficiente, não me esforcei o suficiente, não me preparei como devia ou desanimei justo quando era necessário acreditar e apostar todas as fichas. A causa dos problemas pessoais, vista como tendo origem em situações estritamente individuais, tem assim sua percepção confirmada em cada fracasso do sujeito. O “EU” sabia que a realidade era o que era. Um erro de leitura, adaptação e intervenção só pode ser atribuído ao mesmo “EU” num círculo vicioso que, ao deixar o indivíduo como responsável único pelo que lhe acontece, o enaltece ou faz precipitar proporcionalmente aos seus sucessos ou fracassos.

O fascínio da auto-estima se deve também à convicção do seu poder quase mágico ou dos seus efeitos milagrosos. Como vimos, é tida como elemento-chave para o desenvolvimento positivo do indivíduo, para o sucesso futuro da inteligência e do talento, tornando-se caminho obrigatório para a felicidade. Uma espécie de vacina contra os males que afligem a sociedade e de estímulo necessário para subir na vida.

Mas isso não é tudo. Sabemos que é somente após uma análise criteriosa que tomamos consciência de quanto a globalização, o mercado, as relações de trabalho e de propriedade determinam nosso comportamento e influenciam as ações que empreendemos. Estes elementos do dia-a-dia se apresentam diante de nós de forma tão natural que, para a maior parte das pessoas, acabam desaparecendo atrás da convicção de que suas ações e sentimentos vêm de algo que está apenas dentro delas, daí que o estresse, a crise dos quarenta, uma situação de esgotamento físico e mental, etc, são remetidas a um comportamento individual, fruto de uma forma de ver e dar sentido à vida produzido pela cabeça do indivíduo e, portanto, visto como algo privado e solitário. Esta percepção superficial do cotidiano da história faz perder a capacidade de perceber o amplo leque de elementos que partilhamos com os demais e as forças sociais que influenciam nossas decisões.

Nesta situação, não é de estranhar que seja difícil dar um sentido à própria existência. O isolamento leva o indivíduo a acreditar que as dificuldades de encontrar um sentido para a vida sejam oriundas de um problema interior, próprio de cada um. De conseqüência, não estaríamos diante de algo que tem relação com a incapacidade de a sociedade criar laços comuns de sentido através de uma identidade coletiva e um sentimento de solidariedade capazes de servir de rede de proteção aos seus membros. O que, por sinal, já ofereceu resultados surpreendentes até mesmo em situações tão traumáticas quanto as de uma guerra. (1)

O mal-estar que resulta desta sensação de vazio passa assim a ser vivido como problema individual, de natureza fundamentalmente emotiva. O mundo interior do sujeito reafirma-se como o âmbito no qual se acredita devem ser resolvidos os problemas da sociedade, pois se supõe que sem um indivíduo que acredita em si mesmo, dificilmente teremos a possibilidade de impedir um comportamento anti-social e construir um cidadão dedicado exclusivamente a fazer o “seu” dever, a cumprir a “sua” parte, como se para o bem comum bastasse a simples somatória dos esforços individuais propensos a fazer o que é considerado correto, bom, justo e louvável pelo senso comum moldado de acordo com os interesses dominantes.

Mas como é possível que isso “pegue” em meio a uma realidade na qual a maioria da população continua amargando uma situação de marginalização?

Mais uma vez, o campo das emoções oferece um caminho viável para fortalecer a idéia de que o individuo deve se tornar paladino de si mesmo. O “EU” deve focar suas energias em sentir-se bem consigo mesmo, pois este bem-estar é uma condição virtuosa indispensável para as suas realizações. O que implica em colocar em segundo plano os comportamentos, as preocupações e as atitudes que distraem o sujeito das exigências e da busca de sua realização pessoal.

Neste sentido, se você está com raiva de alguém ou, ao contrário, se apaixona por uma pessoa, no fundo, você está se amarrando ao outro. Quanto mais este vínculo se fortalece, mais o sujeito estaria impedido de crescer e progredir no plano emotivo na medida em que estes sentimentos, ainda que opostos, estariam afastando-o da preocupação central que é sua realização pessoal. Para alguns autores, quando você se compromete com algo externo a você mesmo (a felicidade do parceiro/a, o tratamento de pais doentes, a adesão a uma causa social, etc.), passa a ser dominado por um processo negativo pelo qual a sua felicidade depende de algo que não é apenas você mesmo.

O compromisso com o sofrimento ou a necessidade do outro, base para a formação do sentimento de coletividade, passa a ser visto como falsa generosidade ou dependência, fruto de uma consciência que ainda se preocupa em apaziguar sentimentos de culpa e de vergonha vindos de relações vividas em outras épocas e, portanto, ultrapassadas e prejudiciais para o indivíduo da modernidade. Quem se dedica corpo e alma a ajudar os demais ou se envolve profundamente numa causa social estaria apenas descuidando de si mesmo, das próprias exigências e, obviamente, dos elementos emocionais que poderiam lhe proporcionar algo bem mais sólido e satisfatório. Ou seja, para os intelectuais a serviço do novo conformismo social, é somente quando pensamos que podemos ser felizes sem o outro que deixamos de nos comportar como tóxico-dependentes que usam os vínculos e a relação com os demais como dose diária da droga predileta para atingir instantes fugazes de felicidade e satisfação.

Nunca foi mistério que o envolvimento emotivo pode provocar sofrimento, o que é potencialmente prejudicial ao equilíbrio emocional do indivíduo. Mas, na concepção que acabamos de apresentar, a relação com os demais passa a ser caracterizada pelo medo e por uma profunda desconfiança de que, mais dias menos dias, é inevitável que as pessoas ao nosso redor venham a nos decepcionar. Daí a necessidade de o sujeito ser, e não apenas se sentir, totalmente independente e autônomo, sem vínculos e sem outra bússola que não seja o investir em si mesmo. O problema é que quanto mais diminui a confiança nas relações pessoais, mais cresce a necessidade de recorrer à ajuda profissional de um terapeuta, de um psicólogo ou de alguém com quem sentimos poder desabafar. A erosão do envolvimento, da solidariedade, do companheirismo e da amizade gratuita com os demais não aumenta a independência do indivíduo, mas, simplesmente, leva à substituição de uma suposta dependência por outra bem mais real e invisível. Sem fornecer um guia para a conquista da solidariedade, a terapia (nas mais diversas formas em que o sujeito tem acesso a ela) busca dar sentido à experiência de falta de solidariedade. Na ausência deste elemento imprescindível à vida diária, celebra o culto do “EU” como fim em si mesmo e reduz as demandas coletivas à somatória de problemas pessoais. Mais uma vez, ao centrar o olhar no individuo, este é distraído dos fatores econômicos, políticos, sociais, culturais, ambientais, etc. que tornam objetivamente difícil e cansativa a vida moderna. Mas este mesmo fato é devidamente ocultado pelo fato de que o terapeuta/psicólogo/confidente está ao seu inteiro dispor e se foca no “eu” a ser reconstruído, o que, por sua vez, reafirma a lógica dominante do resgate da auto-estima e continua mantendo o sujeito como elemento a ser indiscutivelmente colocado no centro das atenções.

Um exemplo disso é o aconselhamento/acompanhamento psicológico que algumas empresas oferecem aos funcionários que acabam de ser demitidos. De início, era denunciado como uma tentativa de conter a reação dos que acabavam de perder seu emprego, convencendo-os a adaptar-se a uma existência precária. A partir dos anos 90, porém, esta medida passa a ganhar apoio de várias empresas e sindicatos diante dos suicídios que ocorrem após as demissões e que, de alguma forma, denunciam a desumanidade dos processos em curso. O fato é que as dinâmicas desses encontros trazem a idéia de que a realidade esta dada, não há o que fazer a não ser se conformar/aceitar, pois é fruto das relações de mercado que ninguém pode controlar e deter e, portanto, o sujeito estaria diante de algo inevitável/natural que atinge toda a sociedade. O “boi manso”, indignado pelo desemprego, pode se rebelar e denunciar a injustiça de várias formas, inclusive através do suicídio. A intervenção de caráter terapêutico serve de “sossega-leão” para naturalizar o que despertava indignação. O peão pode voltar a ser boi manso, resignado diante de uma realidade que nega o que já foi, mas com sua auto-estima recuperada tanto quanto basta para acreditar que pode enfrentar, sozinho, uma forma mais precária de ganhar a vida e usá-la como meio para subir novos degraus de reconhecimento social.

Como já vimos, ao contrário do entendimento pelo qual, no passado, se dizia que “ninguém pode ser feliz sozinho”, hoje se afirma que qualquer vínculo mais forte com o mundo ao nosso redor é um freio à busca do que nos faz felizes. Ou seja, para que o sujeito possa se realizar, se faz necessário que o “EU” incorpore como regra de vida a busca incessante de uma felicidade completa graças a um esforço exclusivamente centrado em si mesmo. Por isso a responsabilidade primordial do indivíduo é a que ele desenvolve em relação a si próprio. Assim como o beija-flor procura retirar de cada flor o que é necessário para o seu sustento sem criar vínculos com as plantas que lhe servem de alimento, o indivíduo tem que se relacionar com os demais com a única preocupação de alimentar sua realização pessoal através das migalhas de felicidade que esta pode lhe proporcionar.

O “EU”, assim construído, acredita poder se realizar na medida em que vai se livrando do que soa a obrigação/limite até mesmo em relação ao círculo de pessoas mais íntimo com as quais convive. O primeiro passo nesta direção vem da eliminação de todo sentimento de culpa ou de vergonha. Visto como incômodo e desagradável, mas também como reconhecimento de responsabilidades que o indivíduo não cumpriu junto à coletividade, este sentimento indicava a consciência do sujeito em relação a expectativas morais do coletivo a que pertence, a presença de idéias de certo e errado, além de constituir um elemento importante no processo de socialização e de reflexão sobre a relação entre o sujeito e o grupo do qual faz parte.

Hoje, os sentimentos de culpa e de vergonha são apresentados como algo exclusivamente negativo por induzir o indivíduo a se submeter a exigências externas que nada podem ter a ver com seu caminho de realização pessoal. A culpa e a vergonha não seriam apenas causa de infelicidade, mas absorveriam energias emotivas que, no lugar de serem empregadas na auto-realização, acabam direcionadas a satisfazer demandas externas que podem não estar em sintonia com os rumos que o individuo definiu para si mesmo. Por isso, longe de valorizar os momentos de sofrimentos produzidos por estes sentimentos rumo à necessária responsabilidade do sujeito com o mundo em volta dele, a culpa e a vergonha tendem a ser lidas como problemas comportamentais oriundos de distúrbios da personalidade.

Neste contexto, a relação com os demais passa ser vista apenas como a partilha momentânea de um sentimento que cria um vínculo descomprometido de qualquer intervenção mais séria com quem está ao nosso lado. Um bom exemplo disso nos é oferecido pela atitude dos políticos que visitam populações atingidas por catástrofes naturais. Suas declarações costumam trazer frase como “sinto a sua dor”, “partilho o seu sofrimento”, “estou com vocês neste momento de dificuldade”, pronunciadas como prova de compromisso de quem sente os mesmos sentimentos dos atingidos pelos desastres. Assim como o camaleão se adapta a qualquer ambiente para escapar dos predadores, não há político que não use o boné, não vista a camisa, apele ao seu histórico (“eu também sou nordestino, retirante...”), enfim deixe de se identificar com os presentes como forma de criar a empatia que a situação demanda e de fazer nascer nas pessoas a sensação de estarem sendo entendidas.

Para a elite, basta isso para tentar superar sem sustos uma situação de desgaste ou de perigo para a reafirmação da própria representatividade, pois, em ambientes despolitizados e de falta de envolvimento na luta social, o interesse pelas emoções é freqüentemente considerado um indicador de uma maneira de pensar iluminada e um compromisso implícito com o interesse coletivo. Ninguém vai lembrar dos desmandos, das falcatruas, das irresponsabilidades e das medidas que poderiam ter evitado o pior e cuja ausência continua projetando um futuro sombrio, pois isso é parte de um real que compromete o desejo de realização do político enquadrado nos moldes dominantes. Quem lembrar disso publicamente para formular uma crítica contundente corre o risco de ser repreendido pelos presentes na medida em que o luto convoca a solidariedade esquecida e o momento é visto como de renovação das condições subjetivas para dar a volta por cima. E o que importa é justamente o momento, o instante, o sentimento, não a realidade dos fatos que, por sinal, revela sentimentos e posturas bem distantes do que é revelado nas frases de ocasião. Para afugentar posições contrárias baseadas nos fatos, sempre que alguém conquista um lugar de destaque graças a suas virtudes e compromisso público, sua vida privada é investigada de forma tão invasiva que é inevitável que venha descoberto algum ponto negativo, sistematicamente usado para desqualificar o mérito deste sujeito que ousou se afastar do que era esperado. Ao fazer isso, a elite busca apenas mostrar que, no fundo, o que parecia interesse público não passa de uma fachada que veio abaixo diante de uma investigação que coloca em dúvida a seriedade das realizações passadas sobre as quais paira agora a sensação de que tudo não passava de uma forma de acobertar algo errado e que a mídia fez bem a desmascarar.

Ainda que por caminhos tortuosos, podemos recuperar aqui um aspecto esquecido da comunicação sindical que, via de regra, percorre o caminho da racionalidade sem se preocupar em dar sentido às vontades dispersas da base numa leitura e co-participação do sentimento coletivo que estas expressam. Se, de um lado, é verdade que a solidariedade mostra sua fragilidade ao precisar de uma situação extrema para se manifestar, é também verdade que, como dirigentes sindicais, não dá pra aproveitar o momento de dificuldade para uma espécie de revanche no estilo do “bem feito! Nós já havíamos alertado e vocês não nos deram ouvidos!”. Ainda que o gostinho da vingança ou do “eu não disse?” abram a possibilidade de “dar o troco a quem não nos ouve”, esse tipo de intervenção não só não cria empatia, como impede a abertura de um canal de comunicação com a base.

Sem a partilha do sentimento para abrir os ouvidos e dialogar com as emoções coletivas, a mais lúcida exposição racional de motivos e razões corre o risco de não ter o menor efeito. Dado esse passo, estabelecido o contato, estreitada a conexão pelo caminho do sentimento, pode-se começar a ponderar o como e o porquê dos elementos em jogo, sem esquecer de apontar o onde queremos chegar para, em seguida, mostrar concretamente qual é o primeiro passo a ser dado. Do contrário, a mudança/intervenção projetada vai cair no vazio e elevar a sensação de insegurança na exata medida em que é percebida como projetada para um futuro incerto no qual o processo de intervenção permanece indefinido, sem um projeto consistente que parta da realidade vivida pelo coletivo e incorpore suas preocupações. A idéia precisa se fazer projeto para que possa encontrar no “nós” a ser construído as respostas que cada trabalhador deseja ver espelhadas para restabelecer os sentimentos feridos. Não se trata de despolitizar o debate com falsos sentimentalismos, nem muito menos de enganar as pessoas com ilusões vazias ou apelos estéreis à auto-estima e à individualidade, mas sim de dialogar com adultos que precisam ver como e porque seu anseio pessoal só é possível na medida em que suas vontades se fundem num coletivo a ser construído e no qual cada um terá que assumir a responsabilidade pelo andar da carruagem com o melhor de suas energias.

Mas por que é tão difícil reconstruir o sentimento de coletividade sem o qual não há ação coletiva possível?

A resposta é o resultado de uma somatória de elementos. De um lado, a globalização e os caminhos da reestruturação produtiva têm colocado os trabalhadores diante de situações apresentadas como a única alternativa viável. “Ou é isso, ou não dá pra continuar”, “não há outro jeito”, “é assim no mundo inteiro”. Na ausência de uma crítica ideológica e de um processo de mobilização à altura da situação, as pessoas tendem a acreditar que, no fundo, estão diante de algo natural, próprio do desenvolvimento social mundial e, portanto, não há como se rebelar a algo que afirma uma realidade tão presente e cotidiana que só podemos conviver com ela, mas que, aparentemente, não há como rejeitar. O problema é que se não há alternativas, qualquer debate torna-se vazio e um exercício inútil de busca do impossível. Diante desta postura, só resta ao indivíduo aceitar fazer a própria parte no caminho de sua realização pessoal e manutenção da auto-estima, na medida em que o esforço exigido consolida a superação de um limite individual e a adesão a um novo patamar de valores, idéias e formas de comportamento que dialoga com suas ambições e sonhos de consumo.

Ao mesmo tempo, porém, se não há alternativas significa que você, indivíduo, é impotente diante da realidade, incapaz de buscar ou vislumbrar algo diferente e, sem perceber, o “EU” acaba se convencendo de que não é possível virar o jogo, mas tão somente se limitar à busca do prejuízo menor, sem perceber os interesses de classe que vão se beneficiar com as posturas a serem originadas por esta convicção. Por sua vez, a afirmação de que “é possível fazer de outro jeito” demanda uma vontade coletiva a ser construída e não apenas palavras de ordem que acreditam somar desejos individuais dispersos. Mas o que conforta a elite quanto às dificuldades desse processo se realizar é justamente a convicção assumida pelo sujeito de que o caminho para a felicidade demanda a exclusão dos demais e um olhar centrado em suas demandas particulares. O resultado: a lógica das capivaras que, ao se separar do grupo para cuidar de si, viram comida de onça... O fato de perceber que chegou a minha hora de ser comido, assusta, mas, em geral, não acorda quem aderiu a esta lógica. Pois, tudo o que deu errado volta a ser atribuído a uma fragilidade pessoal e não a um sistema perverso que busca se reproduzir através de uma servidão voluntária cega a tudo o que pode distrair o “EU” de seus projetos de afirmação social.

Como chegamos a este ponto?

Algumas pistas permitem pensar e compreender o emaranhado de situações que, ao se acumular, vêm permitindo e fortalecendo as dimensões emotivas com base nas quais o indivíduo interpreta e se posiciona diante do cotidiano.

1. A corrosão dos mecanismos tradicionais/culturais (nos quais se inclui tanto a religião como o sentimento de comunidade e identidade coletiva) pelos quais as pessoas davam sentido à própria vida e se sentiam conectadas com uma maneira de agir socialmente aceita, ao mesmo tempo em que estes elementos ofereciam ao individuo um objetivo mais amplo no interior do qual se inserir. Sem essa identidade coletiva, feita de valores, crenças, vivências e formas de comportamento (e tendo, em contrapartida, o vazio atual de responsabilidade coletiva), retira-se um elemento de coesão que, ao desgastar a solidariedade e o compromisso social, acelera o passo da individualização. Um dos exemplos típicos desta realidade é o processo de urbanização da população rural. Ao sair da forte identidade coletiva do povoado de origem e chegar na cidade grande onde ninguém conhece ninguém e nem quer saber de ninguém, o sujeito perde todas as suas referências de vida. Com o afastamento da própria comunidade, os laços se enfraquecem, o isolamento social aumenta, a vida privada e as relações pessoais se tornam mais difíceis. À luta pela sobrevivência material acrescenta-se a necessidade de um duro embate com os demais para obter atenção e aceitação, o que só faz crescer a ansiedade e a sensação de incerteza.

2. O esvaziamento do papel das ideologias e das causas coletivas cujas idéias e valores eram capazes de motivar e conquistar o compromisso do sujeito levando-o a se sacrificar em nome de uma causa e a ser autor da cena social na medida em que era constantemente chamado a assumir suas responsabilidades pelos acontecimentos que se preparavam e a intervir para alterar os rumos da vida em sociedade.

3. O processo de racionalização econômica e de reestruturação produtiva que subordina o indivíduo a forças poderosas, aparentemente invencíveis e sobre as quais o sujeito não exerce nenhum controle imediato. O choque provocado pelas mudanças planta um forte sentimento de impotência a ponto de convencer o “EU” de que não pode fazer nada, de que sua sensação de vulnerabilidade é algo natural e que, portanto, longe do optar pelo caminho aparentemente irracional da rebeldia, o melhor a fazer é mergulhar de cabeça nas novas demandas do mercado de trabalho. Afinal, o acesso aos bens que definirão sua própria sobrevivência e afirmação social dependem desta capacidade de se adaptar constantemente para garantir a própria empregabilidade num mundo em constante mudança. Ao partir da sensação de que é impossível domar os mecanismos de mercado, o jeito é se adaptar a eles com a flexibilidade e a agilidade de quem deixa progressivamente de ser ele mesmo para assumir uma identidade que vincula seu “EU” às mutantes e caprichosas exigências da acumulação. Em aberta oposição ao que parece esmagar e aniquilar o indivíduo, a única saída que ele ainda consegue vislumbrar é a das emoções na medida em que a auto-estima vinculada ao sucesso no trabalho e aos momentos de amor, prazer, paixão, medo, raiva, dedicação exaustiva, etc., o tornam consciente de estar vivo, fazem-lhe sentir o sangue correr pelas veias e proporcionam centelhas de humanidade e sentido para uma vida sempre marcada pela incerteza. O raciocínio frio cede o lugar aos sentimentos e à autoconfiança que, como vimos, impedem que se tire o olhar do próprio umbigo.

4. Na medida em que cresce a sensação de impotência e de vulnerabilidade, a percepção da própria solidão aumenta na mesma proporção. Diante da presença cada vez mais invasiva do mercado e sem um coletivo que ajude a encontrar um sentido diferente para a rotina diária, o cansaço e o estresse abrem a porta dos distúrbios psíquicos. Oriundo do embate entre o processo de afirmação individual, a solidão, os sonhos de consumo e os efeitos da servidão voluntária à qual o sujeito se entrega por ver nela uma etapa necessária de sua realização, o adoecimento passe a ser a conseqüência mais óbvia e um convite à reflexão sobre a própria vida. Mas para o “EU” construído na forma que descrevemos acima, a condição de “doente” torna-se sinônimo de “me deixe em paz”, “não me cobre”, “você não vê que já estou pra baixo?”. Além de manter a visão acrítica em relação à realidade que o fez adoecer, o indivíduo acredita que sua nova situação se deve a uma fragilidade desconhecida, a um deslize pelo qual o “EU” acredita ter cedido às pressões do ambiente por falta de estrutura pessoal diante do que, no seu entender, não passaria de algo natural, próprio da vida moderna.

Longe de interpretar o sofrimento como convite a abrir o campo de visão do sujeito diante do mundo externo, os eventos adversos começam a ser recebidos como fonte de trauma num leque cada vez maior de experiências e situações que antes não passariam de simples dificuldades. Diante de tudo o que fere sua sensibilidade e auto-estima, o indivíduo se vê na clara impossibilidade de se afirmar como AUTOR da vida coletiva na qual está inserido. Na medida em que eventos banais são definidos como traumatizantes pelo sujeito, aumenta nele a sensação de impotência. A idéia de trauma, ou seja, de ser dominado por uma força que aniquila e impede de agir, torna-se chave de interpretação das marcas deixadas no sujeito pelas adversidades e alimenta no imaginário coletivo uma sensação de profundo fatalismo frente a uma realidade imprevisível e violenta em seus efeitos sobre as emoções e os sentimentos. Aos poucos, este conjunto de percepções reafirma a posição de potencial fragilidade do indivíduo que passa a justificar sua incapacidade de reagir aos golpes das adversidades. Na verdade, o que o “EU” não consegue perceber é que suas próprias estratégias de reação e contra-ataque foram sendo corroídas e colocadas em cheque pela sensação de vulnerabilidade que tem de si mesmo e que tendem cada vez mais a imobilizá-lo diante do que ganha progressivamente a forma de uma realidade intransponível. Ao atingir este ponto na percepção da própria fragilidade a idéia de ser “AUTOR” da vida coletiva não tem a menor chance de se sustentar. A possibilidade de fazer uma besteira cresce na mesma proporção em que o sujeito vê a vida escorrer por entre os dedos e, a esta altura, é bastante comum encontrarmos expressões que absolvem o próprio indivíduo das responsabilidades que ele tem nos acontecimentos em que está envolvido. Desse jeito, ninguém é pecador, mas todos são vítimas de um mundo frente ao qual já abdicaram de qualquer possibilidade de controle.

Entre as formas atuais pelas quais se reafirma a relação entre a vulnerabilidade individual e a impossibilidade de ação positiva do sujeito encontramos a idéia de “situação de risco” que cristaliza na linguagem do dia-a-dia a sensação de que o sujeito está permanentemente na corda bamba. Situação de risco é diferente de “correr um risco”. A segunda formulação parte do pressuposto de que o sujeito pode sim fazer escolhas e decidir experimentar o desconhecido, nadar contra a correnteza e desvendar o que permanece oculto aos olhos dos demais. Trata-se, portanto de um sujeito ativo que, com suas ações, busca obter resultados positivos para si mesmo e mudar as circunstâncias. Por sua vez, a “situação de risco” inverte a relação entre o mundo e a experiência, entregando à pessoa um papel passivo e dependente que só se torna ativo no sentido da defesa e da proteção para reduzir sua vulnerabilidade. Situação de risco não diz respeito ao que você faz, mas sim ao que você é: vítima das circunstâncias. É um atestado de impotência, uma objetivação da vulnerabilidade individual. Na medida em que a expressão “situação de risco” atinge os mais variados âmbitos da vida em sociedade, acaba se tornando um atributo intrínseco do indivíduo. A idéia de que alguém se encontre numa situação de risco implica na autonomia dos perigos que estão diante do sujeito e traz uma inversão de papéis: o sujeito autônomo que age sobre o mundo transforma-se em objeto que padece da ação deste mesmo mundo, o que aniquila a dinâmica de interação sujeito-mundo (faço e me faz na mesma proporção) e a própria idéia de capacidade de transformar o mundo em volta dele. Agora, o risco não prevê a possibilidade de escolha por parte do sujeito, mas é apresentado como uma força que existe independentemente das pessoas que têm que enfrentá-lo, tem vida própria e não está sujeito à intervenção do indivíduo.

O sentimento de vulnerabilidade e as sensações que este desencadeia no “EU” determinam a gravidade da situação de risco por ele percebida. Tamanha é a fragilidade do sujeito focado em si mesmo que qualquer coisa capaz de torná-lo infeliz é definida como um ataque às suas emoções e sentimentos, e, portanto, passa a ser sistematicamente rejeitada. Vista sob este ângulo, a idéia do que é considerado inaceitável é bastante vaga e, por isso mesmo, inclui um número infinito de comportamentos. Será a sensibilidade individual a estabelecer, em cada caso, se um ato ou uma experiência são prejudiciais ao sujeito envolvido, passando assim a serem sumariamente definidos como inaceitáveis. Dada a amplitude e a subjetividade das possibilidades desta avaliação, é difícil imaginar um aspecto importante da existência que não lhe seja potencialmente arriscado e que, por temor dos possíveis danos emotivos, não acabe isolando o sujeito ou levando-o a manter relações superficiais com quem está ao seu redor.

Mas isso não é tudo. O conceito de “situação de risco” inclui a idéia que o próprio medo constitui uma fonte de perigo. Nesta perspectiva, a avaliação do risco assume uma dimensão unilateral, psicológica, inseparável da ansiedade e da situação de impotência. A avaliação de risco sempre tem uma componente psicológica inegável. É intrinsecamente subjetiva. Caracteriza-se por uma mistura indeterminada de ciência, julgamento pessoal, fatores psicológicos, sociais, culturais, econômicos e políticos. Mas, na medida em que os sentimentos e emoções assumem um papel tão importante e direto na sua formatação, o sujeito é levado a prescindir de qualquer avaliação objetiva do que dá origem aos riscos com os quais se depara. O máximo que o indivíduo sente poder fazer é limitar os prejuízos. A preocupação que o move como ser social não é a de se envolver para construir algo “bom” para todos, mas de redobrar os cuidados para “evitar o pior” para si mesmo. O medo passa assim a dominar a experiência social porque os riscos são infinitos e estão presentes por toda parte. A relação entre o sujeito e o mundo de incertezas ao seu redor é mediada por uma consciência do risco permeada pelo medo que cresce na exata medida da percepção da própria impotência e vulnerabilidade. O ditado pelo qual a corda sempre arrebenta do lado mais fraco nunca como agora foi assumido como tão apropriado pelo sujeito que o experimenta como verdadeiro e real na medida em que se foca sobre si mesmo, longe de qualquer ação e identidade coletiva que lhe permita voltar a ser autor, resistir, enfrentar o medo e superá-lo. Em sua cegueira, o “EU” torna-se incapaz de ver os laços que o vinculam aos demais como o sangue que alimenta sua indignação e capacidade de ação no cotidiano da história. Saber-se em situação de risco, fortalece no sujeito uma atitude passiva que leva ao imobilizá-lo diante dos acontecimentos sociais. Enquanto o sujeito não se envolve na construção consciente da vida coletiva a partir de seus interesses de classe, a elite aplaude do camarote quem, ao retirar-se voluntariamente da cena social, deixa-lhe livre campo para a ação política.

O que o “EU” não percebe é que a desintegração social aumenta o estresse causado pelos eventos negativos, ao passo que um forte sentimento de comunidade, do mesmo modo que o ativismo político, aumenta a capacidade/possibilidade de reagir diante dos perigos.  Na medida em que o coletivo se compromete ativamente a procurar uma solução para a causa do sofrimento, este mesmo sofrimento é pensado, tratado e resolvido em um contexto social capaz de lhe dar um novo sentido e de alterar as expectativas em relação às ações individuais produzidas diante das experiências negativas.

A deixar-nos perplexos no momento em que escrevemos é a constatação da incapacidade de o indivíduo perceber, ponderar e tomar a iniciativa para enfrentar a exploração. Muitas vezes, chega-se ao contra-senso pelo qual o “EU” considera melhor arriscar a vida no trabalho em nome de um sonho de duvidosa afirmação social do que enfrentar os riscos para eliminar o que destrói sua saúde e pode lhe tirar a vida. A auto-estima é compensada até mesmo neste patamar nefasto, pois o sujeito vangloria-se de ter coragem pra trabalhar, de suar a camisa, de dar conta do recado, de não fugir da raia, enfim, de aceitar morrer aos poucos, ou de uma vez, por achar que enfrentar o que o destrói como ser humano é um sinal de fraqueza, próprio de quem não se dispõe a superar os próprios limites ou é privo de uma “mente vencedora” como a sua. Para quem vive no mundo das emoções, dizer não à exploração é um absurdo e perder o emprego se torna bem mais vergonhoso, doloroso, arriscado e cruel do que perder a própria saúde e a própria vida.

Se você acha que estamos exagerando não cores talvez isso se deve à dificuldade de perceber o tamanho do estrago que está sendo produzido na classe trabalhadora. De acordo com um levantamento realizado pela Associação Internacional do Controle do Estresse (ISMA, pela sigla em inglês) o Brasil é o segundo país do mundo a apresentar níveis altíssimos de estresse. Pelo menos três em cada dez trabalhadores sofrem de esgotamento mental e físico intenso causado por pressões no ambiente profissional (a chamada síndrome de Burnout). Bastaria esse número para percebermos que não estamos mais diante de casos isolados, mas sim de uma epidemia que amplia seu raio de ação graças ao envolvimento lento e silencioso do sujeito nas malhas de uma busca incessante de uma auto-realização que o isola dos demais, anestesia seu sentimento de indignação e o leva a uma servidão voluntária que o destrói na exata medida em que o faz acreditar em suas promessas de sucesso e ascensão social.

Chegamos ao fim. Não sabemos qual é o gosto que estas linhas deixaram na sua boca. Seria muito bom se agora você nos enviasse suas impressões, críticas, observações ou comentários através do e-mail nadiacorujavermelha@gmail.com As marcas deixadas na sua maneira de ver a realidade que esboçamos irão ajudar a direcionar melhor os estudos e as pesquisas em andamento.

Emilio Gennari.
Brasil, 31 de março de 2011.


(1) Estudos sobre reações da população atingida pela Segunda Guerra Mundial na Grã Bretanha e pelo conflito no Vietnã comprovam esta possibilidade com uma impressionante riqueza de detalhes.
(2) Dados publicados em BITTENCOURT, Fátima. “Estresse: o mal do século”, emPsique, Ano VI, Nº 63, Ed. Escala, São Paulo, março de 2011.

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