Estou atendendo de muito bom grado o pedido do NORTE para escrever sobre o discurso de posse do "novo" Secretário da Educação do Estado de São Paulo. Compartilho minha opinião fruto das experiências e reflexões realizadas durante cerca de 26 anos, como profissional do ensino de História, em atividades da educação popular e nas lutas dos trabalhadores da educação da rede publica estadual das quais participei como militante. Devolvo aos trabalhadores da educação e de todos os ramos da produção a reflexão que fizeram por meu intermédio.
Boa leitura
O Estado de São
Paulo tem um novo Secretário da Educação. As esperanças se renovam. Antes que
seu discurso de posse fosse pronunciado e em seguida publicado, escrevi num
canto de minha agenda algumas máximas que do meu ponto de vista, com certeza fariam parte da fala do novo
secretário José Renato Nalini: A educação é fundamental para o crescimento pessoal e profissional;
estaremos sempre abertos ao diálogo; faremos todo o possível para atender as
reivindicações justas dos professores e funcionários; já avançamos bastante mas
precisamos melhorar ainda mais a qualidade do ensino na rede pública; a
educação é responsabilidade de todos e não só do Estado, portanto, temos que
nos unir para que a educação paulista faça jus a importância e papel do nosso estado.
Você pode até dizer que o que fiz é semelhante ao que
fazem com as profecias de Nostra Damus,
elas só são explicadas e entendidas depois que a tragédia já aconteceu. Afinal
o discurso do “novo” secretário já foi publicado. Entretanto, para quem já
passou por 5 governadores, de Orestes Quércia a Geraldo Alckmin, 6 secretários
de educação, de Fernando Morais a Herman Voorwald, não é muito difícil prever
os conteúdos dos discursos de posse. Porém, o “novo” secretário da educação
superou minhas expectativas quando afirmou em seu discurso de posse que: “A
educação representa a chave para a resolução de todos os problemas brasileiros.
De todos, sem exceção” (Grifos meus) (https://renatonalini.wordpress.com/2016/01/28/discurso-de-posse-na-secretaria-de-estado-da-educacao/).
Na
continuidade de sua fala, Nalini afirmou que o povo soberano estabeleceu a
educação como sendo um direito de todos. E lança outra máxima que já prevíamos:
“Mas
esse direito de todos é dever do Estado e
da família. Dever solidário. Não é o governo o único responsável pela missão
educativa. A educação será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade.
Todos somos responsáveis pela educação
no Brasil”. (grifos meus).
Nalini afirmou ainda que a nova geração de estudantes não
suporta a burocracia, atividades repetitivas, enfadonhas, anseia pela
participação, pelo protagonismo, “a
juventude é ávida e sequiosa de participar do processo...” Chamou a atenção para o fato de que aprendeu a
importância do contraditório e escreve “Ouvirei
a todos com a humildade que é a filha da verdade.” ( bingo). Não posso deixar de fazer referência a outra máxima do
“novo” secretário: “A exuberância de direitos da República
obscureceu o capítulo dos deveres, das obrigações e da responsabilidade” (
.. ) O encerramento de seu discurso não poderia ser
mais didático: “Preciso de todos, a educação clama pelo interesse legítimo de todos”. (Grifos meus) Devo parar por aqui, antes que o “novo secretário
acabe te convencendo, pois ele ainda fala em nome de Deus, sobre deixar a casa
aberta pra ele entrar e morar, etc.
O fato
é que estava certo nas minhas previsões. Como os que o antecederam, Nalini fará
todo o esforço para te convencer que o fracasso escolar é um problema do
professor, um problema do educador que precisa ser criativo. E que é fundamental que você passe por
processos de formação continuada e de qualificação profissional, e sobretudo, “que vista a camisa”, empenhando-se em
cumprir as metas da Secretaria da Educação para este e outros anos. Nalini
empenhar-se-á todos os dias para te convencer que seguir as orientações do
caderno do aluno e dos professores é fundamental, e que se você for criativo
saberá enfrentar os problemas de indisciplina e dificuldades de aprendizagem. E
mais, não medirá esforços para te convencer de que está aberto ao diálogo e que
faz todo o possível para atender suas reivindicações, mas que o seu sindicato
não compreende a crise e as dificuldades econômicas de uma Secretária e um
Estado tão “grandes”. Em suma os desafios, as conquistas e os fracassos serão
atribuídos ao seu pouco esforço e criatividade na solução dos problemas da
educação.
Com
certeza o “novo” secretário vai orientar todas as equipes de gestão a lhe
convencer que os problemas de falta de funcionários, de material de apoio,
superlotação de salas de aula e ausência de reajustes e aumentos salariais
reais e correções das perdas com a inflação devem ser resolvidos e discutidos
no seu Sindicato e não no ambiente de trabalho. Estimulará as equipes de gestão
a serem criativas e solucionar os problemas individualmente, com a criatividade
que ele afirma que todos nós temos.
Nalini,
orientará também os dirigentes regionais a convencerem e pressionarem as
equipes de gestão por todos os meios possíveis, a procurarem saídas
particulares e nos induzirá a culpar os alunos e os pais e responsáveis pelo
pouco interesse e os baixos índices de rendimento e aprendizagem escolar dos
mesmos. De sorte que os trabalhadores da educação (equipe de gestão
professores, funcionários do setor administrativo, da limpeza, da cozinha, etc)
acabarão por entrar em conflito entre si e com os pais e responsáveis,
acusando-se mutuamente pelo desinteresse dos alunos, pelo baixo nível de
aprendizagem, pelos nossos baixos salários e condições degradantes de trabalho.
E toda vez que alguém lembrar da responsabilidade do governo, o secretário nos advertirá
através das equipes de gestão e supervisão que a educação é responsabilidade de
todos e que temos que nos unir para atingir as metas da educação e prover um
futuro melhor para os estudantes, afinal disse o secretário que a educação tem
a solução para todos os problemas brasileiros.
Já
dizia o “velho filósofo” que não se pode julgar um homem pelo que ele pensa de
si mesmo. Portanto, resolvi estudar um pouco a biografia do “novo’ secretário
para que pudesse escrever com mais propriedade. Afinal ele será o nosso “novo”
secretário da educação, e portanto, meu também. Nalini é formado em
Ciências Jurídicas e Sociais na Faculdade de Direito da PUC-Campinas, é mestre
e doutor em Direito Constitucional pela USP Faculdade
de Direito, leciona desde 1969, é desembargador e começou a carreira como
promotor de Justiça. Desde 1976
atua como juiz, presidiu o Tribunal de Alçada Criminal de São Paulo por dois
anos, até que houve a fusão com o Tribunal de Justiça. É mestre e doutor em
Direito Constitucional pela Universidade de São Paulo. Possui um blog (acima
citado) no qual escreve sobre vários temas, desde conjuntura econômica e
política a temas religiosos. Do ponto de vista da opção religiosa, Nalini defende
posições bem conservadoras, como se pode ler nos seus artigos (in https://renatonalini.wordpress.com/).
É criacionista por princípio, no máximo aceita a tese de Teilhard de Chardin
para a evolução e afirma que o problema do mundo é moral.
Quando
esteve a frente do tribunal de Justiça de São Paulo, promoveu a informatização
e a “melhoria na gestão”. Ele afirma que a lentidão na justiça é fruto do
formalismo e da formação elitista dos juízes e desembargadores que estão presos
a “lei, ao processo” e não levam em conta as relações histórico-sociais, afirma
que os juízes precisam saber que vivemos num país de miseráveis e que devem
pensar em responsabilidade social.
É fundamental, para nós trabalhadores
da educação, entender o modo como ele conduziu as reformas no judiciário.
Nalini defende a gestão empresarial como forma de dar agilidade a justiça. Ao
avaliar seu trabalho no TJ-SP afirmou que conseguiu dar mais agilidade ao
tribunal informatizando e reduzindo o número de funcionários. Segundo Nalini, o
problema da justiça não é a falta de funcionários, é administrativo, ou seja é
a gestão: “... quando presidi o tribunal de alçada
criminal havia 1,3 mil funcionários. Quando saí tinha 900, sem prejuízo do
serviço. Houve muita reclamação. Mesmo assim, cortei uma porção de gastos”.
Nalini defende a terceirização da
administração e da elaboração dos concursos no judiciário. É necessário que saibamos
e observemos com atenção o que escreveu: “Não Há Nenhuma Heresia Em Terceirizar A Escolha Dos Juízes. A
Administração Dos Tribunais Deveria Ser Terceirizada. Juiz Não Sabe Ser
Administrador”. A opinião dele sobre
a justiça do trabalho é digna de nota: “Estamos
em um estágio em que emprego não existe. A população sobrevive na
informalidade, na luta. Trabalho formal é praticamente uma loteria. Temos que
pensar quanto custa a Justiça do Trabalho e o que ela significa para o país. Na
Justiça do Trabalho, o juiz já começa ganhando quase R$ 20 mil.”
Para
completar, vamos transcrever uma afirmação a respeito de sua avaliação sobre a
reforma que fez no TJ –SP, que muito nos interessa e ajuda a entender a escolha
do governador Geraldo Alckimin pelo “meritíssimo”: “Não falta dinheiro, não falta
pessoa. Falta criatividade e ousadia para relativizar alguns dogmas que já não têm razão de ser”. (grifos meus). (Revista
Consultor Jurídico, 25 de março de 2007 disponível in http://www.metajus.com.br/biografias-entrevistas/biografia4.html ).
Como disse o nosso filósofo, não se pode julgar um homem
pelo que ele pensa de si mesmo. Resumidamente, o “novo” secretário da educação”
José Renato Nalini teria que ter mudado “da água para o vinho”, para agir na
Secretária da Educação de forma distinta daquela em que agiu no Tribunal de
justiça. O último secretário, não conseguiu realizar a tarefa de corte e
redução de gastos e caiu. As ações do sindicato dos professores e dos
estudantes no final do ano passado contribuíram muito para esta queda. O “novo”
secretário vem portanto, para cumprir esta tarefa.
Recomendo a você que não alimente nenhuma esperança no
“novo’ Secretário da Educação. Se quiser manter a esperança, que seja nos
colegas de trabalho, nos trabalhadores da educação de sua unidade escolar e de
todo o Estado de são Paulo, e principalmente, nos pais e responsáveis,
trabalhadores da indústria, comércios, serviços, que entregam seus filhos todos
os dias pra gente cuidar de sua formação humana e acadêmica. Nós cuidamos da
educação dos seus filhos e eles cuidam de produzir tudo que precisamos para
viver e trabalhar, se nos unirmos, a esperança renasce e as chances de
construir uma educação de qualidade e melhores condições de trabalho pra todos
aumentam. Do Estado, do seu governador e do secretário da educação só espere a arte de mudar sempre, para deixar tudo como está.
Elias Moreira. Fevereiro de 2016.
Grande Elias, vou citar um reaça aqui,hehehe. Sergio Buarque de Holanda:
ResponderExcluir"Não têm conta entre nós os pedagogos da prosperidade que, apegando-se a certas soluções onde, na melhor hipótese, se abrigam verdades parciais, transformam-nas em requisito obrigatório e único de todo progresso. É bem característico, para citar um exemplo, o que ocorre com a miragem da alfabetização do povo. Quanta inútil retórica se tem esperdiçado para provar que todos os nossos males ficariam resolvidos de um momento para outro se estivessem amplamente difundidas as escolas primárias e o conhecimento do a b c.
Essa e outras panacéias semelhantes, se de um lado parecem indicar em seus predicadores um vício de raciocínio, de outro servem para disfarçar um invencível desencanto em face das nossas condições reais."
Socorro! hahaha