sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

Pablo Vitar e Tiffany: Outra Vez a Questão da Ideologia de Gênero



Em tempos de polêmica sobre a Educação de Gênero, Pablo Vitar na música e  Tiffany no vôlei, reascendem o debate. O festival de besteiras que são comuns nas redes sociais, nas rodas de conversas, no Congresso Nacional, etc, enfim, em todas as esferas da sociedade, pede informação para auxiliar o debate. Por isto, compartilhamos o esclarecedor artigo do Professor Marcos Francisco, pulicado na Revista Espaço Acadêmico (REA). 

Você pode achar estranho que o artigo não trate diretamente dos personagens citados, mas ele é perfeito para entendermos a polêmica. Esperamos assim contribuir para que o debate seja produtivo e 
ajude a combater o preconceito e a ignorância sobre o tema. Quem sabe 
assim vamos nos tornando seres humanos melhores.



Sexo é uma coisa e gênero outra
MARCOS FRANCISCO MARTINS*

 Tenho recebido vídeos com pessoas religiosas criticando o que chamam de “ideologia de gênero”. Tenho respondido que conheço e convivo com a comunidade LGBT e nunca li e nem vi gay defendendo o fim da família, mas pedindo respeito aos diferentes tipos de união, como a formada por dois homens e duas mulheres. Dia desses, uma aluna estava a me contar uma “história linda”, nas palavras dela: o cara com quem estava “ficando”, ajoelhou-se frente a ela, durante um festival universitário, e a pediu em namoro, com alianças nas mãos. Sabe por quem ele foi criado? Por uma família! Mas família formada por duas mulheres!
Seria ridículo duvidar que “homem nasce homem e mulher nasce mulher” (frase repetida nos vídeos), pois isso é incontestável não só para religiosos, mas também para a biologia. Quando alguém fala isso está se referindo ao “sexo” (feminino e masculino) e não ao “gênero”. Sexo é uma coisa e “gênero” outra! “Sexo” refere-se aos atributos físico-biológicos, às funções do organismo: só o “homem” pode inseminar a “mulher”! “Gênero” diz respeito a como se vê o próprio corpo e como lida com ele. Eu tenho amigos que são do “sexo” masculino, mas preferem se vestir, ter gestos e comportamentos ligados ao “sexo” feminino. E são felizes assim… até que alguém tenta impor a eles outro “gênero”!
Nasce-se com o “sexo” (masculino/feminino), mas a orientação em relação ao “gênero”, que será assumida ou não, é formada pelo complexo que envolve questões biológicas, sociais, culturais, psicológicas, religiosas, morais etc. Academicamente, isso é traduzido na frase: “‘Gênero’ é uma construção social!”. “Gênero” envolve coisas complicadas como gostos e desejos em relação a mim mesmo e às outras pessoas. Eu, por exemplo, gosto da Ponte Preta, mas é difícil explicar como isso surgiu em mim. Alguém acha que simplesmente escolhi torcer para a Ponte? Não! Esse desejo surgiu em mim. E eu sofro com isso, mas sou feliz, mesmo torcendo para esse time, que parte das pessoas não gostam. Quem tem um “gênero” que difere do “sexo” com o qual nasceu, também sofre, porque amigos, parentes, pastores … querem lhe impor desejos que não são deles. Já pensou alguém me dizendo: “Professor, torcer para a Ponte Preta está errado; você tem que gostar do Guarani!”. Posso até me calar no momento, caso alguma coisa que fale resulte em agressão, mas a imposição não mudará o meu desejo. O meu desejo é incontrolável!
Na sociedade em que vivemos, quem assume que tem outra orientação de “gênero” sofre com intensidade e, em muitos casos, é violentado física e psicologicamente. Veja as inúmeras reportagens disponíveis sobre isso na Internet.
Sempre me preocupei com o mundo, mas o que tem me assustado, ultimamente, é que, com a internet, muitos falam de coisas que desconhecem, falam sem propriedade e são seguidos por outros, que espalham ainda mais o que foi dito. Veja, por exemplo, essa reportagem sobre o ridículo da ignorância: “Polenguinho é atacada após post sobre Pink Floyd ser confundido com arco-íris LGBT”. É o mundo da “pós-verdade” (mentira tão espalhada, que é assumida como verdade), que chegou a eleger o atual presidente dos EUA.
Se há professor que tenta impor determinado “gênero” às crianças, ele deve ser reprovado, até porque não terá sucesso, pois “gênero” não se impõe: é uma “construção social”. Todavia, considero uma das tarefas mais importantes da escola ensinar as crianças a respeitar as pessoas como elas são, mesmo que sejam diferentes. Nos casos recorrentes de o professor saber que determinado aluno(a) está sendo maltratado pelos colegas, por outros docentes, pelos irmãos de fé e até pela família, porque está manifestando determinada orientação de “gênero”, é papel do professor acolher o aluno(a) e dar-lhe a possibilidade de viver em sala de aula de maneira digna, sendo respeitado(a), sem ser agredido(a).
Enfim, como os vídeos envolvem religiosos, posso dizer que, pelo meu espírito cristão, eu penso que as pessoas devem ser condenadas por muitas coisas, menos por amar outra, seja ela do mesmo “sexo” ou não. A propósito, isso, ao meu juízo, foi uma das principais mensagens deixadas por Jesus Cristo, creia-se nele ou não.
MARCOS FRANCISCO MARTINS é professor da UFSCar. E-mail: marcosfranciscomartins@gmail.com





Nenhum comentário:

Postar um comentário