sábado, 18 de janeiro de 2020

Quem Tem Mais, Paga Menos: Renúncia Fiscal, Impostos e Sonegação no Brasil - Segunda Parte

Emilio Gennari – Educador Popular



2. Crise, renúncia fiscal e desfechos que ninguém questiona.

No segundo semestre de 2008, os ventos da crise econômica mundial chegam ao Brasil. As vendas encolhem e o crescimento do Produto Interno Bruto perde fôlego. Em dezembro, o ajuste entre oferta e demanda promovido pelas empresas revela feições assombrosas ao extinguir 654.946 empregos formais em um único mês.1
Preocupado em minorar os efeitos da recessão, o governo diminui as alíquotas do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) que incidem sobre os carros. A medida guarda uma relação direta com o fato de, em 2008, a cadeia automobilística representar 18,4% da produção industrial, razão suficiente para acreditar que, ao baratear os preços dos veículos, parte considerável da indústria receberia um estímulo positivo capaz de se refletir em outros setores da economia.2
Empresariado e mídia aplaudem a desoneração e não faltam comentaristas prontos a afirmar que a parcela do imposto que deixa de ser arrecadada em cada unidade do produto será compensada pelo aumento das vendas.
O raciocínio lógico não deixa margem à dúvida. A realidade é que precisa confirmar o que, em teoria, se apresenta como líquido e certo. E é justamente sobre a realidade que vamos nos debruçar a partir deste momento.
Vigente de 11 de dezembro de 2008 a abril de 2010 e entre maio de 2012 e o final de 2014, a diminuição das alíquotas do IPI depende da cilindrada, do combustível utilizado e do país onde os veículos são produzidos.
Desde o início, o benefício não se aplica aos automóveis com motor acima de 2000 cm3, cujas alíquotas permanecem em 25% para os modelos a gasolina e em 18% para os flex ou a álcool.3 Do mesmo modo, a isenção fiscal vale apenas para os carros importados da Argentina, do Uruguai e do México. Os dois primeiros por serem integrantes do MERCOSUL e o terceiro pelo acordo automotivo assinado com o Brasil em 1997.
Os modelos até 2000 cm3 de cilindrada têm as alíquotas do IPI alteradas em porcentagens e períodos que variam de acordo com os quadros que seguem: 4

Quadro I: Alteração das alíquotas do IPI para carros a gasolina

Cilindrada
Dezembro 2008
a Setembro 2009
Outubro e
Novembro 2009
Dezembro 2009
a Abril 2010
Maio 2010
a Abril 2012
Até 1000
De 7% para 0%
3%
5%
7%
De 1000 a 2000
De 13% para 6,5%
9,5%
11%
13%
Cilindrada
Maio 2012 a
Dezembro 2012
Janeiro 2013 a
Dezembro 2013
Janeiro 2014 a
Dezembro 2014
Janeiro 2015
Até 1000
0%
2%
3%
7%
De 1000 a 2000
6,5%
8%
10%
13%


Quadro II: Alteração das alíquotas do IPI para modelos flex e a álcool

Cilindrada
Dezembro 2008
a Setembro 2009
Outubro e
Novembro 2009
Dezembro 2009
a Abril 2010
Maio 2010
a Abril 2012
Até 1000
De 7% para 0%
3%
3%
7%
De 1000 a 2000
De 11% para 6,5%
7,5%
7,5%
11%
Cilindrada
Maio 2012 a
Dezembro 2012
Janeiro 2013 a
Dezembro 2013
Janeiro 2014 a
Dezembro 2014
Janeiro 2015
Até 1000
0%
2%
3%
7%
De 1000 a 2000
5,5%
7%
9%
11%

Após os cortes aplicados entre dezembro de 2008 e setembro de 2009, as alíquotas do IPI são recompostas nos meses seguintes para os automóveis a gasolina e voltam a ser cobradas integralmente entre maio de 2010 e abril de 2012. Os modelos flex e a álcool seguem a mesma dinâmica, mas mantêm inalterada a alíquota de 3% para os motores até 1000 cm3, e de 7,5% para a cilindrada de 1000 cm3 a 2000 cm3 entre outubro de 2009 e abril de 2010.
No primeiro trimestre de 2012, os estoques acumulados nos pátios das montadoras e das concessionárias elevam as pressões pela volta do IPI reduzido. Diante da diminuição do ritmo de crescimento da economia, o governo federal atende a demanda dos empresários restabelecendo os descontos de dezembro de 2008. Em 2013 e 2014, as alíquotas começam a aumentar e são totalmente recompostas em janeiro de 2015.
Vamos começar a nossa análise mostrando no mesmo quadro a taxa de crescimento do PIB, a evolução da produção de carros montados no Brasil, do volume das exportações e dos licenciamentos de automóveis novos nacionais entre 2007 e 2015: 5

Quadro III: Variação do PIB, carros montados, carros montados exportados licenciamentos de carros novos nacionais - 2007 a 2015.

Ano

Variação do PIB
Carros
montados
Carros montados exportados
Licenciamento carros novos nacionais
2007
6,1%
2.360.739
511.186
1.853.946
2008
5,1%
2.498.482
457.695
2.024.921
2009
- 0,1%
2.568.167
308.772
2.219.911
2010
7,5%
2.682.924
405.709
2.285.341
2011
4.0%
2.630.893
442.606
2.151.105
2012
1,9%
2.763.445
350.115
2.438.696
2013
3,0%
2.954.279
461.066
2.454.422
2014
0,5%
2.502.293
263.604
2.289.395
2015
- 3,8%
2.017.639
316.537
1.786.976
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do IBGE e da ANFAVEA

A produção de carros montados parece confirmar as expectativas em relação ao estímulo da renúncia fiscal. Em 2009, há mais veículos saindo das linhas de montagem e sendo licenciados em relação aos dois anos anteriores apesar do PIB recuar 0,1% e das exportações registrarem uma queda de 32,5% na comparação com 2008.
No ano seguinte, o crescimento do PIB de 7,5% cria um ambiente econômico que supre o efeito negativo da volta das alíquotas ao patamar anterior à desoneração. A produção e os licenciamentos de carros nacionais aumentam e as exportações de veículos montados continuam em nível inferior ao alcançado em 2007 e 2008.
Em 2011, o PIB diminui o ritmo de expansão para 4%. Temos uma redução de 1,93% no número de carros montados e de 5,87% no de licenciamentos quando comparados com o patamar do ano anterior. Por outro lado, as exportações compensam parcialmente a queda das vendas internas ao crescerem 9,09%.
A volta das isenções em 2012 e 2013 impulsiona tanto um aumento da produção como dos licenciamentos de carros nacionais. Estes números se reduzem em 2014, em função da elevação progressiva das alíquotas, da diminuição dos automóveis exportados e dos efeitos negativos de um crescimento econômico de apenas 0,5%. No ano seguinte, com a recessão encolhendo o PIB em 3,8%, a quantidade de carros nacionais produzidos e licenciados cai, respectivamente 19,4% e 21,9% ante 2014.
No período considerado, as exportações de veículos montados não têm um papel significativo no aumento da produção. Por outro lado, ao acompanhar a evolução do PIB e dos licenciamentos, percebemos a impossibilidade de separar os efeitos do corte das alíquotas dos fatores que sustentam o crescimento do país.
Entre as ações do governo federal que visam frear a recessão, destacamos o corte da taxa de juros SELIC de 13,75% ao ano, em dezembro de 2008, para 8,75% no mesmo mês de 2009;6 a redução do IOF sobre operações de crédito para pessoa física; a diminuição em 99 bilhões e 800 milhões de reais das reservas dos depósitos compulsórios das instituições financeiras junto ao Banco Central para elevar o montante de dinheiro que pode ser emprestado. Desta forma, os juros dos financiamentos caem e o crédito passa de 40,48% do PIB, em 2008, para 43,66% do PIB, em 2009, alimentando o consumo.7
Em dezembro de 2008, o governo cria também duas novas alíquotas do imposto de renda para pessoa física. Graças a elas os contribuintes pagam cerca de 4 bilhões e 900 milhões de reais a menos em relação à tabela anterior.8 Além disso, amplia em um bilhão de reais o montante do Programa Bolsa Família e antecipa de maio para janeiro o aumento do salário mínimo, adiantando em cinco meses a injeção de 8 bilhões e 700 milhões de reais na economia do país.
Em 2009, a redução do IPI é estendida às motocicletas, aos eletrodomésticos da linha branca, a alguns itens da construção civil e aos bens de capital. No mesmo ano, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) libera 37 bilhões e 100 milhões de reais em créditos para a exportação, investimentos em inovação e compra de bens de capital. Os gastos públicos em infra-estrutura ganham um acréscimo de 15 bilhões e 300 milhões de reais e o lançamento do programa habitacional “Minha Casa, Minha Vida” injeta na economia mais 6 bilhões e 600 milhões de reais.9
O resultado desta somatória de ações aparece já no final do primeiro semestre de 2009, quando o CAGED registra um saldo positivo de 299.506 novos empregos formais e a renda média começa a crescer.
Com estas reflexões não negamos o papel positivo da redução do IPI na compra dos automóveis. Queremos apenas frisar que seus efeitos reais seriam modestos sem as ações governamentais destinadas a colocar dinheiro no bolso das pessoas e das empresas a fim de estimular o consumo e a demanda geral da economia.
Além disso, há um elemento que raramente é levado em consideração quando se fala em diminuir os preços: a margem de lucro das empresas. Para termos uma idéia do que ela representa, vamos a um exemplo concreto. No primeiro semestre de 2011, nas concessionárias mexicanas, um Honda City, modelo LX com motor de 1.500 cm3, fabricado no Brasil, é vendido pelo equivalente a R$ 25.800,00. Desse total, R$ 3.500,00 correspondem ao custo do frete e cerca de R$ 2.000 ao lucro da revendedora, o que possibilita concluir que cada unidade sai da fábrica por R$ 20.300,00, valor no qual está incluído o lucro da montadora.
No mesmo período, este modelo é comercializado no Brasil a R$ 56.210,00. Sabendo que a carga tributária para os carros desta cilindrada corresponde a 29,2% do preço ao consumidor, temos um total de R$ 16.413,22 em impostos. A margem de lucro das concessionárias é de 10%, ou seja, R$ 3.979,66. Quando somamos os R$ 20.300,00 do valor inicial do carro, que como dissemos anteriormente já inclui o lucro da montadora, aos tributos e ao lucro da concessionária no Brasil, temos um total de R$ 40.692,00. A diferença desse valor em relação ao preço de venda é de R$ 15.518,00, que, possivelmente, é quanto a Honda lucra a mais em cada unidade comercializada no país.10
Desconsiderada a margem presente nos R$ 20.300,00 do preço pelo qual o Honda City LX é vendido à concessionária do México, temos que o lucro auferido no Brasil corresponde a 94,5% da carga tributária local e a 76,4% do preço de venda para o México. Trata-se de uma fatia considerável e que oferece uma ampla margem de manobra nas condições de venda ao consumidor final e, sobretudo, sem que isso figure entre os elementos que encarecem o veículo.
É interessante notar que, ao falar das diferenças de preços entre os mesmos carros vendidos no Brasil e em outros países, as montadoras costumam se referir à alta carga tributária, à baixa escala de produção e aos custos da força de trabalho. Os impostos e os lucros das concessionárias podem explicar a diferença entre os R$ 20.300,00 obtidos na exportação para o México e o dobro desta quantia, mas não os R$ 56.210,00 do preço cobrado no país. Em relação à quantidade produzida é difícil acreditar que os mais de dois milhões e meio de carros anualmente produzidos no Brasil entre 2008 e 2014 não ofereçam possibilidades de obter uma economia de escala capaz de reduzir os preços.
Quanto aos custos com salários e benefícios, trata-se de uma justificativa que não se sustenta à medida que os trabalhadores encarregados de montar o produto destinado à exportação são os mesmos que produzem o modelo vendido no mercado interno. E isso sem contar que o modelo exportado para o México sai de fábrica equipado com freios a disco nas quatro rodas com ABS e EBD, airbag duplo, ar-condicionado, vidros, travas e retrovisores elétricos, itens que não são de série no carro vendido aqui. Ou seja, é absurdo acreditar que os custos com salários e benefícios que encarecem os veículos comprados no Brasil não pesam quando os mesmos trabalhadores montam carros melhor equipados que se destinam ao mercado externo.11
Por que razão, então, verificamos uma diferença tão grande nas margens de lucro?
A resposta parece estar em outra pergunta: por que baixar o preço se o consumidor paga o que lhe é pedido? De acordo com o dirigente de uma montadora, “quando um carro não tem um concorrente direto, a montadora joga o preço lá pra cima. É usual, até, a fábrica lançar o carro a um preço acima do pretendido, para tentar posicionar o produto num patamar mais alto. Se colar colou. Caso contrário, passa a dar bônus às concessionárias até reposicionar o modelo num preço que o consumidor está disposto a pagar”.12
À medida que o senso comum é seguidamente bombardeado por explicações que apontam impostos, economia de escala e custos da força de trabalho como elementos que encarecem os veículos vendidos no mercado interno, ninguém questiona o papel das margens de lucro na definição dos preços ao consumidor.
Apesar de não dispormos de dados consolidados sobre os lucros auferidos em cada período, vamos esboçar a sua possível influência no caso da compra do Gol City (zero quilômetros, 1000 cm3, 8 Válvulas, 4 portas) da Volkswagen. Para este fim, analisaremos a relação entre os preços deste carro popular, o valor médio da prestação destinada à compra, as alíquotas do IPI e o rendimento médio real do trabalhador brasileiro entre junho de 2007 e o mesmo mês de 2015:13

Grafico 1. Renda média do trabalhador brasileiro e preço médio do automóvel –
junho 2007 e junho 2015 .


Fonte: Apolinário (2018, pg. 27) a partir de dados da FIPE (para automóvel) e IBGE (para renda).

  Neste espaço de tempo, temos níveis diferentes de crescimento do PIB, variações de renda e de demanda, alíquotas distintas do IPI e alterações das taxas de juros e dos prazos de financiamento. Ao interagirem, estes elementos revelam o que passaria desapercebido se centrássemos as atenções apenas na redução do tributo.
Notamos de imediato que, a partir do início de 2008, o preço deste modelo supera o valor da prestação média que o trabalhador pode pagar com a sua renda. Este movimento não pode ser atribuído ao aumento da carga tributária, à medida que ela não apresenta alterações. A nosso ver, dois fatores estão na base desta elevação: a redução dos recursos destinados ao crédito para a compra de veículos automotores a partir de janeiro de 2008 e o forte crescimento do PIB em 2007 e no primeiro semestre de 2008. O primeiro encarece os juros e o segundo cria um cenário no qual a redução do desemprego e o esperado aumento da renda permitem apostar em preços que embutem lucros mais polpudos.
À medida que os salários não confirmam a evolução esperada e a crise dificulta os financiamentos, o valor do carro faz com que a prestação fique acima do que as pessoas podem pagar. Fora do alcance do grupo social que costuma adquirir veículos populares, a queda nas vendas força a Volkswagen a reduzir o seu preço e, portanto, a abrir mão de parte dos lucros almejados. É interessante reparar que isso ocorre antes da redução da alíquota do IPI e na contramão do aumento da taxa de juros SELIC que atinge o ponto mais alto dos dois últimos anos em dezembro de 2008, com 13,75%.
Como vimos anteriormente, entre as medidas para evitar um forte encolhimento do PIB, o Banco Central diminui a taxa de juros (que encerra 2009 em 8,75%) e os depósitos compulsórios das instituições financeiras, ao mesmo tempo em que aumenta o prazo de financiamento dos carros acima do limite de 24 meses do período anterior. A melhora das condições de crédito, o IPI em 0% e os estoques elevados reduzem o preço e o valor médio das prestações.
A coincidência entre o tamanho das parcelas e a possibilidade de endividamento, porém, se dá apenas em maio de 2009. A melhora das perspectivas de venda e de lucro para o segundo semestre faz com que, a partir de junho daquele ano, o valor da prestação ensaie uma pequena elevação.
O volume de negócios de 2009 e o PIB em alta de 7,5% em 2010 contribuem para aumentar o valor médio da prestação do carro até junho de 2010. Poderíamos atribuir este comportamento à progressiva recomposição da alíquota do IPI entre outubro de 2009 e abril de 2010, mas o seu impacto sobre o preço final, além de pequeno, seria anulado pelo elevado número de prestações que, em alguns casos, chegam a 80 meses.
Seguindo o caminhar do tempo e da economia, nos deparamos com uma queda nos preços entre julho e dezembro de 2010 que não pode ser atribuída à redução da alíquota do IPI e sim aos veículos que começam a se avolumar nas montadoras e nas concessionárias. Com a taxa de juros SELIC chegando em 10,75% em julho de 2010, os financiamentos tendem a encarecer e o aumento das vendas passa a depender, essencialmente, da redução das margens de lucro.
Paralelamente a isso, o esforço para desovar os estoques através das facilidades do crédito leva ao aumento da inadimplência. Em dezembro de 2010, 2,5% das pessoas que adquiriram um carro graças a financiamentos contraídos nos dois anos anteriores estão com atrasos superiores a 90 dias no pagamento das parcelas devidas. Este número não pára de crescer à medida que a taxa de juros SELIC atinge 12,5% ao ano em julho de 2011 e a euforia das compras eleva a parcela da renda familiar comprometida pelas dívidas.
No final de 2010, o Banco Central muda as regras dos financiamentos para conter a inadimplência. As vendas com prazos entre 24 e 36 meses devem contar com uma entrada correspondente a 20% do preço do veículo; nas de 36 a 48, o valor à vista deve ser de 30%; e de 40% quando a compra é efetuada num prazo entre 48 e 60 meses, diminuindo assim o valor das prestações. Mas o equilibro entre oferta e demanda conseguido na passagem de 2010 para 2011, os juros maiores e as perspectivas de crescimento da economia fazem o valor das parcelas subir ao longo do primeiro semestre de 2011.
Entre julho de 2011 e dezembro do ano seguinte, o movimento se inverte. Em maio de 2011, a inadimplência revela o grau de deterioração do orçamento familiar ao alcançar 3,6% dos consumidores que adquiriram um carro a partir de dezembro de 2008 e chega a 7% em agosto de 2012.14 Oito meses antes da volta do IPI reduzido, os preços iniciam uma trajetória de queda impulsionada pela redução da taxa de juros (que atinge os 7,25% em outubro de 2012), pelas incertezas que começam a pairar na economia (cujo ritmo de crescimento do PIB cai de 4% em 2011 para 1,9% no ano seguinte) e pelo aumento dos estoques. Pressionada por estes fatores, entre outubro de 2012 e fevereiro de 2013, a Volkswagen reduz o preço médio do Gol ao menor patamar da série temporal analisada.
Em 2013, o PIB retoma fôlego, a inflação ameaça crescer acima do teto pré-estabelecido e a taxa SELIC sobe a partir de abril. O pequeno aumento da renda média real em relação ao ano anterior é acompanhado pela elevação do valor médio da prestação, enquanto a alíquota do IPI passa de 0% a 2%.
O cenário proporcionado pela melhora dos indicadores econômicos contribui para justificar parcelas mais caras, inclusive a possibilidade de fazer com que a retomada das vendas recupere parte dos lucros não realizados no período anterior. A melhora da renda e o nível médio das prestações criam um novo ponto de equilíbrio que perdura até o final do primeiro semestre de 2014. Prova disso é que o índice de inadimplência nos financiamentos de automóveis recua a 5,8% em agosto de 2013 e a 4,6% um ano depois.15
Em 2014, a deterioração do ambiente econômico faz com que o primeiro trimestre se encerre com um estoque de carros correspondente a 48 dias de vendas, 12 a mais em relação a dezembro de 2008.16 Neste cenário, uma ulterior diminuição da procura leva os preços médios do Gol a uma redução que caminha em sentido oposto ao que seria esperado com o aumento da alíquota para 3% em janeiro de 2014 e a nova alta progressiva da taxa de juros SELIC que chega a 11,75% em dezembro do mesmo ano.
Em 2015, o IPI volta a ser cobrado integralmente, a taxa de juros alcança os 14,25% e o PIB encolhe 3,8%. Apesar do IPI e dos financiamentos serem mais caros, a demora em equilibrar oferta e demanda faz o preço do carro e o valor médio da prestação caírem, contrariando o que seria esperado se tivéssemos como base apenas o raciocínio pelo qual o aumento dos impostos força uma elevação dos preços.
A análise da realidade mostra que as fórmulas econômicas frequentemente divulgadas pela mídia não levam necessariamente aos resultados prometidos, sobretudo quando o cenário macroeconômico é adverso e a margem de lucro muito elevada. Nestas condições, nem sempre a redução dos impostos produz um aumento das vendas e nem a recomposição das alíquotas se traduz imediatamente em elevação dos preços. As quantidades vendidas e a diminuição dos valores cobrados dependem de um conjunto complexo de fatores que dialogam com os interesses empresariais e com os resultados por eles almejados.
Nesta altura, duas perguntas nascem espontaneamente: Qual é a margem de lucro da Volkswagen em junho de 2008, quando o preço do carro e o valor médio das prestações estão acima do que as pessoas podem pagar? Em que nível ela se encontra no final de 2012, momento em que os dois fatores estão no patamar mais baixo do intervalo entre junho de 2007 e o mesmo mês de 2015?
Infelizmente, esses dados são parte de um segredo guardado a sete chaves. Todavia, como evidenciam os dados do gráfico 1, a renúncia fiscal tem um papel bem menos importante do que costuma ser alardeado e, em alguns momentos, o comportamento dos preços está na contramão da flutuação das alíquotas.
Se não podemos descartar o papel do crédito, da taxa de juros e da renúncia fiscal, também não conseguimos explicar a variação dos preços do Gol e das parcelas correspondentes desconsiderando o lucro do fabricante como um elemento do equilíbrio entre o valor das prestações, a renda dos trabalhadores e as dificuldades de desovar os estoques. Mas, em relação aos ganhos da montadora, empresários, mídia, governos e economistas costumam guardar um silêncio absoluto.
Agora, vamos verificar até que ponto se confirma a expectativa pela qual o aumento das unidades vendidas compensa as perdas produzidas pelas alíquotas menores. O quadro IV ilustra a distância entre esta crença e a realidade:17

Quadro IV: Carros novos licenciados no Brasil, carros licenciados até 1000 cm³, participação dos carros até 1000 cm³, arrecadação do IPI.


Ano

Carros novos
licenciados no Brasil
Carros
licenciados
até 1000 cm3
Participação
dos carros
até 1000 cm3
Arrecadação do IPI
(em milhões de Reais)
2007
2.085.718
1.080.708
51,81%
7.705,9
2008
2.341.300
1.134.955
48,47%
8.412,8
2009
2.643.862
1.329.052
50,27%
2.732,0
2010
2.856.540
1.347.307
47,16%
7.197,5
2011
2.901.647
1.206.406
41,58%
8.336,6
2012
3.115.223
1.197.736
38,45%
4.691,6
2013
3.040.783
1.103.832
36,30%
3.828,6
2014
2.794.687
1.010.131
36,14%
4.680,0

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da ANFAVEA, da Receita Federal e de Laís Sienna Alves e Marcelo Driemeyer Wilbert (2014, pg. 7).

Na primeira coluna, colocamos os dados relativos aos licenciamentos de todos os carros novos, nacionais e importados, realizados no Brasil entre 2007 e 2014. Na segunda, quantos são os carros populares em relação ao total de automóveis vendidos, com a respectiva participação percentual na terceira coluna. Esta diferenciação se faz necessária, à medida que a alíquota do IPI que incide sobre eles é a mais baixas de todas e está em 0% de dezembro de 2008 a setembro de 2009 e entre maio e dezembro de 2012. Caso tivéssemos uma forte participação destes modelos coincidindo com os períodos de alíquotas em 0%, seria impossível esperar que não houvesse perda alguma. Finalmente, a última coluna retrata a arrecadação relativa ao IPI dos automóveis em valores atualizados pela inflação de 2014.
Analisando o quadro IV, verificamos que o número de carros novos licenciados passa de 2.085.718, em 2007, para 3.115.223 em 2012, uma elevação de quase 50%. Em seguida, começa a cair e fecha 2014 com 2.794.687 automóveis. Na evolução dos licenciamentos, confirmamos, mais uma vez, o papel do crescimento econômico nas vendas. Tanto em 2010, como em 2011, elas estão bem acima dos patamares anteriores apesar de a redução do IPI vigorar apenas durante os primeiros quatro meses de 2010.
Em 2012, a queda dos preços em função dos estoques elevados durante o primeiro quadrimestre daquele ano se associa à redução do IPI que começa a vigorar em maio e leva ao recorde de licenciamentos do período.
No que diz respeito aos carros até 1000 cm3, os dados de 2010 mostram um crescimento de 24,67% ante 2007. Mas, a partir deste ano, a participação das unidades licenciadas começa a cair até representar 36,14% do total em 2014. Isso significa que a redução das alíquotas leva os consumidores a adquirir carros com motores mais potentes e maior valor de revenda.
Em termos de arrecadação do tributo, percebemos que o nível mais alto é atingido em 2008, apesar de terem sido licenciados 773.923 automóveis a menos em relação ao recorde de 2012. Sabendo que a redução das alíquotas começa a vigorar apenas em 11 de dezembro, concluímos que, naquele ano, as perdas com os descontos do IPI não foram relevantes.
Suspeitamos que o fato de o montante final ter alcançado um patamar expressivo guarde uma relação direta com o nível de preços praticado pelas montadoras. Assim como no caso do Gol, analisado anteriormente, não é de estranhar que os valores médios dos veículos mais potentes tivessem sido inflados pelas expectativas de melhora do mercado em função do crescimento econômico de 2007 e 2008.
Seguindo a mesma lógica, percebemos que, em 2011, temos a segunda maior arrecadação do IPI do período. Naquele ano, não há nenhuma redução das alíquotas e os preços menores das montadoras colocam o total arrecadado num nível levemente inferior ao de 2008, apesar de licenciarem 560.347 unidades a mais.
A idéia pela qual o aumento das vendas levaria a uma recomposição das perdas ocasionadas pela redução das alíquotas cai definitivamente por terra em 2012. No ano em que os licenciamentos marcam o recorde do período considerado com quase 775.000 carros a mais na comparação com 2008, a arrecadação do tributo corresponde a 55,77% do que havia entrado nos cofres do Estado quatro anos antes.
A queda na arrecadação também não pode ser atribuída a uma forte participação dos automóveis até 1000 cm3 que, em 2012, representam 38,45% do total de carros licenciados ante 48,47%, em 2008. Ou seja, os números evidenciam uma realidade oposta à que a mídia havia veiculado em apoio à renúncia fiscal e revelam que, neste caso, a desoneração do IPI resultou efetivamente numa queda da arrecadação.
Em 2014, os efeitos negativos causados pelo baixo crescimento do PIB se somam à recomposição gradual das alíquotas do IPI. O resultado final mostra que, apesar de terem sido licenciados 246.096 carros a menos na comparação com 2013, os recursos referentes a este imposto registram um aumento de 22,24% em relação ao ano anterior.
Ao tratar da arrecadação, as nossas reflexões não podem desconsiderar outro elemento que influiu nos preços: o volume de carros importados. No início do estudo, dizíamos que a redução das alíquotas do IPI é aplicada também aos automóveis produzidos no Mercosul e no México, mas é integralmente aplicada aos que são fabricados em outros países.
Pressionadas pelos efeitos da crise econômica de 2009, as montadoras cujas unidades situam-se fora dos territórios beneficiados pela redução das alíquotas começam a aplicar fortes descontos a fim de tornar seus modelos competitivos no mercado brasileiro. Os quadros V e VI fornecem um panorama desta evolução. 18

Quadro V – Relação entre carros novos licenciados no Brasil e participação dos automóveis zero quilômetro importados em números absolutos


Ano

Carros novos
licenciados no Brasil
Licenciamentos
de carros novos importados
Carros licenciados importados do Mercosul e do México
Carros licenciados
importados de outros países
2007
2.085.718
231.772
158.400
73.372
2008
2.341.300
316.379
208.426
107.953
2009
2.643.862
423.951
283.490
140.461
2010
2.856.540
571.199
359.401
211.798
2011
2.901.647
750.542
456.402
294.140
2012
3.115.223
676.527
415.975
260.552
2013
3.040.783
586.361
404.672
181.689
2014
2.794.687
505.292
341.403
163.889
2015
2.123.009
336.033
219.452
116.581
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da ANFAVEA

Ao analisar o quadro V percebemos de imediato que, entre 2007 e 2011, os licenciamentos de carros novos importados mais que triplicam, sendo que aqueles trazidos de fora do México e do Mercosul quadruplicam.

Quadro VI – porcentagens dos licenciamentos de carros novos importados no total dos automóveis zero quilômetro licenciados no Brasil


Ano

Carros novos
licenciados no Brasil
Licenciamentos
de carros novos importados
Carros licenciados importados do Mercosul e do México
Carros licenciados
importados de outros países
2007
2.085.718
11,11%
68,34%
31,66%
2008
2.341.300
13,51%
65,87%
34,13%
2009
2.643.862
16,03%
66,87%
33,13%
2010
2.856.540
19,99%
62,92%
37,08%
2011
2.901.647
25,87%
60,80%
39,20%
2012
3.115.223
21,72%
61,49%
38,51%
2013
3.040.783
19,28%
69,01%
30,99%
2014
2.794.687
18,08%
67,56%
32,44%
2015
2.123.009
15,83%
65,31%
34,69%
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da ANFAVEA

No quadro VI verificamos que as importações do Mercosul e do México ao longo de todo o período ultrapassam a marca de 60% do total de licenciados importados pelo Brasil. Em 2011, temos a maior participação dos carros produzidos no exterior nos licenciamentos efetivados no país, sendo que o volume dos que são montados no México e no Mercosul atinge a menor porcentagem do período, com 60,8%. No ano seguinte, quando os pátios cheios motivam as pressões por novas reduções das alíquotas, o total de importados licenciados é 113,83% maior em relação a 2008. Ainda em 2012, o número de carros vindos de outros países marca a segunda maior participação do período, apesar de serem submetidos ao valor integral das alíquotas do IPI. 19
Poderíamos explicar esta evolução pela valorização do real frente ao dólar, mas as médias do período corroboram apenas parcialmente esta hipótese. Entre 2007 e 2008, o real se valoriza ao passar de R$ 1,95 para R$ 1,83 na troca pela moeda estadunidense. Não excluímos que a valorização de 6,15% possa ter contribuído com o crescimento das importações daquele ano. Por outro lado, o número de automóveis comprados no exterior deveria cair em 2009 quando o real se desvaloriza ao marcar um valor médio de R$ 2,00 para cada dólar. Mas, naquele ano, acontece justamente o contrário.
Em 2010 e 2011, a moeda brasileira recupera parte do terreno perdido ao alcançar, respectivamente, R$ 1,76 e R$ 1,68. Apesar disso, é difícil explicar como a valorização de 16% da moeda nacional, em 2011, consegue, por si só, elevar em 77,03% o número de automóveis trazidos do exterior na comparação com 2009.
Do mesmo modo, a quantidade de importados licenciados em 2013 e 2014 é superior à de 2009, apesar de o dólar se valorizar ante o real, sendo trocado, respectivamente por R$ 2,16 e R$ 2,35.20 Ou seja, ainda que a variação do cambio exerça certa influência não é possível atribuir a ela um papel tão importante no crescimento das importações.
Então, por que os fabricantes de automóveis trazem carros de suas subsidiárias no exterior no lugar de aproveitar o desconto nas alíquotas do IPI para montá-los aqui?
De acordo com o estudo da Price Waterhouse Cooper, a utilização média da capacidade instalada nas montadoras de carros da China cai de 81% em 2009 para 68% em 2015. No Leste Europeu e na América do Sul (onde vários fabricantes presentes no Brasil possuem filiais) a situação é bem mais dramática à medida que, no mesmo período, o índice recua, respectivamente, de 63,4% para 51,7% e de 84,5% para 47,5%.21
Com o excesso de oferta reduzindo os preços dos veículos no exterior, as montadoras instaladas no Brasil preferem ajudar a esvaziar os estoques das filiais sediadas fora do país em vez de gerar emprego e renda na nação que favorece seus negócios com a renúncia fiscal.
Situação ainda mais gritante ocorre nas fábricas de autopeças. Vejamos: 22

Quadro VII – Situação das fábricas de autopeças no Brasil – 2007-2014

Ano
Vendas às montadoras
Uso da capacidade instalada
Exportações
(em milhões de U$)
Importações
(em milhões de U$)
2007
65,8%
87%
9.282,0
9.434,3
2008
66,3%
85%
10.211,1
12.913,5
2009
68,8%
76,2%
6.735,2
9.121,9
2010
70,5%
79,8%
9.793,6
13.660,6
2011
70,8%
80,7%
11.424,4
16.467,3
2012
69,3%
73,9%
10.583,1
16.689,0
2013
70,4%
73,4%
9.853,5
19.745,7
2014
67,5%
71,8%
8.340,6
17.344,7
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do SINDIPEÇAS.

De imediato, dois elementos saltam aos olhos. O primeiro é que a porcentagem das vendas às montadoras atinge o patamar mais elevado em 2011. O segundo é que a balança comercial do setor é sempre negativa, sinalizando que a importação de componentes tem um papel estrutural no fornecimento de insumos ao mercado interno, mesmo quando a ociosidade das instalações permite uma ampliação da produção local. Em 2013, as linhas de montagem desovam o maior número de automóveis do período e a demanda das montadoras representa 70,4% das autopeças vendidas. Apesar do cenário extremamente favorável, o uso da capacidade instalada está mais de 14 pontos percentuais abaixo do patamar de 2007 e o déficit comercial é o maior do intervalo considerado ao somar quase 10 bilhões de dólares.
Em defesa das fábricas de autopeças, alguém poderia alegar que a importação respondia a uma necessidade conjuntural, fruto do aumento inesperado da demanda. Mas esta hipótese não se sustenta ao vermos que a utilização da capacidade instalada cai de 2007 em diante, ao passo que os saldos negativos aumentam de um ano para outro.
Se isso não bastasse, em 2013 e 2014, as importações se tornam mais caras em função da desvalorização do real e, teoricamente, deveriam encolher os volumes importados, mas nesses anos ocorre justamente o contrário. Isso leva a crer que a redução da produção de automóveis no exterior contribuiu também para baratear os preços das autopeças produzidas em outros países, fazendo com que compensasse mais importar do que manufaturar esses componentes no Brasil. No lugar de estimular os investimentos locais para reduzir as compras no mercado internacional, a resposta empresarial ao crescimento da demanda faz com que as medidas econômicas para reativar a economia, produzam bem menos empregos, renda e desenvolvimento do que a renúncia fiscal tornava plausível esperar.
Mas há um outro elemento que não podemos esquecer. As medidas governamentais para sustentar o crescimento econômico pressupunham que os recursos não arrecadados através da redução das alíquotas fossem colocados a serviço do país pelas empresas que se beneficiavam deles. Em relação às montadoras de veículos, queremos saber quanto dinheiro enviaram para fora do Brasil e quanto trouxeram do exterior para investir aqui.
Não encontrando dados que se referem somente aos carros de passeio, tanto as remessas de lucro como os investimentos realizados têm como base o conjunto da produção automotiva que inclui comerciais leves, ônibus, caminhões, máquinas agrícolas e rodoviárias. Desde já, queremos deixar claro que os montantes assinalados não incluem o pagamento de empréstimos intercompanhias cujo valor costuma ser elevado e sobre os quais pesam suspeitas de que se trate de um mecanismo para enviar ao exterior bem mais do que é permitido pelas regras que normatizam as remessas de lucro.23
Sendo assim, vamos aos números relativos à taxa de câmbio, às remessas de lucros, aos investimentos no exterior efetuados pelas montadoras instaladas no Brasil e aos que foram recebidos por elas de filiais e matrizes sediadas em outros países: 24

Quadro VIII – Cambio, remessa de lucros, investimentos das montadoras no Brasil.


Ano
Câmbio
U$ 1 = R$
(média anual)
Remessas
de lucro
(em U$ bilhões)
Investimentos no exterior das montadoras instaladas no Brasil
(em U$ bilhões)
Investimentos externos nas montadoras instaladas no Brasil
(em U$ bilhões)
2007
1,95
2,894
0,099
0,861
2008
1,83
5,812
0,312
0,964
2009
2,00
2,870
0,142
2,163
2010
1,76
5,697
1,294
0,533
2011
1,68
4,884
0,791
1,395
2012
1,96
2,928
0,242
1,256
2013
2,16
3,108
1,061
1,867
2014
2.35
0,807
0,207
2,914
2015
3.33
0,146
0,117
4,518
2016
3,49
0,111
0,092
6,571
Total
- - -
29,257
4,357
23,042
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do Banco Central do Brasil e da Farmnews

A escolha de um período que extrapola o da redução do IPI permite mostrar com mais detalhes o que ocorre em épocas e situações diferenciadas. Os dados revelam que as remessas de lucro e os investimentos das montadoras brasileiras no exterior ocorrem sempre que a taxa de câmbio está em patamares mais baixos. Somando estas duas formas de enviar dinheiro a outros países, a maior saída de recursos se dá em 2010, quando cada dólar é comprado, em média, por apenas R$ 1,76. Curiosamente, é justamente em 2010 que o fluxo de investimentos estrangeiro destinado às fábricas de veículos sediadas no país é o mais baixo do período com apenas 533 milhões de dólares. No extremo oposto, em 2016, o dinheiro remetido ao exterior não passa de 203 milhões de dólares enquanto a entrada de recursos chega ao ponto mais alto com 6 bilhões e 571 milhões de dólares.
Verificamos assim que, além das necessidades da produção ou do êxito das vendas, o fluxo de capitais é determinado também pelo câmbio. Sempre que a moeda nacional se valoriza, são necessários menos reais para comprar a mesma quantidade de dólares, ou seja, é possível enviar ao exterior um volume maior de recursos em moeda forte. O contrário ocorre quando a nossa moeda se desvaloriza. Neste caso, cada dólar recebido do exterior é trocado por uma quantidade maior de reais.
Nos dez anos considerados, a riqueza produzida no Brasil e enviada ao exterior na forma de lucros e investimentos soma 33 bilhões e 614 milhões de dólares. Sabendo que, no mesmo período, entraram 23 bilhões e 42 milhões de dólares, temos que o saldo líquido mandado para fora do país é de 10 bilhões e 572 milhões de dólares.
Agora, vamos comparar este dado com a renúncia fiscal relativa às várias formas de redução do Imposto sobre Produtos Industrializados da qual as montadoras se beneficiaram entre 2007 e 2016 e que vão além da redução das alíquotas sobre os carros de passeio: 25

Quadro IX – Renuncia fiscal em reais e dólares e câmbio destas moedas

Ano
Renúncia fiscal IPI
(em R$ bilhões)
Câmbio U$ 1 = R$
(média anual)
Renúncia fiscal IPI
(em U$ bilhões)
2007
0,987
1,95
0,506
2008
1,592
1,83
0,870
2009
2,083
2,00
1,042
2010
1,891
1,76
1,074
2011
1,720
1,68
1,024
2012
1,481
1,96
0,756
2013
4,646
2,16
2,151
2014
2,855
2.35
1,215
2015
2,498
3.33
0,750
2016
2,219
3,49
0,636
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da Receita Federal

Os dados da Receita Federal revelam que parcelas expressivas do IPI deixaram de ser arrecadadas também em 2007 e 2008, em 2015 e 2016. Para permitir a comparação com o montante enviado ao exterior, os valores em reais da renúncia fiscal estimada foram convertidos pelo dólar médio do ano correspondente e perfazem um total de 10 bilhões e 24 milhões de dólares.
Curiosamente, entre 2007 e 2016, o saldo entre entradas e saídas de recursos das montadoras supera a renúncia fiscal em 548 milhões de dólares. Ou seja, as empresas enviaram para fora mais riqueza do que aquela que o Estado deixou de arrecadar para atender as necessidades coletivas. Caso considerássemos apenas o período entre 2009 e 2014, teríamos que as remessas líquidas somam 13 bilhões e 903 milhões de dólares, ante uma renúncia fiscal de 7 bilhões e 262 milhões de dólares.
Mas isso não é tudo. Entre 2008 e 2014, as fábricas de veículos aqui instaladas obtiveram empréstimos de 37 bilhões e 800 milhões de reais junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), cerca de 19 bilhões e 260 milhões de dólares.26
No mesmo período, já descontados os investimentos recebidos de outras filiais, as montadoras locais remeteram ao exterior praticamente o mesmo valor (19 bilhões e 63 milhões de dólares) na forma de lucros e investimentos. Ou seja, longe de correrem riscos com o dinheiro próprio, as empresas lançaram mão de recursos públicos para adequar as linhas de produção às perspectivas de lucro futuro.
O tapa na cara do povo brasileiro é ainda mais dolorido quando lembramos que o dinheiro do BNDES é obtido junto ao mercado financeiro pela taxa de juros SELIC e era emprestado às montadoras pela Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP).
Para termos uma idéia dos prejuízos adicionais assumidos pelo Estado, basta pensar que a taxa SELIC flutuou entre 13,75% e 7,5% no período que vai de outubro de 2008 ao mesmo mês de 2012 e encerrou dezembro de 2014 na marca dos 11,75%. Neste espaço de tempo, a TJLP ficou em 6,5% entre outubro de 2008 e junho de 2009, caiu a 6% de julho de 2009 a junho de 2011; desceu a 5,5% ao ano no período de julho de 2011 a dezembro de 2012 e permaneceu em 5% nos dois anos seguintes.27
Sabe quem pagou o montante de dinheiro relativo à diferença entre as duas taxas de juros? Ora...você que está lendo esse texto...eu...e todos os cidadãos através dos impostos. Ou seja, enquanto as montadoras aprimoravam as condições de produção que elevariam os lucros e as remessas ao exterior, cada brasileiro arcava com uma cota dos prejuízos amargados pelo Estado através desta forma de concessão de crédito.
Trata-se de um cenário que eleva o endividamento do Estado e, com ele, o montante dos juros pagos para financiar esta dívida que cresce sem parar e drena cada vez mais recursos antes destinados aos programas sociais. Em defesa das desonerações, alguém poderia alegar que, apesar dos recursos públicos terem propiciado lucros extraordinários às empresas, o aumento das vendas levou a um crescimento da produção e à geração de muitos empregos. Vamos então verificar quantos postos foram criados nas montadoras e nas fabricas de autopeças e quanto cada um deles custou aos cofres do Estado: 28
Quadro X: emprego nas montadoras e empresas de autopeças e renúncia fiscal.

Ano
Número de trabalhadores
nas montadoras
Número de trabalhadores
nas empresas de autopeças
Renúncia fiscal IPI
em U$ bilhões
2008
126.777
207.500
0,870
2009
124.478
199.500
1,042
2010
136.124
224.600
1,074
2011
144.634
229.700
1,024
2012
151.656
218.600
0,756
2013
156.970
220.000
2,151
2014
144.508
204.800
1,215
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da ANFAVEA, do SINDIPEÇAS e da Receita Federal.

Novamente, não temos como base apenas os trabalhadores que se dedicam a montar carros de passeio, e sim o conjunto dos empregados nas montadoras e nas fábricas de autopeças. Esta é a razão pela qual, apesar do aumento da produção de carros ocorrida em 2009, nos deparamos com a diminuição do número de empregados nos dois setores. Enquanto as medidas governamentais ajudavam a elevar as vendas de automóveis, a retração da economia registrada naquele ano encolhia a quantidade de comerciais leves, ônibus e caminhões que saíam das linhas de montagem.29
Em relação a 2008, o saldo médio das vagas criadas nos seis anos seguintes é de 17.731 postos nas montadoras e de apenas 8.700 nas empresas de autopeças. Sabendo que a renúncia fiscal do IPI nos sete anos considerados foi de 8 bilhões e 132 milhões de dólares, concluímos que cada um dos 26.431 novos empregos diretos custou aos cofres públicos o equivalente a 307 mil e 669 dólares.
Para termos uma idéia do que isso significa, basta pensar que, segundo um estudo do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA), o custo total para assentar 411 mil famílias sem terra ao longo de 30 anos de reforma agrária foi de 9 bilhões e 12 milhões de dólares, já incluídas todas as indenizações aos antigos proprietários,30 uma média de 21 mil e 297 dólares por família. Isso significa que, com a mesma quantidade de dinheiro de uma vaga no setor automotivo, seria possível assentar 14 famílias. Mas sobre os benefícios que o uso do dinheiro para esse fim geraria em termos de renda familiar e bem-estar coletivo, economistas, ministros de Estado e meios de comunicação fazem questão de manter o mais absoluto silêncio.
Do campo para a cidade, vamos verificar quanto custou cada emprego direto e indireto gerado pelo Programa Minha Casa, Minha Vida desde a sua criação, em 25 de março de 2009, a 31 de dezembro do ano seguinte. Neste período, o Estado investiu 53 bilhões, 27 milhões e 752 mil reais (cerca de 28 bilhões, 206 milhões e 251 mil dólares, pelo câmbio da época) na construção de um milhão e 4 mil 257 unidades habitacionais, 56,89% das quais para famílias entre 1 e 3 salários mínimos. Graças a este investimento, foram gerados 804.249 empregos diretos e indiretos. Cada vaga custou aos cofres públicos o equivalente a 35.071 dólares. Ou seja, com a mesma quantidade de dinheiro usada para criar um único posto de trabalho nas montadoras ou nas fábricas de autopeças, o Programa Minha Casa, Minha Vida, criou quase nove vagas no âmbito da construção civil.31
O exemplo da relação entre investimento e geração de empregos relativa ao Programa Minha Casa, Minha Vida mostra resultados bem mais consistentes para o conjunto da população do que a redução do IPI dos automóveis. Mas, para isso, é preciso que o Estado tenha dinheiro.
Seguindo as pegadas de Michel Temer, o governo do presidente Jair Bolsonaro promove um ajuste fiscal baseado no corte dos gastos e dos investimentos, deixando praticamente intacto o volume de desonerações sobre o qual o Estado não tem o menor controle e cujos benefícios sociais são bastante duvidosos.
Os dois presidentes não podem alegar que desconhecem esta realidade. O relatório do Tribunal de Contas da União aprovou com ressalvas as contas de 2017, afirmando que os 354 bilhões e 700 milhões de reais em renúncia fiscal nelas encontrados representavam 30% da receita líquida do governo e superavam em 31,9% os 268 bilhões e 800 milhões de reais referentes à soma dos déficits da Previdência Social e das aposentadorias dos servidores federais. Naquele ano, 84% das renúncias fiscais não tinham prazo para terminar, o que representa uma perda crônica de arrecadação por parte do Estado. Se isso não bastasse, o TCU afirmava que 44% dos benefícios tributários vigentes não eram fiscalizados por nenhum órgão governamental, o que deixava os beneficiários totalmente livres para fazer o que bem entendessem com o dinheiro que o Estado deixava de arrecadar.32
Depois dos fatos apresentados, ainda é possível sustentar a idéia pela qual a redução dos impostos, por si só, gera benefícios para todos? Quem saiu ganhando muito dinheiro? O povo? As empresas? O país?
Bom, você mesmo pode tirar suas próprias conclusões...
No próximo capítulo, seguiremos com novas reflexões e com novas surpresas.

1 CAGED: http://bi.mte.gov.br/eec/pages/consultas/evolucaoEmprego/consultaEvolucaoEmprego.xhtml#relatorioSetor
Acesso em 23/05/2019.
2 Dado publicado em: http://www.insper.edu.br/noticias/incentivo-eleva-peso-do-setor-automotivo-na-industria-do-pais/ Acesso em 15/06/2019
3 A cilindrada à qual o texto da lei faz referência é comumente conhecida pela expressão “carro 2.0”. As alíquotas até 1000 cm3 são aplicadas aos veículos populares, ou 1.0, e as demais àqueles com motor entre 1.0 e 2.0.
4 Dados disponíveis em: Renan Santiago Apolinário, Impacto da redução de tributos na venda de automóveis no Brasil entre os anos de 2007 e 2015, Centro Universitário Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado. Publicado no periódico GEPROS. Gestão da Produção, Operações e Sistemas, Bauru, Ano 13, nº 1, jan-mar/2018, p. 19-35. https://www.researchgate.net/publication/323618569_The_impact_of_the_reduction_of_tax_on_car_sales_in_Brazil_between_the_years_2007_and_2015 Acesso em 13/01/2019.
5 Todas as porcentagens do PIB têm como base os cálculos atualizados pelo IBGE e divulgados em 17/11/2016, em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/media/com_mediaibge/arquivos/7531a821326941965f1483c85caca11f.xls Acesso em 23/01/2019.
Os dados relativos à produção de automóveis montados no país, exportados e ao licenciamento de carros novos nacionais foram extraídos do anuário da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (ANFAVEA) de 2017 em: http://www.virapagina.com.br/anfavea2017/files/assets/common/downloads/publication.pdf Acesso em 23/05/2019
6 Os dados apresentados e os que serão citados em seguida foram extraídos do histórico das taxas de juros fixadas pelo COPOM e publicado pelo Banco Central em: https://www.bcb.gov.br/acessoinformacao/legado?url=https:%2F%2Fwww.bcb.gov.br%2FPec%2FCopom%2FPort%2FtaxaSelic.asp Acesso em 26/01/2019.
7 Dados publicados no texto de Mônica Mora, Evolução do crédito no Brasil entre 2003 e 2010, IPEA texto de discussão Nº 2022, em: http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/3537/1/td2022.pdf Acesso em 21/01/2019.
8 Pela sistemática anterior, as pessoas que, em 2009, receberiam R$ 1.434,59 mensais estariam isentas do tributo; de R$ 1.434,60 até R$ 2.866,70 teriam uma alíquota de 15%; e, acima de R$ 2.866,70, de 27,5%. Com as mudanças introduzidas no final de 2008, quem ganha até R$ 1.434 segue isento. Deste patamar a R$ 2.150 contribui com 7,5%. Entre R$ 2.150 e R$ 2.866, a alíquota é de 15%. De R$ 2.866 a R$ 3.582, 22.5%. Acima de R$ 3.582, o imposto de renda pessoa física segue em 27,5%. Em: http://g1.globo.com/Noticias/Economia_Negocios/0,,MUL919678-9356,00-GOVERNO+ANUNCIA+MUDANCAS+NO+IR+PARA+BENEFICIAR+CLASSE+MEDIA.html Acesso em 03/02/2019.
9 Os dados sobre as políticas do Banco Central e do Governo Federal constam do estudo de Fábio Henrique Machado de Almeida e Manuel Antonio Munguia Payés, A política econômica adotada pelo Brasil pós-crise de 2008. Acesso ao texto completo em: https://drive.google.com/file/d/1txmXG0xEoyZT_t97vbWNJJU9dh6eR_PJ/view?usp=drivesdk
10 Os números do exemplo citado constam da matéria de Luis Nassif, A discussão sobre o lucro das montadoras, disponível em: https://jornalggn.com.br/economia/a-discussao-sobre-o-lucro-das-montadoras/ Acesso em 25/05/2019.
11 ABS (Antilock Braking Sistem) e EDB (Eletronic Brake force Distribution) são sistemas eletrônicos de frenagem que atuam conjuntamente. O primeiro evita o travamento das rodas. O segundo atua no sentido de dosar a potência de frenagem entre os eixos, aumentando a eficiência do sistema.
As informações relativas à quantidade de automóveis produzidos constam do anuário da ANFAVEA de 2017, citado anteriormente. As especificidades do modelo vendido ao México estão na matéria cujo link está na nota anterior.

12 Em Luis Nassif, A discussão sobre o lucro das montadoras, disponível em: https://jornalggn.com.br/economia/a-discussao-sobre-o-lucro-das-montadoras/ Acesso em 25/05/2019.
13 O gráfico encontra-se em Renan Santiago Apolinário, Impacto da redução de tributos na venda de automóveis no Brasil entre os anos de 2007 e 2015. Texto citado.
14 As informações relativas ao financiamento e à inadimplência que acabamos de utilizar constam do estudo de Mario Jorge Mendonça, Tito Belchior S. Moreira e Adolfo Sachsida, Uma avaliação da demanda creditícia para automóveis no Brasil no período de 2000 a 2012. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ecos/v26n2/1982-3533-ecos-26-02-00427.pdf&ved=2ahUKEwiMvaeLzcDiAhWuHbkGHfSRDdA4KBAWMAl6BAgGEAE&usg=AOvVaw2hEPjM7o96Bo0GSg01iDeA Acesso em 29/05/2019
15 Em: http://www.assessocred.com.br/noticia1.php?id=49 Acesso em 29/05/2019.
16 Dado publicado em: https://www.gazetadopovo.com.br/economia/estoque-de-carros-atinge-maior-nivel-desde-2008-8n0t13az8bnvj3uf575rfzc5q/ Acesso em 26/05/2019.
Os números de dezembro de 2008 estão disponíveis em: http://g1.globo.com/Noticias/Carros/0,,MUL947714-9658,00-PRODUCAO+DE+VEICULOS+DESPENCA+EM+DEZEMBRO.html. Acesso em 29/05/2019.
17 A arrecadação do IPI dos carros consta do estudo de Laís Sienna Alves e Marcelo Driemeyer Wilbert, Redução do Imposto sobre Produtos Industrializados e a venda de automóveis, apresentado ao XI Congresso de Iniciação Científica em Contabilidade da USP, São Paulo, 21 a 23 de julho de 2014, disponível em: https://congressousp.fipecafi.org/anais/artigos142014/265.pdf Acesso em 24/01/2019.
Os números que se referem aos carros licenciados em cada ano foram extraídos do Anuário da ANFAVEA de 2017.
Os valores referentes à arrecadação foram atualizados pela inflação acumulada até 2014.
18 Os números relativos às exportações e às importações de carros constam do Anuário da ANFAVEA de 2017.
19 Em nossas reflexões, excluímos o que o mercado automobilístico brasileiro chamou de Super IPI. Inicialmente introduzida através do Decreto nº 7.567/11, de 15/09/2011, a alíquota que aumentava em 30 pontos percentuais o IPI sobre os carros importados não procedentes do México e do MERCOSUL, acabou não sendo aplicada a nenhuma montadora. Em função da forte pressão do setor, foram excluídas do pagamento deste adicional as empresas que: 1. Realizassem gastos em pesquisa e desenvolvimento de, no mínimo, 0,13% da receita bruta em 2013 e de 0,50% entre 2015 e 2017; 2. Fizessem investimentos em engenharia correspondentes a, pelo menos, 0,5% sobre a receita bruta total de venda de bens e serviços em 2013, e de 1% em 2015, 2016 e 2017; 3. Participassem do Programa de Etiquetagem Veicular definido pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e estabelecido pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (INMETRO), com percentuais mínimos de produtos relacionados a serem etiquetados (o decreto previa 36% para 2013, 49% para 2014, 64% para 2015, 81% para 2016 e 100% em 2017). Em função das diferentes manobras das montadoras, na prática, nenhum veículo importado pelo Brasil pagou a alíquota prevista pelo decreto.
20 Dados disponíveis em: Em: http://www.farmnews.com.br/mercado/dolar-frente-ao-real-2/ Acesso em 03/02/2019.
21 Os dados foram publicados inicialmente na versão impressa do jornal O Estado de São Paulo em 17/04/2016.
22 O quadro foi montado a partir dos dados do Anuário sobre o Desempenho do Setor de Autopeças em 2018, disponível em: http://www.virapagina.com.br/sindipecas2018/1/#zoom=z Acesso em 04/02/2019.
23 Para termos uma idéia dos valores, em 2011, esse tipo de empréstimos somou nada menos do que 18 bilhões e 760 milhões de dólares. Dado publicado em: https://oglobo.globo.com/economia/remessas-de-multinacionais-estao-no-foco-do-governo-5147422 Acesso em 06/02/2019.
24 O valor do câmbio médio anual foi calculado pelo autor a partir dos valores mensais disponíveis em: http://www.farmnews.com.br/mercado/dolar-frente-ao-real-2/ Acesso em 31/05/2019. Os demais dados encontram-se em: http://www.bcb.gov.br/estatisticas/tabelasespeciais Acesso em 01/06/2019.
25 As estimativas foram extraídas dos Demonstrativos dos Gastos Tributários da Receita Federal do Brasil. O total de cada ano não inclui as isenções do IPI sobre carros que se destinam ao transporte coletivo (táxi) e a deficientes físicos. Todo o material está disponível em: http://receita.economia.gov.br/dados/receitadata/renunciafiscal/previsoes-ploa/arquivos-e-imagens/demonstrativos-dos-gastos-trbutarios-dgt Acesso em 21/05/2019.
26 Dado disponível em: https://library.fes.de/pdf-files/bueros/brasilien/12039.pdf Acesso em 07/01/2019.
27 Os dados da SELIC estão em: https://br.advfn.com/indicadores/taxa-selic/valores-historicos Acesso em 10/02/2019. As taxas da TJLP em: https://www.bndes.gov.br/wps/portal/site/home/financiamento/guia/custos-financeiros/taxa-juros-longo-prazo-tjlp Acesso em 12/02/2019.
28 Os números de empregados nas montadoras e nas fábricas de autopeças encontram-se, respectivamente, no anuário da ANFAVEA de 2017 e do Desempenho do Setor de Autopeças em 2018, ambos citados anteriormente.
29 Sempre de acordo com o Anuário da ANFAVEA de 2017, entre 2008 e 2009, o número total de veículos montados e desmontados (CKD) caiu de 370.854 a 369.609 para os de comerciais leves; de 167.406 a 123.633 para os ônibus; e de 44.111 para 34.536 para os caminhões, o que explica a redução do número de empregados.
30 Os dados preliminares do estudo estão disponíveis em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc28089802.htm Acesso em 04/02/2019. O valor total em dólares foi obtido somando os custos iniciais, U$ 7,6 bi, com os montantes dos títulos da dívida agrária a serem pagos até 2012, e que perfazem o total de U$ 9,012 bi.
31 Os dados referentes às unidades habitacionais construídas e aos valores investidos em reais foram publicados em: Carlos Alberto Gonçalves Junior, Ricardo de Lemos Dutra, Ricardo Luis Lopes e Rossana Lott Rodrigues, O impacto do Programa Minha Casa, Minha Vida na economia brasileira: uma análise de insumo-produto. Em: Ambiente Construído, Porto Alegre, Vol. 14, n. 1, jan./mar. 2014, pg. 177-189. Texto completo em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1678-86212014000100014&script=sci_abstract&tlng=pt Acesso em 7/08/2019.
O número de empregos criados no período consta da página eletrônica: http://www.pac.gov.br/noticia/d911a99e Acesso em 7/08/2019.
A conversão para o dólar foi feita utilizando o valor médio da moeda dos dois anos considerados.

Nenhum comentário:

Postar um comentário