O poema que
publicamos a seguir é antigo, mas é perfeito para explicar estes nossos dias conturbados:
Um
velho Secretário de Educação conservador apresenta-se como novo, um novo partido tornou-se velho e tenta reapresentar-se como novo, um movimento que reivindica a opressão e a exploração e traz consigo ideias racistas e xenófobas apresenta-se como novo, velhos partidos apresentam-se como a mais nova saída para
a crise, a velha imprensa que na última década foi “salva” de sua crise
financeira particular pelo novo-velho apresenta-se como a mais nova defensora
da ética, moral e honestidade .... Tempos difíceis. O Novo, entretanto, que é a Igualdade econômica entre os homens e a comunidade humana sem
explorados ou exploradores e sem preconceito é apresentado como o mais atrasado, como o mais perfeito Velho.
Boa leitura
Parada do Velho Novo
Eu estava sobre
uma colina e vi o Velho se aproximando, mas ele vinha como se fosse o Novo. Ele
se arrastava em novas muletas, que ninguém antes havia visto, e exalava novos
odores de putrefação, que ninguém antes havia cheirado.
A pedra passou
rolando como a mais nova invenção, e os gritos dos gorilas batendo no peito
deveriam ser as novas composições. Em toda parte viam-se túmulos abertos
vazios, enquanto o Novo movia--se em direção à capital.
E em torno
estavam aqueles que instilavam horror e gritavam. Aí vem o Novo, tudo é novo,
saúdem o Novo, sejam novos como nós! E quem escutava, ouvia apenas os seus
gritos, mas quem olhava, via pessoas que não gritavam.
Assim marchou o
Velho, travestido de Novo, mas em cortejo triunfal levava consigo o Novo e o
exibia como Velho. O Novo ia preso em ferros e coberto de trapos; estes
permitiam ver o vigor de seus membros.
E o cortejo
movia-se na noite, mas o que viram como a luz da aurora era a luz de fogos no
céu. E o grito: Aí vem o Novo, tudo é novo, saúdem o Novo, sejam novos como
nós! Seria ainda audível, não tivesse o trovão das armas sobrepujado tudo.
(Bertold Brecht)
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